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Análise: Double Dragon Gaiden: Rise of the Dragons (Switch) é um bom retorno aos clássicos

Este beat ‘em up se reinventa com muitas novidades, mas sofre alguns tropeços.

Lá pelos idos dos anos 1990, os videogames eram dominados por alguns gêneros, notadamente plataforma e beat’em up. Se no primeiro estilo reinavam os mascotes Sonic e Mario, o segundo tinha entre seus representantes de peso Streets of Rage, Tartarugas Ninja, Final Fight e Double Dragon.


Depois da revitalização dos lutadores de rua e do elogiado retorno dos quelônios mutantes adolescentes, chegou a hora dos irmãos Billy e Jimmy Lee ganharem uma chance na nova geração com Double Dragon Gaiden: Rise of the Dragons. Será que o pessoal do estúdio Secret Base conseguiu realizar um trabalho que aqueça os corações saudosos desta amada franquia?

Mais dragões para formar uma dupla

Mas não por muito tempo...
A trama de Double Dragon Gaiden retrata o clássico futuro imaginado pelas produções da década de 1980: após um apocalipse nuclear, gangues disputam o poder na cidade de Nova Iorque. O governo em frangalhos não consegue controlar a situação e é nesse momento que os irmãos Lee decidem promover a paz, nem que seja na base da pancadaria.

Rise of the Dragons funciona como um reboot da série e aproveita a oportunidade para atualizar alguns conceitos. Uma grande mudança diz respeito a Marian, que deixa de fazer o papel de mocinha indefesa a ser resgatada e se torna uma das personagens jogáveis.

Aliás, a seleção de personagens traz também outro diferencial que altera profundamente a jogabilidade: cada jogador escolhe um lutador protagonista e um secundário, que podem ser alternados durante a campanha quando a barra de especial estiver cheia.
No total são 13 personagens jogáveis.
Isso abre um leque enorme de possibilidades de combos e estratégias, dependendo da dupla escolhida pelo jogador. Billy e Jimmy golpeiam com chutes e socos, Marian usa armas de fogo e Tio Martin é o típico tanque capaz de agarrar e lançar os oponentes.

A variedade de estilos é bem implementada e dominar os lutadores e suas particularidades faz uma grande diferença na partida, pois os estágios estão repletos de inimigos que invariavelmente atacam em grupos. Simplesmente apertar repetidamente o Y para golpes simples sem estratégia alguma terá como resultado a morte certa.

Um jogo formatado pelas suas escolhas

Double Dragon Gaiden apresenta alto teor de personalização. Ao iniciar uma partida, é possível escolher diversas configurações, como quantidade de continues, tamanho da barra de vida dos lutadores e custo dos upgrades.

Após a seleção dos personagens, temos outra grata surpresa: em vez do esquema tradicional de seguir da primeira à última fase em uma ordem pré-determinada, somos apresentados aos estágios — e, por consequência, aos chefes das gangues que dominam as respectivas áreas — para escolher a ordem que desejamos seguir.
Escolha a ordem em que deseja enfrentar as gangues.
Isso está longe de ser uma escolha supérflua, pois é importante escolher bem qual fase será deixada por último. A cada parte da cidade vencida, as outras gangues se reorganizam e se fortalecem, deixando os próximos desafios mais difíceis.

Por outro lado, ao final de cada estágio é possível utilizar o dinheiro recolhido pelo caminho para comprar melhorias para os seus personagens. Alguns upgrades são mais perceptíveis, enquanto outros oferecem efeitos mais complexos de serem sentidos na próxima etapa.

Cada nova partida pode ser realmente nova se o jogador alterar suas escolhas. Dessa forma, com tantas opções à disposição, cada pessoa terá uma experiência bem diferente ao se aventurar nesta Nova Iorque pós-apocalíptica.

Lutar bem para conseguir comer

Uma oportunidade de recuperar energia à frente.
Nos beat’em ups clássicos, tradicionalmente recupera-se vida ao encontrar comida pelo chão. Rise of the Dragons apresenta mais uma mudança ao condicionar o surgimento dos quitutes à capacidade do jogador de executar combos.

Dependendo da quantidade de inimigos derrotados simultaneamente com um golpe especial, uma iguaria cai do céu. Um KO em pelo menos três inimigos fornece um cachorro-quente, que recupera 25% da energia; um hambúrguer recupera 50%; e o frango assado, com seus 100% de regeneração, é conquistado com um nocaute em massa.

