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Análise: Cuphead - The Delicious Last Course (Switch) é o complemento perfeito a um prato principal que já era magnífico

A nova aventura de Xicrinho e Caneco, agora com a Senhorita Cálice, subverte completamente a conotação negativa da expressão “mais do mesmo”.



Quando Cuphead foi lançado em 2017, imediatamente ficou claro que ele se tornaria uma referência não apenas dentro do seu gênero, mas na indústria dos videogames como um todo. A saga de Xicrinho (Cuphead) e Caneco (Mugman) para derrotar o Diabo é primorosa do começo ao fim, naturalmente levando todo mundo a pensar: o que vem em seguida?


A resposta veio logo no ano seguinte, com o anúncio de The Delicious Last Course. Inicialmente previsto para 2019, o conteúdo adicional seguiu um caminho de desenvolvimento idêntico ao do jogo-base, passando por sucessivos adiamentos até enfim receber sua data de lançamento para o fim de junho de 2022.

Para a surpresa de um total de 0 habitantes das Ilhas Tinteiro, o Studio MDHR sabia exatamente o que estava fazendo, e todos esses adiamentos são mais do que justificados pelo que é entregue nesta delícia de DLC.

Faltou tompero nesse cookie

Xicrinho e Caneco recebem uma mensagem urgente da Cálice Lendária, pedindo que eles partam sem demora para uma ilha distante. Chegando lá, a fantasminha oferece ao Caneco um cookie aparentemente inofensivo, mas que faz com que os dois troquem de lugar, dando à Senhorita Cálice uma forma física e deixando o irmão do Xicrinho no plano astral.




O doce mágico, criado pelo renomado Chef Pitadinha (Chef Saltbaker), tem um efeito temporário, o que levou o cozinheiro a pensar em um plano mirabolante: reunir ingredientes espalhados por toda a ilha para cozinhar a Tortuprema, que dará a quem comê-la total controle do plano astral; ou seja, a mais nova amiga de Xicrinho e Caneco deixaria de ser fantasma e voltaria de vez à vida.

Infelizmente, os ingredientes para fazer a Tortuprema estão em locais habitados por indivíduos complicados, pra dizer o mínimo. Portanto, o trio de loucinhas terá que passar por algumas rodadas de combates contra esses adversários obstinados se quiserem trazer a Senhorita Cálice para o plano terreno.

Eis que surgem os novos desafiantes

Se você nunca jogou Cuphead e por algum motivo está aqui, recomendo que antes de continuar a leitura você faça um tour pelas três primeiras Ilhas Tinteiro e depois volte. Garanto que vai valer a pena. Seja como for, vamos à quarta e derradeira ilha.

É impressionante quão rapidamente dá para perceber que o Studio MDHR acertou em cheio com The Delicious Last Course. Antes de sequer pisarmos na entrada da primeira boss fight, a beleza das paisagens desenhadas a mão que compõem a Ilha Tinteiro IV, junto com a música-tema do lugar (a trilha sonora toda, pra ser sincero), instantaneamente transporta o jogador de volta ao clima de Cuphead.




Como não poderia deixar de ser, o novo hub world não fica apenas no deleite visual e oferece um singelo, mas instigante desafio de lógica, além de alguns personagens que ajudam a compor o cenário com falas divertidamente adaptadas — inclusive, fica aqui um gigantesco parabéns à equipe de localização para o português brasileiro, que mais uma vez foi muito bem na tradução para o nosso idioma, com destaque para os sensacionais nomes abrasileirados dos chefes.

Estes, aliás, são tão criativos e visualmente divertidos de ver em ação quanto os nossos adversários das ilhas anteriores. Achei as lutas um pouco mais fáceis que as do jogo-base, mas não pense por um segundo sequer que isso é um indicativo de moleza, sobretudo se você tiver um certo masoquismo no coração (como eu) e quiser obter as notas máximas em cada um dos confrontos; se for o caso, que o Vovô Chaleira tenha piedade da sua alma.

The Delicious Last Course não tem as fases de Correr e Atirar (Run & Gun), mas o seu substituto, o Salto D’el-rei, está mais do que à altura. Essa série de desafios capitaneada pelo Rei dos Jogos (não, não é Yugi Muto) funciona de um jeito maravilhosamente diferente do gameplay tradicional.




Aqui, não podemos usar armas nem relíquias. A única ferramenta permitida são as aparadas (parries), que somos obrigados a usar contra chefes que representam peças de xadrez, dos peões à rainha. Após derrotarmos os cinco separadamente, o Rei nos dá a opção de enfrentar todos em sequência, sem morrer uma vez sequer.

Outra fonte de novidades é o Empório do Toucinho, que traz mais algumas munições e relíquias para ajudar o jogador a lidar com as batalhas que estão por vir. Mas é claro que ele não será a única fonte de auxílio.

Jogo, ensina pra mim sobre essa Cálice

A Senhorita Cálice sai do papel de coadjuvante que fornece as Superartes no jogo-base para enfim ajudar nas brigas — afinal, agora que tem o Biscoito Astral, ela não ia deixar o trabalho todo para o Xicrinho e seu irmão, né?

