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Análise: void* tRrLM2(); //Void Terrarium 2 (Switch): voltando a cuidar de uma frágil garota em um futuro de ruínas

A NIS aposta mais uma vez na combinação de Mystery Dungeon com tamagotchi de humano, dando continuidade à história de Robbie, Toriko e factoryAI.

void* tRrLM2(); //Void Terrarium 2
é o mais novo jogo da leva de propostas similares a indies da Nippon Ichi Software. Continuando diretamente após os eventos de seu antecessor, o título retoma o conceito de um robô que se esforça para cuidar da última garota humana viva. Com novos elementos e mais detalhes de história, o jogo consegue se manter como uma experiência curiosa de misturar exploração de dungeons com simulação de criar uma criatura.

A garota e o seu terrário

A humanidade deixou o mundo em ruínas e uma máquina, que já deveria ter sido desligada, encontra o que parece ser a última criança viva. Um pequeno robô apelidado de Robbie e sua parceira, uma IA fabril (factoryAI) que também havia sido descartada em um lixão, dão à garota o nome de Toriko e decidem cuidar dela.

Dentro desse contexto, o conceito da série Void Terrarium envolve buscar formas de cuidar da garota. Como a atmosfera está muito poluída, ela precisa viver em um terrário enquanto Robbie explora as ruínas da civilização em busca de alimentos e itens variados que possam ajudar a garantir o conforto e segurança de Toriko. Com isso, é formada uma estrutura que se assemelha muito a uma família com dois adultos responsáveis e uma criança que necessita de cuidados. Curiosamente, mesmo nesse contexto mais melancólico de fim do mundo, a escrita é usualmente leve, tendendo a piadas de robô e algumas vezes um pouco de humor sombrio.

Void Terrarium 2 é uma continuação direta dos eventos do jogo original — e, de fato, ele se passa pouco tempo depois de seu final — e não faz questão de explicar em detalhes o que aconteceu anteriormente. Para quem já jogou, isso agiliza o início consideravelmente, mas novatos podem estranhar e ficar confusos por conta desse pressuposto de familiaridade com o contexto.

Pouco depois do início, nos vemos diante de uma nova crise: uma doença misteriosa começa a afetar Toriko. Embora factoryAI e Robbie encontrem um alívio temporário para os seus sintomas grotescos, eles não entendem o que está acontecendo para resolver o problema definitivamente e garantir uma vida segura para a garota.

Porém, há uma chance de encontrar a cura utilizando os resquícios do vilão do primeiro jogo. Conforme o jogador explora as ruínas da humanidade, é possível encontrar robôs do CloudAI que tentam continuar a sua missão. Derrotá-los é uma forma de obter fragmentos do passado e o jogo tenta explorar isso através de um sistema de VR (realidade virtual) que mostra um pouco do mundo humano antes do apocalipse com uma charmosa visão 2D retrô 8-bit.

Com isso, temos agora três linhas de exploração: cuidar de Toriko e seu terrário como um tamagotchi, explorar as ruínas da humanidade em um dungeon crawler e viajar ao passado em VR.

Um simulador de cuidar de humano

O foco do jogo está em garantir uma boa vida para Toriko. Por conta disso, é necessário ter certeza de que ela está bem alimentada, com saúde e se sente amada. Tratar as doenças que podem afligir a menina é um ponto importante do jogo, forçando Robbie e factoryAI a parar tudo que estão fazendo para dar atenção à garota e resolver o problema antes de voltar a progredir na história.

Além disso, é necessário cuidar do terrário em que ela vive, mantendo-o limpinho e ajustando outros fatores como temperatura, umidade e atmosfera. No jogo original, esse gerenciamento era mais simples, sendo apenas necessário limpar o local e colocar objetos para decoração quando desejado. Com os novos elementos, o título também adiciona plantações para cuidar, regando e mantendo condições adequadas para cada tipo de semente.

Tanto o tratamento de doenças quanto as plantações exigem que o jogador explore as ruínas para fazer com que “passe o tempo”, fator também essencial para desbloquear novas missões no sistema de VR. Embora seja uma forma de deixar tudo mais integrado, há uma sensação de enrolação constante para que as coisas demorem mais a avançar, o que também é agravado por alguns momentos em que o menu de quests não é tão claro sobre o que precisa ser feito para a trama.

A decoração do terrário depende de um sistema de Blueprints, receitas para a criação de novos itens a partir de materiais obtidos na exploração. Mesmo não utilizando esses objetos, a primeira vez em que são criados concede vantagens como bônus de ataque e defesa ou mais tempo de saciedade para Toriko.

