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Análise: Blazing Chrome (Switch) — atirando e destruindo em uma frenética experiência arcade

Corra, pule e atire neste jogo indie de ação inspirado em clássicos do gênero run and gun.


Em Blazing Chrome, sistemas de inteligência artificial e máquinas dominaram o mundo, e os poucos humanos restantes são caçados constantemente. Na pele de um membro da resistência humana, o objetivo é acabar com os robôs em uma aventura de tiro e plataforma muito intensa e de dificuldade acentuada. Inspirado em clássicos como Contra e Metal Slug, o jogo do estúdio brasileiro JoyMasher (de Oniken e Odallus) acerta ao oferecer uma experiência empolgante e variada.

Destruição em massa

O conceito de Blazing Chrome é extremamente simples. Na pele de Mavra, uma soldada do grupo de resistência humana, ou de Doyle, um androide desertor, exploramos seis diferentes estágios destruindo tudo o que aparece pelo caminho. O mundo tomado pelas máquinas é muito perigoso, o que significa que as fases estão abarrotadas de inimigos, perigos e robôs imensos. O título pode ser aproveitado sozinho ou na companhia de um amigo no multiplayer cooperativo local.


Para sobreviver, os heróis contam com várias armas e movimentos. A principal forma de ataque é uma metralhadora, no entanto os personagens conseguem golpear inimigos próximos com um bastão elétrico em um ataque que lembra bastante as facas de Metal Slug. Pelo caminho, há outros tipos de arma para coletar: um laser que pode ser carregado, granadas explosivas e uma corrente de plasma. Além disso, é possível rolar rapidamente pelo chão para escapar de perigos ou travar a movimentação do personagem para mirar sem sair do lugar. Por fim, drones que provêm habilidades de suporte, como escudo ou maior velocidade, estão espalhados pelos estágios.

Seis fases podem parecer pouco, mas completá-los não é fácil, pois Blazing Chrome é mais um daqueles jogos difíceis. Vários detalhes tornam complicada a jornada de Mavra e Doyle: os heróis morrem com um único acerto, a tela está constantemente infestada de inimigos e os chefes apresentam ataques complexos difíceis de desviar. No entanto, alguns recursos fazem que o jogo seja acessível, como diferentes níveis de dificuldade e checkpoints constantes. Mesmo assim, esteja preparado para morrer muito.


A dificuldade e variedade do mundo pós-apocalíptico

O destaque de Blazing Chrome é sua ação intensa: é muito divertido sair atirando e explodindo tudo o que aparece pelo caminho. Várias características ajudam a construir a experiência, que lembra um jogo retrô, mas com sensibilidades modernas. Na maior parte do tempo o foco é atirar, porém há também algumas partes de plataforma que exigem precisão no controle dos personagens.

Achei impressionante a variedade de momentos espalhados pela aventura. Em um trecho, estamos explorando uma cidade devastada e do nada um helicóptero aparece para nos auxiliar, sendo possível se pendurar no veículo. Já em outra missão, pilotamos uma moto em alta velocidade enquanto destruímos robôs e escapamos de projéteis. Algumas fases têm armaduras robóticas no estilo da série Mega Man X que apresentam movimentos diferentes, o que muda a dinâmica da ação temporariamente. Em um dos meus momentos favoritos os heróis vestem um jetpack e voam por túneis em um trecho impressionante que lembra um shooter on-rails 3D. É como se estivéssemos dentro de um filme blockbuster de ação repleto de cenas exageradas e absurdas — o que é algo ótimo.


Apreciei também os vários subchefes e chefes da aventura. As lutas contra essas grandes máquinas apresentam desafios diferenciados em que somente atirar não é suficiente: é imprescindível observar com cuidado seus padrões de ataques e revidar no momento correto. Assim como os estágios, os chefes são variados e interessantes. Fiquei surpreso com a diversidade de situações proporcionada por eles.

