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Análise: Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge (Switch) é bom como um rodízio de pizza

O mais novo beat ‘em up das Tartarugas tem ingredientes de qualidade combinados na temperatura certa e numa quantidade que satisfaz.

Como explicar o fenômeno que são as Tartarugas Ninja? Difícil. Mas, de alguma forma, elas conquistaram o mundo nos anos 1980 e 1990 (eu inclusive) e o novo jogo da franquia, Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge, consegue agradar até a quem não tem esse laço afetivo da nostalgia.


Criadas despretensiosamente em 1984 por Kevin Eastman e Peter Laird, as HQs independentes alcançaram vendas de fazer inveja à Marvel e DC. Daí para bonecos, desenhos animados e filmes de cinema foi um pulo, com produtos representando o bom humor e a mistura de referências que marcam a obra.

Não é necessário saber a história de origem das tartarugas, ter jogado suas aventuras pelo tempo no SNES ou acompanhado os nove anos de episódios da primeira animação. O espírito aqui é de uma noite para relaxar, pedir uma pizza e rir em boa companhia. Aceita um pedaço?

Massa levinha

Ei, vamos jogar juntos?
Shredder’s Revenge é um beat ’em up clássico com progressão lateral, do jeitinho que dominou os fliperamas nas décadas em que esses personagens estouraram. É o gênero no qual os quelônios lutadores se consagraram nos games, então nada melhor do que se manter no que já se sabe que dá certo.

Os comandos seguem um esquema clássico: temos o botão de ataque, o botão de pulo, o botão para esquiva e o botão de ataque especial, que só é acionado se a barra de especial estiver cheia. Segurar o botão de ataque também solta um golpe mais forte. Esses são os comandos básicos, que podem ser incrementados por diferentes combinações, criando novos movimentos e diversas possibilidades de combo.

O contador de golpes consecutivos, aliás, é um desafio a mais durante a campanha. A contagem reinicia toda vez que você é atingido por um inimigo ou obstáculo. Ao final do estágio, é mostrado o recorde alcançado.
Não fui tão longe assim nos combos
Beat ’em up também é o gênero em que a publicadora, Dotemu, recentemente se enveredou com sucesso: é a mesma que nos brindou com Streets of Rage 4 (Switch). Já a desenvolvedora, Tribute Games, foi fundada por ex-funcionários da Ubisoft que trabalharam em Scott Pilgrim vs The World: The Game (Switch); ou seja, os envolvidos são experientes no assunto e possuem o know-how necessário para fazer um bom “briga de rua”.

Esse histórico de competência das empresas envolvidas transparece no jogo: os estágios são curtos, não se estendendo além do que deveriam; a jogabilidade é simples, facilitando a aplicação de combos; os cenários e os inimigos são variados e bem animados, renovando o frescor durante a campanha… enfim, a base para o jogo brilhar estava pronta. Hora de adicionar…

Excelentes ingredientes selecionados

Aqui entra a magia das Tartarugas Ninjas. Os personagens e o mundo que elas habitam são carismáticos, o que foi muito bem transposto para o game. A animação de todos os personagens é fluida e cativante. Por exemplo: é estranhamente prazeroso olhar para o seu protagonista esmagado como uma folha de papel no chão após ser atropelado.
Simpático e sincero, é assim que eu gosto dos meus vilões
Cada personagem exala personalidade própria, com uma frase de entrada e uma comemoração de vitória, e possui características que diferenciam e trazem variedade à jogabilidade. Donatello, por exemplo, consegue ter um alcance maior em seus ataques graças ao seu bastão, enquanto Splinter possui golpes fortes, porém uma movimentação mais lenta. Além dos quatro protagonistas com nomes de artistas renascentistas e do Mestre em forma de rato, também é possível escolher a repórter April O’Neil com seu icônico macacão amarelo, totalizando seis personagens controláveis inicialmente.

A jogabilidade é o carro-chefe de Shredder’s Revenge, junto com as batalhas contra os chefes. Por isso, a fila de inimigos, a variedade de cenários e as mudanças de gameplay (como na fase de perseguição de carro) são o grande atrativo, enquanto a trama absurda é apenas um pretexto para a pancadaria. Entre um estágio e outro, apenas uma tela estática (ou quase) faz a ligação da história — e é o suficiente.

O humor também é essencial para o clima de aventura divertida. Cada inserção na tela apresentando o nome do estágio ou do chefe contém um trocadilho ou uma piadinha. Diversos cenários possuem uma esquete montada em algum ponto, com os membros do Clã do Pé tomando sorvete, dormindo no banco da praça ou trabalhando de atendentes de loja. A explicação para a variação de cores dos ninjas inimigos, inclusive, é hilária.

