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Análise: Agatha Christie: Hercule Poirot - The London Case (Switch) coloca o jovem detetive homônimo em mais uma trama bem-elaborada

O excêntrico personagem volta à cena do crime para desvendar o caso de Madalena Arrependida.

Em 2021, o estúdio Blazing Griffin, em parceria com a Microids, trouxe uma releitura de Hercule Poirot, a maior criação da escritora britânica Agatha Christie, com Agatha Christie: Hercule Poirot - The First Cases. À época, comentei como o jogo se apropria das tramas da autora com maestria, sendo uma excelente maneira de conhecer o excêntrico detetive belga sob um ponto de vista nunca antes visto.


Agora, o icônico personagem está de volta em Agatha Christie: Hercule Poirot - The London Case, uma nova aventura idealizada pelo Blazing Griffin e que, mesmo com alguns tropeços aqui e ali, consegue fazer jus ao legado narrativo da Rainha do Crime.

O caso da “Madalena Desaparecida”

A trama de London Case gira em torno da obra de arte Madalena Arrependida, a qual Poirot ficou encarregado de escoltar para uma exposição em Londres. Todavia, a viagem de navio está longe de ser tranquila: uma das passageiras, Florence Farquhar, tem sua cigarreira roubada e cabe ao detetive descobrir quem é o ladrão.

Mesmo não apanhando o culpado a tempo de pisar em solo inglês, ao menos a obra de arte chega intacta ao museu londrino e Poirot, seu colega Arthur Hastings e a curadora Evelyn Warbeck se asseguram de que a Madalena Arrependida está sã e salva para o grande dia. Ou era o que os três pensavam, pois o quadro simplesmente foi roubado minutos antes de sua grande revelação.


Assim como nos livros de Agatha Christie, a trama se desdobra em capítulos isolados, mas que no final se conectam magistralmente para o desfecho do crime. Seguindo o estilo literário da escritora britânica, há diversas reviravoltas que levam o jogador a rever suas teorias sobre o possível whodunnit (quem fez), que pode ou não estar ligado ao furto da cigarreira de mademoiselle Farquhar.

Como de praxe, nada na trama é apresentado por acaso e, na pele de Poirot, é necessário interrogar os suspeitos, inspecionar objetos e cenários e fazer deduções lógicas. Obviamente, não darei mais spoilers sobre a história, mas consigo assegurar que fãs da Rainha do Crime se sentirão em casa.

Colocando as células cinzentas para funcionar — mais uma vez

Assim como em The First Cases, o principal meio de dedução é o mapa mental, no qual as pistas e evidências são dispostas em um esquema de macro/micro. Em dados momentos, devemos parar a investigação para fazer as devidas conexões entre os fatos descobertos até então.

Uma adição bem-vinda à jogabilidade é a parte de apresentar evidências e soluções a Hastings, ou a outros personagens. Em momentos-chave, devemos escolher os itens mais apropriados para o caso em questão, que levará à progressão na trama.


É válido pontuar aqui, no entanto, que o método de tentativa e erro se sobressai às vezes, já que algumas soluções nem sempre parecem ter sentido. De todo modo, o jogo é generoso nesse aspecto e, a fim de evitar softlocks, entrega a resposta caso o jogador erre uma dedução mais de três vezes.

Ainda em comparação com o primeiro jogo, foi adicionada a viagem rápida, que permite a Poirot se deslocar entre os principais cenários sem precisar ficar transitando por diversas cenas. Graças a isso, podemos ver que o estúdio Burning Griffin teve cuidado em expandir a narrativa dentro dos capítulos para proporcionar um suspense mais imersivo e complexo, com direito a backtracking para coletar e entregar pistas e objetos.

Telas de carregamento excessivamente longas que prejudicam o ritmo da aventura

Eu queria dizer que alguns bugs visuais e os modelos pouco polidos dos personagens, ou ainda o fato de a câmera isométrica fixa nem sempre facilitar a investigação dos objetos e cenários, são os principais defeitos de London Case, mas o “mérito” fica a cargo das excessivas telas de carregamento. Se estas ainda fossem exclusividade do Switch, acredito que seria mais fácil de relevar, uma vez que a idade do console também afeta seu hardware, mas esse problema se estendeu à versão de PS4

Essas demoradas transições acabam afetando não só a mudança de cenários, como também algumas cutscenes nos capítulos. Em certos casos, presenciei sequências cinematográficas cujo áudio começou antes da animação aparecer na tela, algo que pode ser um grande fator para deixar o jogo de lado — a bem da verdade, mesmo eu sendo uma grande fã da Rainha do Crime, em diversos momentos me peguei dando longos suspiros quando isso acontecia.


Pelo menos, existem pontos positivos para balancear a experiência, a começar pela excelente ambientação da trama, que se passa no início do século XX. Os personagens também são memoráveis e bem-trabalhados, em especial graças ao ótimo elenco de dublagem escolhido para dar vida a eles com os diferentes sotaques e entonações. 

Além disso, assim como em First Cases, London Case traz legendas em português que, mesmo com alguns tropeços na gramática, deixam o mistério acessível às pessoas com pouca fluência em inglês. Por fim, quero ressaltar a presença de elementos desbloqueáveis ao longo da campanha, que contribuem ainda mais para que o jogador mergulhe neste incrível universo baseado nas obras de Agatha Christie.

O jovem Poirot está de volta para mais um caso de sucesso

Fãs da Rainha do Crime podem novamente incorporar um Poirot inexperiente em Agatha Christie: Hercule Poirot - The London Case, uma história inédita que faz jus ao estilo narrativo da escritora britânica. Mesmo com alguns tropeços aqui e ali, em especial de performance, jogadores que buscam uma ótima trama de mistério têm aqui uma aventura excelente, capaz de prender por horas a fio sem cansar.

Prós

  • Narrativa e jogabilidade envolventes, imersivas e interessantes;
  • Ótima apropriação do estilo narrativo de Agatha Christie;
  • Apresentação audiovisual condizente com a ambientação do início do século XX;
  • Estímulo para o raciocínio lógico do jogador com os mapas mentais;
  • Adição do modo de viagem rápida para a transição entre cenários;
  • Em dados momentos, é necessário apresentar evidências e objetos a personagens para prosseguir na trama, algo que não estava presente em First Cases;
  • Personagens marcantes e bem-trabalhados;
  • Boa escolha do elenco de dublagem;
  • Opção de interface e legendas em português, mesmo que com alguns tropeços gramaticais.

Contras

  • Telas de carregamento excessivamente longas que prejudicam o ritmo da aventura;
  • Modelos pouco polidos, às vezes gerando alguns bugs visuais estranhos;
  • Em alguns casos, o áudio nas cutscenes começa antes das imagens aparecerem;
  • A câmera isométrica fixa às vezes atrapalha na interação com objetos e cenários.
Agatha Christie: Hercule Poirot - The London Case — PC/PS5/PS4/XBX/XBO/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Microids

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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