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Análise: Big Brain Academy: Brain vs. Brain (Switch) é um divertido tira-teima intelectual

Foco no multiplayer marca o mais novo título da nostálgica franquia, que continua uma boa pedida para os fãs do gênero.

Em diversos aspectos, a era do Nintendo DS e do Nintendo Wii representou uma mudança de paradigma para a Nintendo. Seguindo a estratégia do “Oceano Azul” tão mencionada pelo saudoso presidente Satoru Iwata, naquela época a empresa japonesa apresentava ao mercado franquias como Wii Sports (Wii), Nintendogs (DS), Brain Age (DS) e Brain Academy — obras distintas, mas que guardavam entre si a característica de poderem ser completamente aproveitadas por um público mais casual, que não possuía tanta familiaridade com jogos eletrônicos.


À época, a estratégia do visionário Iwata foi muito bem-sucedida — basta analisar as vendas dos consoles e os jogos citados — mas mudanças na indústria ao longo dos anos fizeram com que a maioria dessas séries ficasse “adormecida”, sem novos lançamentos à vista. Nesse contexto, Big Brain Academy: Brain vs. Brain (Switch), busca apresentar a franquia a uma nova geração, só que, desta vez, com um interessante foco no multiplayer. Mas será que essa ousada empreitada deu certo? Prepare a sua massa cinzenta, caro leitor, e acompanhe conosco em nossa análise.

Academia cerebral

Caso você nunca tenha ouvido falar de Brain Academy, não se preocupe: de modo similar à série Brain Age, estrelada pelo ilustre Dr. Kawashima, a franquia consiste em uma série de desafios e puzzles, cujo objetivo principal é medir a sua “massa cerebral” e estimular a sua inteligência, sendo possível acompanhar a sua evolução ao longo dos dias.

Embora a proposta de fazer contas e realizar exercícios de memorização soe como o completo oposto de diversão, na prática, a maneira como esses desafios são apresentados ao jogador torna tudo bem empolgante, o que faz com que a franquia se enquadre na categoria do entretenimento educativo (ou edutenimento), que abrange produtos que visam aliar educação e diversão.

Passados quatorze anos após seu último lançamento — Big Brain Academy: Wii Degree (Wii) estreou em 2007 nas Américas —, pode-se dizer que estava na hora da franquia figurar em um novo jogo. E, após um certo tempo com Big Brain Academy: Brain vs. Brain, posso dizer que este retorno, apesar de não ser perfeito, é capaz de prover bons momentos para os amantes de sua proposta única.

Anos escolares

Logo ao iniciar Big Brain Academy: Brain vs. Brain pela primeira vez, você será recebido pelo carismático Dr. Lobe, que conduzirá uma série de perguntas rápidas como sua idade e ocupação. Essas informações podem ser alteradas depois e servem primariamente para diferenciar seu perfil nas batalhas online — falaremos mais sobre elas em breve.

Você também precisará escolher a sua aparência dentre uma série de opções disponíveis, como cabelo, tom de pele e roupas. Inicialmente, confesso que me perguntei por que a Nintendo optou por não usar os Miis em vez dos bonecos desenhados que podem ser observados nas capturas de tela que acompanham esta matéria, mas a minha dúvida foi rapidamente sanada.

Explico: é que praticamente toda atividade que você realiza dentro do jogo lhe recompensa com moedas, e uma vez que você reúne dez delas, é presenteado com um acessório novo para seu personagem, que pode variar desde um traje estudantil até um capacete de astronauta. Este é um toque simples, mas que fornece — juntamente com as avaliações constantes — a tão importante sensação de progressão dentro do jogo. O fato das vestimentas recebidas serem extremamente carismáticas também ajuda a passar uma impressão bem positiva dos visuais do jogo, que logo me fez esquecer sobre os Miis.

Após a configuração inicial, é hora de partir de vez para a academia. Inicialmente, o recomendado é que o jogador inicie pelo modo de prática, onde é possível jogar todos os 20 minigames incluídos no título, divididos pelas cinco habilidades requeridas (identificar, memorizar, analisar, calcular e visualizar). 

Sua performance individual em cada um desses minigames lhe recompensará com medalhas de bronze, prata e ouro e as já citadas moedas. Há novamente um certo incentivo à progressão nesse sistema, visto que conseguir uma medalha de ouro em cada um dos minigames libera uma pequena, mas considerável, surpresa. 

No quesito single-player, além do modo de prática, também há o modo de teste de massa cerebral, onde você será confrontado com um teste de cada categoria e, em seguida, avaliado de acordo com o seu resultado geral. Devo dizer que os comentários do Dr. Lobe sobre o modo teste são bem interessantes e de fato me fizeram refletir sobre os pontos fortes e fracos do meu intelecto.

Porém, com algum tempo de jogo, é difícil não ter a impressão que tanto o modo de teste quanto o modo de prática, apesar de divertidos, configuram meramente um aperitivo para o grande chamariz do título — os modos multijogador.

O maior crânio do pedaço

Como delineado pelo subtítulo Brain vs. Brain (Cérebro contra Cérebro, em tradução livre), esta nova iteração da série Big Brain Academy conta com um foco considerável no multiplayer, tanto o local quanto o online. Falando primeiramente do online, os embates se darão no modo Ghost Clash, no qual você poderá enfrentar os “fantasmas” de outros jogadores nos minigames.

