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Análise: Ace Angler: Fishing Spirits (Switch) é um bom jogo de pesca, mas não é um bom multiplayer

O título não se aproveita dos divertidos minigames que possui e pode acabar afastando muitos jogadores que não gostam da ação com vara e anzol.


A pescaria é uma atividade que há muito tempo extrapolou o campo físico e ingressou no digital através dos jogos eletrônicos, seja em games do próprio gênero ou em modos disponíveis em outros arquétipos.

Confesso que não tenho experiência com pesca e nem sou tão aficionado por ela nos videogames; no entanto, fui positivamente surpreendido por Ace Angler: Fishing Spirits. O título mistura, de forma criativa e divertida, pesca, gacha e alguns minijogos, mas acredito que teria se beneficiado mais se tivesse dado maior foco a este último.

Um gashapon de seres marinhos

Ace Angler: Fishing Spirits não possui um grande enredo e se inicia com o nosso personagem chegando em Marine Medal Mania, um grande parque com tema de aquário. Lá, conhecemos um tubarão chamado Gnasher e uma água-viva chamada Jack. Os dois pedem a nossa ajuda para inaugurar o aquário local e, para isso, precisamos coletar pelo menos duzentas espécies diferentes de seres marinhos. Apesar de haver tartarugas e jacarés entre as criaturas, a maioria dos animais são peixes.

Ao descobrir o nosso objetivo, o comum seria pensar que conseguiríamos realizá-lo através da pesca, mas Ace Angler traz a inusitada ideia de unir um gashapon — máquina de venda automática que, em troca de uma ficha, oferece aleatoriamente um dos itens dentro dela — à pescaria.

No jogo, podemos ganhar bilhetes e moedas que podem ser utilizadas em um grande gashapon e, dentro dela, estão as espécies de que precisamos. Como em qualquer gacha, o fator sorte está presente, então o jogador pode acabar recebendo peixes repetidos, o que tende a aumentar conforme o número de colecionáveis vai crescendo.

Conforme conseguimos novas espécies, mais áreas no aquário vão sendo desbloqueadas e podemos passear por elas para visualizar os animais que agora vivem ali. Devo elogiar a criatividade dos desenvolvedores, pois os locais do aquário são muito bonitos e existem vários temas diferentes, como um cheio de corais marinhos ou outro nas ruínas de uma civilização antiga. Somado a isso, os seres aquáticos possuem um visual incrivelmente belo e completam o show que o grande aquário fornece.



Marine Medal Mania e suas atrações

No lobby do parque, temos algumas atrações disponíveis, das quais duas são os principais locais de aquisição de bilhetes: Ace Angler Plus e Legend of the Poisoned Seas. No primeiro, o jogador tem três tipos de vara disponíveis e deve gastar moedas para usá-las. Cada uma tem um custo e potência superior à outra e, a cada peixe pescado, mais moedas são adquiridas para continuar pescando. Os objetivos consistem em pescar uma certa quantidade de peixes — seja em quilos ou em unidades —, fisgar uma espécie específica ou vencer uma disputa contra um adversário.

O Legend of the Poisoned Seas funciona como uma espécie de modo história. Nele, devemos ajudar alguns pescadores a impedir uma grande crise desencadeada pela poluição, que vem causando mutações nos seres dos mares. Os objetivos são semelhantes ao do modo citado anteriormente, mas dessa vez temos um limite de tempo para cumprir e não precisamos pagar para utilizar as varas. Neste modo, os objetivos são separados em diversas áreas e em cada uma delas há algumas fases. Ao final de cada área, há um grande monstro marinho, que também deve ser fisgado.

Muito menos importante, temos o Shark Fever, que se resume a uma plataforma com diversas moedas e alguns itens. O objetivo é lançar as moedas na plataforma e fazer com que a quantidade extrapole para que os objetos caiam em uma cesta. Para ser sincero, não vi muito sentido nessa situação, pois são pouquíssimos itens na plataforma e tive que gastar um número absurdamente alto de moedas para conseguir pegar apenas um.

Na área central, também é possível ganhar moedas, pois há quatro personagens aquáticos que fazem perguntas diretamente relacionadas ao jogo. Ao responder às perguntas corretamente, ganhamos 15 moedas e, se errarmos, podemos tentar novamente e imediatamente. Ainda no saguão, existe uma espécie de roleta que pode ser girada a cada 30 minutos. Dentre os prêmios disponíveis, há 100 moedas e dois bilhetes. Após utilizar a roleta seis vezes, ganhamos uma rodada com prêmios melhores, como 300 moedas.

Finalmente, há um pequeno local chamado My Character Center, onde podemos customizar nosso personagem de diversas maneiras, mudando todas as peças de roupa, acessórios e o modelo da vara de pesca. A maioria dos itens são comprados com moedas, mas é possível conseguir alguns vencendo os desafios nos modos disponíveis.

As formas de se pescar

A pesca em Fishing Spirits funciona de forma bem simples, mas também é confusa, por mais contraditório que possa parecer. Há uma área totalmente coberta por água, obviamente, e dentro dela vemos a silhueta dos peixes que estão nadando ali. Com o analógico esquerdo, controlamos a direção da vara, e com o botão A lançamos a isca, que terá a distância medida por uma barra de força. Por regra, peixes maiores são mais difíceis de pegar; no entanto, há alguns pequenos que são um verdadeiro pesadelo.

