Há pouco mais de três anos, Pokémon Legends: Arceus chegava ao Switch com uma nova proposta para a série dos monstrinhos de bolso: uma aventura com mais liberdade de exploração, missões secundárias, novas táticas e métodos para se capturar Pokémon e um lado mais agressivo e selvagem das criaturas. Agora, Pokémon Legends: Z-A estreia no Switch e no Switch 2 mantendo os acertos do título anterior, aprimorando diversos aspectos e apresentando uma aventura marcante sobre a relação e convivência dos humanos com os Pokémon.
Novos ares em uma cidade já conhecida
A trama de Legends: Z-A se passa em Lumiose City, cidade central da região de Kalos, originalmente apresentada em Pokémon X e Y (lançados em 2013 no 3DS). Assim como o restante da região, a cidade tem forte inspiração em Paris, capital da França — e o maior indício é a grandiosa Prism Tower, enorme torre que ilumina a cidade e que serviu como ginásio em X e Y. A aventura pode se passar em um local familiar, mas a maior parte das semelhanças para por aí.
O título conta com inúmeros personagens, além de alguns rostos conhecidos (como é o caso do altíssimo AZ, que teve papel essencial na história de X e Y e agora cuida de seu próprio negócio, o Hotel Z). Ao chegarmos na cidade, logo conhecemos Taunie/Urbain (a escolha da aparência do jogador no início do jogo determina qual dos personagens nos acompanhará na aventura) e, após uma série de eventos, somos convidados a permanecer no Hotel Z e colaborar com a Team MZ — grupo liderado por AZ, que busca proteger Lumiose City.
Para atingir esse objetivo, o grupo (que além de Taunie/Urbain, também conta com a dançarina Lida e o aspirante a estilista Naveen) participa do Z-A Royale: uma competição entre treinadores Pokémon que acontece na cidade ao anoitecer, na qual o vencedor sobe de rank, indo de Z a A. O grande prêmio para quem conseguir chegar ao rank A? Ter um desejo concedido. Sendo assim, nos aventuramos pelas ruas de Lumiose mirando no título de melhor treinador, digno de utilizar o poder da Mega Evolução para proteger a cidade.
Não posso deixar de apontar que o visual e as histórias de vários dos personagens — não só do grupo de protagonistas — são extremamente criativos. Além disso, a rigidez que muitos NPCs apresentavam nos jogos mais recentes da franquia praticamente desapareceu: os personagens se movem de maneira muito mais natural, as animações os tornam muito mais expressivos e eles estão por toda parte, tornando os cenários muito mais vivos e passando uma verdadeira atmosfera de centro urbano. Até os treinadores mais “genéricos”, enfrentados com certa frequência, tem mudanças de visual entre si: há uma boa diversidade de tons de pele, penteados e roupas para cada NPC.
Muito a se fazer, de dia e de noite
A dinâmica de Legends: Z-A é simples: durante o dia, exploramos a cidade e podemos capturar Pokémon, fazer compras e completar missões; ao anoitecer, batalhamos com outros treinadores para subir de ranque no Z-A Royale. O ciclo de dia e noite é marcado junto a um minimapa, e notificações são mostradas na tela quando está prestes a anoitecer ou amanhecer, facilitando a organização do tempo para cada tarefa.
As ações principais são feitas nas Wild Zones e nas Battle Zones. As Wild Zones são áreas específicas da cidade demarcadas pela Quasartico Inc., empresa que está trabalhando para tornar Lumiose pacífica e habitável tanto para humanos quanto para os Pokémon. Nessas áreas, a jogabilidade é muito semelhante ao primeiro Legends: podemos nos esconder em arbustos, nos aproximar com cuidado dos Pokémon selvagens e tentar capturá-los diretamente arremessando Pokébolas (com um sistema de mira e arremesso quase idêntico ao jogo anterior).
Outra possibilidade é partir direto para o combate, mas há uma mudança na forma de capturar os monstrinhos desse jeito, quando comparado aos outros títulos da franquia: se derrotarmos um Pokémon (deixando-o sem pontos de vida), o monstrinho ficará um tempo atordoado, permitindo que tentemos capturá-lo, antes que ele efetivamente desapareça do cenário. O restante das interações com Pokémon selvagens se manteve: há um indicador de chance de captura ao arremessar uma Pokébola, e muitas tentativas fracassadas podem irritar o monstrinho, iniciando um combate.
Já as Battle Zones são palco das batalhas do Z-A Royale. Essas áreas surgem no mapa somente ao anoitecer, com uma delimitação por portões parecida com as Wild Zones. Dessa forma, o jogador pode escolher se usará o tempo de duração da noite para progredir nos ranks ou continuar explorando as Wild Zones e completando outras tarefas. Ao amanhecer, as Battle Zones desaparecem e é necessário esperar a próxima noite para explorá-las novamente.
Nessas áreas, cada batalha vencida rende pontos e medalhas: há uma quantidade certa de pontos necessária para se obter um ticket especial, que é utilizado para participar da batalha principal da noite, valendo a promoção para o próximo rank. As medalhas são trocadas por dinheiro ao amanhecer e a conversão pode ser maior conforme a quantidade de batalhas vencidas. Há também missões bônus que podem ser coletadas nas Wild Zones (como derrotar um Pokémon com ataques de um tipo específico ou pegá-lo com um ataque surpresa) e rendem mais pontos e medalhas quando completadas.