Vale destacar que o jogador ainda tem que cuidar da menina mesmo enquanto está na dungeon. No canto inferior esquerdo da tela, é possível acompanhar em tempo real a situação do terrário de forma simplificada como um tamagotchi. Além de ver o atual nível de saciedade e saúde de Toriko assim como a limpeza do terrário, o jogador pode gastar um pouco da sua energia para realizar tarefas básicas, como limpar, dar comida ou brincar com a garota.

Explorando ruínas do passado

Para encontrar os itens necessários para melhorar o terrário da Toriko e resolver quests específicas, o jogador precisa explorar ruínas e lutar contra criaturas mecânicas e bichos orgânicos que parecem frutos de experimentos e mutações horrendas. Esses momentos do jogo funcionam como um Mystery Dungeon, com as áreas geradas de maneira procedural, alterando a disposição de itens, inimigos, armadilhas e escadas para os próximos níveis.

Movimentar-se e atacar monstros consome energia, que pode ser reposta com baterias encontradas pelo caminho e fica visível no canto superior direito da tela. Já no lado esquerdo, é possível ver o HP, que pode ser reduzido por dano recebido em combate ou por algum efeito de armadilhas ou status como envenenamento. Ser destruído é uma forma de voltar ao terrário, mas o HP é recuperado ao se movimentar enquanto o jogador ainda tem energia, e há itens de cura bem úteis que podem ser encontrados dependendo da sua sorte.

Conforme Robbie derrota criaturas, ganha experiência e níveis, ficando mais forte e desbloqueando habilidades passivas que podem ser selecionadas pelo próprio jogador. Em vez de apenas opções simples, como mais ataque ou mais defesa, há escolhas complexas que podem ser mais ou menos efetivas de acordo com o contexto, de forma semelhante ao desbloqueio de upgrades em roguelikes variados.

Equipando classes conhecidas como Knacks, é possível mudar a frequência com que melhorias de tipos diferentes aparecem. Ao escolher a opção de médico, você tem mais chances de receber habilidades relacionadas à cura de HP, enquanto o knack lutador provavelmente poderá aumentar o ataque mais rápido.

Porém, ao ser derrotado, terminar uma dungeon ou pedir para voltar para casa, esses ganhos são todos perdidos. Nem ao menos os itens são mantidos, sendo a maioria deles destroçados e decompostos em elementos mais básicos: matéria orgânica, inorgânica, energia e contaminação. Esses recursos são úteis para o sistema de Blueprints.

Uma novidade é que cada arma possui um nível de Weapon Skills e, quanto mais é usada, mais poderes adicionais são liberados. Os efeitos podem variar de acordo com o nível de contaminação do equipamento, assim como acontece com tipos diferentes de itens, o que dá um pouco de variedade para cada opção de arma e escudo.

Curiosamente, o jogo já inicia no meio da exploração e as mecânicas são explicadas em dungeons tutoriais opcionais. Dessa forma, o jogador veterano pode simplesmente pular essa parte, cortando uma boa dose de explicações, embora ainda haja algumas no início do jogo. Outro detalhe menor é que ocasionalmente há pequenas quedas de frame na dungeon ao correr por alguns corredores, mas não chega a ser um grande incômodo pelo formato baseado em turnos do jogo.

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void tRrLM2(); //void Terrarium 2 continua sendo uma combinação única de gêneros de uma forma que não se encontra igual no mercado. Contudo, é mais indicado para quem já explorou o primeiro jogo, tendo em vista como a obra opta por continuar de forma bem direta a narrativa.

Prós

  • Misturar dungeon crawling e raising sim continua uma escolha agradável e condizente com a proposta;
  • Atmosfera de futuro em ruínas melancólico com pitadas de humor;
  • O ambiente do terrário agora é mais detalhado, sendo necessário medir temperatura e umidade, o que também influencia a capacidade de cuidar de plantações;
  • Revisitar o passado em um VR com estilo 8-bit é uma forma charmosa de desenvolver a história mais a fundo;
  • Dungeons de tutorial opcional são uma forma inteligente de deixar o jogador veterano à vontade.

Contras

  • Início abrupto e potencialmente confuso para novos jogadores, baseando-se demais em elementos do primeiro título;
  • A progressão narrativa é um tanto arrastada, tentando forçar o jogador a revisitar as dungeons constantemente;
  • Alguns raros momentos de queda de fps nas dungeons.

void* tRrLM2(); //Void Terrarium 2 — Switch/PS4 — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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