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Análise: Advance Wars 1+2: Re-Boot Camp (Switch) mantém a jogabilidade original do GBA com visual reimaginado

Um reboot que é um remake, mas parece um remaster.


Advance Wars 1+2: Re-Boot Camp é um remake que reúne os primeiros dois jogos de estratégia tática em turnos Advance Wars, lançados para o Game Boy Advance em 2001 e 2003. Aqui o jogador assume o papel de um Oficial de Comando (Command Officer ou CO) que controla um exército composto de unidades terrestres, aéreas e navais em conflitos envolvendo de dois a quatro exércitos em um tabuleiro de casas quadradas.

Esse remake, originalmente previsto para chegar às lojas no dia 3 de setembro de 2021, teve um lançamento particularmente complicado, sofrendo quatro adiamentos, o último deles ocorrendo em face ao recente conflito deflagrado entre Rússia e Ucrânia. Lançar um jogo com temática de guerra em meio a um conflito armado real poderia soar como um ato de insensibilidade. Por coincidência, o primeiro Advance Wars também teve sua data de lançamento na Europa e Japão adiados por ter sido lançado um dia antes dos ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos.

Iniciamos a primeira campanha no papel de Andy, um jovem e inexperiente oficial da nação de Orange Star, que teve seu território invadido pelas forças da nação de Blue Moon. Mais tarde você terá a oportunidade de jogar com outros COs de Orange Star, como o brutamontes Max, mestre em combates diretos, e Sami, a especialista em infantaria. Com o desenrolar dos fatos, o conflito estende-se a seus vizinhos Green Earth e Golden Comet e, conforme a trama prossegue, um novo e inesperado oponente revela-se nas sombras.
Sami, minha personagem favorita, especialista em infantaria e captura de territórios
Desenvolvida originalmente pela Intelligent Systems, a série Advance Wars fez um razoável sucesso e conquistou um nicho de fãs no Game Boy Advance e no Nintendo DS, mas foi abandonada pela desenvolvedora desde o sucesso de Fire Emblem Awakening (3DS).

Após um hiato de quinze anos sem novos jogos, Advance Wars foi finalmente resgatado pela WayForward, estúdio responsável por títulos como Shantae, River City Girls e Mighty Switch Force, modernizando-o no aspecto estético mas mantendo as mecânicas de jogo praticamente intocadas.

Um mundo em guerra

A ação acontece em um mapa com casas quadradas, similar a um jogo de tabuleiro, onde as unidades militares são posicionadas. Dois a quatro exércitos enfrentam-se em turnos, e as condições para vitória normalmente consistem em destruir todas as unidades inimigas ou capturar seu quartel general. Existem, porém, mapas com objetivos diferenciados, como destruir certas instalações, encontrar unidades escondidas ou resistir a um ataque por uma quantidade determinada de turnos. Ao final de cada batalha, o jogo lhe dá um rank baseado em quantos turnos você levou para completar a missão, quantas unidades inimigas abateu e quanto conseguiu evitar baixas em suas tropas.
Strike first, strike hard, no mercy!
O mapa é composto por uma variedade de terrenos como planícies, montanhas, estradas, rios, pontes, cidades, fábricas, aeroportos e quartéis generais, também conhecidos como bases. Cada tipo de terreno tem suas próprias características de travessia e cobertura, que é a proteção oferecida para unidades que repousarem nessas casas. Cidades providenciam recursos que podem ser usados para fabricar novas unidades em fábricas, portos e aeroportos.

Os Oficiais de Comando são o charme e o grande diferencial do jogo, cada um possuindo sua própria trilha sonora, personalidade, vantagens e desvantagens passivas, além de poderes especiais que podem ser disparados com o acúmulo de uma barra de energia que se carrega quando suas unidades causam ou sofrem dano. Apesar da similaridade com sua série irmã Fire Emblem, aqui não há desenvolvimento de níveis ou atributos dos personagens, pois Advance Wars não é um RPG.
É difícil segurar os neotanks de Kanbei
Além das características dos COs, cada tipo de unidade tem suas próprias forças e fraquezas, bem como características diferenciadas de movimentação e combustível. Grande parte do desafio do jogo é saber escolher e posicionar suas unidades da melhor forma possível no terreno. Tanques são fortes contra infantaria, mas fracos contra artilharia; submarinos podem abater couraçados, mas são vulneráveis contra cruzadores; e assim por diante.

Estética modernizada

A primeira característica que chama a atenção no remake está na atualização dos gráficos, que passaram do clássico pixel art para um design mais moderno. Essa mudança não agradou a todos os fãs, mas acredito que as alterações tornam o jogo mais agradável para exibição em telas maiores, especialmente considerando que o Switch pode ser conectado a uma televisão.