Durante a pesca, contamos com o auxílio de choques elétricos que podem ser usados com os botões L e R. Essa técnica possui um custo próprio e para conseguir usá-la, precisamos coletar pequenos blocos de sujeira que estão causando a poluição, como garrafas e roupas sujas, passando a isca por cima deles.

A confusão ocorre porque não fica claro qual é o melhor momento de utilizar os raios e puxar a isca, nem com qual frequência devemos fazer isso. Na maioria das vezes em que eu puxava ao mesmo tempo que o peixe, a linha acaba quebrando; desta forma, tive mais sucesso quando permitia que ele puxasse e forcei apenas quando ele parava um pouco.


Também é possível usar os Joy-Con desencaixados para se basear em movimentos. Neste caso, devemos simular o lançamento da vara e também puxar a isca girando o Joy-Con. Em minha experiência, ambos os modos funcionaram bem, mas a simulação por movimentos foi muito mais cansativa.

Os minigames são um potencial desperdiçado

O grande acerto de Ace Angler: Fishing Spirits, a meu ver, fica no modo Ace Angler Party. Aqui, temos cerca de 15 minijogos que podem ser disputados por até quatro pessoas, que podem ser CPUs ou jogadores locais. Cada um deles possui regras próprias e a maioria é muito entusiasmante.

Para exemplificar, há um que se assemelha a uma disputa entre Beyblades, ou, para quem jogou Pokémon Stadium 2, de Hitmontops. Também temos uma disputa de corrida no qual devemos utilizar a vara como acelerador, um de jogar alimentos para golfinhos e outro de bater na cabeça de jacarés com um martelo. 

Diferentemente dos modos de pesca, nos minigames o uso dos Joy-Con desencaixados simulando movimentos é obrigatório. Infelizmente, Ace Angler Party não fornece recompensas, o que tira muito da motivação de jogá-lo se não for para disputar com amigos. Em minha humilde opinião, acredito que se os desenvolvedores tivessem focado mais nesse modo, como uma espécie de Mario Party, o produto geral seria muito mais atrativo a um público geral e menos nichado.

O Online Ultimate Angler Competition, como o próprio nome sugere, é o modo de disputas remotas contra outros jogadores. Acredito que esse caso é prejudicado pelo problema que citei anteriormente: como esse é um jogo majoritariamente de pesca, o público impactado é muito menor; logo, há menos jogadores disponíveis. Nas diversas vezes que tentei jogar, demorei cerca de três ou quatro minutos para encontrar adversários e, em muitas vezes, a sala nem completou os outros três desafiantes. 

As disputas ocorrem em diversas etapas e os desafios são de pesca ou alguns dos minijogos do modo Party. Ao final da competição, as pontuações das etapas são somadas e quem conseguir mais pontos é o vencedor. Ainda há um sistema de ranking em que o jogador sobe à medida que vence as competições e vai resgatando alguns bilhetes e itens como varas ou vestimentas.

Um aquário que vale a pena visitar

Apesar das ressalvas, Ace Angler: Fishing Spirits cumpre bem o que propõe. Visualmente, ele possui uma estética 3D adorável e colorida. Os personagens levam um traço chibi que faz ser impossível não se lembrar de Animal Crossing, e os seres aquáticos que conseguimos no gacha também possuem um bom aspecto, tendo uma aparência mais realista. Em termos de trilha sonora, o resultado é igualmente feliz, com faixas muito agradáveis que combinam com o visual alegre que o jogo possui.

Como eu disse anteriormente, acredito fortemente que Fishing Spirits teria muito mais apelo se os desenvolvedores tivessem focado em uma experiência multiplayer através dos minijogos, utilizando a mesma criatividade que tiveram para trazer mais opções para esse modo.




Também creio que seria mais benéfico se vencer as curtas disputas fornecesse recompensas para utilizar no gashapon. Desta forma, os jogadores que não são adeptos de jogos de pesca poderiam aproveitar melhor os minijogos, que são, sim, muito divertidos. Como não sou desenvolvedor, isso fica apenas na especulação.

Para os entusiastas de jogos de pesca, Ace Angler: Fishing Spirits oferece uma boa experiência com diversas espécies aquáticas reais e outras fictícias, mas muito criativas. Por ser um gacha, completar o catálogo fica mais difícil a cada nova espécie coletada, mas temos à nossa disposição boas opções para ganhar moedas e bilhetes, sendo possível inclusive só utilizar a roleta diariamente. Finalmente, a possibilidade de jogar simulando uma vara de pesca pode ser muito estimulante para os amantes de pescaria.



Prós:

  • Múltiplas possibilidades de uso dos controles;
  • O conceito do aquário é muito criativo e bonito;
  • Minijogos divertidos;
  • Diversas formas de conseguir bilhetes para o gasha;
  • Visual lindo e trilha sonora agradável.

Contras:

  • Os minijogos poderiam ter sido muito melhor aproveitados;
  • Não fica claro qual é o melhor método para pescar;
  • Pode afastar jogadores que não gostam de pesca.
Ace Angler: Fishing Spirits — Switch — Nota: 7.0
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bandai Namco

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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