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Análise: Fatal Frame: Maiden of Black Water é terror e muita água no Wii U

Fazendo do GamePad uma legítima Camera Obscura, o novo Fatal Frame ganha em jogabilidade e em água, mas peca pela repetitividade nos confrontos.


Após ficarmos mais abandonados e esquecidos que os locais onde se situam os jogos da série Fatal Frame, finalmente temos um título da franquia principal (recebemos o spin-off Spirit Camera: The Cursed Memoir, lançado para Nintendo 3DS em 2013, lembra?) disponível na América. Fatal Frame: Maiden of Black Water mostra por que o Wii U é o lar perfeito para ser paparazzi de fantasmas.

Talvez fosse difícil imaginar que a Nintendo localizaria algum título da série para o nosso continente. Não é novidade para ninguém que o estilo nipônico de terror que Fatal Frame esbanja é um tanto impopular no Ocidente. Zero: Tsukihami no Kamen (conhecido não oficialmente como Fatal Frame IV: Mask of the Lunar Eclipse) foi exclusividade do Wii no Japão. O remake de Fatal Frame II: Crimson Butterfly foi lançado para Wii apenas na Europa e na terra do sol nascente em 2012, com a Nintendo já sendo coproprietária da série. Ou seja, ver Maiden of Black Water na América, mesmo sendo um título digital, pode parecer sobrenatural, mas é uma vitória a ser comemorada.

Eu vejo gente morta

A montanha Hikami era um santuário de donzelas que orientavam pessoas para uma morte pacífica. Entretanto, Kyozo Kururugi, um homem que estava para morrer na montanha, criou aversão às donzelas e cometeu uma chacina na montanha, matando todas as mulheres e se suicidando em seguida.
Note a expressão de tristeza de Yuri após ganhar uma
câmera da década de 1930 no amigo secreto
Maiden of Black Water coloca três protagonistas à disposição do jogador com histórias que se interligam. Yuuri Kozukata, que trabalha em uma loja de antiguidades, possui um dom especial no qual, ao tocar um objeto, pode ver os segredos por trás da pessoa dona do pertence; Ren Hojo, um escritor fracassado que está buscando inspirações para escrever um novo livro; e Miu Hinasaki, que vai para o assombroso local procurar por sua mãe, Miku Hinasaki, personagem que apareceu no primeiro Fatal Frame (PS2) e em Fatal Frame III: The Tormented (PS2).

Inspiração fatal

A Montanha Hikami e o enredo de Maiden of Black Water são inspirados na floresta Aokigahara, localizada no Monte Fuji no Japão, famosa por ser a Floresta do Suicídio. O local, onde são registradas várias mortes todos os anos, possui uma associação com demônios na mitologia japonesa.
Você odeia áreas de água em jogos? Então Fatal Frame te fará detestar ainda mais!

Como de praxe, Maiden of Black Water possui diversos ambientes claustrofóbicos e bastante lineares. A região da floresta na montanha Hikami é o mais próximo de uma área aberta que você irá encontrar no game. Quem conhece a série sabe o que vai encontrar: idas e vindas pelos mesmos cenários, fantasmas e, claro, a Camera Obscura.

Maiden of Black Water se destaca no quesito jogabilidade. Como o game foi produzido desde o início com o Wii U em mente, faz uso pleno da tela do GamePad exatamente como imaginávamos. O controle do Wii U exibe o mapa em tempo real durante a exploração e atua como uma legítima Camera Obscura nos combates. Você precisa movimentá-lo para procurar e fotografar os fantasmas, conseguindo visualizar os cenários em 360 graus com movimentos, da mesma forma que o scanner era utilizado em ZombiU e o uso do GamePad no aplicativo Wii Street U, por exemplo.
Avisamos pra você ficar parado na hora de tirar a foto. Ela saiu toda embaçada!
Além de movimentos, há situações que exigem inclinações com o controle. Em batalhas contra fantasmas inimigos, após tirar algumas fotos, pequenas orbes espirituais começarão a girar ao redor do inimigo. Se você conseguir mirar em vários fragmentos na tela do GamePad, inclinando-o para caber todos, poderá acertar um Shutter Chance, fotografia que causa bastante danos nos fantasmas e os afastam temporariamente. As inclinações com o controle também são essênciais para trazer itens para o mundo real utilizando a câmera. O recurso, chamado de “Phantom Expose”, exige que você incline o controle na posição exata para revelar uma foto, indicando o local onde está o objeto.
Incline o GamePad na direção exata e traga itens de volta para o mundo. Precisamos dessa câmera para encontrar o controle da TV perdido na casa

Teste pra cardíaco

Fatal Frame: Maiden of Black Water foi lançado em um formato interessante na eShop do Wii U. É possível baixar uma demo do jogo que inclui os dois primeiros capítulos completos. Apesar de serem curtos, os episódios exibem uma boa demonstração do uso do GamePad e dos ambientes do game. Se você tiver interesse pelo jogo, poderá comprar os episódios restantes na eShop e dar continuidade ao save da demo.
Regra de sobrevivência em Fatal Frame: primeiro salve a câmera e depois o cabelo com chapinha 

