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Análise: Clubhouse Games: 51 Worldwide Classics (Switch) é simples, conciso e ótimo por isso

Coletânea de jogos de tabuleiro traz grande variedade de partidas curtas e descompromissadas que se encaixam no gosto e no dia a dia de qualquer um.


Algo que sempre me deixou curioso são as versões de jogos de tabuleiro que são lançadas para Nintendo Switch. Em uma visita à eShop, é possível encontrar edições digitais de Uno, Monopoly e de vários jogos clássicos, como xadrez, paciência ou damas. Tais lançamentos sempre me intrigaram. Não seria mais fácil – e, principalmente, mais barato – comprar as versões físicas desses passatempos? Afinal, a experiência é a mesma, certo?


Se tem algo que Clubhouse Games: 51 Worldwide Classics (Switch) me ensinou é que o jogo pode até ser igual ao da vida real, mas a experiência não é necessariamente a mesma. Desenvolvido pelo estúdio NDcube, famoso por produzir os mais recentes títulos da série Mario Party, a coletânea publicada pela Nintendo traz, como o próprio nome já diz, 51 games de tabuleiro e minigames vindos de diferentes partes do mundo. Apesar de não apresentar tutoriais tão robustos e possuir estranhas limitações em seu multiplayer, o título se destaca pela sua apresentação agradável e divertida, pela variedade de atividades e pela sua simplicidade, tornando-se uma boa opção para quem procura um game pick up and play para partidas descompromissadas sozinho ou com amigos e familiares.

Minimalismo divertido

A coleção para Switch é uma sequência de Clubhouse Games, lançado em 2005 no Nintendo DS. Nesta época, o portátil de duas telas já havia se estabelecido como um hardware que podia ser aproveitado por todos, independentemente da idade ou de experiência anterior com games. Cada vez mais, a Big N lançava títulos como Brain Age e Nintendogs, focados em um público mais abrangente e não só fãs da empresa. Clubhouse Games fazia parte desse grupo de jogos mais casuais.

51 Worldwide Classics herda muito desse tipo de pensamento da Nintendo de 15 anos atrás. Ao iniciar o título pela primeira vez, é possível notar o quão minimalista é sua apresentação. Não há aqui gráficos ou uma interface super complexos. A maior parte dos menus é baseada em ícones de fácil compreensão para cada atividade e os NPCs que guiam o usuário pelo game são bonecos de tabuleiro com animações extremamente simples. Isso faz com que o impacto de se receber mais de 50 jogos diferentes de uma única vez – um acréscimo de nove em relação à versão de DS – seja suavizado, principalmente para aqueles que não têm o costume de jogar games regularmente.
Os ícones de todos os jogos no menu principal, que é tão simples que chega a ser agradável de se ver.
No entanto, minimalista não significa neutro ou sem graça. Para tornar o título mais convidativo, os desenvolvedores acrescentaram pequenas introduções em que bonecos explicam o básico das regras de cada jogo com falas completamente dubladas. Esses momentos são os destaques da apresentação do game, não só pelas boas interpretações dos atores que deram voz aos bonecos, mas também pelo humor utilizado nessas cenas. Em um momento, uma mulher compara uma partida de Last Card (versão do game para Uno) com a crueldade da vida. Em outro, uma criança age como a capitã do esquadrão de Team Tanks, enquanto os adultos encarnam os soldados. Em quase todos os minigames, os personagens se provocam de maneira divertida, como se estivessem em uma disputa real do jogo que estão explicando. Apesar de aparecerem toda vez que se inicia um game, perdendo seu frescor em alguns minutos, são cutscenes que esbanjam simpatia e que ilustram bem a afirmação acima de que a experiência do título é bem diferente da dos jogos na vida real.

Jogando sozinho

Falando sobre os passatempos em si, é um pouco difícil encontrar a melhor maneira de analisá-los. Afinal, são 51 atividades diferentes e fazer um review de cada uma delas seria contraproducente. Nenhum dos jogos apresenta falhas gritantes de design devido à sua simplicidade. A variedade de estilos é tão grande que dizer que um é melhor que o outro torna-se questão de gosto e não é isso que buscamos aqui.

