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Análise: Alder’s Blood (Switch): uma excelente combinação de estratégia e furtividade

Misturando RPG, estratégia e stealth, Alder's Blood é um título interessante com batalhas bem executadas.


Desenvolvido pela Shockwork Games, Alder’s Blood é um RPG estratégico com combate focado em stealth. Graças a essa mistura de estilos muito bem escolhida, mais do que sair brigando com os inimigos, trata-se de um jogo que recompensa a esperteza do jogador em lidar com as adversidades encontradas.


Vivendo nas sombras


Em um mundo tomado por abominações que caçam tudo o que parece humano, Deus está morto e as trevas se espalham pelo mundo. Uma nova raça humanóide, os Hunters, surge para lidar com essa crise. Cabe ao jogador, na pele de um líder de Hunters exilados, investigar o que está acontecendo e realizar uma variedade de missões. Mas o principal mesmo é tentar sobreviver, o que não é simples.

O jogo pode ser dividido em duas partes. A primeira envolve o gerenciamento de recursos da equipe. Fora das batalhas, comida, dinheiro e materiais são fundamentais para manter o funcionamento do grupo. Já a segunda parte são as batalhas em si, que demandam que o jogador tenha controle tático dos personagens e saiba se adaptar às situações para concluir uma variedade de tarefas. Mais do que simplesmente matar inimigos, passar despercebido é uma ação mais eficaz.

 As batalhas funcionam como um RPG tático com grid hexagonal e são altamente estratégicas, demandando que o jogador tenha muita atenção a vários elementos. Como os inimigos têm visão e olfato, o jogador precisa aprender a se esconder pelo cenário, avançar sem ser visto e tomar cuidado com a direção do vento (para onde o seu cheiro vai). Para terminá-las, a missão pode mudar bastante, com objetivos como “derrote tais inimigos”, “pegue o item em X lugar” ou “escape pela área Y”. Essa variedade ajuda a manter um senso de novidade entre as batalhas.

Quando um personagem morre em combate, o jogador tem a opção de abandoná-lo ou, em poucos turnos, movimentar um aliado para revivê-lo (fraco e debilitado, mas vivo). Ao contrário do que é comum do gênero, o HP dos personagens não é recuperado após o fim das batalhas. Para isso, é necessário colocá-los para descansar no período entre os combates, mas essa passagem de um dia para outro exige uma certa quantidade de comida e, dependendo do lugar do mapa em que o jogador está, é possível ser atacado por inimigos sem possibilidade de reagir.

Outro fator fundamental é o nível de corrupção dos personagens. Para realizar as suas quests, o jogador precisa se movimentar de um lado para o outro no mapa do mundo, mas os personagens têm um limite de vida. Movimentar-se pelo mapa gasta dias e os personagens caminham para sua morte, recebendo várias penalidades até que a corrupção leve ao seu falecimento. Para evitar perder totalmente o progresso, o jogador pode comprar outro Hunter e sacrificar o seu atual para transferir a experiência do mais velho.

Graças a essa constante redução, é difícil que o jogador vença os desafios na base da força bruta. Em se tratando de um jogo de stealth, essa mecânica é bem colocada. Por outro lado, sinto que o jogo exagera um pouco nos outros fatores de gerenciamento que não estão vinculados diretamente com a batalha. A quantidade de dinheiro é usualmente escassa, o gasto de comida pode tornar o gerenciamento da equipe custoso e há outros recursos consumidos para síntese de itens.

Um SRPG instigante com pequenos errinhos


Infelizmente, o jogo tem alguns pequenos problemas que podem ser um tanto incômodos. O mais comum deles tem relação com os saves, que são criados automaticamente e também podem ser manuais caso o jogador queira ter esse controle. Ao abrir um save automático, encontrei diversas vezes uma situação em que era restaurado um ponto errado de uma batalha, e eu precisava abri-lo novamente para chegar ao ponto correto.

Também encontrei um erro que mantinha a barra de ação de um personagem vazia ao invés de restaurá-la para o correto naquele ponto da batalha. Como o jogo não oferece possibilidade de cancelar o movimento do personagem, é comum que o jogador cometa pequenos errinhos e tenha que usar o autosave para corrigi-los, fazendo com que esses erros sejam recorrentes.

O texto das quests também pode ser confuso ou contraditório em alguns momentos. O exemplo mais claro disso é uma das missões principais em que o jogador recebe uma carta que pede para ele voltar para “Crossroads”. No entanto, ao chegar lá, ele é xingado porque deveria ter permanecido no local em que estava por 2 dias. Na lista das quests, realmente está escrito que ele deveria esperar, mas se ele continuar no lugar, ele é xingado exatamente da mesma forma.


Honestamente, nem esses erros nem o excesso de recursos a serem gerenciados atrapalham muito a experiência. As batalhas são bem executadas e a atmosfera sombria chama a atenção, especialmente graças à arte detalhada, que reflete com muita competência o tom desesperador da ambientação. É um jogo recomendado sem sombra de dúvidas para quem gosta de stealth e estratégia, e quer ver como uma mistura desses dois estilos funciona.

Prós

  • Batalhas táticas que exigem bastante atenção e estratégia do jogador;
  • Objetivos bem variados para as missões;
  • O tempo limitado de vida dos personagens ajuda a manter o jogador fraco e valorizar a estratégia ao invés da força bruta;
  • Arte detalhada e sombria com marcas de desespero, que é fundamental para a ambientação.

Contras

  • Problemas com os saves;
  • O texto das quests pode ser confuso e contraditório em alguns casos;
  • O gerenciamento de recursos fora da batalha pode ser desnecessariamente complexo.
Alder’s Blood — Switch/PC — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela No Gravity Games

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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