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Análise: Ni no Kuni II: Revenant Kingdom PRINCE'S EDITION (Switch) é um cativante JRPG de ação

A sequência de Ni No Kuni tem aqui sua mais completa versão, apesar do jogo mecanicamente ainda poder não agradar a jogadores mais experientes.




Desenvolvido pela Level-5 e publicado pela Bandai Namco Entertainment, Ni no Kuni II: Revenant Kingdom PRINCE'S EDITION (Switch) é uma edição especial do RPG de ação Ni no Kuni II: Revenant Kingdom (Multi), incluindo não apenas o jogo completo, mas também todas as suas DLCs e um pacote de equipamentos para o príncipe no jogo.


O título foi dirigido por Yoshiaki Kusuda e Takafumi Koukami, e foi escrito por Akihiro Hino. Esse último, é conhecido por suas contribuições em roteiro, direção e/ou produção da série Professor Layton e de notáveis JRPGs como do primeiro Ni no Kuni, o Ni no Kuni: Wrath of the White Witch (Multi), Dragon Quest VIII (3DS/PS2) e Rogue Galaxy (PS2), além de títulos das séries Dark Cloud, Yo-kai Watch e Inazuma Eleven.

Diferente de seu antecessor, Ni no Kuni II não é um RPG com sistema de batalha por turnos, mas por ação em tempo real. Além disso, essa sequência também não conta mais com a colaboração do Studio Ghibli — conhecido por célebres filmes de animação como Princesa Mononoke (1999) e A Viagem de Chihiro (2003) —, mas ainda assim conta com o ex-designer de personagens do Studio Ghibli, Yoshiyuki Momose, e a música orquestral, com traços do classicismo e romantismo, do compositor Joe Hisaishi. Ambos trabalharam nos mesmos cargos no primeiro Ni no Kuni.



Uma história entre dois mundos

A história de Ni no Kuni II foi projetada para aperfeiçoar o caminho traçado pelo jogo original, trazendo histórias mais profundas e com visuais aprimorados. Além disso, para que jogadores mais velhos se sentissem mais identificados e envolvidos com a história, foi introduzido um personagem mais adulto, o terráqueo Roland Crane.

O protagonismo de Roland na história é dividido com o jovem Evan Pettiwhisker Tildrum, príncipe herdeiro do reino de Ding Dong Dell, em um mundo paralelo fantástico. Vale observar que outros personagens podem se juntar ao grupo, como Tani, mais ou menos da mesma idade de Evan, seu pai, Batu, um conselheiro chamado Leander, e uma engenheira chamada Bracken Meadows.




Centenas de anos após os eventos do primeiro Ni no Kuni, o jogo começa no reino de Ding Dong Dell, onde se pode ver raças semelhantes às de Grimalkin e Mousekin do primeiro jogo. O reino em questão teve seu rei morto de forma prematura e, sob o poder da Casa de Tildrum, estava prestes a ter seu trono ocupado por seu imediato sucessor na linhagem, Evan.

Mas o jogo não se limita apenas a esse reino, há pelo menos três outros principais: o reino turístico de Goldpaw, o reino marítimo de Hydropolis e o avançado reino Broadleaf, que mais parece uma corporação independente de indústrias. Cada um deles está vinculado a outro pelo que se chama no jogo de Kingsbond, uma espécie de vínculo de vassalagem entre os governantes locais e o governante geral, Kingmaker. A princípio, o vínculo entre um governante e seu Kingmaker só pode ser quebrado quando ele morre.



Para além do reino de Ding Dong Dell

A trama do jogo se desenrola a partir de uma viagem de Roland — que vive um momento de conflito bélico na Terra — até o mundo fantástico dos reinos mencionados, e mais especificamente na ocasião de uma tentativa de golpe de estado no reino de Ding Dong Dell, por parte do conselheiro do rei, Mausinger. Na ocasião, o príncipe Evan precisa fugir de uma tentativa de assassinato, com a ajuda de Roland.

Durante a fuga, e após alguns sacrifícios, os personagens descobrem que o rei foi envenenado por Mausinger. Desde então, o jogador terá alguns sonhos misteriosos. Na sequência, viajam para Cloudcoil Canyon à procura do Kingmaker. A partir daí, a história vai se desenrolar em percalços, mistérios e uns poucos plot-twists.




O enredo é cheio de aparentes desvios da história principal para conhecer novos personagens e lugares do mundo, mas, com o tempo, essa narrativa fugaz ganha coerência e justificação. Não significa que a história se dá em um mundo aberto, ou de forma não-linear, muito pelo contrário.

No mais, o enredo tem uma trajetória bem desenhada, e o jogador se sente, como em seu antecessor, estando dentro de algo entre um filme de animação e um jogo de RPG de ação com perspectiva em terceira pessoa. Esse tipo de meio termo entre filme de animação e imersão em game é algo que o estúdio já é acostumado a fazer, e que se encontra em alguns de seus títulos, como a série Professor Layton.