Tradicionalmente a série Advance Wars opta por uma estética que a afasta do cenário de uma guerra real, possibilitando que os títulos possam ser apreciados por um público mais jovem. O estilo artístico característico da WayForward caiu bem com esse conceito, com personagens repaginados em uma estética que lembra a série Shantae.
Dezenas de horas de diversão em uma imagem.
Na minha opinião, o jogo ficou bonito. Personagens como Sami e Lash ficaram ainda mais adoráveis, e outros como Max e Andy arriscaram pouco e estão mais fiéis aos originais. Foram poucos aqueles cujo novo visual não me agradou, como por exemplo Adder, que perdeu um pouco do ar sombrio para ganhar trejeitos esquizofrênicos.

Já os modelos das unidades militares foram remodelados para parecer com brinquedos plásticos. O mapa também é visto de uma perspectiva que faz com que tudo pareça um jogo de tabuleiro, imagino que com o propósito de afastar ainda mais o universo do jogo com o cenário de uma guerra real. Eu particularmente achei que a estética de brinquedo não ficou tão boa, mas entendo seus motivos.
Parece com peças de plástico em um tabuleiro
A trilha sonora é composta por versões reimaginadas das faixas clássicas dos originais, e permanece fantástica, trazendo muita empolgação ao gameplay. Cada CO tem seu próprio tema, o que ajuda a marcar em que turno estamos. A música dos CO Powers foi substituída por versões remixadas igualmente empolgantes.

Outra adição moderna foi a inclusão de atuação de voz para algumas frases dos personagens. A dublagem não é integral, ficando restrita a algumas frases do roteiro das campanhas e aos CO Powers, que também ganharam animações divertidas.
Sonja calculando a beleza da nova animação para o CO Power
Algo que também precisa ser mencionado é que o formato híbrido do Switch permite desfrutar do jogo tanto em modo portátil, como nos originais, ou no sofá, apreciando-o na tela da televisão. Verdade seja dita, já era possível desfrutar desses jogos na TV usando um Game Boy Player, que permitia conectar seus cartuchos de GBA no GameCube, ou através de um Wii U, que recebeu uma versão do primeiro Advance Wars, mas nada como a comodidade de simplesmente jogá-lo no Switch, sem as complicações dos hardwares antigos.

Dois em um

Re-Boot Camp traz as campanhas completas dos dois primeiros jogos da série Advance Wars, que podem ser jogadas de forma independente, inclusive mantendo progressos parciais em cada uma delas. Você pode até mesmo jogar AW2 antes de completar AW1 e, se fizer isso, o jogo exibe um alerta informando que você receberá spoilers sobre segredos da campanha do primeiro jogo. Mesmo assim, o jogo não impede que você prossiga, se assim o desejar, o que é bem legal.
Ordem e progresso são independentes
O conteúdo das campanhas é idêntico aos jogos do GBA, contendo os mesmos plots, os mesmos mapas, a mesma sequência de missões e até os mesmos segredos, o que faz com que o jogo pareça mais um remaster que um remake. Por um lado isso é fantástico, pois os jogos originais eram excelentes e o remake herdou toda a diversão, balanceamento e desafio dos clássicos. Por outro é uma oportunidade perdida de introduzir novos mapas e desafios.

Eu tinha alguma dúvida se haveria modificações nas posturas de alguns personagens como Olaf e Grit, cujas personalidades foram bastante alteradas ao longo dos jogos da série, mas felizmente eles seguem exatamente com as mesmas motivações dos roteiros originais. Os diálogos dos personagens permanecem praticamente inalterados, com algumas modificações eventuais e até mesmo algumas atualizações das piadinhas para memes modernos.
Meme atualizado com sucesso 
Outra modernização bem-vinda no andamento da campanha é a ferramenta Reset Turn, que desfaz todas as ações realizadas no último turno do jogador, caso este tenha cometido algum pequeno erro nesse intervalo.

Embora seja uma ideia interessante, a ferramenta não é perfeita. Nas missões em que o jogador controla múltiplos exércitos, só é possível desfazer o turno do CO que você está controlando no momento, não é possível voltar as ações do exército anterior. Isso não era um problema nos jogos originais, nos quais você poderia retomar o último salvamento, mas Re-Boot Camp não permite salvamentos manuais.
"Se você resetar o turno, o turno será resetado"
No remake o progresso do jogo é salvo automaticamente, impossibilitando que você faça seus próprios checkpoints para retornar a um estado específico do jogo. Isso obriga o jogador a ter que refazer toda a missão caso cometa algum erro grave em turnos anteriores.

Outra modernização incluída no remake foi a possibilidade de avançar o andamento da partida apertando o gatilho ZR, poupando tempo do jogador durante as animações ou durante o turno do oponente. Entretanto, o avanço não é tão rápido quanto poderia, e jogadores apressadinhos provavelmente preferirão desabilitar as opções visuais no menu de opções.

Conflitos multiplayer

Embora as campanhas single player sejam o foco do jogo, Re-Boot Camp também oferece dois modos multiplayer, o local e o online. No modo local é possível que até quatro jogadores disputem em um único Nintendo Switch, ou cada um com seu console. Nesse caso, é necessário que cada jogador possua uma cópia de Advance Wars Re-Boot Camp, não existindo uma ferramenta que permita múltiplos jogadores com um único cartucho, como acontecia com o Single Pack Multiplayer do GBA ou o Download Play do DS/3DS.
Todos podem jogar juntos... mas cada um precisa ter uma cópia de Advance Wars
A vantagem do multiplayer local é que não é necessário que os consoles estejam conectados à internet ou que os jogadores sejam assinantes do serviço Nintendo Switch Online. Nesse modo os consoles podem conectar-se diretamente uns aos outros, sem fios.

