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Análise: Dave the Diver mergulha fundo em um mar de possibilidades no Switch

Mergulhe durante o dia e gerencie um restaurante de sushi pela noite nesta aventura completa e cativante do começo ao fim.


Embora o look and feel de Dave the Diver seja de um irreverente e divertido jogo indie, como tantos outros que chamam o Switch de casa, a desenvolvedora Mintrocket, subsidiária da Nexon, uma publicadora sul-coreana que gera alguns bilhões por ano com jogos mobile, não pode ser considerada independente. Talvez a verba disponível seja o segredo para o jogo ser tão absurdamente completo e competente, mas o que realmente conecta o título com o espírito indie é a clara paixão por trás do projeto.

Buscando inspiração na calmaria da natureza presente na paradisíaca ilha de Jeju e tentando equilibrar a maior quantidade possível de conteúdo e mecânicas em um jogo com uma premissa tipicamente indie, a Mintrocket conseguiu construir uma inusitada, relaxante e intrigante aventura sobre um simples mergulhador que só quer ajudar os outros.

Dave, o mergulhador

Dave, o protagonista que empresta o seu nome para o título do jogo, é convidado, de repente, a retornar à sua vida de mergulhador e logo recebe a responsabilidade de gerenciar um restaurante de sushi. Tudo acontece muito rápido e você, o jogador, provavelmente fica tão confuso quanto Dave no início de sua jornada.

De início, duas grandes missões são designadas para vocês. A primeira delas, que também é a mais importante, é explorar o grande buraco azul (o mar) e todos os seus mistérios, que incluem uma grande variedade de peixes, criaturas marinhas, sereias, armas, objetos, missões, side quests e até ingredientes culinários. A segunda missão, mesmo que ficando um pouco de lado em comparação com a primeira, está diretamente relacionada ao ato de mergulhar: administrar um restaurante de sushi na beira do mar.   


A primeira atividade alimenta e possibilita a existência da segunda diretamente. É dessa forma que Dave the Diver magistralmente equilibra as suas duas grandes facetas que, em outros contextos, poderiam até ser consideradas jogos completamente diferentes. É incrível como os mergulhos e a administração do restaurante se complementam com tanta delicadeza. O título mostra enorme elegância desde a sua própria estrutura, conseguindo unir jogabilidades muito distintas de uma forma brutalmente natural e prazerosa.

Começando pelo visual, Dave the Diver encontra o equilíbrio perfeito entre o uso de pixel art e modelagem 3D, resultando em uma apresentação estilosa que esbanja personalidade. As cores dos corais e dos peixes se complementam aos efeitos de luz e de água, desenvolvendo uma ambientação vibrante e realmente relaxante. Por mais que existam momentos bastante tensos no fundo do mar, como batalhas contra piratas e confrontos tensos contra tubarões e monstros marinhos enormes, é impossível não apreciar cada momento neste grande buraco azul.  

Armado de apenas um arpão, uma faquinha, uma simples roupa de mergulho e um tanque de oxigênio mixuruca no início, cada um dos seus mergulhos será um pequeno aprendizado sobre esse mundo. O oxigênio funciona como uma barra de vida e ela acaba rapidamente. Além do ar ser consumido de forma natural com o tempo, nadar mais e/ou ser atingido por alguma coisa acaba com o seu estoque ainda mais depressa. Portanto, essa experiência que pode ser tão tranquila em alguns momentos também pede por uma boa parcela de cautela em outros.


Como tudo na vida de Dave, mais e mais artifícios são apresentados para auxiliar a progressão da trama. Novas e variadas armas de curta distância, pistolas, rifles, armas tranquilizantes, drones, bombas, redes, entre várias outras opções estarão disponíveis durante os mergulhos. Há uma série de upgrades e customizações disponíveis para esses acessórios, e caçar os seres marinhos se torna apenas mais fluido com o passar do tempo. 

Após a pescaria, as vendas do restaurante de sushi geram uma rendaque pode ser utilizada em diversos outros upgrades permanentes para a vida marítima do mergulhador, como melhorias para o seu tanque de oxigênio, sua roupa de mergulho e para a capacidade máxima de peso que ele consegue carregar. A evolução gradual de Dave de um singelo homem de meia idade meio acima do peso para um destruidor de tubarões quase invencível não deixa de ser impressionante.