Molho de nostalgia

O que será que vem aí?
O design dos personagens, os veículos e o humor da história são inspirados na animação original, que estabeleceu diversos cânones que não constavam nos quadrinhos. Esse detalhe vai desde elementos básicos, como cada tartaruga ser identificada por uma cor, até personagens como a Mosca (nas HQs, o cientista Baxter Stockman não se transforma num mutante).

A abertura e a trilha da animação, que durou de 1987 a 1996, também abrem Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge, pegando logo no início na mão da criança interior dos jogadores maiores de 30 anos. Ao longo da campanha, diversos outros personagens fazem pequenas participações especiais, abrangendo praticamente todo o elenco que compõe esse rico universo.

Além da animação, o título também reverencia os games clássicos das tartarugas. Seja no nome do segundo estágio, “Big Apple, 3 PM”, nas pizzas que conferem uma habilidade especial para varrer os inimigos da área ou na possibilidade de arremessar os oponentes em direção à tela (e ao jogador), são diversos elementos familiares para quem jogava, por exemplo, Turtles in Time (SNES).

Assando em temperatura média

Game over… mas não por muito tempo
É possível escolher entre o modo história, com menos vidas mas continues infinitos, e o modo arcade, sem pontos de salvamento e que te obriga a terminar a história toda de uma vez. A segunda opção é para aqueles que buscam uma experiência mais próxima àquela disponível nos clássicos dos anos 1990.

Estão disponíveis também três opções de dificuldade, tornando o jogo mais acessível sem perder o jogador mais hardcore de vista. Experimentei Shredder’s Revenge na chamada dificuldade “moderada” e pude curtir uma campanha que me arrancou muitas vidas, mas sem me deixar frustrado. Diversão na medida certa.

Terminar a campanha desbloqueia mais um personagem controlável: Casey Jones, o outro amigo humano das tartarugas. Ele é mais forte e mais bruto do que as outras seis opções, trazendo mais uma opção diferenciada de gameplay e estimulando o jogador a experimentar a campanha novamente.

Borda recheada

Posso quebrar tudo enquanto procuro o seu pedido?
Outros elementos também contribuem para o fator replay de Shredder’s Revenge. Os personagens encontrados em áreas secretas abrem um ponto no mapa do jogo, onde solicitam que você encontre objetos perdidos pelas fases. É simples, mas incentiva a exploração e a revisita aos estágios. O colega de April no jornal pede por fitas de vídeo, enquanto os sapos guerreiros aguardam por seus insetos, entre outros. Tudo pode ser encontrado atrás de latas de lixo ou outros objetos quebráveis nos cenários.

Outra maneira de estender a duração são os desafios e as conquistas. Há desde tarefas simples, como arremessar três inimigos em direção à tela ou evitar ser atingido por três obstáculos do cenário, até coisas complicadas, como não ser atingido durante todo o estágio.

São elementos totalmente opcionais, que não exigem um desvio do curso da história. Eles estão totalmente integrados à campanha, o que facilita o interesse em completar os desafios e os colecionáveis, mas, de qualquer forma, não concluí-los em nada atrapalha o seu progresso.

Cowabunga!

Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge é um excelente beat ’em up, que vai direto ao ponto, focando nos combates e entregando uma jogabilidade precisa. Tudo isso, aliado ao carisma dos personagens e ao bom humor presente em cada pixel, faz deste título uma preciosidade. Para um fã das Tartarugas Ninja, torna-se ainda mais especial com a dedicação e a presença de tantas referências a produtos anteriores.

O jogo não se estende além do necessário, nem busca aumentar artificialmente sua duração. Mesmo assim, o fator replay é alto, ainda mais com a possibilidade de dividir os controles com mais três pessoas localmente ou até cinco pessoas online, criando um caos perfeito, gostoso como um bom rodízio de pizza. Cowabunga!

Prós

  • Beat ’em up clássico muito bem executado;
  • Jogabilidade precisa e acessível;
  • As opções de dificuldade ampliam o público;
  • Alto fator replay pelos extras e pelo humor cativante;
  • Diversas referências para os fãs das Tartarugas Ninja.

Contras

  • Nenhum
Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge — PC/PS4/XBO/Switch — Nota: 10.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dotemu

Nascido no mesmo dia que Manoel Bandeira (mas com alguns anos de distância), perdido em Angra dos Reis (dos pobres e dos bobos da corte também), sob a influência da MPB, do rock e de coisas esquisitas como a Björk. Professor de história, acostumado a estar à margem de tudo e de todos por ser fora de moda. Gamer velho de guerra, comecei no Atari e até hoje não largo os mascotes - antes rivais - Mario e Sonic.
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