No entanto, é possível encontrar algumas peculiaridades nos modos single player e multiplayer local e online sobre as quais vale a pena comentar. Ao ser experimentado com apenas um jogador, o título vira uma espécie de mostruário de todos os jogos com alguns recursos que aumentam sua longevidade, como medalhas e curiosidades para serem destravadas. Enquanto essas são liberadas a cada partida realizada, aquelas exigem que o jogador complete alguma façanha, como conquistar um certo número de pontos ou vencer a CPU com dificuldades e regras diferentes. Além disso, à medida que se testam os jogos, bonecos começam a aparecer em um globo terrestre, sugerindo sets específicos, como games focados em esporte ou que reflitam a história da própria Nintendo.
Bonecos fazem sugestões de jogos em grupos temáticos.

Embora estendam consideravelmente o gameplay, esses recursos não alcançam seu potencial pleno. Há pouca variedade nas conquistas, praticamente se limitando aos dois exemplos citados acima. A sessão de trivias também traz poucas informações aprofundadas sobre cada jogo, ficando apenas entre três a quatro dados simples, como onde surgiram e de onde vieram seus nomes. Ter que jogar repetidas partidas para desbloquear tais curiosidades também pode tornar o game um pouco maçante, principalmente nos jogos de que o usuário menos gosta.
Uma curiosidade que não tem lá muito a ver com o jogo, mas OK.

Porém, é possível notar que o foco de 51 Worldwide Classics não está realmente nesses destraváveis. Eles existem para dar uma sensação de progressão ao jogo, mas não influenciam nada além disso. Nem no modo online, o qual será detalhado mais à frente, as medalhas são utilizadas como parâmetro de matchmaking. Portanto, elas servem mais para satisfazer aqueles que gostam de completar games 100%. Isso faz com que a estrutura do título seja muito mais solta, permitindo que o jogador se divirta da maneira que achar melhor. Nesse quesito, o game brilha.
As medalhas estão presentes somente para satisfação pessoal.

Dentre as 51 atividades, há jogos de estratégia, de sorte e games que exigem reflexos rápidos ou bastante raciocínio. É muito difícil que, dentro desta lista, não haja um único jogo que não combine com o estilo de cada pessoa. Por exemplo, eu prefiro muito mais games de ação e puzzles, portanto estou sempre voltando para jogos como Toy Boxing, Air Hockey, Hit and Blow, Slot Cars e Paciência. Já quem gosta de estratégia, pode se aventurar com Xadrez, Damas, Shogi, Dominós, Hare and Hounds ou Hex. Alguns jogos, como Boliche e Team Tanks incluem até diferentes níveis e modos de desafio, aumentando ainda mais a jogabilidade. Ou seja, todos os gostos são atendidos e, como algumas partidas são bem rápidas, elas se encaixam perfeitamente naqueles minutos livres que todos nós temos.

Entretanto, algo cuja falta é sentida são tutoriais mais elaborados para alguns dos jogos mais complexos. Mesmo tendo introduções divertidas e instruções em forma de texto, disputas de Hanafuda ou Riichi Majong tendem a ser difíceis de entender para quem não os conhece, pois as explicações do game não conseguem traduzir todos os seus pormenores. Os desenvolvedores até colocaram tutoriais interativos em jogos mais intrincados, mas, mesmo assim, só são cobertas as regras básicas. É bem provável que, nas primeiras partidas desses jogos, o computador, cujo nível de dificuldade nem sempre parece justo, ganhe impiedosamente.
O jogo até tenta explicar passatempos mais complexos, mas os tutoriais são muito rasos.

