Jogamos

Análise: WarioWare: Get It Together! (Switch) é um espetáculo de criatividade e conteúdo que enlouquece a cada momento

A aventura em Diamond City impressiona pela quantidade de conteúdo e diverte muito, mas deixa um gostinho de que poderia ser mais memorável.

BWAHAHAHA! O pilantra mais nojento da Nintendo está de volta: oito anos após o divisor de opiniões Game & Wario (Wii U), o anti-Mario está mais uma vez fazendo bagunça em um console de mesa, desta vez, nas telinhas e telonas possíveis ao Nintendo Switch em WarioWare: Get It Together! De forma nunca antes vista, Wario resolveu trazer todo o seu bando de amigos para a festa, tornando o que já era maluco ainda mais louco e selvagem, em um jogo surpreendente e divertido — talvez não para todos.

Anti-Mario, Mario do mal ou Charmoso Supremo?!

Em 1992, nos tempos do saudoso Game Boy, um carismático vilão de bigode recortado e nariz ressaltado era introduzido como o chefe final malvado de Super Mario Land 2: Six Golden Coins (GB), colocando uma pulga atrás da orelha de todos. Apenas dois anos foram necessários para essa pulga sumir e o charmoso anti-herói estrear em seu primeiro título: Wario Land: Super Mario Land 3 (GB). 

A série prosseguiu independente da franquia Super Mario e angariou vários fãs, mas a insistência em mais títulos plataforma pareciam segurar um personagem com tamanho carisma e potencial. Foi só em 2003, novamente em um portátil, que Wario enfrentou pela primeira vez o seu verdadeiro destino como desenvolvedor de jogos e mestre dos microgames.

Então, desde o lançamento de WarioWare, Inc.: Mega Microgames! (GBA), o peidorreiro e catador de meleca encanta um seleto grupo de fãs com rodadas de microjogos caóticas e, acima de tudo, ultra-curtas. Tratam-se de desafios incrivelmente rápidos, construídos para testar seus reflexos, paciência e, às vezes, sua flora intestinal — como um típico jogo do Wario precisa ser. 

Diversão, seja onde ou como for!

Lavar as mãos, embalar uma criança, girar um moinho de vento, fazer uma batida de peixe, pegar um alienígena, voar através de anéis, cobrir a nudez, fazer um cachorro beber água, descascar bananas, afugentar cobras, desembrulhar doces, despoluir um recife, lamber sorvete, empurrar dominós, apagar uma fogueira... Tem de TUDO, absolutamente tudo! 

Ao todo, 222 desses microjogos inteligentemente sem sentido estão inclusos. Alguns deles até recriam sucessos da Nintendo como Super Metroid (SNES), Game & Watch ou The Legend of Zelda: Breath of the Wild (Wii U/Switch), como típico dos criados pelo 9-Volt.

Na formulação do gameplay de Get It Together!, no entanto, a cooperação entre a Nintendo e a Intelligent Systems mexe com a estrutura-base da série e insere um conceito clássico combinando simplicidade, estresse e curiosidade. Grotescas junções de desenhos animados, fotos, gráficos 3D e vários estilos de arte estão em todo o jogo, menus e HUD, trazendo uma diversidade enorme de conteúdo visual e acenando à loucura cada vez mais.

Começamos o game com apenas Wario dentre os personagens jogáveis, mas vamos desbloqueando cada um deles ao longo da história até termos todos os 20 disponíveis. A turma quase toda está aqui, trazendo referências aos demais não-jogáveis ao longo de pequenos trechos de apresentação. Conseguimos controlar os seguintes desenvolvedores:
  • Wario
  • Jimmy T.
  • Mona
  • Dr. Crygor
  • Penny
  • Orbulon
  • Dribble
  • Spitz
  • Mike
  • Young Cricket
  • Mantis
  • Lulu
  • 9-Volt
  • 5-Volt
  • 18-Volt
  • Kat
  • Ana
  • Ashley
  • Red
  • Pyoro
Cada um deles tem a sua própria maneira de se mover pela tela e interagir com o resto do ambiente, ainda que com os mesmos controles: o direcional analógico e o botão de ação A. O anfitrião, Wario, ostenta um jetpack que o deixa voar livremente e dar troncadas no ar, já Young Cricket pode dar saltos bem altos, enquanto Ashley consegue se deslocar para todas as direções e soltar feitiços; outros ainda disparam com bazucas, usam um bumerangue ou só podem se mover de forma constante ou estranha. Uma variedade interessante, para dizer o mínimo.

