Crônica

Ricco Harbor, Nintendo World Especial #07 e a felicidade de uma criança

Hoje relembro com vocês o primeiro dia com meu GameCube e como a ansiedade de uma criança pode render histórias engraçadas.


Assim como ocorreu com o Switch, o meu GameCube também foi presente de aniversário, ambos comprados um dia depois da data (um em 19/10/2020, o outro em 19/10/2002); o primeiro foi um presente meu, o outro do meu pai. Em comum, ambos os videogames vieram com Super Mario Sunshine, ainda que no Switch ele tenha vindo na coletânea Super Mario 3D All-Stars.


Na minha primeira aventura pela Ilha Delfino, a ansiedade por ter um videogame novo em mãos, minha imperícia no inglês e um pouco de desatenção resultaram em uma história um tanto quanto engraçada, que compartilho hoje com vocês.

A felicidade de uma criança com um cubo mágico

Eu acompanhava a Nintendo World religiosamente desde a edição #41, de janeiro daquele longínquo ano de 2002, mas era nintendista desde criança e estava por dentro das novidades; a principal delas, no caso, o GameCube. O Super Nintendo e o Nintendo 64 foram presentes, e eu estava louco para que o cubo fosse o próximo.

Isso de fato aconteceu, um dia depois do meu aniversário; após encerrar o expediente de trabalho, meu pai me levou até a Galeria Pagé para comprar meu tão esperado GameCube. Junto dele vieram um Memory Card com "incríveis" 59 blocos, um controle adicional (que eu depois de um tempo descobri ser paralelo, o que fez envolvê-lo numa troca por Enter the Matrix) e o novo jogo do bigodudo, Super Mario Sunshine!

Chegando em casa, na companhia do meu primo Johnny (grande responsável pelo meu lado nerd, fato pelo qual serei sempre grato), tiramos o brinquedo novo da caixa e exploramos cada detalhe ali presente. Na sequência, fizemos a instalação, numa TV de tubo cuja tela ainda não era plana, da Sanyo. O som de início do GameCube ainda hoje é claro em minha mente. Após explorar o menu do console, uma novidade incrível na época, era a hora de inserir o mini DVD no cubo mágico e acompanhar Mario em suas férias.
Foi uma TV exatamente igual como essa que minha jornada no GC começou



A prévia de Super Mario 128

Com apenas 12 anos recém-completados e informações confusas, eu acreditava que Super Mario Sunshine era apenas uma prévia do que veríamos em Super Mario 128, que seria lançado ainda para o GameCube. Acabou que aquilo era o suficiente para mim: desde a abertura, o encanto ficou estampado no meu rosto, e no do meu primo também.

A ânsia de desfrutar cada canto do jogo esticou a nossa jogatina; entrar nas fases não era o mais importante, queríamos conhecer cada pedaço daquela ilha (a princípio, apenas Delfino Plaza). Iniciamos nossa jornada por volta das 19:00. Naquele dia, não seguimos a nossa rotina: não assistimos às novelas ou ao Jornal Nacional. Minha mãe compreendeu que eu precisava aproveitar meu presente.
Conhecer cada pedaço dessa ilha foi uma experiência incrível

















Quem saía do Nintendo 64 (ou do PlayStation, no caso do meu primo) se deslumbrava com o poderio gráfico entregue pela Nintendo. Era quase fotorrealista, como dito em toda troca de geração. Nos aventuramos por cada canto disponível, apreciando a paisagem e os detalhes. Porém, nenhum dos dois estava tão afiado no inglês ou de fato preocupado em ler os diálogos, dado o vislumbre visual. E isso gerou um certo problema.

A afobação de uma criança e seu inglês cru

Com toda essa afobação, acabei travando no Episódio 2 de Ricco Harbor, Blooper Surfing Safari. Eu simplesmente não conseguia descobrir o que fazer. Eu via a trilha de moedas e o duto que leva ao circuito do esgoto com a entrada cheia de piche, mas não sabia como entrar ali. 
Hoje é fácil, mas em 2002...