Ainda nessa linha, o título poderia ter lições mais minuciosas para jogos de estratégia. Eu, que sou horrível nesse tipo de game, achei que a NDcube perdeu a oportunidade de acrescentar modos para ensinar aos jogadores dicas mais aprofundadas. Afinal, eu posso até entender as regras de xadrez, damas ou shogi, mas, se não consigo visualizar o tabuleiro de modo estratégico, cada derrota se torna frustração.

Mil e uma maneiras de se jogar junto

Como todo bom jogo de festa que se preza, Clubhouse Games para Switch tem como seu carro-chefe o modo multijogador. Até quatro pessoas podem se divertir com a coletânea, porém, para que isso aconteça, o título possui uma série de detalhes que devem ser levados em conta dependendo da quantidade de jogadores e do número de consoles presentes localmente. Detalhes esses que, se forem negligenciados, podem causar confusão.

A principal particularidade do multiplayer é que nem todos os jogos estão disponíveis para aproveitar. Quatro deles, incluindo paciência, são exclusivos para um único jogador. Além disso, todos aqueles em que os participantes têm uma mão de cartas ou peças – como Texas Hold’em, Presidente ou Sevens – só podem ser jogados se cada pessoa tiver seu próprio console. Felizmente, a Nintendo disponibilizou uma demo na eShop chamada Guest Pass, que permite que quem não tenha Clubhouse Games possa jogar com alguém que possua a cópia completa do jogo. Porém, deve-se assumir que todos têm um Nintendo Switch em mãos, algo que, muitas vezes, pode não acontecer.
Presidente é um dos jogos que exige mais de um Switch para se jogar em multiplayer local (Obs.: as cartas do Mario são desbloqueáveis)

O setup mais simples é quando duas pessoas estão jogando no mesmo console. Nesse caso, pode-se usar os Joy-Con ou a tela sensível ao toque da plataforma. Alguns jogos são compatíveis com ambos os métodos de controle, outros com somente um dos dois, porém, independentemente da escolha, os comandos são bastante intuitivos. Ao usar os Joy-Con na horizontal, os controles se tornam típicos de jogos arcade, nos quais somente o analógico e um ou dois botões são utilizados. Também é possível controlar usando os sensores de movimento, os quais cumprem bem o seu papel, até mesmo em Shooting Gallery, em que é necessário recalibrar a mira constantemente por causa do giroscópio. Além do mais, com o HD Rumble, é possível sentir dados ou pecinhas de tabuleiro balançando em sua mão em uma aplicação excelente deste recurso.

A tela de toque do Switch, tão divulgada em todas as peças de marketing do título, também é bem aproveitada. De início, pode demorar um tempo para entender como alguns dos jogos funcionam com toque, mas, passada essa curva de aprendizagem, as atividades ficam ainda mais simples de se aproveitar. Até mesmo em modo single player, jogos como Speed, paciência e, para mim, boliche, tornam-se melhores com o uso da tela de toque, pois permitem um controle mais preciso e rápido da ação.
Jogos como Air Hockey ficam com controles mais precisos quando jogados com a tela de toque.

No entanto, quando o assunto é jogar com três ou quatro pessoas no mesmo console, as opções são extremamente limitadas. Com três, só é possível jogar Blackjack, Ludo e Damas Chinesas. Com quatro, só esses dois primeiros. É uma restrição muito desconcertante, já que jogos como Golfe, Dardos, Pescaria ou Battle Tanks poderiam ser facilmente adaptados para mais participantes. Para se divertirem com a maior parte dos games usando somente um Switch, os jogadores precisam se revezar no modo para duas pessoas, algo que não condiz com o clima de jogos de festa.
A minúscula seleção de jogos para três jogadores.

Aliás, ter somente um Switch impede que se experimente um dos modos mais interessantes de 51 Worldwide Classics: o Mosaic Mode. Nele, é possível alinhar diferentes consoles fisicamente e sincronizá-los, criando uma grande arena de Team Tanks, um rio para pescaria ou um Piano mais completo. Infelizmente, já que não tenho acesso a mais de um sistema, nem tenho como encontrar amigos que possam ajudar devido à pandemia de Covid-19, esse modo não influenciará nesta análise.