A dinâmica do Z-A Royale, apesar de um pouco repetitiva, é bem divertida. É empolgante se esconder pelo cenário para pegar outros treinadores de surpresa ou tentar completar o máximo de missões bônus em uma mesma noite. Além disso, as interações com os personagens que devem ser derrotados para subir de rank são bem criativas: muitos deles acabam revelando qual desejo cumprirão ao chegar no rank A, como o taxista Zach do rank Z, que quer abolir qualquer forma de transporte em Lumiose que não seja o táxi. Haja monopólio!
Mas as Wild Zones e as Battle Zones são só uma parcela do que há para se fazer na cidade. Há inúmeras lojas espalhadas pelas ruas, cujos produtos podem ser visualizados do lado de fora, além dos preços (o que é bem prático). Legends: Z-A conta com uma infinidade de opções de personalização do personagem jogável, com diversos cortes e cores de cabelo, roupas e acessórios — e a melhor parte é que tudo é acessível ao jogador relativamente cedo no jogo. Há também lojas específicas para se comprar Pokébolas de tipos diferentes ou itens evolutivos, além das Mega Stones.
E, claro, também temos a missão de completar a Pokédex, além de missões extras (como capturar uma determinada quantidade de monstrinhos de cada tipo) dadas pela cientista Mable, que ficou no lugar do professor Sycamore em seu laboratório. Diferente de Legends: Arceus, não é mais necessário pegar vários Pokémon da mesma espécie para completar a Pokédex — e as missões de Mable rendem recompensas na forma de TMs (que voltaram a poder ser usados quantas vezes for necessário, para alegria de muitos jogadores).
Por fim, as missões secundárias são organizadas por Emma (que também deu as caras em X e Y): ela atua como detetive e marca diversas localidades no mapa que indicam missões a serem completadas e que rendem recompensas ao jogador. Muitas dessas tarefas são mais simples, como vencer uma batalha ou capturar determinado Pokémon, mas há uma boa variedade de missões divertidas e com interações bem interessantes dos humanos com os monstrinhos.
A melhor parte, para mim, é que todas essas atividades são apresentadas e disponibilizadas ao jogador muito cedo, fazendo com que o título não sofra com um começo mais lento (como costuma acontecer nos jogos principais da franquia). E com tantas atividades para se explorar, é um alívio que temos opções de fast travel rapidamente disponibilizadas. O resultado de todas essas atividades e interações disponíveis é uma aventura que reforça muito os aspectos menos falados da relação entre humanos e Pokémon, como o compartilhamento de espaços com a expansão das cidades e a convivência pacífica entre as espécies.
Conhecendo o belo (e o nem tão belo) de Lumiose City
Muitos jogadores estranharam quando foi confirmado que a cidade principal de Kalos seria o único cenário de Legends: Z-A. Afinal, haveria tanta variedade em Lumiose para que o título se passasse inteiramente no local? Por um lado, como comentei, a cidade nunca esteve tão viva: há NPCs e Pokémon por todos os lados, além de uma quantidade absurda de itens espalhados pelo chão esperando para serem coletados. A trilha sonora, inclusive, faz um papel impecável na ambientação da cidade, com temas clássicos orquestrados e rearranjados.
Por outro lado, é inegável que explorar as ruas de Lumiose pode se tornar cansativo com o tempo. As ruas são, sim, muito parecidas, e apesar de grandes, não trazem tanta variedade visual. Uma novidade interessante é a possibilidade de se explorar os telhados dos prédios, saltando de um local para o outro sem medo; o dano de queda, tão temido em Legends: Arceus, foi removido. Mesmo assim, outras ambientações fazem falta na aventura — as maiores variedades de cenários se restringem às (muitas vezes pequenas demais) Wild Zones.
E aproveitando o gancho dos cenários, o visual de Legends: Z-A não chega a impressionar tanto, mas não deixa de ser belo; e já chama muito mais a atenção do que os últimos jogos da série principal (ou até mesmo do que Legends: Arceus). Algumas texturas em baixa resolução acabam se destacando das demais quando estamos em cenários mais vazios, mas, no geral, não há do que se reclamar. Inclusive, senti falta das texturas um pouco mais detalhadas dos Pokémon que estavam presentes em Pokémon Scarlet e Violet — penso que ela seriam muito bem-vindas aqui.
Outro aspecto que me chamou a atenção foi a interface e os menus: antes de explorar o título, tive receio de que havia informações demais na tela e que os menus seriam confusos. Tive a grata surpresa de estar enganado: tudo é muito intuitivo e a interface contribuiu para uma jogabilidade extremamente fluida e rápida, ainda mais em um título tão focado nas batalhas. Há também um modo câmera, semelhante ao de Scarlet e Violet, no qual podemos salvar capturas a qualquer momento fazendo poses diversas.
