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Análise: Buccanyar (Switch): um tower defense de estourar a paciência

Nem mesmo os gatinhos fofos são suficientes para melhorar a experiência nesta batalha naval.

em 27/05/2023
Antes de mais nada, quero deixar um aviso sincero: pense duas vezes antes de pegar um jogo porque os gráficos são bonitos. Procure impressões, análises, quaisquer vestígios de experiências que jogadores (humanos) tiveram com o título, senão o resultado pode ser tão catastrófico quanto meu teste de paciência com Buccanyar.


Bonitinho na superfície, mas confuso no restante, este protótipo de tower defense leva o jogador a se questionar como até Campo Minado consegue ser menos frustrante.

Mais uma história de pai ausente — assim como o tutorial

Temos aqui mais um daqueles jogos teoricamente focados em jogabilidade, com uma história simples e que apela para o nonsense. Após eventos que beiram o apocalipse, toda a configuração do mundo de Buccanyar muda para algo focado na navegação, já que a maior parte do que antes era coberto por terra agora ficou submersa.

No meio desse caos, o pai de três garotas as deixa sob responsabilidade de três gatos e um barco, com a promessa de que se encontrarão em um local pré-definido. É aqui que o jogador entra: controlando as meninas e seguindo as orientações deixadas por seu pai aos cuidados de um gato caolho, o objetivo é encontrar o local marcado pelo X no mapa em busca de respostas sobre o paradeiro do progenitor ausente.

Apostando em uma jogabilidade que remete ao gênero tower defense, devemos enfrentar batalhas intensas contra barcos e outros tipos de veículos, como unidades aéreas e submarinos, para obter melhorias e mais poder de fogo para nossa embarcação, a fim de superarmos batalhas cada vez mais explosivas. No entanto, Buccanyar nos trata como uma mãe bovina: somos jogados no mundo e devemos nos virar para entender como as coisas funcionam, tal qual um bezerro que nasce e deve tratar de ficar de pé para que não seja alvo fácil de predadores.


Trocando em miúdos, o jogo literalmente nos joga na luta do tutorial e “a gente que lute” para entender quando devemos usar comandos com os botões direcionais ou apertar logo X para dar os primeiros tiros, tudo isso enquanto tentamos entender tantas opções selecionáveis (ou não) nos quatro menus de batalha disponíveis. Para piorar, essa confusa tomada de decisão acontece no meio do tiroteio naval, e se engana quem pensa que os inimigos têm a paciência de esperar que façamos nossos movimentos.

Se sobrevivermos ao tutorial com um mínimo de paciência sobrando, finalmente temos acesso ao entendimento básico do jogo. A jogabilidade se resume a movimentar o barco para uma distância segura dos inimigos; dar o comando de ataque; alternar entre os conjuntos de armas para focar em destruir certos tipos de unidades; e eventualmente utilizar comandos da capitã para melhorar certas ações de acordo com a necessidade.

Após algumas batalhas, finalmente chegamos ao porto, onde é possível personalizar a embarcação com novas armas e contratar mais gatos para aumentar a tripulação. Aqui, temos uma boa seleção de opções: além das melhorias já citadas, podemos realizar missões para garantir uma renda extra e fazer uma customização completa do barco, incluindo mudar as cores e a bandeira de acordo com o nosso gosto.

Quanto à organização da tripulação, alternamos entre as três capitãs — as menininhas abandonadas à sorte pelo pai, lembra? —, sendo que cada uma terá um foco diferente do jeito de comandar a tripulação. Isso se traduz em comandos diferentes no menu de batalha de acordo com a personalidade e habilidades das moças: Kanna, por exemplo, tem um foco maior na manutenção do navio, enquanto Alicia foca em artilharia e Lillia se preocupa mais com a  navegação no geral.

Customização respeitável e muita variação de gatos

Ainda no porto, podemos organizar nossos gatos de acordo com suas necessidades, como colocar mais ou menos “patas de obra” no comando de armas para focar em direcionar seus esforços na manutenção ou primeiros socorros de membros feridos. Sabe-se lá por que gatos pilotam embarcações, mas quem sou eu para questionar a lógica em videogames? Só sei que dá para sair recrutando os mais diferentes bichanos para a tripulação (e até que eles são bem fofinhos).

