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Análise: Super Mario Bros. Wonder (Switch) é o melhor jogo 2D da franquia

O título evolui, renova e traz ambição à experiência tradicional de Mario.



Super Mario Bros. Wonder
(Switch), a mais nova jornada em duas dimensões do encanador, pode parecer, inicialmente, um ponto de parada de espera até o próximo jogo em três dimensões do personagem. No entanto, a Nintendo demonstrou que o título é mais do que isso, trazendo uma ambição ao estilo tradicional de plataforma de Mario pela primeira vez em muitos anos.

O novo que se tornou velho

Após Super Mario World no Super Nintendo, Mario ficou por muitos anos sem aventuras em 2D devido ao foco nas três dimensões que a indústria vinha priorizando. Foi por essa razão que New Super Mario Bros., lançado no DS em 2006, trouxe um rebuliço na época: o jogo era uma renascença ao estilo mais tradicional da franquia, uma espécie de retorno às origens.

Dado seu explosivo sucesso, várias sequências foram lançadas em tempo recorde. Seis anos depois, a série New já contava com quatro títulos no total, cada um com sua própria peculiaridade. O problema é que, gradativamente, as novidades foram se tornando cada vez menos atraentes.



Quando New Super Mario Bros. U foi lançado, os jogadores começaram a notar uma clara falta de inovação e carinho nos jogos 2D de Mario. Todos eram funcionais e tinham bom level design, mas seu estilo de arte, música e mecânicas se misturavam entre toda a subsérie, dando uma falta de identidade. 

Isso era o oposto do que normalmente ocorre com os jogos 3D da franquia, comumente vistos como pilares do gênero de plataforma. Cada um sempre implementa alguma mecânica ou novidade que se destaca e ajuda a tornar a experiência mais distinta.

Mario Wonder vem, após mais de dez anos desde o último título da série New, para quebrar esse estigma que os jogos 2D receberam. Após jogá-lo, pude atestar que ele é o mais próximo de um “Mario 3D” que a série tradicional já chegou, trazendo muitos ares de novidade e surpresas a todo momento.

Avante ao Reino Flor



A aventura de Super Mario Bros. Wonder começa no Reino Flor, um lugar próximo ao Reino Cogumelo. O novo cenário é usado como estímulo para uma renovação no estilo de arte, trazendo fundos mais detalhados e que abraçam totalmente o conceito “flor” do reino.

Os personagens jogáveis são beneficiados desse capricho visual também. Cada um deles transborda vida com suas novas animações, seja nos maiores momentos, como um ciclo de corrida, ou nas pequenas interações, como quando cada um interage com um cano.



Todo o elenco de heróis da vez, aliás, é vasto: temos Mario, Luigi, Peach, Toad (azul e amarelo), Toadette e Daisy (pela primeira vez jogável em um título principal da franquia). Todos compartilham da mesma configuração de controles: correm, pulam, saltam entre paredes, etc.

Juntam-se a eles Nabbit e Yoshi (em várias cores), porém eles funcionam de forma diferente: ambos servem como um modo mais acessível, já que não levam dano ao custo de não poderem utilizar potencializadores. Yoshi ainda mantém algumas de suas habilidades, como seu salto flutuante e a possibilidade de servir como montaria, útil para o modo multijogador, enquanto Nabbit não contém nada exclusivo.

Embora um dos objetivos do jogo seja renovar a série 2D, Wonder ainda é construído na base dos outros títulos já conhecidos. Os objetivos continuam a envolver a superação de uma série de estágios com obstáculos, cujo propósito é chegar à bandeira no final, enquanto o jogador enfrenta inimigos clássicos como Goombas, Koopas, entre outros, pelo caminho.



É nesse resgate que o jogo consegue se destacar bem, já que elementos queridos pelos fãs dos jogos de SNES ou até mesmo da série New também voltaram. Há moedas coletáveis, por exemplo, e também um senso de descoberta com os inúmeros segredos que as fases guardam, como saídas alternativas que liberam outros estágios no mapamúndi.

De novidades mais tradicionais, temos novos potencializadores adicionados: a flor de bolha, o cogumelo broca e a maçã elefante. Cada um traz algum tipo de movimentação ou habilidade extra ao herói, porém o maior destaque é certamente o elefante. 

Além de ter seu próprio conjunto de animações, ele é o potencializador mais versátil entre todas as opções, permitindo a quebra de blocos maiores, o uso da tromba para derrotar inimigos ou para armazenamento e derramamento de água em elementos interativos. Esse é um contraste aos power-ups que eram comumente adicionados na época da série New, em que a maioria deles era usada como destaque do jogo, mas eram geralmente mais situacionais e de uso único.

Fenômenos inesperados



Mesmo com elementos clássicos e novidades familiares, é nas inovações que Mario Wonder se destaca. As Flores Fenomenais, sem dúvida, são a maior delas e servem como elementos que funcionam como coletáveis de progressão à la estrelas de Super Mario 64, ao mesmo tempo que transformam totalmente o estágio quando o jogador as toca.

Seus efeitos são inúmeros, como fazer canos se moverem ou então transformar o herói em um Goomba. As flores são responsáveis por trazer variedade aos estágios, já que, na maioria das vezes, a mudança aplicada é única e altera a forma como jogamos a fase temporariamente. Logo no segundo estágio, por exemplo, somos contemplados por uma orquestra de Piranha Plants, mostrando que os desenvolvedores não têm medo de mostrar um dos melhores efeitos logo de cara.



Wonder também permite que os jogadores modifiquem a maneira como encaram os desafios com a introdução do sistema de insígnias. Cada insígnia pode ser equipada por estágio e permite a execução de um movimento novo ou então algum efeito de vantagem ao jogador.

