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Análise: Chocobo’s Mystery Dungeon: Every Buddy! (Switch): Fofura, nostalgia e multiplayer

Com a possibilidade de co-op local com um amigo, o jogo é uma interessante adição aos roguelikes que seguem o estilo Mystery Dungeon.


Junto com Moogle, Chocobo é um mascote bastante conhecido de Final Fantasy que apareceu em boa parte dos jogos da série. Obviamente, a Square teria que aproveitar o personagem para fazer spin-offs de vários tipos, como os adoráveis Final Fantasy Fables: Chocobo Tales (DS), Chocobo Racing (PS1) e Dice De Chocobo (PS1/GBA).


No entanto, dentre os vários estilos, os Mystery Dungeon são claramente os mais relevantes dos jogos estrelados pelo pássaro. Ao todo quatro títulos seguem a fórmula: Chocobo no Fushigi na Dungeon (PS1), Chocobo’s Dungeon 2 (PS1), Final Fantasy Fables: Chocobo Dungeon (Wii/DS) e Chocobo to Mahou no Ehon (DS).

Chocobo’s Mystery Dungeon: Every Buddy! é uma nova versão do terceiro jogo lançada para Nintendo Switch e PlayStation 4. A sua principal diferença em relação ao original é a possibilidade de jogá-lo em co-op local com um amigo, algo bastante atípico para o gênero.

Uma aventura recheada de fofura e nostalgia

A história começa quando os aventureiros Cid e Chocobo chegam ao topo da Torre de Areia em busca de um misterioso item chamado Timeless Power. No entanto, seus rivais, Irma e Volg, encontram o item primeiro. O que nenhum deles esperava era que um portal ia abrir e sugá-los para a misteriosa cidade de Lostime, um lugar em que um sino leva as pessoas a perderem a memória.

Cid acaba se tornando uma das vítimas de amnésia e Chocobo fica desesperado em busca de uma forma de resgatar seu companheiro. Eis que um misterioso bebê chamado Raffaelo surge do céu em um ovo e, graças ao seu colar, Chocobo ganha a habilidade de resgatar as memórias dos moradores da cidade em dungeons.

A partir daí, Chocobo’s Mystery Dungeon: Every Buddy! se desenvolve como uma aventura colorida e cheia de encanto por um mundo aparentemente tranquilo que esconde um grande segredo. O jogo faz questão de ter vários momentos leves e explorar ao máximo a fofura de Chocobo. Isso é perceptível, por exemplo, na forma como o protagonista se expressa de forma exagerada durante as diversas cenas do jogo aliado a seu característico som de “Kweh” (o personagem não fala).

Também é possível notar o tom um tanto infantil nas cores vibrantes e na escrita simples. Esse tom leve perdura o jogo todo, mas é mais predominante no início. Conforme mais detalhes são revelados sobre a vila e uma série de reviravoltas acontecem, a história progride em uma direção um tanto mais séria. Infelizmente, esses twists são um tanto previsíveis e isso faz o impacto ser menor do que o que o jogo claramente desejaria. Mesmo assim, a capacidade de alternar entre leveza e seriedade é um equilíbrio tênue que o jogo consegue realizar muito bem.

Outro fator interessante no apelo emocional do jogo é a trilha sonora. Ao invés de um repertório original, ela utiliza novas versões de músicas já presentes nos jogos numerados da franquia. Esse fator nostálgico fortalece várias cenas, mas, em particular, torna a exploração das dungeons em algo motivador. Pessoalmente, me senti bastante recompensado reconhecendo de onde elas vieram, e a cereja do bolo foi quando uma das primeiras áreas exploráveis utilizava uma música de Final Fantasy V (meu favorito).

Explorando dungeons com amigos


Não tem como avaliar o jogo sem falar um pouco sobre a fórmula Mystery Dungeon, que foi desenvolvida originalmente pela Chunsoft (atual Spike Chunsoft). Inspirados pelo clássico Rogue, os jogos desse estilo criam dungeons procedurais com uma visão top-down. Cada vez que o jogador entra nos labirintos, eles são áreas drasticamente diferentes em que não é possível saber a priori quais inimigos, armadilhas e itens estarão disponíveis.

Ao mesmo tempo em que esse nível de aleatoriedade é um excelente fator de diversificação do gameplay e atribui um bom peso à sorte, é necessário ter um controle bastante racional da movimentação e dos gastos de itens para avançar. Afinal, o jogador não sabe o que vem pela frente, seus recursos são limitados e a sorte é um fator que pode tornar aquela exploração mais fácil ou mais difícil de forma imprevisível.


Como a exploração é baseada em turnos, o mundo do jogo está parado enquanto o jogador não se movimentar. Isso favorece uma análise mais racional e estratégica dos recursos à disposição. Um deles que é fundamental é a fome: conforme o jogador se movimenta, gasta uma espécie de energia. Caso a barra esvazie completamente, todo turno ele passará a receber dano. Ou seja, é necessário garantir que o seu personagem se alimente.