Contudo, a parte mais importante de Buccanyar é saber gerir as armas para criar conjuntos bélicos melhores a fim de lidar com os diferentes tipos de embarcações inimigas; por exemplo, muitas vezes é interessante utilizar o conjunto de armas número 3 para se livrar logo das praguinhas voadoras, mudando em seguida para o conjunto 2 para focar em destruir os navios maiores depois que estes estiverem sem seu apoio aéreo. 


No geral, o jogo é bem decente nos quesitos customização e gestão de recursos, divertindo por alguns minutos enquanto tentamos criar os melhores conjuntos possíveis com armas recém-compradas na loja após completar as missões principais e secundárias da história. 

Os controles, no entanto, poderiam ser mais polidos de forma geral. Foi difícil me acostumar com a movimentação do barco, além de a câmera não ajudar na maioria das vezes para uma visualização melhor da ação que ocorria em volta do meu barquinho. Somando o controle não muito amigável a uma quantidade demasiadamente grande de opções para selecionar enquanto os ataques inimigos não nos perdoam, Buccanyar traz uma experiência um tanto quanto dúbia para a maioria dos jogadores.


Os altos e baixos das escolhas audiovisuais

A apresentação visual do jogo chama a atenção — e foi exatamente por isso que tive a oportunidade de escrever esta análise —, com artes em 2D suficientemente trabalhadas e personagens carismáticos, apesar de um pouco clichês, como de praxe. Em suma, o bom design consegue traduzir a divertida personalidade de Buccanyar como um todo. 

Os modelos 3D, por outro lado, chegam a ser medonhos em alguns (lê-se vários) pontos. Nem os gatos são tão fofos quanto aparentam ser no mundo bidimensional, o que nos faz querer passar logo os menus de seleção para que voltemos a ter contato com os personagens apenas durante os diálogos. Eu lhe desejo boa sorte para dormir à noite depois de ver a screenshot abaixo:

Já a respeito do áudio, a música existe e ponto: está lá, serve a seu propósito, mas em muitas situações nos esquecemos de que algo está tocando ao fundo. Pelo menos não chega a ser irritante como a leitura à qual somos submetidos o tempo todo, mas está longe de ser algo marcante ou memorável.

“All your base are belong to us”, como nos ensinou Zero Wing

Buccanyar com certeza merece uma posição na lista de obras ridiculamente localizadas. Por se tratar de um jogo de gestão de recursos, seria interessante que fosse minimamente possível entender as descrições dos itens e opções com mais clareza; porém, contudo, todavia, temos o famoso “inglês quebrado” que tanto nos diverte internet afora.

Não parece que houve o mínimo de esforço para que fosse feita uma tradução humanizada, com opções como “is not” para representar um espaço vazio ou descrições de armas que sugerem que “power” não é tão forte, mas “firing power” é. Até é possível entender o contexto, porém, idealisticamente falando, um jogo desse tipo não deveria fazer o jogador realizar inferências para compreender o básico do básico.

Por fim, a formatação textual foi feita de maneira pouco criteriosa durante os diálogos de forma geral, o que torna a leitura uma verdadeira batalha — às vezes até mais difícil que o bullet hell a que somos submetidos em alguns combates durante a jogatina. É a localização dos anos 1980 marcando presença em pleno século XXI.

Mirar e errar

Talvez com um tratamento textual melhor, Buccanyar pudesse ser mais bem aproveitado por apreciadores de gestão e tower defense de forma geral. É um jogo com muito potencial, personagens carismáticos e história suficientemente interessante para um jogo no estilo, chegando até mesmo a flertar com um bom desenvolvimento narrativo em alguns momentos de mais tensão.

No entanto, é muito difícil se manter empolgado ao jogar algo cuja leitura dos menus é o maior dos desafios presentes no título — maior até mesmo que abater as embarcações inimigas. Em suma, perto de Buccanyar, Paciência e Campo Minado ainda continuam os melhores exemplos de teste de paciência. 

Prós

  • História e protagonistas interessantes para o estilo de jogo;
  • Apresentação visual satisfatória (em 2D);
  • Boas opções de customização e melhorias para as embarcações;
  • Variedade considerável de missões, tanto principais quanto secundárias;
  • Muitos gatinhos fofinhos (em 2D).

Contras

  • Dificuldade de leitura e interpretação de menus e itens;
  • A falta de tutoriais pode tornar a experiência frustrante logo nas primeiras batalhas;
  • O controle do barco não é tão satisfatório;
  • Música pouco memorável ou marcante;
  • Modelos 3D com escolhas bem questionáveis.
Buccanyar — PC/PS4/Switch — Nota: 5.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Success

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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