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Análise: SOLAR ASH é mais uma infeliz vítima do “tratamento Switch”

Linha-fina: Esta radical aventura de plataforma perde muito de sua beleza e performance no híbrido da Nintendo.

Produzido pela norte-americana Heart Machine, mesma criadora de Hyper Light Drifter, e lançado originalmente em dezembro de 2021, Solar Ash chamou atenção pelo seu estilo artístico de encher os olhos e gameplay de ritmo acelerado, com uma transição competente da pixel art do seu antecessor para o 3D.


Após quase dois anos de espera, o título chegou ao Switch, e os mais versados nos ports para o console reconhecerão os velhos problemas de desempenho e queda na qualidade gráfica — além das questões negativas inerentes ao jogo, claro. Mas chega de me adiantar no diagnóstico, e vamos à análise.

Adentrando o nada

O Ultravoid é um gigantesco buraco negro que consome tudo em seu caminho, inclusive planetas inteiros. A única forma de deter esta ameaça anômala é ativando o Starseed, um dispositivo que dizem ter a capacidade de eliminar buracos negros, e cujo material serviu para a criação da tecnologia Void, desenvolvida pelos Voidrunners, profissionais especializados em explorar o Vazio.




Nesse contexto, conhecemos Rei, uma Voidrunner que embarca em uma jornada para dentro do Ultravoid com o objetivo de salvar seu planeta, que já se encontra no campo gravitacional da anomalia, e descobrir o que aconteceu com sua equipe de colegas exploradores durante a missão de disparar o Starseed.

Devido à maneira fragmentada com que recebemos informações sobre a trama, essa premissa e seus desdobramentos podem ser um pouco confusos de absorver ao longo da curta campanha de Solar Ash, então não estranhe se você não estiver entendendo muito bem o que está acontecendo em determinados momentos. Felizmente, a compreensão da lore não é imperativa para o aproveitamento do jogo.

Passando o rodo na gosma intergaláctica

No controle de Rei, devemos explorar o Ultravoid, composto pelas ruínas dos mundos absorvidos, e restaurar os pilares de ativação do Starseed. Naturalmente, nossa tarefa será dificultada pelos “habitantes” do lugar, criaturas grotescas compostas por uma gosma preta que está espalhada por aí e parece ser a principal causa dos problemas de interferência nas comunicações.




Tudo isso se traduz em uma tradicional aventura linear dividida em fases, cuja estrutura varia de acordo com o cenário em que estamos, mas mantém o mesmo objetivo: limpar pontos de infestação da gosma preta. Tal limpeza consiste em puzzles nos quais que devemos superar obstáculos para destruir uma sequência de agulhas espetadas nas criaturas até atingir seu ponto fraco, localizado no olho. Segue-se então a costumeira batalha contra um chefão para liberar o estágio seguinte.

Para ajudar nos desafios, Rei dispõe de ferramentas que combinam mobilidade e ofensividade, das quais a principal talvez sejam seus patins, que lhe permitem deslizar por trilhos e outras superfícies. A protagonista também pode projetar energia em forma de lâmina para retalhar os inimigos; disparar seu gancho para se prender a pontos distantes; dar grandes piques com seus propulsores; e ainda desacelerar o tempo para melhorar a precisão de sua mira e encurtar a distância entre ela e seus alvos.

Esse kit de habilidades pode não ser o mais criativo da história dos videogames, mas funciona direitinho no contexto de Solar Ash. A gravidade irregular que afeta os terrenos desolados do Ultravoid contribui com uma física muito bem implementada na movimentação de Rei. Patinar pra todo lugar é um dos grandes baratos da exploração e do combate, ambos com seus pontos fortes e fracos.

Batalhas e explorações equilibradas




Desbravar os ambientes destroçados pelo Ultravoid é engajante e recompensador, particularmente se você escolher fazer os 100% do jogo, o que inclui coletar as partes que compõem os trajes dos colegas Voidrunners de Rei. Cada uniforme confere a ela uma habilidade diferente, como uma redução no tempo entre as propulsões ou saltos temporais.

Quando eu digo “particularmente”, quero dizer que não sobra muito para fazer caso você decida ignorar os colecionáveis. A campanha acaba se resumindo a se livrar dos pontos de interferência e partir para a batalha contra o chefão da fase, o que não deixa de ser divertido, mas é bem limitado.

Sendo justo, a variedade das fases é bacana. Graças aos deuses do videogame, não vemos aqui o lugar-comum de um mundo na floresta, um mundo no deserto, um mundo na água, e por aí vai. Cada localidade em Solar Ash tem sua dose de originalidade e mecânicas inventivas para afastar um pouco a sensação de mesmice da resolução dos puzzles.




