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Análise: FAR: Changing Tides (Switch) é uma inspiradora jornada marítima repleta de quebra-cabeças

Prepare-se para mergulhar nas misteriosas águas deste carismático indie de navegação.

Um protagonista não nomeado, um navio que dispõe de recursos modernos e um mundo explorável com cidades e ambiências devastadas. Estas são as principais premissas de FAR: Changing Tides, título que é orquestrado por uma jogabilidade side-scrolling cheia de puzzles engenhosos. Diante disso, o jogo é capaz de cativar e envolver, mesmo sem narrar sua história com cutscenes luxuosas e elementos extravagantes.

Navegar é preciso, sobreviver também!

Após o sucesso de FAR: Lone Sails, indie de plataforma que chegou ao Switch em meados de 2019, a desenvolvedora Okomotive começou a preparar sua continuação: FAR: Changing Tides, agora com publicação do selo britânico Frontier Foundry. Para esclarecer qualquer dúvida inicial, cabe ressaltar que os dois jogos estão, sim, ligados, mas também são desconexos de certa forma. 

Acontece que o novo lançamento conserva muitas características do seu antecessor, principalmente em termos de gameplay. Entretanto, o que nos é mostrado na trama não é tão dependente assim, podendo ser aproveitado mesmo com a falta de familiaridade. Ou seja, somos capazes de curtir o segundo título mesmo sem jogar o primeiro, mas acredito que conhecer a prequela seja algo bacana para adicionar mais profundidade à experiência.

Em Changing Tides, nós jogamos na pele de um protagonista que não recebe muitas descrições, sequer apresentando nome próprio. Na primeira cena, presenciamos ele submerso em uma água abarrotada de destroços, e logo em seguida passamos a poder controlá-lo. Assim, não há qualquer tipo de cutscene que introduza a história do jogo, mas nota-se a presença de certos vestígios que nos dão indícios sobre os acontecimentos recentes no seu mundo.

Diante de cidades completamente destruídas e inundadas, o que aparenta é que o universo da obra sofreu com cataclismas há pouco tempo, talvez ligados até mesmo ao aquecimento global. Além dos destroços, também pode-se notar que não sobrou nenhuma alma viva nos povoados, uma característica apocalíptica que é praticamente constante durante nossa jogatina.



Após recebermos instruções sobre a jogabilidade, que segue os padrões clássicos de plataforma e é deveras efetiva, encontramos um singelo barco de madeira, o qual passa a poder ser controlado e torna-se basicamente a nossa casa. Com isso, inicia-se uma jornada de navegação, na qual avançamos lateralmente, da direita para a esquerda, em busca de um novo lar para o nosso protagonista.

Água, puzzles e um mundo distópico

A jogatina de Changing Tides apresenta um padrão que costuma alternar entre dois tipos de momentos: as navegações propriamente ditas e as explorações nos vilarejos abandonados. Quando estamos em alto-mar, temos de garantir que o nosso fluxo não será interrompido. Isso implica em cuidar do estado e da posição de nossa vela, bem como garantir que nosso motor não fique sem combustível. Caso necessário, devemos mergulhar e procurar por novos itens que possam ser usados para nossa locomoção.

Apesar de parecerem simplórios, estes momentos são incrivelmente divertidos, pois dão uma sensação de liberdade conforme avançamos e adquirimos novos recursos para o nosso navio. Desse modo, navegar se apresenta como uma tarefa tão divertida quanto parece ser na vida real.

Nossos percursos marítimos só são interrompidos quando chegamos em ilhas com estruturas construídas pelas civilizações. Lá, descemos do navio e passamos a buscar por novos itens ou abrigos para o nosso personagem, colocando em cena o outro setor de gameplay: as explorações e seus quebra-cabeças.

Seja para abrir novas portas, ativar elevadores ou desbloquear novas passagens aquáticas, praticamente tudo envolve a realização de puzzles. No geral, eles não se mostram enquanto desafios muito complexos, pois costumam implicar apenas em realizar certas combinações e adquirir novos itens. Contudo, isso não significa que eles não sejam engenhosos e divertidos, muito pelo contrário: é bastante interessante perceber como os quebra-cabeças são cuidadosamente planejados. 

Essa qualidade de level design é amplificada na medida em que a obra capricha nas ambiências, apresentando belos visuais no estilo 2.5D e uma trilha sonora tensa e apropriada para os desafios de raciocínio. Assim, temos qualidades que colaboram para que o título se torne uma excelente aventura de puzzles, ainda que ela sofra com pequenos problemas aqui e acolá.

Percurso oceânico com poucos contratempos

Durante minha jornada de cerca de seis horas em Changing Tides, enfrentei breves situações que, de certa forma, podem ser consideradas problemáticas. Entre elas, destaque para certas desavenças com o sistema de autosave da aventura. Por mais que o mecanismo tenha se mostrado prático ao ser ativado em uma frequência considerável, o jogo acaba abrindo mão de qualquer tipo de salvamento manual.

Isso pode ser um problema na hora em que acabamos de completar certos desafios e desejamos salvar prontamente para evitar qualquer tipo de perda de progresso. Para piorar, essa ausência torna os acessos de save menos interativos, complicando nossa vida quando queremos retornar a outro ponto de salvamento para refazer o que acabamos de errar.

Por falar em refazer, cabe apontar que estamos falando de um título que apresenta um fator replay quase nulo. Boa parte disso ocorre pela ausência de qualquer tipo de coletável na campanha. Ainda por cima, pelo menos no console da Nintendo, não temos nenhum sistema de conquistas e tarefas, o que não nos faz querer desbravar os cenários já explorados.


Em termos de performance, Changing Tides tem um desempenho agradável no Switch. Entretanto, pode-se notar que alguns elementos visuais por vezes apresentam uma baixa resolução, deixando as ambiências embaciadas especialmente em modo portátil. Ainda por cima, quando jogamos na telinha do console híbrido, pode ser complicado identificar elementos menores. Felizmente, o jogo conta com um sistema de zoom in e out que quebra o galho neste sentido.

No final das contas, entendo que estas são falhas que se mostram contornáveis, pois não comprometem integralmente a experiência do novo lançamento da franquia FAR. Olhando para o todo, é bacana perceber como Changing Tides consegue trazer novidades para a série e é capaz de expandir o adorável mundo que nos foi apresentado em Lone Sails.

Uma travessia aconchegante

Exibindo quebra-cabeças e água por todos os lados, FAR: Changing Tides é um indie delicioso de desbravar no Switch, principalmente por conta da sua capacidade de criar desafios reflexivos, com ambiências profundas e pacatas. Seus problemas até existem, mas eles não ofuscam a alegria que é progredir e navegar pelos mares da aventura. Dessa forma, o lançamento se mostra inspirador, criativo e com uma jogabilidade singular.

Prós

  • Uma história delicada sobre destruição, recomeço e a busca por um novo lar;
  • Puzzles engenhosos, com desafios interessantes;
  • Navegar é altamente divertido;
  • O título apresenta ambiências incríveis;
  • Gameplay que esbanja criatividade.

Contras

  • Ausência de salvamento manual pode causar impasses;
  • Fator replay é escasso, principalmente pela falta de itens coletáveis;
  • No modo portátil, os elementos podem ficar pequenos, às vezes borrados, e com uma baixa resolução.
FAR: Changing Tides — Switch/PS4/PS5/XBO/XBX/PC — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Janderson Silva
Análise produzida com cópia digital cedida pela Frontier

Jornalista, colaborador no Nintendo Blast e doutorando em Comunicação Social.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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