Tais fantasmas, populares em jogos de corrida como Mario Kart 8 Deluxe (Switch), nada mais são do que uma reprodução exata do comportamento de outros jogadores, fazendo com que seja bem interessante enfrentá-los. De fato, a decisão dos desenvolvedores pelo multiplayer assíncrono também evita que o eventual lag ou outros problemas de conexão estraguem a brincadeira, especialmente quando se considera a audiência global do título.

Uma vez dentro do Ghost Clash, é possível enfrentar fantasmas de players do mundo todo, separados pelo “nível” de massa cinzenta e por categoria de minigame. Vencer todos os cinco fantasmas sugeridos pelo jogo concede um bônus de moedas, e engatar uma série de vitórias faz com que os adversários fiquem progressivamente mais difíceis. Sendo bem sincero, a facilidade de enfrentar múltiplos oponentes em seguida fez com que o Ghost Clash rapidamente se tornasse a minha parte favorita de Big Brain Academy: Brain vs Brain. Como você está competindo com pessoas reais, é muito interessante ver erros simples acontecendo, ou mesmo o quão rápido algumas pessoas conseguem raciocinar.

Porém, há um problema de design que precisa ser mencionado: jogadores que usam a tela de toque do Switch possuem uma vantagem competitiva significativa contra aqueles que estão usando o console no modo TV. É  muito mais fácil e rápido você apertar a tela com um de seus dedos do que mover o cursor com o analógico até uma opção, e como o tempo é um recurso precioso aqui, e milissegundos podem definir o vencedor, é meio frustrante notar que em certos momentos você está ganhando ou perdendo não por causa da sua capacidade, mas devido ao método de controle, que é mostrado durante a partida.

É uma pena, porque falando por experiência própria, é fácil perder minutos e horas enfrentando um oponente após o outro e vendo até onde se consegue chegar. Considerando que há um ranking mundial que será reiniciado mensalmente e que é possível buscar os fantasmas de seus amigos, família ou até pelo ID, há bastante diversão a ser encontrada aqui se você for fã da proposta do jogo. 

As únicas duas ausências que eu senti foram a da possibilidade de ver os resultados de seu próprio fantasma (talvez inclusive ganhando algo pelo desempenho dele), e de uma opção de confronto em tempo real via organização de partida (matchmaking). Esse segundo ponto, no entanto, é parcialmente atendido pelo multiplayer local, no qual até quatro jogadores podem se desafiar em uma competição. No caso de dois jogadores, há inclusive a opção de usar somente a tela de toque com o Switch na horizontal, em uma implementação que achei extremamente positiva e capaz de render bons momentos quando se reúne uma galera para a jogatina.

Disciplina de artes

No quesito técnico, Big Brain Academy: Brain vs. Brain não decepciona. A apresentação visual como um todo é bastante agradável, e os personagens e animações, apesar de simples em sua grande maioria, transbordam carisma. O mesmo pode se dizer da trilha sonora, que segue o padrão da série e cumpre bem o seu papel entre as partidas.

Devido ao bom uso dos recursos do Switch, como a tela de toque e a propensão ao multiplayer local, devo dizer que este é um título que se encaixa perfeitamente no console, se configurando uma forte opção para as jogatinas em grupo — e em um companheiro para Mario Party Superstars (Switch). Inclusive, como é possível selecionar os níveis de dificuldade dos desafios individualmente — há até uma opção para jogadores menos experientes, chamada de “sprout” (sementinha) —, não há desculpas para jogadores de todas as idades não curtirem o que há aqui.

O único problema que preciso citar é a ausência completa de suporte ao português brasileiro, que basicamente exige que o jogador tenha o conhecimento de alguma língua estrangeira para o desfrute completo do jogo. Em pleno 2021, onde até mesmo criadores independentes conseguem oferecer suporte pleno à nossa língua pátria, é inaceitável que um jogo de uma das maiores empresas da indústria dos games não tenha essa opção. Fica aqui então o registro e a esperança de que um patch futuro mude essa situação — a comunidade brasileira certamente agradeceria.

A prova final

Big Brain Academy: Brain vs. Brain consegue trazer a adormecida franquia para a nova geração com sucesso. Seu foco quase completo no multiplayer e o número relativamente baixo de minigames impedem uma recomendação mais incisiva, mas os jogadores que estiverem cientes do que esperar encontrarão aqui um dos melhores jogos educativos dos últimos anos. Afinal, quem foi mesmo que disse que treinar o próprio cérebro não pode ser divertido?

Prós

  • Minigames divertidos;
  • Visual carismático;
  • Constante desbloqueio de roupas e acessórios é um incentivo ao jogador;
  • Modo online assíncrono é empolgante e, assim como o sistema de rankings, prolonga a vida útil do jogo;
  • Multijogador local bem implementado;
  • Modo “sprout” promove acessibilidade.

Contras

  • O baixo número de minigames (vinte, ao todo) faz com que a sensação de repetição chegue mais cedo do que o esperado.
  • Jogadores que usam a tela de toque do console têm uma vantagem significativa sobre os que usam controles;
  • Não oferece muito no quesito single-player;
  • A ausência de suporte a português brasileiro é francamente inaceitável.
Big Brain Academy: Brain vs. Brain — Switch — Nota: 7.5
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo

é bacharel em Produção Cultural pela UFF e estudante de Comunicação Social pela FSMA. Na infância, ganhou um Super Nintendo dos pais e, desde então, nunca mais deixou o mundo dos games. Ainda sonha em ser um Mestre Pokémon.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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