Melhor ainda é que todos devem ser compatíveis com cada um dos 222 microjogos, que são sempre selecionados ao acaso. Daí, dependendo do personagem em cena, a solução para o desafio pode ser diferente: com um você pode ter que saltar para algum lugar, com o outro você tem que disparar um tiro bem dirigido, ou mesmo espichar a sua língua para que ela resolva por você.

Para o jogador, isto significa que não basta apenas resolver a tarefa atual à velocidade da luz, mas também considerar qual personagem você tem no momento e identificar qual será a melhor solução. Muito inteligente, caótico e frenético: os ingredientes perfeitos para uma boa jogatina com a família e amigos.

Embora as habilidades de todos os personagens sejam acionadas apenas pressionando um botão, é necessário um nível adicional de torção cerebral em ritmo acelerado, o que pode ser extremamente divertido para alguns, mas ainda muito cansativo e chato para outros, ao ponto de enjoar em pouquíssimo tempo. Aqui entra o famoso dilema que a franquia encontra desde a sua origem, uma relação de amor e ódio que a série parece carregar por todas as entradas.

Escolha como você quer se endoidar

O jogo apresenta quatro modos principais, sendo cada um diferente de si. São eles o Story, Variety Pack, Play-o-pedia e Wario Cup, além de uma opção de Crew em que se pode caracterizar melhor cada um dos personagens.

O modo Story dura pouco menos de três horas, e é nele que você corre por todas as etapas do mistério apresentado na cutscene inicial presente também na demo, seja sozinho ou com um jogador adicional. É jogando repetidas vezes esse modo que você consegue desbloquear todos os microgames e personagens possíveis, tendo que contar com a sorte para que isso seja feito o mais rápido possível.

A cada falha em cumprir com o objetivo de um microgame, você perde uma vida do total de quatro para cada mundo. Em caso de perda das quatro, você pode continuar imediatamente de onde parou por uma quantia pequena da moeda do jogo, utilizada principalmente no modo Crew. Caso você ainda prefira economizar, basta vencer todos os microjogos novamente até concluir de 15 a 20 para chegar no desafio final do Boss.

É no modo Play-o-pedia que você poderá escolher individualmente jogar cada um dos microgames já disponíveis e tentar conquistar a maior sequência de acertos possível, ou ver quais faltam ser desbloqueados, podendo ser jogados sozinho ou com dois jogadores.


Em Wario Cup, que também precisa ser desbloqueado, nada mais ocorre do que desafios semanais e rankings on-line para se consagrar dentre os melhores jogadores do mundo. Mas realmente não há nenhum outro aspecto on-line que não este.

Enfim, em Crew, todos os heróis que ficam disponíveis no decorrer da campanha da história têm a opção de receber presentes comprados com a moeda do jogo. Assim, é possível nivelá-los para desbloquear novas cores, temas, artes exclusivas ou mesmo treinar suas habilidades.

É um desafio e tanto conseguir desbloquear todas as cores, artes e temas de cada personagem e poder, depois, usufruir deles em sua coloração favorita é bastante satisfatório.


Onde o game brilha de vez, no entanto, é no modo Variety Pack. Aqui teremos, ao invés do tradicional estilo de cumprimento de microgames em sequência, dez modos de jogo bem diferentes esperando por você, alguns dos quais incluem microjogos e outros não.

Seja uma partida de vôlei, usufruindo dos poderes de cada personagem, ou então uma disputa de embaixadinhas, com a opção de se aventurar em um jogo endless run de coleta de itens. As possibilidades são diversas, e para até quatro jogadores simultâneos.