Os maiores destaques durante minha jogatina foram as insígnias que mudam a movimentação, como o pulo flutuante ou a lança-cipó, já que elas incentivam uma exploração mais vertical e até ajudam na hora de alcançar o topo da bandeira. Algumas outras, como o bloco “i”, são mais específicas e auxiliam quando o jogador deseja descobrir segredos pelas fases. Em ambos os casos, o sistema de insígnias se prova eficaz em trazer novidades aos controles, opções de acessibilidade e um incentivo à experimentação.



Conseguir uma insígnia, aliás, envolve na, maioria das vezes, comprá-las nas várias lojas de Poplin espalhadas pelo mapa-múndi. Elas utilizam as moedas roxas presentes nos estágios como forma de troca, similar ao modo como Super Mario Odyssey fazia com as moedas específicas dos reinos, e também oferecem em seu catálogo sementes fenomenais (o coletável principal do jogo), vidas extras e até painéis, objetos que podem ser utilizados para reviver outros jogadores no multiplayer.

Inclusive, o mapa em que essas lojas estão localizadas possui seu próprio “twist”. Temos seções em Wonder em que ele permite uma exploração mais aberta e nos dá a chance de selecionar entre vários estágios de nossa escolha, o que acarreta uma breve sensação de liberdade. Cada fase contém seu próprio indicador visual de dificuldade, medido em quantidade de estrelas, que auxilia o jogador, principalmente durante esses momentos de escolha, a controlar a dificuldade de sua própria jogatina.

Juntando os amigos



Como já indicado, a nova aventura do encanador também inclui opções de jogar com mais pessoas. Assim como na série New, há a possibilidade de multiplayer local com até quatro jogadores simultâneos, e seu funcionamento é bem similar. 

A câmera segue um dos heróis e o jogador que sair da tela é transformado em um fantasma, podendo retornar à partida se receber o contato de um colega ou se interagir com um painel no mapa. A maior diferença é que não temos mais colisão entre jogadores, o que deixa tudo menos caótico à primeira vista, mas se mostra uma mudança necessária dada a natureza mais complexa dos estágios de Wonder.

Pela primeira vez, há também a inclusão de opções de multiplayer online, embora elas funcionem de forma mais passiva. Ativando o modo online principal, você verá várias sombras de outros jogadores pelo mundo que estão jogando o mesmo estágio ao mesmo tempo, algo que, honestamente, me preocupou de início, pois poderia gerar uma falsa ilusão de companheirismo.

Todavia, este modo mostrou-se útil quando usado para ajudar ou ser ajudado por outros jogadores. Podemos espalhar painéis no mapa ou tocar em players que tenham morrido, assim como podemos usar interações limitadas para indicar segredos pelas fases, útil principalmente nos estágios em equipe. A sensação de conforto quando alguma dessas situações ocorre é gratificante e mostra que a implementação online foi eficaz.

Quase tudo são flores

Claro que, além do estilo visual renovado e novas animações, o aspecto sonoro também é importante para intensificar a imersão no mundo do Reino Flor. Parte disso ocorre com inúmeros efeitos sonoros bem-colocados, presentes até nos movimentos mais simples, como a bundada no chão.

As flores falantes também desempenham um papel importante nessa imersão: elas estão presentes em todas as fases e servem como mini-guias ou companheiras na sua jornada. Ao invés de irritantes, elas são engraçadas, com comentários divertidos ou situações inóspitas em que estão, como o medo de estarem próximas a inimigos assustadores. Há tantos exemplos bons disso durante a jogatina, que poderíamos rechear a matéria com inúmeras imagens de situações engraçadas com as flores.



Como Wonder é o primeiro jogo principal da série totalmente localizado para português brasileiro, elas conseguem se destacar com sua dublagem em nosso idioma. A localização, diferente de jogos como Mario Party Superstars que tem um trabalho de voz robótico, é caprichada e tem várias referências que somente nós entenderíamos, algo importante para que o título fique mais acessível.

Dito isso, um dos pontos que o jogo não me chamou muito a atenção foi a trilha sonora. Embora a direção de sons seja boa, as músicas de fundo não são muito memoráveis, principalmente quando comparamos o histórico de sons bombásticos de jogos como Super Mario 3D World e Super Mario Galaxy.

Os chefes também não se destacam muito. Em uma aventura que transborda criatividade, infelizmente a maioria das lutas não tem muita variação e não chega a desafiar o jogador em qualquer momento. Embora houvesse reclamação de que os Koopalings vinham sido usados à exaustão na série New, retornar à dependência de apenas Bowser Jr. nas batalhas não é necessariamente a resposta correta. Ou até poderia ser a resposta, se os embates fossem mais grandiosos e criativos como os estágios.

Mario Maravilha



Super Mario Bros. Wonder
combina o estilo dos títulos 2D da série e o mistura com a criatividade e ambição dos jogos em 3D. O resultado dessa receita não poderia ser outro: a aventura é uma completa diversão do começo ao fim. Assim como Super Mario World impactou gerações, Wonder tem o potencial de ser visto daqui a décadas com o mesmo apreço.

Prós

  • Novo estilo visual, recheado de animações bem-produzidas;
  • Muitos personagens jogáveis;
  • Flores fenomenais não deixam a experiência cair no marasmo;
  • Insígnias e novos potencializadores trazem variações à jogabilidade;
  • Bons efeitos sonoros;
  • Bom multiplayer, seja local ou online.
  • Boa localização em português brasileiro.

Contras

  • Chefes de pouco destaque;
  • Trilha sonora de fundo pouco memorável.
Super Mario Bros. Wonder – Switch – Nota: 9.5
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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