Jogando com o mundo

Nada mais coerente que um título sobre jogos do mundo todo permita que pessoas de diferentes países joguem juntas. No modo online, é possível participar de partidas de praticamente todas as atividades, tirando as exclusivas para single player, Slot Cars, Team Tanks e Pescaria. Seguindo o estilo minimalista do game, não há diferentes opções ou várias regras para as partidas pela internet. Basta escolher os jogos dos quais deseja participar e aguardar um desafiante. Simples assim.

Como dito acima, o game não usa a quantidade de achievements desbloqueados no single player como parâmetro para o matchmaking. Muito menos há o registro de vitórias e derrotas de cada jogador. Portanto, o modo online também tem um ar casual, no qual o foco não é ganhar ou perder, e sim aproveitar as disputas com outros seres humanos quando as partidas contra CPUs não mais satisfazerem.
Partidas de Ludo online podem ser longas e intensas.

Conectar o jogo à internet também permite que bonecos representando diferentes usuários do mundo apareçam no globo terrestre do modo para um jogador com suas próprias sugestões de jogos. É possível filtrar tais bonecos por oponentes recentes, similar números de medalhas e por características inusitadas, como comida favorita e maior desejo da vida, duas informações que são escolhidas por cada jogador ao iniciar o título pela primeira vez.
As sugestões do nosso Lucas Gomyde. Curtiu?

No final das contas, não há muita profundidade no modo online, mas isso não é problema algum ao levar em consideração a natureza pick up and play do game.

Uma agradável coletânea

Clubhouse Games: 51 Worldwide Classics é daqueles típicos títulos feitos para serem jogados aos poucos, quando temos algum tempo para matar ou quando queremos alguma diversão rápida com amigos e familiares. Seu design é simples, mas não é simplório. A grande variedade de jogos e seus controles intuitivos e variados fazem com que o game possa ser aproveitado por diferentes tipos de pessoas. Já sua apresentação minimalista e divertida é a cereja no bolo.

Infelizmente, algumas questões, como a falta de tutoriais mais explicativos e uma série de particularidades no modo multijogador, fazem com que a experiência não seja tão suave assim. Porém, é possível ver que esta é uma coleção desenvolvida com carinho, destacando-se dos demais títulos similares para Switch. Vale a pena conferir, principalmente se você é cético em relação a games de jogos de tabuleiro.

Prós

  • Apresentação minimalista e convidativa a quem não costuma jogar;
  • Introduções dubladas muito divertidas, com boas atuações e simpático senso de humor;
  • Grande variedade de jogos e gêneros faz com que todos os gostos sejam atendidos;
  • Controles simples e intuitivos, tanto com os Joy-Con quanto com a tela de toque do Switch;
  • Boa aplicação do HD Rumble;
  • Partidas rápidas e simples fazem com que o título possa ser facilmente aproveitado nos momentos livres.

Contras

  • Repetição para conquistar achievements e curiosidades no modo single player;
  • Curiosidades sobre os jogos poderiam ser mais elaboradas;
  • Falta de tutoriais mais aprofundados dificulta o entendimento de jogos complexos ou que exigem bastante estratégia;
  • Opções muito limitadas quando se joga com três ou mais pessoas em somente um console.
  • Excesso de detalhes para se jogar em modo multijogador pode confundir.
Clubhouse Games: 51 Worldwide Classics - Switch - Nota: 7.5
Revisão: João Gabriel Haddad
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo
Clubhouse Games: 51 Worldwide Classics está disponível na Loja Nintendo

Jornalista, analista de mídias, PcD e entusiasta de games desde que jogou Pokémon Azul no Game Boy Color nos anos 90. De lá para cá, tenta aproveitar ao máximo todos os consoles no pouco tempo que a vida adulta permite. Se não está escrevendo para o Blast ou demorando anos para zerar um jogo, está no Twitter (@DanielMorbi) e no Instagram (@danielmorbi_)
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