O jogo também permite um modo multiplayer online que deixa muito a desejar, na minha opinião. Primeiramente porque só permite batalhas entre dois jogadores, não possibilitando partidas entre três ou quatro exércitos. Em segundo lugar, porque só é possível jogar contra pessoas que estejam na sua lista de amigos, não há nenhum modo de matchmaking ou ranqueamento. Por fim, é obrigatório que cada jogador possua sua própria cópia do jogo e seja assinante do serviço Nintendo Switch Online.
"Você precisa de mais amigos"
O modo multiplayer online oferece apenas o básico do básico e faltou um maior esforço da desenvolvedora para oferecer a possibilidade de desafiar desconhecidos pela internet.

Faça você mesmo

Tal qual nos originais, Re-Boot Camp oferece um modo de criação de mapas (Design Room) em que você pode criar, customizar e compartilhar mapas com seus amigos, através da internet ou localmente. O tamanho dos mapas pode variar de 10 x 10 até 30 x 20 casas, mas para jogatinas online só são permitidos mapas de até 15 x 20 casas.

Outra característica herdada dos originais é a loja do Hachi, em que você pode usar as moedas ganhas em batalha para comprar itens para a galeria, como músicas e ilustrações, desbloquear mapas e novos COs para jogar batalhas avulsas no War Room.
Uma loja à moda antiga, em que conteúdo extra é liberado com moedas ganhas em jogo
Infelizmente o jogo não inclui personagens de Advance Wars: Dual Strike (DS) como Jake, Rachel, Sasha, Grimm ou Javier, que seriam bastante interessantes. Entendo que incluí-los nas campanhas poderia desbalancear o jogo, mas eles poderiam ser oferecidos como extras, disponíveis para um possível New Game Plus, ou para jogatinas livres no War Room.

A possibilidade de criar novos mapas e jogar batalhas avulsas contra a máquina ou amigos faz com que Advance Wars tenha um fator de rejogabilidade praticamente infinito, pois novos desafios podem ser criados e customizados de acordo com a vontade do jogador.
A arte da caixa é uma homenagem ao primeiro Advance Wars, mas ao abrí-la...
...você descobre que a capa é reversível e você pode escolher exibir AW1 ou AW2

Bom como antigamente

Advance Wars 1+2: Re-Boot Camp é um remake fiel aos jogos clássicos da série e mostra como sua jogabilidade é atemporal e permanece divertida mesmo duas décadas após seu lançamento original. Com a modernização estética aliada à adição de recursos modernos e alguns refinamentos de jogabilidade, o remake é uma experiência empolgante para jogadores veteranos ou novatos com a série.

As mecânicas de jogo e as campanhas permanecem praticamente inalteradas em relação aos originais, o que por um lado é ótimo, já que esses jogos são excelentes, porém é também uma oportunidade perdida para acrescentar novos conteúdos que não estavam presentes nos jogos do GBA. O modo cooperativo online é o básico do básico, não possuindo sequer um matchmaking, e definitivamente poderia ser melhor trabalhado.
Lash quebrando a quarta parede
Dito isso, a diversão e a satisfação proporcionadas pela coletânea é fantástica, além de apresentar esses jogos excelentes para uma nova geração de jogadores e permitir que apreciemos os títulos em um console moderno e portátil ou na tela de uma televisão. Esse é um título que tem um lugar permanente na memória interna do meu Switch.

Advance Wars 1+2: Re-Boot Camp não é para todos, é voltado para o nicho de fãs de jogos táticos de estratégia em turnos. Mas se essa é a sua praia, esse é um título imperdível para o Nintendo Switch. Além da satisfação de reviver esses clássicos, fica a esperança por um remake dos jogos da série lançados para o Nintendo DS.
Hawke fazendo aquela referência marota à Advance Wars: Days of Ruin (DS)

Prós

  • Mantém a ótima jogabilidade e a diversão das campanhas originais;
  • Novos elementos estéticos, como cutscenes animadas, frases dubladas e efeitos animados para os CO Powers;
  • Ótima trilha sonora, reimaginada das músicas originais;
  • Rejogabilidade praticamente infinita com os modos Design Room e War Room;
  • Inclusão de comodidades modernas para desfazer o turno e avanço rápido de animações.

Contras

  • Inova pouco em relação aos originais;
  • Não permite salvamento manual da campanha;
  • Não permite partidas online com jogadores fora da sua lista de amigos.
Advance Wars 1+2: Re-Boot Camp — Switch — Nota: 8.5
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo

é engenheiro eletrônico e tem uma filha fofinha que tenta morder os controles do papai. Curte jogos de luta, corrida e ação.
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