Tentamos muito, até que, às 7:00 do domingo, minha mãe levantou e exclamou: “Nossa, vocês levantaram cedo pra jogar, né?”. Só ali nos demos conta de que já era de manhã e tinha decorrido 12 horas de jogatina. Minha mãe, voltando da cozinha, disse: “Vocês nem dormiram, né? Vão dormir!”. Como já estávamos cansados e sem conseguir prosseguir no jogo, fomos dormir, mas não sem antes traçar um plano de ação para prosseguir no jogo.

Enfim, a Nintendo World Especial #07

Eu era leitor assíduo da Nintendo World havia pouco tempo, mas já tinha visto a divulgação da edição Especial sobre o GameCube, um verdadeiro guia do console. Sabia que havia detonados, então logo imaginei que Super Mario Sunshine estaria lá, assim como a solução para o impasse de Ricco Harbor.

Fui dormir e, sem despertador, acordei por volta de 8:00 daquele domingo. Rapidamente tomei café e fui sozinho até a banca do bairro, que ficava a um quarteirão de distância. Não era só lá que eu comprava minhas edições da Nintendo World, mas era uma das opções, e a mais próxima de casa.

Para minha chateação, a banca estava fechada. Perguntei pro pessoal da padaria se ela abriria naquele dia, e me confirmaram que sim, às 9:00. Fiquei sentado na porta da banca até que o dono chegasse e me vendesse o exemplar que tenho até hoje. Fui correndo pra casa, onde encontrei meu primo já acordado, e nos debruçamos nas páginas daquele guia para encontrar a solução de nosso impasse.

Grande foi a decepção ao constatar que Super Mario Sunshine não estava naquelas páginas, mas sim Luigi’s Mansion, que foi um dos jogos de lançamento do GameCube. Lembro de folhear a revista várias vezes na esperança de ter passado pelas páginas que trariam as respostas que procurávamos. Mas foi tudo em vão.
Minha Nintendo World Especial #07 ainda vive!


Muita calma nessa hora

Em meio à frustração, acabamos descansando um pouco a mente e não muito depois retomamos a jogatina. A pausa fez bem e não demorou muito a descobrirmos que era só pisar em dos Surfing Blooper para conseguir passar a barreira de piche e entrar no circuito do esgoto. Foi um verdadeiro alívio.

Bom, a jogatina seguiu, com menos desespero do que da primeira vez; afinal, a empolgação pela novidade já tinha diminuído um pouco. Continuamos jogando por um bom tempo, mas não pelas mesmas 12 horas. Minha aventura pela Ilha Delfino, depois disso, foi muito mais orgânica e proveitosa, apesar de que apenas agora, revisitando o jogo no Switch, eu tenha encarado o desafio de coletar todas as moedas azuis do jogo e, com isso, fazer os 100%. Você pode acompanhar os guias de Bianco Hills, de Ricco Harbor e aguardar pelos próximos, um por semana.

Hoje, com o inglês afiado e aproveitando o jogo com o mesmo entusiasmo, porém sem a mesma ansiedade, vejo como era um obstáculo simples a se superar. Trechos mais difíceis do jogo fluíram de maneira bem mais natural. Acredito que isso seja culpa da afobação de uma criança com seu brinquedo novo (tá, o garoto que ganhou o 64 de Natal me superou, e muito), algo que é comum na infância de todo gamer.
Um jogo mais do que especial, ainda mais com o autógrafo do Martinet


E você, caro leitor, tem alguma história parecida para compartilhar?

Revisão: Davi Sousa



Fã de Cavaleiros do Zodíaco, Power Rangers e videogames, em especial Metroid e Resident Evil. Tem uma queda pela Nintendo, mas sabe apreciar o que há de bom na concorrência. Quando se lembra posta alguma coisa bacana no Instagram .
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