A nova personagem jogável passa longe de ser apenas uma opção cosmética. Ao equipar o biscoitinho como uma Relíquia, a jovem troca de lugar com quem o jogador tiver selecionado e vai para a ação com seu kit próprio de habilidades, que incluem um pulo duplo, uma esquiva com aparada embutida e uma cambalhota que a deixa invulnerável enquanto executa o movimento.




A Ilha Tinteiro IV conta com um tutorial que mostra como essas mecânicas funcionam, então não precisa se preocupar em aprender o estilo de jogo da Senhorita Cálice no meio da confusão. Você pode praticar à vontade para entender melhor como ela funciona.

Bem mais que uma louça fácil de manusear

Logo se torna perceptível que a nova parceira dos irmãos Xicrinho e Caneco foi incluída para mitigar a dificuldade implacável pela qual Cuphead se tornou tão conhecido, dos compilados de streamers perdendo a linha às comparações com a série Dark Souls. De fato, a garota cumpre esse papel de maneira até bem objetiva, já que, além das habilidades citadas, ela recebe um Ponto de Vida adicional, ficando com 4 ao invés dos 3 dos outros dois personagens. Porém, ela representa bem mais que um “modo fácil”.

O pulo duplo, por exemplo, alcança a mesma altura do pulo regular do Xicrinho/Caneco, e como a aparada da Senhorita Cálice está embutida na esquiva, ela opera horizontalmente, diferentemente dos rapazes, que ativam seus parries durante os saltos.




A questão é: sim, a gameplay com a nova integrante do grupo é bem menos trabalhosa, inclusive nas fases de avião, que dão a ela munições mais poderosas, mas não fica só nisso. A inclusão de mais uma loucinha na prateleira representa não só um conteúdo inédito, mas também uma boa dose de rejogabilidade, a começar pelo novo conjunto de conquistas que vem em The Delicious Last Course, algumas das quais envolvem diretamente derrotar uma quantidade de chefes com a ex-fantasma. Mas isso não é tudo.

Cada chefe do jogo principal ganha novas nuances sob a perspectiva da Senhorita Cálice, ainda mais se você buscar as notas máximas, o que inclui acertar três aparadas e gastar com sucesso seis cartas do medidor de golpes especiais. Como a moça possui superartes diferentes e seu parry é horizontal, a mentalidade para cumprir esses dois objetivos muda significativamente em relação a Xicrinho/Caneco.

Por mim, podia vir mais um arquipélago inteiro

Aludindo ao comecinho desta análise, Cuphead - The Delicious Last Course é mais do mesmo que vimos desde 2017 até agora, mas nesse caso a expressão tem um significado completamente oposto do normal, principalmente após tantos anos sem novas aventuras dos irmãos Xicrinho e Caneco. O trabalho do Studio MDHR é algo tão refrescante e bem-vindo atualmente na indústria de games que pelo menos eu não fico nem um pouco incomodado de ter um conteúdo inédito que siga o mesmo roteiro do que veio antes dele.




A ausência das fases de Correr e Atirar e a pouca quantidade de batalhas tradicionais contra chefes talvez sejam frustrantes, mas o Salto D’el-rei compensa bastante com suas criativas formas de combate.

Para quem se irritava com a locomoção arrastada entre as Ilhas Tinteiro do jogo-base, o barqueiro que nos leva ao novo cenário traz consigo um mais que necessário método de viagem rápida, agora permitindo o deslocamento livre entre todos os locais. Talvez esse novo recurso tenha chegado atrasado para quem já jogou o jogo-base, mas antes tarde do que nunca.

Se você curtiu o que o Cuphead original tem a oferecer, não há muito mais a dizer, além de que este DLC é uma das aquisições mais óbvias do ano no que diz respeito a videogames. Uma despedida que deixa um gosto docinho e muita expectativa pelo que vem por aí da parte do Studio MDHR.

Prós:

  • Seguindo o padrão do jogo-base, a direção de arte e a trilha sonora continuam um assombro de tão sensacionais;
  • As novas lutas contra os chefões mantêm o nível de qualidade dos seus antecessores;
  • A Senhorita Cálice é uma excelente adição em termos de variedade de gameplay, novas conquistas e rejogabilidade do conteúdo original;
  • O Salto D’el-rei é um criativo e desafiador conjunto de batalhas que fazem ótimo uso da mecânica de aparar (parry).

Contras:

  • A quantidade de novos chefes pode fazer com que a jogatina acabe rápido;
  • Talvez o novo método de viagem rápida tenha vindo tarde demais para quem já passou pelas três ilhas do jogo original.
Cuphead - The Delicious Last Course - Switch/PC/PS4/XBO - Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pelo Studio MDHR

Apaixonado por jogos desde criança, principalmente pela Nintendo. Seja Indie ou AAA, os videogames vão estar sempre no meu coraçãozinho, com um espaço especial para multiplayers!
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