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Análise: Decarnation (Switch): quando a realidade e os pesadelos se misturam

Acompanhe a jornada de Glória, uma dançarina que precisa enfrentar horrores reais e imaginários.

Desenvolvido pela Atelier QDB e publicado pela Shiro Unlimited, Decarnation é mais um título indie 2D que chega ao Switch e entrega ao jogador uma experiência diferenciada por meio de uma trama intensa e impactante.

Horrores reais e psicológicos

Em Decarnation, acompanhamos a história de Glória, uma dançarina de um cabaré que em determinado período de sua vida teve o seu corpo nu usado como modelo para a criação de uma estátua.

No dia da inauguração da obra, ao visitar a exposição com sua namorada Joy, a protagonista visualiza um homem estranho “apalpando” a escultura. Completamente desconfortável com a situação, ela vai embora do local sem ter forças para conversar sobre o ocorrido com a sua parceira.

Após esse deplorável acontecimento, nossa heroína passa por declínios em vários aspectos de sua vida, indo desde um rompimento com Joy até uma mudança desagradável de função em seu trabalho. Para piorar, Glória ainda precisa lidar com terrores internos criados pela sua mente.

Quando tudo parecia estar perdido, a protagonista recebe uma ligação de um funcionário de um famoso e importante grupo empresarial que lhe oferece uma oportunidade irrecusável, na qual ela teria a liberdade orçamentária e criativa para realizar shows por todo o mundo. Infelizmente, a suposta oferta se trata de mais um golpe duro que a nossa heroína recebe, pois, ao chegar ao local de encontro marcado, ela é pega de surpresa e acorda em um pequeno quarto totalmente trancado. 

Sob a custódia do sequestrador identificado como Mestre e do funcionário chamado Bob, Glória passará por maus bocados, não apenas com respeito à terrível prisão física em que se encontra, mas também com batalhas assustadoras que precisará enfrentar para se libertar das grades de sua mente.

Um mundo lindo e aterrorizante

Os maiores méritos de Decarnation estão em seu enredo, que se apresenta como um terror psicológico maduro que aborda temas complexos como traumas, medos, inseguranças e a visão da sociedade sobre o corpo feminino. O roteiro se torna ainda mais interessante pelo fato de o jogo conter legendas em português; no entanto, por algum motivo, certos diálogos não são traduzidos.

Em muitos momentos, não é tão simples distinguir entre o que é real e o que é fruto da imaginação da dançarina. Nesse sentido, mesmo que alguns pontos fiquem mais claros com o desenrolar da trama, acredito que vários aspectos permanecem interpretativos e podem render boas discussões.

Controlando Glória, andamos por diversos ambientes diferentes e temos um botão para conversar ou interagir com elementos do cenário. Além disso, em certas ocasiões, devemos fugir, enfrentar ou desviar de monstros bizarros, com o botão de ação executando um ataque em forma de grito em situações específicas. 

Impressiona como os cenários construídos são deslumbrantes, mesclando de maneira criativa, bela e assustadora os momentos de lucidez com os de sonhos. Somado a isso, os monstros criados também têm um ótimo visual, contribuindo com a criação de situações aterrorizantes e desconfortantes.

As inspirações por trás de Decarnation são inúmeras e visíveis, indo desde filmes, como Perfect Blue, até jogos de terror, como Silent Hill. Apesar disso, trata-se de uma obra com identidade própria, com muitos aspectos visuais únicos e extremamente marcantes, além de uma trilha sonora que acompanha a beleza e o horror que nos são transmitidos.

Um jogo que poderia ser mais contido

Apesar de possuir toda a sua força ancorada na narrativa, Decarnation insere alguns elementos mais comuns de gameplay que não me agradaram muito e que, a meu ver, acabam prejudicando um pouco o ritmo da trama.

Em determinadas ocasiões, devemos apertar sequências de botões nos instantes corretos para que Glória tenha êxito em certas atividades, como dançar ou praticar exercícios. Em um primeiro momento, essas tarefas não incomodam e são até coerentes com o que está ocorrendo em cena; no entanto, elas se repetem demais e na maioria das vezes não acrescentam em nada ao enredo.

Não foram poucas as ocasiões em que a minha curiosidade para saber o que estava por vir foi interrompida por um quick time event. Penso que um título com uma história tão rica como essa poderia se dar ao luxo de fazer com que o jogador tivesse apenas que andar e prestar atenção no que está acontecendo, como o recente Melon Journey fez.

O jogo ainda possui um bocado de puzzles interessantes e que são até satisfatórios de se resolver, mas que eu particularmente também não sentiria falta se os desenvolvedores os tivessem deixado de fora. Por conta dessas pausas para resolver quebra-cabeças e principalmente dos quick time events, Decarnation acaba se estendo um pouco mais do que o necessário.

Apesar das ressalvas, trata-se de mais um ótimo representante indie

Mesmo que em alguns momentos insista em aplicar elementos de gameplay que pouco somam ao conjunto da obra, Decarnation é mais uma incrível adição de estúdios independentes que chega ao Switch e merece ser conferido, pois apresenta uma direção de arte irretocável, uma trilha sonora igualmente assertiva e uma trama profunda que aborda temas importantes.

Prós:

  • A história é profunda e imersiva, abordando diversos temas complexos e sensíveis;
  • O jogo possui um visual lindo, principalmente em seus cenários; 
  • A trilha sonora acompanha a beleza e o horror que o jogo transmite;
  • Legendado em português.

Contras:

  • Alguns elementos de gameplay são aplicados e repetidos sem que haja uma necessidade real, tornando o jogo mais longo do que deveria;
  • Certos diálogos não são traduzidos.
Decarnation — PC/Switch — Nota 8.5
Versão utilizada para análise: Switch 
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Shiro Unlimited

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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