Assim como suas inspirações, Blazing Chrome é bem difícil. Há sempre muitos inimigos na tela, o que exige agilidade e muita atenção, pois os personagens são derrotados com um único golpe  — um movimento errado é morte certa. Os chefes, em especial, são o ápice do desafio com seus movimentos complexos. A dificuldade é alta, mas em nenhum momento achei  injusta: a quantidade de checkpoints é generosa, as armas opcionais ajudam a derrotar os inimigos mais rápido e há até um drone de defesa. O jogo conta também com uma dificuldade mais baixa que facilita um pouco a aventura sem deixá-la banal.


O jogo conta com multiplayer local para dois jogadores e tive a oportunidade de testá-lo na companhia de amigos. A dinâmica das partidas muda sensivelmente, pois alguns chefes ficam mais resistentes, os trechos de plataformas precisam ser superados de maneira coordenada, e precisamos dividir os itens e vidas. A experiência é diferente no multiplayer e depende muito da técnica da dupla: se ambos forem habilidosos, a jornada fica um pouco mais fácil, pois dois heróis conseguem cobrir mais direções simultaneamente; caso um dos participantes não seja ágil as coisas ficam complicadas por causa da dificuldade maior. No fim, me diverti bastante no modo cooperativo, por mais que na maioria das vezes eu e meus amigos tenhamos falhado miseravelmente.

Atmosfera retrô em uma experiência arcade

O mundo pós-apocalíptico de Blazing Chrome é montado com pixel art intrincado que remete aos títulos da era 16-bits. Os cenários são repletos de pequenos detalhes, principalmente nos planos de fundo, e alguns trechos são visualmente memoráveis, como um elevador 2D que parece ter profundidade e a bela fase de moto que se passa perto de um oceano. Os chefes, em especial, são impressionantes: os imensos mestres contam com designs inventivos e movimentação elaborada. Uma trilha sonora com composições que parecem ter vindo diretamente do Mega Drive reforça a ambientação clássica.

O visual bem construído e carregado de elementos é um deleite, mas é também um dos defeitos do jogo. Às vezes tem tanta coisa na tela que é difícil identificar perigos e projéteis, e muitas vezes morri sem saber exatamente o que me atingiu. Outra questão é a presença de lentidão (slowdown) em alguns momentos mais frenéticos, principalmente quando aparece algum robô imenso, o que atrapalha um pouco a fluidez da ação. Felizmente são defeitos que incomodam pouco, pois aparecem com pouca frequência.


A experiência tem uma pegada mais arcade, o que significa que o título não é muito longo: a jornada é dividida em seis diferentes fases. A intenção é jogar inúmeras vezes, no entanto, por causa da dificuldade, você dificilmente terminará rapidamente a aventura — alguns trechos eu demorei meia hora ou mais para conseguir terminar. A longevidade vem na forma de três dificuldades distintas, placares online, modos adicionais e personagens desbloqueáveis. Os heróis extras, em especial, mudam significativamente a experiência de jogo por serem focados em ataques a curta distância e são um ótimo incentivo para revisitar as missões.

Ação acelerada que vale a pena

Blazing Chrome conquista com sua ótima interpretação do gênero run and gun. Os controles precisos e a dificuldade intensa fazem com que a jornada seja muito divertida, principalmente na companhia de um amigo no multiplayer local. Um dos maiores destaques é a diversidade de desafios e cenas que aparecem pelo caminho, é notável como as mecânicas básicas são exploradas em confrontos e trechos bem criativos. A ambientação é memorável, com elementos em pixel art bem construídos, por mais que às vezes a ação fique um pouco caótica demais. No fim, Blazing Chrome resgata e moderniza o passado, o que faz com que o jogo seja imperdível.

Prós

  • Mecânicas de tiro e plataforma simples e bem executadas;
  • Ampla variedade de situações pelos estágios;
  • Ambientação acertada por meio de visual pixel art e música com ares retrô;
  • Boa quantidade de conteúdo.

Contras

  • Confusão visual atrapalha em alguns momentos;
  • Certos trechos apresentam slowdowns.
Blazing Chrome — Switch/PC/PS4/XBO — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: André Carvalho
Análise produzida com cópia digital cedida pela The Arcade Crew

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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