Há em outros modos disponíveis a combinação da loucura dos microgames bem distribuídos com truques táticos. Por exemplo, quando os outros jogadores bombeiam um balão que está prestes a estourar ou jogam uma espécie de caos do hóquei antes de cada rodada – seja cooperativa ou em disputa.

Alguns modos também avaliam o quanto um jogador contribui para o sucesso na tarefa do microgame — que é o principal provocador de gargalhadas ou de raiva durante um duelo no sofá. Até mesmo uma versão básica de Smash Bros. está disponível, somando à experiência do game e garantindo que há muita coisa que fará você voltar a WarioWare: Get It Together!, apesar da campanha curta.

A apresentação gráfica não surpreende, contendo o habitual encanto anarquista e selvagem da mistureba de estilos gráficos, seja in-game ou enquanto explora as artes de cada modo disponível.

Há ainda a opção de jogar o game com dois Nintendo Switch conectados, em multiplayer local, mas não foi possível encontrar parceiros de jogatina para testar o modo.

O lado não tão louco da história

O jogo decepciona ao escolher a saída mais fácil e não incluir nenhum recurso exclusivo do Nintendo Switch — ele pode ser literalmente jogado em qualquer console que tenha apenas um analógico e um botão. A tradição da série é de sempre utilizar os aspectos únicos da plataforma em que está inserido de forma criativa e diversa. Muitas pessoas sonhavam com um grande título WarioWare assim que viram os diferentes sensores e capacidades dos Joy-Cons, que até hoje não justificam o seu elevado preço.

A decisão para seguir neste caminho, no entanto, deve-se, dentre outras coisas, à escassez dos mesmos controles no Nintendo Switch Lite, o que incapacitaria os usuários do portátil de desfrutar do mais novo game. Um sacrifício doído, diga-se de passagem.

Além disso, apesar da diversidade de personagens ser muito interessante, nomes como Young Cricket, um favorito entre os fãs, é claramente menos capaz que a maioria. Tendo em seu mestre, Mantis, um claro update de todas as suas habilidades, não há justificativa para a escolha do aprendiz, a não ser que queira largar atrás de seus adversários.

O Story Mode, por sua vez, além de muito curto, deixa de expandir e aprimorar as histórias de cada personagem, como era feito antigamente. Ele se limita a cutscenes nada memoráveis e que realmente só servem para tapar o buraco de uma história que merecia (e tinha potencial para) receber mais atenção.

BWAHAHAHA!

WarioWare: Get It Together! (Switch) é, sem dúvidas, um dos melhores títulos multiplayer no Nintendo Switch, com muito conteúdo desbloqueável e formas de se jogar bastante interessantes. As decisões de jogabilidade, apesar de polêmicas, conseguem entregar soluções extremamente simples e divertidas, expandindo ainda mais o leque demográfico do público da franquia.


Para muitos fãs mais ferrenhos, o jogo não é o que esperavam, mas ainda assim, consegue entregar uma experiência WarioWare sólida, propícia à diversão e capaz de garantir longas noites de risos, conflitos e caos — para aqueles que estiverem dispostos a tal.

Prós

  • Esbanja criatividade em absolutamente todo lugar;
  • Adaptação fenomenal da franquia ao suporte multiplayer;
  • Um caminhão de conteúdo desbloqueável que garantirá muitas horas de risadas.

Contras

  • Nenhum recurso dos Joy-Con utilizado;
  • Personagens desequilibrados;
  • Pouca atenção às histórias particulares dos personagens no Story Mode.
WarioWare: Get It Together! — Switch — Nota: 8.5
Revisão: Janderson Silva
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo

Curioso, empolgado e positivo: os ingredientes ideais para criar o Felipe perfeito...ou quase! Estudante de Engenharia no crachá, programador aos fins de semana e designer às quintas-feiras. Na dúvida, viajar pelos mundos de Kingdom Hearts ou caçar monstros em Hyrule são sem dúvidas uma boa aposta! Conheçam-me! @felipe_lemos12
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google