Discussão

Princess Peach: Showtime! (Switch) deu certo na jogabilidade — então por que é chamado de "infantil"?

Infelizmente, muitas pessoas só conseguem elogiar um game quando ele é “difícil” ou apresenta desafios complexos.


Com o anúncio de Princess Peach: Showtime! para Switch ano passado, pareceu que fãs nintendistas experimentaram, pela primeira vez, um misto de felicidade e apreensão. Por um lado, as pessoas poderiam ver novamente Peach ganhando os holofotes; por outro, o novo título da franquia Mario evocava um ar de ser “muito simples” — até mais que jogos de Kirby —, devido às transformações que a princesa do Reino Cogumelo assume ao longo da campanha não trazerem uma jogabilidade muito elaborada.


Quando a demo de Showtime foi liberada, algumas semanas antes do lançamento, muitas dúvidas ficaram no ar, já que o material de demonstração não trouxe nenhum conteúdo significativo. No entanto, depois que eu pude completar a campanha principal, cheguei a publicar meu próprio ranque de transformações de Peach com base em sua jogabilidade — e qual não foi minha surpresa ao descobrir que também temos um extenso conteúdo pós-jogo (opcional, claro), voltado justamente às pessoas que alegaram que Showtime é “fácil demais”.

Atualmente existe, na chamada “comunidade gamer”, uma filosofia que diz que “jogadores de verdade preferem jogos difíceis”. Essa não é uma questão recente; pelo contrário, já rola há bem mais de uma década (ou mais ainda) internet afora.

Jogabilidade descompromissada não significa ser infantil

Se eu me sentir engajada o suficiente para explorar um game a fundo, com certeza darei um jeito de fazer os 100% nele. Em Showtime, os desafios pós-jogo acenderam em mim essa vontade de fazer tudo, por mais que alguns tenham se provado uma verdadeira pedra no meu sapato (sim, Chefões Sombrios, estou olhando para vocês).

No entanto, o fato desta aventura solo de Peach trazer uma jogabilidade mais descompromissada e com poucos requerimentos para avançar para a próxima fase (ou andar, já que estamos falando do Teatro Esplendor) o torna um título acessível a vários públicos. E quando digo isso, me refiro a crianças, jovens, adultos, pessoas com deficiência, com pouca capacidade motora e por aí vai — a lista é longa mesmo. Acessibilidade não é sinônimo de infantilidade.


Só por trazer esse viés mais simples, não significa que Showtime é um jogo infantil. Talvez a narrativa deixe um pouco a desejar para algumas pessoas, mas ela cumpre com seu papel de entreter; além disso, mesmo que seja simples, a história vai direto ao ponto e tem começo, meio e fim. Se for para seguir essa linha de raciocínio, então muitos dos títulos que compõem a longa história dos videogames podem ser considerados infantis, incluindo a “incrível” premissa de Mario de “A princesa está em outro castelo”.

Ou, ainda, tramas que obrigam um herói a partir em uma aventura para combater um mal maior que assola o mundo/continente, como em Fire Emblem, Chrono Trigger, Sea of Stars e muitos outros RPGs e jogos de ação que vemos por aí.

Curta duração não significa ser infantil

A campanha principal de Showtime, levando em consideração apenas os desafios necessários para avançar na história, derrotar Rubi e ver os créditos rolarem, gira em torno de sete horas e meia, pouco menos que Kirby and the Forgotten Land. Para um lançamento atual, talvez essa duração possa não fazer jus ao preço de R$ 299,99 que é cobrado pelo jogo (por ser um exclusivo do Switch), mas isso não significa que Showtime seja infantil — ele é apenas caro, se formos avaliar sob essa perspectiva.

Pessoas “hardcore” que nasceram entre 1980 e 2000 vão dizer que, sim, o preço em comparação à duração não vale a pena, e muitas delas podem ainda alegar que “na sua época, os jogos eram mais baratos”. Baratos para quem, afinal? Estamos falando de outros tempos, outros governos e, acima de tudo, outras questões que influenciam na precificação, como inflação e taxas de importação.

Eu, que nasci em 1991 e, de certa forma, cresci com a ascensão dos computadores nos lares brasileiros e videogames (fui uma criança privilegiada nesse quesito), achava Sonic The Hedgehog um jogo super desafiador à época, no auge dos meus sete, oito anos (ganhei meu Mega Drive em 1998, e, hoje, entendo que isso só foi possível porque, à época, o dólar e o real estavam em uma equivalência de 1:1). Mesmo assim, a primeira aventura do ouriço azul tinha uma duração de duas horas.


A questão certa a ser levantada aqui é que Showtime pode ser muito caro para o tempo de jogatina que oferece, levando em conta a parcela que gosta de “devorar” os jogos assim que os adquire;  porém, enquanto algumas pessoas têm condições de jogar por sete, oito horas ininterruptas, outras preferem seguir seu próprio ritmo, independentemente do motivo. E a velocidade com a qual fazemos certas coisas não é sinônimo de que somos crianças ou infantis. 

Novamente, temos títulos que não chegam a cinco horas de duração e que trazem uma abordagem muito mais adulta ou madura, não sendo aconselháveis a um público mais novo (e é para isso que existe a classificação indicativa). Você realmente convidaria, sei lá, seu priminho de cinco anos para jogar LIMBO ou Little Nightmares, ambos com uma média de conclusão de três horas e meia?

Afinal, o que é ser infantil?

Se formos levar o adjetivo ao pé da letra, o dicionário Houaiss determina “infantil”:
  1. relativo a, próprio de ou apropriado à infância, às crianças;
  2. que conserva, na idade adulta, características físicas, psíquicas ou morfológicas próprias da infância (medicina);
  3. próprio de alguém que se comporta como criança; ingênuo, tolo;
  4. categoria de jogadores, esp. de futebol, que têm até 15 anos de idade (esporte)
Até onde lembro, a única “restrição etária” de Princess Peach: Showtime! é um grande L de “livre para todos os públicos” na sua capa — uma discussão que levantei, inclusive, à época de Kirby and the Forgotten Land. Para fechar meu texto, proponho a você o seguinte exercício: não chame um jogo de “infantil” só porque você não gostou dele, independentemente do motivo.


Revisão: Davi Sousa
Capa: Juliana Paiva Zapparoli

Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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