Um detalhe que não ajuda é a arquitetura dos estágios, que, apesar de belíssimos, apresentam muita repetitividade entre suas seções, tornando o aspecto labiríntico da exploração exageradamente confuso. Não foram poucos os momentos em que eu me perdi e acabei indo parar nos mesmos cantos até finalmente encontrar o caminho certo. O mapa do jogo também é parte do problema, já que ele mostra apenas miniaturas das fases e os coletáveis que encontramos, o que é bom em termos de registro, mas completamente inútil para auxiliar na localização.

O combate é outra faca de dois gumes. Por um lado, as épicas batalhas contra os Remanescentes são sensacionais, exigindo muito reflexo e afinidade com os comandos para não vacilarmos e termos que repetir as frenéticas sequências de golpes enquanto navegamos pelos corpos dos bichões; por outro, as lutas contra os inimigos comuns são tão rasas quanto possível, bastando acertar poucos golpes simples para eliminar os adversários.

Ainda sobre as batalhas contra os Remanescentes, eu consigo entender o ponto de vista de quem acha chato ter que passar várias vezes pelo mesmo trajeto em caso de falha, mas eu considerei esse nível de punitividade justo, bem-sucedido em passar uma sensação apropriada de recompensa, proporcional à dificuldade do desafio cumprido.



Irregularidades que não são culpa do Ultravoid

Como o “spoiler” no título da análise deve ter deixado claro, Solar Ash é mais um de muitos games prejudicados em diferentes níveis pelas limitações de hardware do Switch. No caso do título da Heart Machine, tanto gráficos quanto performance levaram a pior.

Fiz alguns elogios ao estilo artístico do jogo, e mesmo com o downgrade visual ainda é possível apreciá-lo, mas também não dá para deixar de notar a queda de qualidade, com texturas mal-renderizadas e cheias de serrilhados, que pioram ainda mais em objetos e partes do cenário distantes do jogador. Naturalmente, tudo isso se agrava no modo portátil.

A queda na taxa de quadros também dá as caras para nos punir principalmente quando há muitos elementos na tela, o que naturalmente inclui as batalhas contra os chefes. Como se a dificuldade dos confrontos não fosse o suficiente, tanto a baixa qualidade gráfica quanto os framerates sofríveis se juntam para adicionar uma camada de desafio nem um pouco bem-vinda.




Ao menos a trilha sonora escapou desse destino, e suas faixas incólumes conseguem passar tranquilidade durante a exploração e sensação de perigo, ação e urgência em meio aos confrontos com os Remanescentes.

Deu para sair com vida dessa incursão no vazio

Solar Ash é um exemplar digno dos platformers de aventura. Sua mecânica de deslocamento é a principal responsável pela gameplay ágil e divertida que permeia a exploração e o combate de mais um acerto da Heart Machine, que soube fazer a transição para o 3D.

É natural que haja problemas, pois nenhum jogo é perfeito, mas a versão de Switch é mais um port que sofre com uma qualidade gráfica inferior e quedas na taxa de quadros. Felizmente, eles não inviabilizam completamente a experiência, mas parte da beleza caótica do Ultravoid se perde nesses sacrifícios.

Prós:

  • Uma mudança bem-feita para o 3D em relação ao seu antecessor em pixel art;
  • O kit de habilidades da protagonista funciona muito bem para a proposta do jogo, com destaque para a mecânica de patinação, que casa perfeitamente com a gravidade irregular do ambiente;
  • Exploração engajante e recompensadora, particularmente se o jogador escolher fazer os 100% do jogo, o que inclui coletar as partes que compõem os trajes dos colegas Voidrunners de Rei;
  • Ótima variedade de fases, fugindo dos estereótipos de construção de mundo em aventuras lineares de plataforma e apresentando mecânicas inventivas;
  • As batalhas contra chefões são sensacionais e entregam um nível de punitividade justo, bem-sucedido em passar uma sensação apropriada de recompensa, proporcional à dificuldade do desafio cumprido.

Contras:

  • Não sobra muito para fazer caso o jogador decida ignorar os colecionáveis, restando basicamente os puzzles repetitivos e as lutas contra os chefes;
  • A arquitetura dos estágios, apesar de belíssima, apresenta muita repetitividade entre suas seções, tornando o aspecto labiríntico da exploração exageradamente confuso;
  • O mapa do jogo é completamente inútil para explorar ou se localizar;
  • Como era de se esperar, perde boa parte do seu apelo visual na versão de Switch, além das quedas de frames, sobretudo quando há muitos elementos na tela.
Solar Ash — Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Annapurna Interactive

Apaixonado por jogos desde criança, principalmente pela Nintendo. Seja Indie ou AAA, os videogames vão estar sempre no meu coraçãozinho, com um espaço especial para multiplayers!
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