Todas essas características estão presentes nos vários Mystery Dungeon (como Pokémon Mystery Dungeon e Shiren the Wanderer) e jogá-los implica em aprender a lidar com qualquer um deles. Chocobo’s Mystery Dungeon não é exceção, sendo claramente intuitivo para qualquer pessoa que tenha experimentado a fundo outros jogos do gênero.

Mas existem especificidades, claro. Em primeiro lugar, os itens encontrados nas dungeons precisam de appraisal, ou seja, não é possível saber seus valores antes de utilizar ao menos um exemplar naquela área (ou levar um similar). Assim, não é possível, por exemplo, distinguir entre poções e drinks explosivos antes de usá-los. Essa incapacidade de saber qual recurso o jogador possui não é apenas desagradável, como pode ter consequências fatais. Existem itens capazes de fazer a avaliação também, mas eles são um tanto raros.


Outra característica específica é a possibilidade de alternar o job do protagonista. Baseado na mecânica presente em vários jogos da série (como Final Fantasy Tactics), esse sistema permite ao jogador mudar os status e habilidades do Chocobo para algo que se adeque melhor ao seu estilo de jogo ou à próxima área (ou boss). Entre os jobs, temos os tradicionais Knight, Dragoon, Black Mage, White Mage, Thief e vários outros.

Mas a diferença mais significativa e que não estava presente no jogo original de Wii é o multiplayer local. Ao longo do jogo, novos personagens e monstros são adicionados a uma lista de parceiros potenciais que podem ser utilizados tanto pela CPU quanto por um segundo jogador. A possibilidade de completar as dungeons cooperativamente é uma ideia bastante interessante para o gênero, adicionando novas camadas de estratégia diferentes do usual. Isso acontece em especial devido à forma como esse parceiro atua no campo de batalha.


Como o Chocobo é o definidor do turno de movimentação e ataque de todos os personagens, a ideia foi fazer um personagem que consegue andar livremente pelo cenário, mas seus ataques são restritos à mesma concepção de turnos. Com isso, é possível utilizar o parceiro como isca ou fazer com que ele aproveite a sua capacidade para limpar o caminho em momentos de necessidade.

Ao mesmo tempo em que isso torna o segundo jogador em um asset valioso, capaz de subverter boa parte das limitações usuais, ele ainda é limitado por uma série de fatores. Primeiro, seus ataques são restritos pela movimentação do protagonista. Segundo, ele acaba sendo teletransportado toda vez em que sai da área de visão do primeiro jogador, já que a tela se mantém em função dele. E terceiro, ele não é capaz de pegar nenhum item nem usá-los.

Com essas restrições, existe um bom equilíbrio entre a quebra de paradigma de turno e o potencial estratégico mais limitado do personagem. Ele pode ser bem útil se houver uma boa coordenação entre os dois jogadores, mas não elimina de forma alguma a necessidade de estratégia, especialmente nos momentos mais complicados como chefes ou dens of monsters (áreas recheadas de inimigos, itens e armadilhas).

É perigoso ir sozinho, leve um amigo


Chocobo’s Mystery Dungeon: Every Buddy! começa leve e simples, mas existe profundidade suficiente tanto em termos de história quanto em possibilidades estratégicas conforme o jogador avança por suas áreas. Além da fofura do protagonista e da nostalgia evocada pela trilha sonora, existem vários perigos a serem desbravados em suas dungeons aleatórias.

Como uma nova versão de Final Fantasy Fables: Chocobo’s Dungeon (Wii), é curiosa a escolha de eliminar completamente uma de suas mecânicas (as batalhas de carta conhecidas como Pop-Up Duels), algo desagradável para quem jogou o título original ou Chocobo Tales (DS), mas cuja retirada não teve um impacto significativo na experiência. De fato, é muito mais incômoda a qualidade dos modelos dos personagens, cujo formato tem uma impressão “quadrada” em algumas áreas devido à sua composição poligonal.

Ao mesmo tempo, mesmo não alterando significativamente a fórmula Mystery Dungeon, a adição do fator multiplayer é extremamente bem vinda. Para quem já jogou um jogo do estilo antes, se sentirá em casa. Mas independente de já ter tido contato com ele antes ou não, a certeza é que o título se mostra ainda melhor jogando com um amigo.

Prós

  • Adição de multiplayer co-op local é uma mudança muito bem vinda da fórmula;
  • Trilha sonora baseada nos Final Fantasy numerados adiciona um fator de nostalgia à  exploração;
  • História consegue alternar entre leveza e seriedade;
  • O Chocobo é fofo e expressivo mesmo sem falas;
  • Lidar com as intempéries dos labirintos com os recursos disponíveis é um excelente desafio.

Contras

  • Reviravoltas de enredo previsíveis;
  • Visual com formato poligonal perceptível deixa a ver um pouco da idade do jogo original;
  • Retirada da mecânica de Pop-Up Duels presente no original;
  • Necessidade de appraisal de itens reduz o conhecimento do jogador sobre seus próprios recursos.
 Chocobo’s Mystery Dungeon: Every Buddy! - Switch/PS4 - Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vinícius Rutes
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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