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Análise: Papetura (Switch) é uma obra de arte feita de papel e criatividade

Criador fez tudo à mão, criando texturas belíssimas.

Muitos músicos possuem em seu primeiro álbum o seu trabalho mais celebrado, pois passaram anos lapidando as canções até conseguir lançá-las. Estas músicas transpiram o suor do aperfeiçoamento lento e gradual, fruto de muito esforço.


Por vezes, algo parecido ocorre no mundo dos games. Por exemplo, o pessoal do Studio MDHR vem trabalhando em Cuphead (Multi) desde 2010. Já nosso título de hoje, Papetura, é fruto de anos de trabalho de um homem só. E o esforço valeu a pena.

Fazendo um jogo com cola, papel e tesoura

O desenvolvedor de Papetura é Petums, estúdio composto pelo arquiteto polonês Tomasz Ostafin. Para conceber seu primeiro título, ele buscou inspiração na própria arquitetura, em games como Machinarium (Switch), nas animações do estúdio Ghibli e até mesmo em microbiologia.

Tais inspirações podem ser sentidas ao longo da jornada, mas nunca passam uma sensação de amálgama de cópias de outras coisas. Pelo contrário, são elementos que constituem organicamente o mundo criado, que possui suas próprias qualidades e seu próprio diferencial.

O grande chamariz do jogo, que salta aos olhos desde o princípio, é o visual. Tomasz construiu à mão os cenários, objetos e personagens, utilizando papel, tesoura e cola e formando, assim, esculturas que por si só já são lindíssimas. A transposição para o game, com a iluminação e a colorização, criou uma identidade única e estupenda, que causa uma sensação de maravilhamento a cada cenário encontrado.

Nesse aspecto, foi fundamental a contribuição do artista de efeitos visuais Juraj Mravec. Além das construções e concepções arquitetônicas peculiares e fascinantes de Tomasz, os efeitos de fogo, fumaça e neon são o complemento que arrematam o visual perfeito.

Vivenciando a história

Na história, uma criatura solitária chamada Pape vive aprisionada numa flor, até que surge uma oportunidade de escapar. Uma vez livre, a folhinha de papel se junta à pequena Tura para encarar um ser estranho envolto em sombras que ameaça queimar todo o lugar.

Papetura apresenta sua história sem utilizar diálogos ou legendas. Em vez disso, vamos vivenciando os acontecimentos na medida em que vão ocorrendo, o que promove uma imersão muito maior.

A única exceção se dá quando saímos da flor e encontramos outro personagem, que explica os planos malignos do ser das sombras. Em vez de palavras, os atos do vilão são contados através de imagens dentro de um balão, como se o diálogo fosse um quadrinho em movimento. Coisa linda de se ver.

Enfrentando os desafios

A jogabilidade de Papetura é simples. O botão A é o responsável pela interação com objetos, personagens e escadas, quase como em um point-and-click. Já a alavanca direita ajusta a mira, enquanto R atira bolas de papel, permitindo algumas interações específicas. Por sua vez, o X ativa a dica quando se está em um beco sem saída.

A resposta, contudo, não é simplesmente fornecida ao apertar um botão. Até porque boa parte da graça do título é a resolução de puzzles. Sendo assim, pressionar o X faz Pape comer uma frutinha responsável por fazer surgir o balão de “diálogo”.

No lugar da resolução do problema, o balão apresenta um mini puzzle, em que assumimos o papel de um inseto que deve comer todas as mosquinhas sem ser atingido pelas serras circulares. Concluída a tarefa, aí sim um desenho mostra como prosseguir com sua jornada.

Um curto e prazeroso mergulho

Apesar da presença desse recurso para obter dicas, a verdade é que a dificuldade de Papetura é baixa. O foco é na imersão naquele mundo, e a resolução dos puzzles é o motor que te motiva a seguir com a história.

Para auxiliar nessa imersão, Tomasz contou com ajuda na parte sonora. Floex (o músico tcheco Tomáš Dvořák) ficou responsável pela trilha, nada intrusiva e que cria uma ambiência perfeita para o mergulho na jornada.

É tão gostoso e instigante andar por aquele mundo que joguei sem parar. Em cerca de duas horas cheguei ao fim, com um gostinho de quero mais.

Uma estreia promissora

A palavra que define Papetura para mim é experiência. As imagens são estonteantes, a história se desenrola de modo extremamente convidativo, e saber que muito disso é um trabalho manual feito com papel só me fez ficar de queixo caído. No aguardo da próxima obra de arte de Tomasz Ostafin e seu estúdio Petums.

Prós

  • Visuais de cair o queixo;
  • Direção de arte primorosa;
  • História envolvente e bem contada;
  • Trilha sonora cria o clima perfeito para o ambiente.

Contra

  • Não possui
Papetura — Switch/PC — Nota: 10.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela Feardemic

Nascido no mesmo dia que Manoel Bandeira (mas com alguns anos de distância), perdido em Angra dos Reis (dos pobres e dos bobos da corte também), sob a influência da MPB, do rock e de coisas esquisitas como a Björk. Professor de história, acostumado a estar à margem de tudo e de todos por ser fora de moda. Gamer velho de guerra, comecei no Atari e até hoje não largo os mascotes - antes rivais - Mario e Sonic.
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