Várias máres distintas

Entre um verdadeiro mar de referências engraçadas e personagens genuinamente carismáticos, há uma enorme quantidade de peixes para capturar e transformar em cartinhas colecionáveis em uma espécie de Pokédex presenteada a Dave por um tal de Sato vestido com um colete azul, calças jeans e um boné vermelho(Satoshi é o nome japonês de Ash em Pokémon).

A enciclopédia de criaturas é apenas uma das funções do smartphone de Dave — basicamente o menu principal do jogo — que inclui elementos como uma plataforma de missões secundárias, um aplicativo de gerenciamento do restaurante, o arsenal de equipamentos e armas, uma galeria de fotos, minigames opcionais e até um clone do Instagram chamado Cooksta que serve para melhorar o ranking geral do seu sushi bar à beira do mar.


Em relação ao restaurante, quando o foco do jogo está no seu gerenciamento, o ritmo da jogatina muda drasticamente e coloca você em uma posição de planejamento e controle de ingredientes, funcionários e pedidos.

Basicamente, todos os peixes e ingredientes coletados durante a parte de exploração marítima podem ser transformados em receitas pelo fenomenal chef Bancho, um samurai ocidental do sushi de primeira ordem — e protagonista de incríveis cutscenes de preparação de sushis que são um verdadeiro deleite.

Após mergulhar durante a manhã e à tarde, cabe a Dave decidir o menu do restaurante durante o período da noite, além de levar pedidos, servir bebidas, limpar as mesas e preparar wasabi quando o popular condimento se encontra em falta. Enquanto os peixes roubam a cena no fundo do mar, os humanos impressionam durante os momentos no restaurante. Personagens coloridos e com ricas narrativas aparecem para pedir algo específico, contar a histórias das suas vidas ou até para trabalhar no restaurante — por sinal, contratar e treinar novos funcionários é outro trabalho que sobra para Dave (e para você).


É difícil explicar o quão bem esses dois momentos diferentes de gameplay se encaixam em Dave the Diver. Você sempre vai querer mergulhar para pegar mais peixes, para então vender novos pratos, para assim poder mergulhar por mais tempo para poder fazer pratos melhores e melhorar a nota do restaurante… e assim segue o ciclo viciante do loop da jogabilidade do título.

Durante esse processo todo, surpresas e mais surpresas são apresentadas aos poucos e acrescentam cada vez mais à grande experiência que o título pretende proporcionar em meio a um mundo visual e sonoramente magnífico. Nem vale a pena estragar as possibilidades do que você pode esperar com possíveis spoilers. Vale a pena dar esse mergulho sozinho em direção às profundezas do grande buraco azul.


Vale ressaltar que, embora Dave tente sempre o seu melhor para agradar a todos, é possível que certas pessoas se cansem um pouco da repetição. Por mais que o título consiga compartilhar muito bem o tempo entre as tarefas mais repetitivas e as constantes novidades, nada impede que você sinta que já mergulhou o bastante em alguns momentos. Se você decidir acompanhar a história o mais rápido possível, isso é quase impossível de acontecer, mas não há nada de errado em gastar seu tempo explorando sem correr para seguir em frente.

Já algo que realmente pode incomodar bastante até os fãs mais fervorosos são as longas e constantes telas de carregamento entre cada mergulho. Prepare-se para esperar bastante durante longas sessões de jogo. De qualquer forma, considero que a maior força de Dave the Diver realmente está em fragmentos de jogo mais curtos, algo que torna o título perfeito para o Switch e sua natureza portátil.

Um oceano de possibilidades


Dave the Diver é uma grande surpresa e um lindo trabalho de amor. Os desenvolvedores passaram um bom tempo tentando equilibrar todos os elementos de jogabilidade presentes na aventura do mergulhador Dave e claramente tiveram muito sucesso nesta tentativa. Apreciadores de um bom jogo de videogame irão perceber rapidamente que algo especial foi alcançado aqui. Este é um dos melhores títulos de 2023 e uma adição imperdível à sua biblioteca de pérolas no Nintendo Switch.

Prós

  • Apresentação incrível com direito a pixel art de primeira, efeitos de luz incríveis e uma ambientação impecável;
  • Praticamente dois jogos pelo preço de um com algumas outras mini experiências de brinde;
  • Uma enxurrada de mecânicas interessantes distribuídas de forma competente;
  • Perfeito para a portabilidade do Switch.

Contras

  • Pode se tornar repetitivo.
  • Telas de carregamento muito longas.
Dave the Diver - Switch/PC - Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch 
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nexon

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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