A série Atelier, desenvolvida pela Gust desde 1997, sempre foi marcada por sua abordagem leve e acolhedora da fantasia, trocando o heroísmo grandioso de outros JRPGs por histórias de amadurecimento, alquimia e amizades sinceras. Com dezenas de títulos, o foco sempre foi a criação de poções, equipamentos e artefatos através de um sistema de alquimia profundo e criativo. Mas foi com Atelier Ryza: Ever Darkness & the Secret Hideout, lançado em 2019, que a franquia passou por um verdadeiro renascimento.
A protagonista Reisalin “Ryza” Stout e sua turma trouxeram uma nova legião de fãs, e a trilogia que se seguiu consolidou a “Era Ryza” como a mais popular da história da série. Agora, com Atelier Ryza Secret Trilogy Deluxe Pack, a Koei Tecmo reúne os três capítulos em um pacote definitivo, embora esta seja uma palavra que pode ser questionada.
Entendo que a proposta de Atelier Ryza Secret Trilogy Deluxe Pack nunca foi ser um remaster ou remake, mas sim uma edição definitiva com conteúdos adicionais e pequenas melhorias.
Ainda assim, acho que poderiam ter aproveitado a oportunidade para corrigir alguns problemas técnicos persistentes, especialmente os loadings exageradamente longos. Em pleno 2025, é frustrante lidar com telas de carregamento até para ações simples, como pausar o jogo ou abrir o menu. Isso tira parte do ritmo leve e imersivo que define a série.
Pelo menos, há pequenas adições bem-vindas, como a exibição da capacidade da cesta (basket capacity) na interface de exploração, que tornam a experiência um pouco mais prática e fluida. É o tipo de melhoria de qualidade de vida que já deveria estar presente desde o lançamento original.
Novos começos sob o sol de Kurken
As adições mais notáveis vêm na forma dos Episodes, capítulos extras que expandem o universo e os personagens. Em Atelier Ryza Ever Darkness and the Secret Hideout DX o episódio de Kilo e Bos é particularmente bom, mostrando mais da relação conturbada entre o povo Oren e o Reino de Klint, e aprofundando o sentimento de isolamento de Bos em relação aos antigos amigos. Há uma cena marcante em que ambos compartilham o desejo de um “novo começo”, algo que ressoa profundamente com o tom da trilogia.
Outro destaque é o episódio de Empel e Lila, que aprofunda a mitologia da civilização Oren e o conceito do “Underworld”. Esse capítulo não apenas expande a lore de maneira satisfatória, como também humaniza Lila, explorando seus pensamentos e arrependimentos quanto ao destino de seu povo. É o tipo de conteúdo adicional que justifica revisitar o jogo, especialmente para quem se interessa pela parte mais mística do universo Ryza.
Entre os novos episódios, há também o interlúdio que conecta o primeiro e o segundo jogo. Nele, acompanhamos uma Ryza em transição, lidando com o dilema de crescer sem perder o espírito aventureiro da juventude. Apesar de reutilizar cenários do jogo original, o episódio é narrativamente relevante, mostrando uma heroína mais introspectiva e consciente das limitações da vida adulta, um tema recorrente na série.
Quando a alquimia perde o sabor
Por outro lado, o episódio Atelier Klaudia tenta inovar, mas tropeça. A tentativa de introduzir um sistema culinário próprio para Klaudia soa mais como uma versão simplificada da alquimia tradicional, sem a profundidade que define o gameplay da franquia. Fica a sensação de que a ideia tinha potencial, mas não foi desenvolvida com o mesmo cuidado das outras adições.
Outro ponto negativo no primeiro jogo é a falta de justificativas narrativas para novos personagens na party. Eles simplesmente aparecem disponíveis sem qualquer contextualização, algo que quebra um pouco a imersão. Um simples evento ou cena curta, como as visitas ao ateliê em jogos anteriores, como o que acontece em Atelier Firis, já resolveria o problema. É um deslize de narrativa que faz as adições parecerem coladas artificialmente.
Um segundo ato morno, mas um final de trilogia digno
Passando para Atelier Ryza 2: Lost Legends & the Secret Fairy DX, a sensação geral é de um conteúdo extra bem mais tímido. Há apenas um novo episódio jogável e dois personagens “novos” que, na verdade, são Empel e Lila retornando. O episódio adicional reutiliza cenários antigos e apresenta uma dungeon inédita que, infelizmente, não tem nada de memorável.
Pior: não há sequer a possibilidade de fazer alquimia nesse conteúdo, um verdadeiro retrocesso considerando que essa mecânica é o coração da série. O resultado é um DLC que parece existir apenas para justificar a etiqueta “DX”.
Felizmente, Atelier Ryza 3: Alchemist of the End & the Secret Key DX mostra um pouco mais de carinho com o conteúdo adicional. As novas roupas finalmente se destacam, com destaque para os trajes de mergulho e o elegante visual de “rainha” da Ryza, que trazem variedade e personalidade às personagens.
O episódio extra, centrado em Clifford e Serri, é divertido e traz interações engraçadas entre os membros do grupo, mas não acrescenta muito em termos narrativos. Ainda assim, é um encerramento agradável para quem se apegou ao elenco ao longo dos três jogos.
O melhor custo-benefício
No fim das contas, Atelier Ryza Secret Trilogy Deluxe Pack é uma celebração de uma das fases mais queridas da franquia Atelier, mas também um lembrete de que “Deluxe” não significa “definitivo”.
Apesar das falhas técnicas e da falta de grandes novidades, o pacote vale muito mais a pena financeiramente do que a compra dos três jogos separadamente, o que custaria cerca de R$ 200,00 a mais.
Para quem nunca acompanhou a jornada de Ryza, essa trilogia é a forma mais prática e acessível de experimentar sua história completa, com todos os conteúdos extras reunidos. O charme da série continua intacto: visuais ensolarados, personagens carismáticos e uma trilha sonora encantadora. Mesmo sem grandes aprimoramentos, é quase impossível não se deixar levar novamente pelo conforto do ateliê e pelo som acolhedor do caldeirão borbulhante.
Prós
- Melhor custo-benefício;
- Melhorias na qualidade de vida.
Contras
- Telas de carregamento continuam excessivamente longas;
- Conteúdo extra irregular entre os títulos.
Atelier Ryza Secret Trilogy Deluxe Pack — PC/PS4/PS5/Switch/Switch 2 — Nota: 6.0Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela Koei Tecmo







