Mickey foi amaldiçoado com dois filmes de terror toscos meramente baseados em seu primeiro sucesso (não primeira aparição, como muitos pensam), Steamboat Willie, além de inspirar o título de hoje, Bad Cheese. Sem mais delongas, venha comigo, porque não vou sofrer sozinho.
Uma família disfuncional
Em Bad Cheese, assumimos o papel de Keymick, um obeso e pateta camundongo vivendo com seu irmão, mãe e pai. Em um belo final de semana, mamãe sai para fazer seus afazeres e deixa o pirralho à mercê de seu pai extremamente abusivo e grotesco, mudando de forma a cada cenário e entorpecido de remédios e álcool, além de espancar o roedor pela menor das inconveniências, como jogar seu joguinho muito alto ou demorar para pegar seus analgésicos.
Para sobreviver nesse inferno, a criança (praticamente ignorante dos horrores e pesadelos que vivencia todo dia) tenta seguir seus dias como qualquer outro, respeitando os desejos deixados por sua mãe em lista de afazeres que ele encontra em caixinhas no começo de cada nível.
Essa é toda a premissa do jogo, dividido em nove fases extremamente curtas com objetivos diretos, como pegar batatas fritas para o papai ou limpar a casa… tudo com uma reviravolta macabra, como aranhas enormes atacarem ou uma atrocidade demoníaca do mar aparecer.
Gordura em excesso
Bad Cheese vive e morre por dois conceitos básicos: sua simplicidade e seu cinismo artístico. Não existe uma barra de vida, então pular de uma altura grande não faz diferença e, mesmo com o som de cansaço da corrida de Keymick, ele não morrerá de insuficiência pulmonar. A única forma de morrer seria por ataques inimigos, inundando a tela com desenhos grotescos deturpantes da iconografia de Mickey e seus amigos, particularmente Pateta e Pluto.
Não apenas a simplicidade fica na vida do pirralho, mas tudo é extremamente direto: faça a atividade proposta, sobreviva ao pesadelo e prossiga para a próxima fase, com algumas coisinhas para poder apimentar a desventura, como encontrar guloseimas para Keymick comer (linguiças ou salgadinhos) e achar algum boneco de sua coleção da marca Ratos da Galáxia, sendo eles paródias bem humorísticas de personagens da série He-Man.
Intolerância à lactose
Em questão de performance, Bad Cheese roda muito bem, com carregamentos praticamente inexistentes e até mesmo retornar ao jogo após uma morte ser quase instantâneo (quase por causa do rápido corte com a voz da mamãe chamando por Keymick). O garoto tem, à disposição, a capacidade de pular, se agachar e correr, além de poder usar algum item que tiver em mãos, como matamoscas para liquidar aranhas, lança-batatas para acender luzes e raios de eletricidade para limpar sujeiras (não pergunte, faz tudo parte da insanidade do jogo). Sendo um FPS, no entanto, sua câmera é lenta para virar os ângulos, demorando para simplesmente dar uma volta completa. Além disso, o jogo está muito bem legendado em português, adaptando bem a escrita grosseira sem erros de tradução.
Já que cobrimos a primeira parte da identidade de Bad Cheese, sua simplicidade com a mesma profundidade de uma poça d'água, vamos falar do que mais chamou a atenção do público desde seu anúncio: ser mais uma cópia barata e sem charme, como uma paródia de terror de uma propriedade famosa. Como dito mais cedo, o jogo vive e morre com a prepotência de um adolescente rebelde e revoltado com o mundo, achando que gore e sexo são a epítome da arte.
A insistência com o “clima dark” é tão grande que a escuridão é voraz, ficando extremamente difícil de explorar oito dos nove níveis, praticamente tateando paredes ou jogando em algum cômodo escuro para simplesmente ver onde estamos.Sim, é bem legal a mistura de personagens 2D com o ambiente 3D, dando uma sensação bem remota de ser um mod de Doom, mas a tentativa de criar um charme é jogada no lixo com o design do jogo. Níveis extremamente rasos, sem um desafio genuíno, com efeitos sonoros e designs pretensiosos que só almejam o nojo e a escatologia.
Criaturas bastardas sem peles e envoltas de seus músculos e carnes, as onomatopeias e sons de Keymick (onde ele parece fazer um grande esforço só para pular, se cansa rápido ao correr e a forma extremamente nojenta como engole suas gororobas, além de sua irritante voz, provavelmente feita assim de propósito para ir em par com o cinismo) e o próprio estilo de Keymick (um Mickey Mouse extremamente obeso e, na falta de melhores palavras, idiota e ignorante aos horrores ao seu redor) são amostras do máximo da criatividade do desenvolvimento de Bad Cheese. Mesmo se foram propositais, mostra um completo descaso e falta de interesse em criar algo com o poder do domínio público, em vez de esculpir um produto tão previsível e patético como seu protagonista imbecil.
Por hoje é só, pessoal
Bad Cheese é um jogo que existe. Ele não passa de um jogo que simplesmente existe, sendo medíocre e desinteressante, fazendo da experiência de jogar não ser algo digno de se lembrar como um bom horror retrô como Alisa ou Fear the Spotlight, mas simplesmente algo entediante e sem criatividade, nem mesmo digno de pena.
O primeiro real desenho de Mickey foi Plane Crazy, um desenho não tão lembrado quanto Steamboat Willie, e assumo que esse será o destino de Bad Cheese: esquecido em seu próprio sarcasmo vazio.
Prós
- Muito bem traduzido para o português;
- Visuais grotescos podem agradar algum público bem nichado;
- Tempo de jogo curto para não estender sua presença;
- Carregamentos praticamente instantâneos e sem glitches.
Contras
- Complexidade inexistente, dependente do apelo escatológico para tentar vender algo;
- Design pífio, cumprindo com a proposta de cinismo barato, porém revelando a falta de criatividade de desenvolvimento;
- Prova da falta de capacidade artística com obras em domínio público.
Bad Cheese - Switch/PC/PS5/XBOX ONE/XBOX SERIES X - Nota: 4.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital cedida por Feardemic





