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Análise: Trine 5: A Clockwork Conspiracy (Switch) não inova, mas mostra que a franquia continua excelente

O quinto título de Amadeus, Zoya e Pontius não revoluciona as bases da saga, mas ainda diverte como poucos de seu gênero.

Lembro-me como se fosse ontem de quando ouvi falar da série Trine pela primeira vez: foi durante o lançamento de Trine 2: Director’s Cut para o saudoso Wii U, há mais de uma década (o tempo realmente voa, não é mesmo?).


À época, a hoje consagrada série da Frozenbyte chegava ao então recém-lançado console de mesa com encantadores visuais, provando que a capacidade gráfica do produto da Nintendo estava sim à frente do que poderia ser visto no PlayStation 3 e Xbox 360 (cabe lembrar que pérolas como Mario Kart 8 e Bayonetta 2 ainda eram um sonho distante naquele período).

Porém, muito mais do que a aparência, o que realmente encantava em Trine 2 era a sua mescla viciante e praticamente perfeita de plataforma e puzzles. Assim como seu antecessor, Trine 5: A Clockwork Conspiracy não desvia dessa fórmula, e, na prática, entrega um dos melhores títulos da série até agora.

A volta dos heróis de Trine

Trine 5 se passa no reino homônimo, onde os heróis Zoya, Pontius e Amadeus seguem suas vidas particulares após os eventos de Trine 4: The Nightmare Prince.

Infelizmente, as circunstâncias do presente não estão sendo tão gentis com eles, com Amadeus passando alguns dias em uma casa de repouso para dar um tempo em seus problemas matrimoniais e Pontius vendo o seu trabalho de guardião do reino se tornando praticamente dispensável após a chegada dos Soldados Mecanizados.

Quem está em melhor situação de vida é a ladra Zoya, que continua interessada na aquisição clandestina de artefatos mágicos; é em um divertido roubo à biblioteca, inclusive, que se passa o tutorial e os jogadores novatos e veteranos aprenderão ou lembrarão das mecânicas do título.

Porém, quando um estranho convite chega aos três personagens para uma celebração de seus legados na Academia Astral, fica claro que a paz não persistirá por tanto tempo assim se depender de algumas figuras especiais, como a vilã Lady Sunny e seu maquiavélico plano de jogar a população do reino contra os heróis. 

Mais puzzles e mais diversão

Como de costume na série, a história em Trine 5 é pouco mais do que um pretexto para colocar os heróis à disposição do jogador em mais de uma dezena de estágios bidimensionais repletos de puzzles lógicos, mas a forma leve com que a trama é apresentada, com cutscenes animadas e uma ótima narração (em inglês), deixa a impressão que estamos diante de um verdadeiro conto de fadas jogável. 

Se você já experimentou algum Trine antes, não terá problemas para se ambientar com esta quinta iteração, mas caso não, saiba que aqui seu objetivo será avançar até o final de cada fase resolvendo os diversos quebra-cabeças colocados em seu caminho.

Para isso, é preciso alternar entre os três heróis, que podem ser controlados por outros jogadores no modo multiplayer local ou online. Zoya, a ladra, possui um arco e flecha, cordas e até uma pequena bomba em seu arsenal; já Amadeus, o mago, é capaz de conjurar objetos como caixas e pontes e movimentá-los livremente pelo cenário; e o cavaleiro Pontius, por sua vez, é a escolha certa para os momentos de combate, com sua fiel espada e o seu resistente escudo.

Saber quando e como usar as ferramentas de cada herói, bem como combiná-las se necessário, é a chave para progredir. Sobre isso, há tantas combinações possíveis que seria quase impossível listá-las aqui, mas um exemplo simples consiste em usar as cordas de Zoya entre os objetos de Amadeus para criar uma ponte e atravessar um precipício.

Contando com alguns dos melhores puzzles da série e louváveis introduções às suas mecânicas, Trine 5 é inclusive uma ótima apresentação à saga. Portanto, caso você esteja conhecendo a franquia hoje, não se intimide com o número cinco do título: vale a pena conferir esta aventura mesmo sem experiência anterior.

O velho, o novo e o feio?

Seguir à risca a fórmula já estabelecida não é uma escolha livre de problemas; porém, talvez o mais grave neste caso diga respeito ao combate, que continua sendo o ponto fraco da série mesmo em sua quinta entrada.

Com poucas táticas à disposição, a melhor estratégia para se livrar dos oponentes continua sendo partir pra cima com Pontius e esperar bater mais do que apanhar. O resultado é que a falta de responsividade e enorme simplicidade desse aspecto do jogo acaba contrastando com a riqueza dos visuais e quebra-cabeças, e a essa altura do campeonato é até um pouco estranho os desenvolvedores não terem se esforçado para aprimorar essa parte.

