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Análise: Have a Nice Death proporciona uma diversão assombrosa no Switch

Esta aventura protagonizada pela Morte desfruta de embates intensos, um variado repertório de habilidades e uma estilosa estética sombria.

Com o passar dos anos, a Morte se viu sobrecarregada com a tarefa de tirar a vida das pessoas, o que a fez fundar a Death Inc., sua própria empresa fúnebre. O impasse, porém, é que diversos problemas administrativos começaram a surgir por conta de funcionários problemáticos que em nada ajudam na execução desse difícil trabalho. 


Assim, a ceifadora decidiu confrontar os seus empregadores para colocar a sua companhia em ordem, dando início ao enredo de Have a Nice Death. Com uma progressão roguelike e jogabilidade no estilo hack ‘n’ slash, este indie encanta por sua freneticidade, diversidade e carisma, garantindo um vasto repertório de estratégias e muita diversão no Switch.

Uma gameplay de matar

Os desafios de Have a Nice Death são promovidos por meio de cenários bidimensionais, nos quais movimentamos a protagonista com comandos tradicionais, como saltos, investidas e golpes de foice. Estes recursos devem ser usados para que possamos desbravar diferentes estágios, que se dividem entre andares e departamentos trabalhistas.

Conforme avançamos, encaramos empregados da Death Inc., como fantasmas, morcegos e cobras, assim como outros seres que representam alguns problemas da empresa, como papeladas burocráticas e fantasmas de poluição. Além dos golpes regulares que seguem um estilo hack ‘n’ slash, somos capazes de adquirir para o nosso repertório de movimentos habilidades especiais que consomem mana, performadas por meio de bazucas, estrelas ninjas e diversos golpes de energia sombria.

Essa conjuntura se torna singular devido à progressão do título, que segue o formato roguelike. Ou seja, temos que completar os mais diferentes estágios de uma só vez, o que faz com que cada tentativa empregada seja única, nas quais conquistamos habilidades aleatórias, de acordo com as escolhas que fazemos pelo caminho.

Seguindo fielmente as estruturas de seu gênero, Have a Nice Death não concede upgrades permanentes. Entretanto, há recursos que ajudam no percurso, como a possibilidade de ingressar na campanha com mais HP, alguns tipos de atalhos e o fato de que podemos usar a moeda do jogo para desbloquear armas e habilidades, que, a partir de então, possivelmente aparecerão como opção nos estágios.

Como de praxe, a fórmula roguelike se mostra envolvente e prazerosa, rendendo desafios interessantes não só nas batalhas contra inimigos comuns e chefes, como também no sentido de administração de nossas estratégias, para que tenhamos fôlego e poderio até os últimos estágios. Desse modo, acredito que, mesmo sem trazer inovações ao seu gênero, há de se admitir que este é um dos grandes brilhos do título, capaz de oferecer um setor de jogabilidade bastante robusto.

Traços sombrios e exuberantes

Quando estamos falando de características positivas, outra interface se destaca em Have a Nice Death: a sua apresentação. Com um estilo artístico sombrio, mas que ganha charme ao parecer desenhado a mão, é impossível não ficar admirado com a qualidade gráfica da aventura, capaz de exibir animações luxuosas, personagens criativos e cenários singulares.

Para melhorar a experiência, a aventura da Death Inc. traz muito humor em sua trama, projetando situações cômicas com piadas que envolvem os empregados desengonçados e todo o contexto trágico que envolve a Morte. Tudo isso, felizmente, é apresentado com uma excelente localização para o português brasileiro, o que é algo bacana.

Somando-se a isso, há a oferta de uma espécie de compêndio, um livro que, conforme avançamos por diferentes departamentos e derrotamos inimigos, armazena informações e descrições engraçadas, dando um panorama sobre a empresa em que trabalhamos. Inclusive, esse é o elemento que irá elevar o fator replay ao jogo, num sentido de que, para completarmos 100% sua campanha, há de se preencher todos os itens do livro.

Todos esses detalhes evidenciam como Have a Nice Death incorpora muito bem a sua temática assombrosa, propiciando uma experiência imersiva que surpreende por seus caprichos. Entretanto, é preciso ressaltar que nada disso significa uma ausência de falhas, uma vez que há alguns problemas que eventualmente atrapalham o nosso serviço no comando desta empresa fúnebre.

Realizando uma autópsia do que deu errado

Para além de sua intensidade no estilo hack 'n' slash, um dos motivos que colaboram para que este roguelike seja frenético é a sua fluidez de gameplay, algo notável logo nos primeiros instantes de jogatina. É impressionante como, no Switch, a ação se apresenta de maneira fluida, rodando a 60 frames por segundo, o que nem sempre ocorre no console da Nintendo, até mesmo em termos de indies. 

Porém, isso não persiste durante toda a jogatina. Basta atravessarmos alguns cenários e departamentos para notar diversas quedas de fps, com engasgos recorrentes nos momentos de ação. Felizmente, eles não chegam a comprometer a jogabilidade, apenas o senso de estética e a agradabilidade de sua fluidez como um todo.

Outro problema a ser apontado está no level design de Have a Nice Death, que não é muito inspirado no geral. Acontece que os estágios desbravados são bastante simples, com pouco incentivo à exploração em meio aos setores de plataforma. Ainda por cima, há certa repetitividade durante a progressão, com pouca variação em termos de construção das fases geradas aleatoriamente, ainda que a estética dos departamentos contem com diferenças.

Isso gera certa monotonia que se agrava diante dos conceitos de gameplay; isto é, com o tempo, as tentativas se tornam repetitivas e há pouco senso de progresso, uma vez que o jogo é essencialmente um roguelike, não dispondo de melhorias permanentes. Aparenta, inclusive, que, em alguns momentos, precisamos efetivamente de sorte para progredir por toda a campanha de uma só vez, pois algumas habilidades e armas são muito mais fortes que as outras, gerando certo desbalanceamento nas estratégias.

Cabe ressaltar, entretanto, que isso não representa uma ausência de diversão, pois, conforme tentamos e, ironicamente, lutamos para resistir à própria morte, temos momentos bem divertidos, uma vez que um dos pontos positivos do título é justamente sua diversidade de movimentos e as possibilidades de combinações. Uma característica que, efetivamente, ajuda a compensar os seus eventuais problemas.

Diversão corporativa na Death Inc.

Ao contrário do que a Morte pretende fazer frente aos problemas de sua empresa, Have a Nice Death não se trata de uma revolução dentro do gênero roguelike. Porém, isso não esconde as qualidades e caprichos do jogo, que é capaz de providenciar uma divertida aventura com muita intensidade e variedade estratégica. Assim, basta caminhar pelos corredores da Death Inc. e ceifar inimigos para viver uma jornada adorável e assombrosa.

Prós

  • O título incorpora a temática fúnebre com maestria;
  • Muita intensidade nos embates hack 'n' slash;
  • A fórmula roguelike se torna viciante diante da variedade de estratégias;
  • Apresentação luxuosa, com belos visuais e localização em português;
  • Desafios justos e conteúdo de sobra.

Contras

  • A performance sofre com engasgos, não mantendo a taxa de 60 fps;
  • O level design é pouco inventivo e não incentiva a exploração;
  • Baixa sensação de progresso com fases repetitivas e habilidades desbalanceadas.
Have a Nice Death — Switch/PC — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Gearbox Publishing

Jornalista, colaborador no Nintendo Blast e doutorando em Comunicação Social.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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