Essa é mais uma mudança em um conceito clássico que altera completamente a relação com o jogo. É preciso calcular bem os combos para realizar o chamado Ground Control e ganhar os itens; caso contrário, a energia não poderá ser recuperada.

Um mundo injusto

Tem um cachorro-quente escondido atrás de algum desses corpos.
Apesar dos muitos pontos positivos, nem toda mudança apresentada por Double Dragon Gaiden funciona a contento. Em geral, os problemas acontecem justamente por conta de decisões equivocadas na produção e que levam à perdas injustas de energia.

O botão A serve para agarrar, seja um item no chão ou um inimigo. Em uma tela infestada de adversários, isso pode induzir o jogador a erros fatais, com a comida conquistada com muito suor permanecendo intacta no chão.

Não há comando para esquivar ou defender. Com isso, ao levar o primeiro golpe de uma sequência, você receberá todo o combo de um adversário, que ainda pode ser aumentado por outros inimigos que estiverem por perto. No estágio final, isso se torna particularmente injusto, chegando ao ponto de ser impossível sequer se levantar.
Área com alto índice de mortes.
Esse fator é agravado por não ter nenhum momento de invencibilidade, fazendo com que o seu personagem sempre possa ser atingido. Seu combo, portanto, pode ser facilmente interrompido. Na troca de lutador, a situação é realmente frustrante.

Como o personagem que vai para o “banco de reserva” tem um movimento um pouco demorado para sair de tela, ele continua vulnerável a ataques mesmo que o jogador já esteja no controle do outro lutador. Diversas vezes, principalmente em luta contra chefes, perdi meu secundário neste momento de troca.

Uma loja bem capitalista

Além de melhorias dos personagens, o dinheiro acumulado também pode comprar fichas de continue ao final de cada estágio, ou ainda, pode ser utilizado no menu inicial para diversas compras.
Trocar um continue por uma dica? Pois é.
A principal é a obtenção de outros personagens para utilizar durante a campanha, incentivando o jogador a investir em novas partidas para chegar aos valores exigidos e testar os novos lutadores.

Se esse fosse o único item à venda no menu, seria compreensível pelo custo total. Porém, os outros itens disponíveis são indefensáveis. Músicas e imagens são recompensas comuns de qualquer galeria de jogo e, entre desbloquear isso ou um novo lutador, a escolha não se torna muito difícil.

O pior são as dicas (sim, as dicas são vendidas no menu). Algo que deveria aparecer durante as telas de loading – e o carregamento não é rápido, vale destacar – é cobrado em moedas virtuais na loja. Mesmo que o preço não seja tão alto, considero uma decisão bem equivocada.

Uma dupla de dragões pronta para voar

Gêneros antigos estão sempre buscando se reinventar, seja na música, no cinema ou nos games. Implementar mudanças é correr o risco de afastar os puristas, mas com o objetivo de apresentar seu produto a uma nova geração e, assim, renovar o público.

Double Dragon Gaiden: Rise of the Dragons mergulha de cabeça na renovação da franquia, ainda que respeite bastante o clássico e evita descaracterizá-lo, preservando assim o fator nostalgia. São muito bem-vindas as mudanças que trazem novas perspectivas à jogabilidade e à estratégia de luta na campanha, diferenciando assim o título de seu contemporâneo Streets Of Rage 4.

Os tropeços na dificuldade e na injustiça causada por decisões equivocadas, porém, tiram o brilho da jornada – tanto solo quanto em dupla –, que é divertida na maior parte do tempo, até que se torna extremamente frustrante.

Prós

  • A implementação da mecânica da dupla de personagens acrescenta estratégia e personalidade à partida;
  • Boa variedade de movimentos e controles entre os lutadores disponíveis;
  • Campanha altamente personalizável;
  • A dinâmica dos combos acrescenta estratégia na recuperação de energia.

Contras

  • Longas telas de carregamento;
  • As dicas, que deveriam ser disponibilizadas gratuitamente, são vendidas no menu inicial;
  • Mortes injustas pela completa falta de momentos de invulnerabilidade do personagem
Double Dragon Gaiden: Rise of the Dragons — Switch/PS4/PS5/XBO/XBS — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Modus Games

Nascido no mesmo dia que Manoel Bandeira (mas com alguns anos de distância), perdido em Angra dos Reis (dos pobres e dos bobos da corte também), sob a influência da MPB, do rock e de coisas esquisitas como a Björk. Professor de história, acostumado a estar à margem de tudo e de todos por ser fora de moda. Gamer velho de guerra, comecei no Atari e até hoje não largo os mascotes - antes rivais - Mario e Sonic.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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