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Análise: Archetype Arcadia (Switch): emoções humanas entre uma realidade pós-apocalíptica e um mundo ficcional

Visual novel da Kemco brinca com o conceito de realidade virtual.

Archetype Arcadia
é uma visual novel desenvolvida em uma parceria entre a Water Phoenix e a Kemco e traduzida para o inglês graças à publicadora europeia PQube. A obra brinca com um conceito de jogo de realidade virtual, mas oferece uma história com vários elementos próprios e atípicos para criar sua curiosa proposta.

Peccatomania e um jogo terapêutico

O mundo já não existe mais como antes. Uma doença chamada Peccatomania afetou quase toda a humanidade, roubando-lhe a sanidade pouco a pouco. Para evitar que suas mentes sejam destruídas, as pessoas passaram a recorrer a uma espécie de jogo online de realidade virtual chamado Archetype Arcadia, que misteriosamente parece ser um antídoto eficaz para impedir o progresso da doença.

Nesse mundo, duas crianças, os irmãos Rust e Kristin, tentam sobreviver sozinhos e buscar outros humanos com os quais eles possam conviver. Embora Rust tenha a sorte de não ser afetado pela Peccatomania, Kristin é uma das vítimas da doença, fazendo com que ela tenha que lidar com o tratamento frequentemente.

Um dia, um erro acontece e Kristin não retorna do mundo virtual como de costume. Por conta disso, Rust se vê forçado a explorar Archetype Arcadia em busca de sua irmã e acaba se envolvendo em circunstâncias muito mais complexas do que ele esperava a princípio.

Sem entrar em muitos detalhes, temos um título bastante verborrágico em suas explicações de ambientação. De um lado, é interessante ver o conceito dos dois mundos, já que tanto a realidade quanto o jogo possuem suas peculiaridades. Do outro, a trama acaba soando demasiadamente conveniente e genérica em vários momentos, fazendo com que esses elementos não pareçam de fato tão relevantes quanto deveriam.

Em termos do mundo real, temos uma ambientação futurista curiosa. Muitos elementos culturais e sociais que entendemos como parte da nossa realidade são tratados como legados curiosos de um passado longínquo e causam confusão para os personagens principais.

Um mundo movido a empatia

Já a realidade virtual possui fortes contrastes com o mundo normal por suas mudanças de regras. Em especial, Archetype Arcadia é um jogo de combate entre jogadores, tendo também alguns monstros, que na verdade são indivíduos transformados.

O que chama a atenção em especial nesse mundo virtual é que ele é baseado em um sistema de regras bem peculiares. Cada indivíduo possui cartas relacionadas a memórias importantes e pode invocá-las em combate. Para poder usá-las de forma efetiva, porém, é fundamental mergulhar nas memórias, evocá-las mentalmente e passar por um processo de empatia.

Esse sistema emocional é um conceito interessante que permite discutir várias facetas da humanidade dos indivíduos envolvidos no jogo. Também chama a atenção o fato de que o protagonista possui uma misteriosa trava inicial, impedindo-lhe de se apegar aos outros e às circunstâncias.

Como acontece com várias obras desse estilo, temos aqui uma apresentação bem superficial do funcionamento do mundo. Apesar de o jogo ter muito texto, infelizmente não há muita profundidade no que é apresentado.

Uma obra mediana

Em termos gerais, o jogo é relativamente longo, oferecendo também vários finais com base nas decisões do jogador. A maior parte desses encerramentos da trama são evocados ao realizar escolhas ruins, mas temos também alguns momentos de ramificação narrativa que podem ser desbloqueados após concluir a trama.

Outro elemento que pode ser bastante positivo no jogo é a qualidade da dublagem japonesa. Como usual, temos um trabalho vocal bem convincente por trás de cada personagem, facilitando consideravelmente a imersão na obra. Todos os diálogos possuem voz, incluindo até mesmo as falas do protagonista Rust, algo que às vezes não acontece no gênero.

Já em relação aos outros elementos audiovisuais, o jogo não é especialmente expressivo. Em especial, a trilha e o traço dos personagens são pouco chamativos e boa parte das ilustrações usadas são as formas chibi dos “Avatares” que lutam pelos personagens. Apesar disso, chama a atenção o fato de que há uma grande quantidade de CGs devido ao tamanho do jogo e pequenas animações, como orbes de luz e efeitos climáticos (chuva, neve).

Por fim, vale destacar que temos erros bem frequentes de digitação e escrita na tradução para o inglês. A leitura é majoritariamente fluida a ponto de ser fácil entender o que deveria estar escrito, mas esses defeitos são bem comuns que podem passar a sensação de um produto que não foi revisado.

Um mundo para quem já comprou a premissa

Archetype Arcadia apresenta um mundo curioso, mas não consegue escapar de um senso genérico e artificial em sua narrativa. O resultado vale a pena para quem gosta muito do gênero e se interessa pela premissa, mas não se destaca em particular para além disso.

Prós

  • A ambientação futurista traz reflexões interessantes sobre cultura e sociedade;
  • Ao colocar a base do jogo na empatia, a obra consegue discutir várias facetas das emoções humanas;
  • Dublagens japonesas dos personagens bem-executadas e convincentes;
  • Boa quantidade de finais baseados em escolhas ruins do jogador e opções alternativas desbloqueáveis.

Contras

  • Apesar dos detalhes de lore, a trama em si acaba soando demasiadamente conveniente e genérica às vezes;
  • Vários erros de digitação e escrita;
  • Personagens com traços pouco chamativos.

Archetype Arcadia – Switch/PC/PS4/PS5 – Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela PQube


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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