A performance no Switch 2 é invejável, sem nenhuma queda notável (e rodando a 60 fps). Os carregamentos no novo console híbrido estão tão rápidos que tive dificuldade de ler as dicas mostradas por pouquíssimo tempo nas telas de carregamento. E, claro, impossível deixar de mencionar que, apesar de vários avanços nos últimos anos nesse sentido, ainda não temos um jogo principal da franquia Pokémon disponível em PT-BR.
Batalhas rápidas e fluidas como a franquia nunca viu
O grande destaque de Legends: Z-A é, com certeza, a nova forma de se batalhar com os monstrinhos. As batalhas abandonaram completamente a dinâmica de turnos; agora, os treinadores se movimentam livremente pelo cenário (como em Legends: Arceus) e atacam conforme os movimentos dos seus Pokémon ficam disponíveis.
Explico: cada movimento (como ataques e efeitos especiais) agora conta com um cooldown específico. Há ataques mais rápidos, que podem ser usados novamente após 3 segundos, por exemplo, ou ataques mais fortes e demorados, que só podem ser usados novamente após um período maior (como 8 ou 9 segundos). Pode parecer pouco, mas faz toda a diferença: as batalhas se tornaram rápidas e fluidas como nunca, demandando estratégias e reflexos do jogador para se adaptar a cada situação rapidamente.
Dessa forma, cada movimento dos Pokémon passa a ser realizado por um botão específico (A, B, X ou Y) junto do gatilho ZL, e podemos mudar a ordem dos movimentos como preferirmos. De início, achei a quantidade de controles um pouco confusa (já que os comandos para capturar e batalhar compartilham de vários botões), mas em pouco tempo me acostumei e o processo se tornou intuitivo.
Com todas as novidades, as batalhas se tornam muito mais variadas e empolgantes: saber quando usar ataques de longo alcance, escolher a melhor ordem de movimentos e fazer trocas rápidas é a chave para vencer. Os NPCs, inclusive, apresentam um bom desafio desde o início da aventura, e até mesmo trocam seus Pokémon durante as batalhas. O efeito colateral de tanta movimentação nos combates é que por vezes a câmera não acompanha determinados movimentos, em especial quando um Pokémon avança sobre o outro — dificultando o processo de focar novamente no oponente para atacar.
E a joia da coroa (ou seria a pedra do bracelete?) de Legends: Z-A é o retorno triunfal das Mega Evoluções. Por sinal, elas também são apresentadas relativamente cedo ao jogador, dando ainda mais liberdade na montagem de times e nos combates contra outros Pokémon Mega Evoluídos. Agora, as transformações contam com um limite de tempo medido por uma barra, que vai esvaziando aos poucos e pode ser recuperada ao coletarmos partículas de Mega Power durante as batalhas.
Há muitas novas Mega Evoluções além das que já foram reveladas nas últimas semanas, com visuais impressionantes. Pessoalmente, fico feliz com o retorno da mecânica, que é uma das minhas favoritas da série. E o tempo limite das transformações acaba por balancear melhor as batalhas — que, aliás, podem ser realizadas contra outros jogadores depois da ausência dessa funcionalidade em Legends: Arceus. As trocas e batalhas online retornam em Legends: Z-A, e dessa forma certas espécies de Pokémon voltam a evoluir por meio da troca (mecânica que tinha sido substituída pelo uso do Linking Cord, item disponível no título anterior).
Um passo ainda maior no caminho certo para a franquia
Pokémon Legends: Z-A sabe equilibrar as mecânicas que funcionaram em seu antecessor, incorpora outros aspectos essenciais da série principal e apresenta uma aventura muito divertida ao lado dos monstrinhos de bolso por Lumiose City. O título não é perfeito, claro, mas com um sistema de combate inovador e uma exploração tão bem representada das interações entre humanos e Pokémon, é impossível não enxergar Legends: Z-A como um grande passo na direção mais certeira para a franquia. Agora, a expectativa é de que a próxima geração de jogos da série principal siga o mesmo caminho de criatividade e exploração visto por aqui.
Prós
- Personagens carismáticos e divertidos;
- Narrativa envolvente com algumas boas reviravoltas e temas importantes;
- Interface e menus extremamente fluidos e fáceis de utilizar;
- Grande variedade de missões secundárias e recompensas;
- Novas mecânicas de batalha bem implementadas, mudando o ritmo que se tinha nos jogos da série até então;
- Alta personalização do personagem jogável;
- Trilha sonora impecável, reimaginando faixas dos jogos da sexta geração;
- Introdução de várias novas Mega Evoluções;
- Bom ritmo de jogo, fugindo do começo mais lento de outros jogos da franquia;
- Implementação de batalhas e trocas com outros jogadores, ausentes no título anterior.
Contras
- Ausência de localização em PT-BR;
- Alguns bugs na câmera podem atrapalhar nos combates mais rápidos;
- Quantidade de comandos pode assustar jogadores mais inexperientes;
- O visual poderia ser mais caprichado no Switch 2.
Pokémon Legends: Z-A – Switch/Switch 2 – Nota: 9.5Versão utilizada para análise: Switch 2
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo



