Certamente você poderá encontrar dificuldades no início do jogo ao utilizar a Camera Obscura movimentando o GamePad pelo fato da câmera ser “travada” na posição que o controle está na hora que você decide usar o item. A gente explica: caso você esteja jogando com o GamePad deitado (na horizontal) e, de repente, encontra um fantasma, ao ativar a Camera Obscura o jogo entende que aquela é a posição central da câmera. Logo, você estará se contorcendo todo para tentar fotografar o fantasma como uma lombriga com diarreia. Por isso é importante — e o game ressalta isso durante o tutorial — que você mantenha o GamePad alinhado com a televisão na hora que for ativar o uso da Camera Obscura.
Como em jogos anteriores, você pode realizar upgrades na Camera Obscura e nas lentes, aumentando o alcance e absorção ou diminuindo o tempo de carregamento entre as fotos

É o mal que a água faz quando se afoga

Um dos elementos mais importantes de Fatal Frame: Maiden of Black Water é a água. Ela tem um papel que vai além do enredo do jogo, sendo definitiva na jogabilidade. Há um pequeno medidor de umidade no canto inferior direito da tela que começa a encher e brilhar sempre que você entra em contato com a água. Quanto mais molhado estiver o seu personagem, maior é a probabilidade fantasmas aparecerem e você sofrer mais danos caso entrem em contato com você.
Parece São Paulo em dias de chuva, mas é só uma caverna de Fatal Frame
Na situação mais crítica, o medidor fica avermelhado e o personagem começa a perder vida gradualmente ao ser infectado pela água negra, além de ter seu campo de visão reduzido. Neste momento, o jogador pode assumir o risco de enfrentar os fantasmas, absorvendo mais Spirit Power de acordo com a quantidade de vida perdida, ou secar o protagonista utilizando Purifying Embers.

Mas é claro que Maiden of Black Water coloca o jogador em situações críticas. Por ser uma região montanhosa, há um longo riacho e áreas inundadas, além de chover em momentos cruciais para aumentar a dificuldade. São nesses momentos que você pode observar detalhes gráficos do título como gotas pingando e as roupas molhadas dos personagens, já que Maiden of Black Water utiliza a mesma tecnologia de efeitos de água de Dead or Alive 5 (Multi).

Uma das ótimas adições do Fatal Frame no Wii U é a possibilidade de correr. Fãs da série devem recordar que os personagens nos jogos anteriores praticamente não corriam, eles andavam menos lentamente. Permitir que os protagonistas corram deixou a exploração menos cansativa e os confrontos com fantasmas mais dinâmicos, permitindo que você escape de uma situação complicada. Obviamente há várias áreas inundadas que impedem que você corra ou fuja. Quem disse que ia ser fácil?
Melhor novidade: seu personagem pode correr de verdade.
Pior notícia: não nas inúmeras áreas inundadas

O maior pecado de Maiden of Black Water está nos próprios combates. O quinto título da série diminuiu a quantidade de enigmas e tornou os confrontos mais frequentes e, consequentemente, repetitivos. Muitas vezes você encontra dois ou três fantasmas seguidos, quebrando o ritmo da exploração, e eles não possuem muita variedade.

Um legítimo survival horror

Fatal Frame: Maiden of Black Water é um legítimo survival horror e mantém a essência da franquia sem arriscar muito. Você vai encontrar aqueles fantasmas que aparecem em ações momêntaneas, vai ficar tenso em diversos momentos e na expectativa ao ouvir sons misteriosos. A imersão fica ainda maior pelos sons emitidos pelos alto-falantes do GamePad.

A excelência de Maiden of Black Water fica oculta pela falta de publicação da Nintendo of America, o que é uma pena. Além de não ter um lançamento físico na América, pouquíssimos trailers e informações sobre o jogo foram compartilhados desde quando a localização foi confirmada. É um jogo que ficou submerso, mas não se engane. Como neste fim de ano há poucos lançamentos para o Wii U, Fatal Frame: Maiden of Black Water é água para fãs sedentos por survival horror e ótimos jogos no console.
Triste mesmo é ver Fatal Frame sendo um título exclusivo de eShop
e Devil’s Third ser lançado em mídia física…

Prós

  • Os protagonistas agora podem correr (o melhor pró do jogo!);
  • Belos efeitos de água;
  • Possibilidade de jogar novamente qualquer episódio;
  • Existência do áudio original japonês;
  • O GamePad como Camera Obscura é a combinação mais perfeita que pastel com guaraná ou caldo de cana.

Contras

  • Os confrontos com fantasmas ficaram mais frequentes e repetitivos;
  • Ser lançado apenas em mídia digital (estamos com inveja dos europeus, sim!).
Fatal Frame: Maiden of Black Water — eShop/Wii U — Nota: 8.0

Revisão: Vitor Tibério
Capa: Nívia Costa


Desde que aprendeu a jogar videogames com Yoshi's Island e Donkey Kong Country 2, sempre é visto com um controle ou portátil da Nintendo na mão. Descobriu o amor por The Legend of Zelda com Ocarina of Time e sempre está querendo mais Zeldas. Gosta de escrever notícias, análises e bobagens aqui enquanto não está sonhando com um novo Silent Hill.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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