Mecânicas simples, versáteis e acessíveis

Do ponto de vista de gameplay, possui uma exploração satisfatória, mas não há dúvidas de que a escolha por um RPG de ação teve muitas consequências para a série, especialmente por ter sido implementado com mecânicas bastante simples, lembrando jogos recentes da série Ys, porém em um nível menos refinado em level design, habilidades ofensivas e movimentação.

Entre as consequências mais diretas, salientamos que os confrontos podem envolver muitos inimigos simultaneamente, começam e terminam de forma mais orgânica, podendo ser alternadas por trechos em stealth, e o sistema em si também é mais acessível para quem está pouco habituado a RPGs.




A maior sofisticação do combate fica talvez por parte da variedade de ações ofensivas, que abrange ataques rápidos e leves ou lentos e pesados, poderes mágicos e demais ataques à distância, e um sistema de ações especiais baseadas em um medidor de Zing. Para quem queira tornar o jogo mais simples, ainda é possível ativar um modo semi ou até totalmente automático que muda para o jogador a arma conforme o medidor e faz com que o jogador possa se divertir apenas esmagando botões.

Um diferencial ainda dessa versão de Ni No Kuni II é a integração de uma nova mecânica de construção de reino. Quando essa mecânica surge, mais de 10 horas após o início do jogo, pode dar a impressão de que ela prejudica o fluxo da aventura, mas felizmente ela mais agrega em variar o gameplay e em aumentar o engajamento na motivação do Príncipe de criar um lugar próspero para seu povo. Por outro lado, esse sistema baseia-se muito em missões secundárias que trazem puzzles superficiais, missões de busca e outros tipos de pequenas missões desnecessárias e repetitivas.


A ideia é que, ao participar de missões (tanto paralelas quanto principais) no mapa, você possa recrutar cidadãos para viver no novo reino de Evan, Evermore. Lá, esses cidadãos podem ou não se especializar em funções específicas. De toda forma, eles povoarão os edifícios dos quais você construirá.

O processo de construção e gerenciamento é bastante limitado com locais pré-designados, e exigirá trabalhadores para tal, bem como para se obter atualizações de novos artifícios de construção para a cidade.






Um cativante JRPG de ação, mas consideravelmente problemático em mecânicas

A narrativa de Ni No Kuni II parece carregar menos impacto, além de menos encanto de novidades em relação a seu título anterior, mas é bem escrito em seus diálogos, e com um tom mágico e atmosférico, além de possuir ótimas animações, desenhos e um fluxo da trama principal que não deixam a desejar em relação ao antecessor. E mesmo a direção de arte continua de excelente qualidade, de modo até que a falta da colaboração do Studio Ghibli para muitos pode passar despercebida.

Por outro lado, as missões secundárias, tarefas internas as missões principais, e até a dinâmica de batalha por ser simples em ação e pobre em elementos de RPG pode entregar uma experiência arrastada. As mecânicas suplementares de construção aumentam o saldo positivo do gameplay, mas também não estão isentas de problemas, por oferecerem pouca liberdade de gerenciamento e estarem muito atreladas a missões repetitivas.




Por fim, há a questão do balanceamento. A dificuldade Normal, embora acessível, e com variedade tática para quem a queira, é seguramente muito fácil para jogadores com alguma experiência em RPG de ação. É possível nessa versão trocar de dificuldade, mas isso, por outro lado, não foi bem calibrado. Há momentos, por exemplo, em que os personagens morrem muito facilmente por danos que ignoram estatísticas de defesa.

Dado esse balanço geral, é fácil ver que Ni no Kuni II: Revenant Kingdom PRINCE' S EDITION (Switch) está longe de ser um action-RPG exemplar, há pontos altos, mas em quase todos há também poréns. O título teria muito a ser melhorado mecanicamente tanto no level design das missões quanto nos sistemas de ação e de RPG. Por outro lado, a obra cativa tanto em aspectos artísticos quanto na variedade e acessibilidade de seu game design.

Prós

  • Excelentes animações e direção;
  • Estilo de arte e música cheios de carisma;
  • Gameplay acessível e intuitivo;
  • Mecânicas razoavelmente versáteis;
  • Uma trama satisfatoriamente cativante.

Contras

  • Level design demasiadamente repetitivo;
  • Problemas com balanceamento no modo difícil;
  • Modo Normal pouco desafiador;
  • Mecânicas simples e com elementos subutilizados tanto em ação quanto em RPG.
Ni no Kuni II: Revenant Kingdom PRINCE'S EDITION – PS4/PC/Switch – Nota: 8
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Felipe Fina Franco
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bandai Namco Entertainment

Doutorando em Filosofia que passa seu tempo livre com piano, livros, PC e portáteis. No Twitter, também é conhecido como Vivi. Interessa-se especialmente por narrativas de ficção científica, realismo mágico e alta fantasia política, e aprecia mecânicas de puzzle, stealth, estratégia e RPG. Seu histórico de análises pode ser conferido no OpenCritic e suas reflexões sobre RPG e game design encontram-se na SUPERJUMP (textos em inglês), bem como no Podcast do Vivi e em seu canal no YouTube.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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