Por sorte (ou não, caso você prefira mais ação em seus jogos de plataforma), são relativamente poucos os momentos de combate dentro de Trine 5. Na imensa maioria do tempo, você se encontrará desviando de obstáculos e resolvendo os enigmas de cada fase, sem nenhum esboço de adversário por perto.

Aliás, falando nas fases, por vezes fiquei com a impressão de que algumas delas são um pouco longas demais. Sair de um puzzle difícil e perceber que ainda havia mais dez semelhantes pela frente em um mesmo cenário me fez questionar se a série não deveria investir em um número maior de fases mais curtas, ao invés de apostar suas fichas em duas dezenas de estágios que demoram em média 20, 30 ou até mais minutos, dependendo da sua habilidade de solução de problemas, para serem concluídos (espere jogá-los várias vezes se a busca de colecionáveis te atrai).

Por sorte, a presença frequente de pontos de salvamento e a natureza híbrida do Switch acabaram amenizando esse pensamento durante o meu tempo com a versão nintendista. Inclusive, se você possui medo de travar em algum quebra-cabeça (um temor natural, dada a natureza do jogo), devo mencionar a dificuldade personalizável do título: é possível aumentar ou reduzir o nível dos puzzles e também a vida e o dano dos inimigos (fica o aviso de que telas de game over não são exatamente incomuns na dificuldade normal). 

Ficar muito tempo preso em algum cenário também levará a alguns comentários sutis dos personagens com dicas para a situação. Assim, não há impedimentos para todos, até mesmo os mais novos, se divertirem.

Uma fábula em todos os sentidos

A série Trine sempre foi sinônimo de belos visuais e física apurada, e esses elementos continuam a se fazer presentes e dignos de elogio em A Clockwork Conspiracy. Assim como os protagonistas, Lady Sunny, seu comparsa Lorde Goderic e outros personagens não destoariam em uma animação da Dreamworks, por exemplo — um claro testemunho da qualidade artística do jogo. 

Embora o Switch não detenha o mesmo poderio gráfico de outras plataformas no mercado, o título também transcorre sem problemas tanto no modo TV quanto no modo portátil, e as belas paisagens virtuais reforçam a ideia de estarmos interagindo com um conto de fadas.

Com a possibilidade de até quatro jogadores simultâneos localmente e online (inclusive em lobbies públicos), a única ausência que senti, nesse caso, foi a de suporte ao crossplay. Seria muito bom poder jogar com os amigos em outras plataformas e torço para que o recurso, caso viável para os desenvolvedores, seja adicionado em alguma atualização. Digo o mesmo de uma narração em português brasileiro (por mais que a narração em inglês continue fantástica, seria bem legal ver talentos locais dando vida à criação).

Uma conspiração que vale a pena ser enfrentada

Esteja você sozinho ou acompanhado de outros jogadores, Trine 5: A Clockwork Conspiracy é uma ótima pedida dentro dos gêneros puzzle e plataforma, pois entrega bons momentos e mostra que não é preciso revolucionar para divertir. 

Os fãs de longa data da série se sentirão em casa e os novatos têm aqui um ótimo ponto de partida para conhecer uma das franquias indie mais apaixonantes da atualidade. No mais, o quinto capítulo da história de Amadeus, Zoya e Pontius merece ser vivenciado e mostra que Trine é uma fábula que ainda tem bastante a render; quem ganha com isso somos nós, os jogadores.

Prós

  • A jogabilidade clássica da franquia continua presente e divertida tanto no modo single-player quanto no multiplayer;
  • Os puzzles, que frequentemente podem ser solucionados de mais de uma forma, aumentam o fator replay;
  • Sem problemas de performance tanto no modo portátil quanto no modo TV do Switch;
  • Um verdadeiro espetáculo em termos de direção artística, como esperado da saga.

Contras

  • Pode desapontar jogadores que desejavam ver mudanças radicais depois do quarto título da série;
  • O sistema de combate continua extremamente simples, contrastando com a riqueza e a criatividade dos outros sistemas do jogo;
  • As fases um pouco longas demais podem cansar o jogador;
  • Ausência de narração em português brasileiro (há somente legendas em nosso idioma);
  • Ausência de crossplay.
Trine 5: A Clockwork Conspiracy — PC/PS5/PS4/Switch/XBO/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela THQ Nordic

é bacharel em Produção Cultural pela UFF e estudante de Comunicação Social pela FSMA. Na infância, ganhou um Super Nintendo dos pais e, desde então, nunca mais deixou o mundo dos games. Ainda sonha em ser um Mestre Pokémon.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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