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Análise: River City Girls (Switch): muito mais do que uma homenagem aos beat’em ups clássicos

Beat'em up da série River City traz bastante estilo, comédia e pancadaria ao Switch.


Iniciada em 1986 com Nekketsu Kōha Kunio-kun (Renegade nos EUA), a série River City é composta por clássicos do gênero beat’em up. Apesar do contexto dos seus primeiros títulos ter sido modificado drasticamente em sua localização, na essência os jogos contam a história de rapazes japoneses categorizados como “delinquentes” que saem pelas ruas lutando contra gangues rivais.

No novo jogo, ao invés do protagonista Kunio ou seu amigo Riki, a história é centrada nas suas namoradas, Misako e Kyoko, respectivamente. Enquanto estão na detenção, as duas recebem uma mensagem de que os rapazes foram raptados. Agora elas terão que sair pela cidade para encontrar o paradeiro deles em uma jornada cheia de pancadaria e humor.

Um beat’em up colorido e divertido

Desenvolvido pela WayForward (Shantae), River City Girls é um beat’em up 16 bits cheio de cor e estilo. O jogador pode escolher entre Misako ou Kyoko e jogar em parceria com outra pessoa, que assume o papel da outra personagem.

O mundo é composto por várias áreas conectadas, que são desbloqueadas conforme o jogador avança pela história. Alguns locais são opcionais e a qualquer momento é possível voltar aos que já foram explorados.

Em cada nova área pela qual o jogador passa, é necessário lutar contra cheerleaders, playboys, delinquentes e até mesmo robôs disfarçados de humanos. Eles aparecem em hordas e o jogador deve derrotá-los para avançar. Ao final de uma batalha, também é possível que um inimigo peça clemência, dando ao jogador a chance de recrutá-lo como um aliado que pode ser invocado de vez em quando (e muda toda vez que outro é recrutado).

Lutar contra os inimigos não serve apenas para progredir. É também uma fonte de experiência e dinheiro. O primeiro aumenta o nível da personagem e melhora seus atributos (ataque e velocidade, por exemplo) como em um RPG. Já o segundo é necessário para comprar itens nas lojas do jogo ou adquirir habilidades no dojô.

Os ambientes e personagens encontrados são muito coloridos e interessantes, além de muitas vezes fazerem referência aos outros jogos da série. Um bom exemplo disso são as lojas e dojôs, cujo funcionamento é similar ao de seus predecessores e cujas imagens de fundo chamam atenção pela arte colorida e detalhada, e pelos vendedores que adicionam bastante personalidade ao que poderiam ser apenas menus simples.


Nas lojas é possível comprar uma variedade de itens. Cada local tem seu próprio estilo, mas as mais comuns são as lojas de comida, itens que além de restaurar vida aumentam um atributo na primeira vez que são consumidos. Curiosamente, a lista não menciona os efeitos deles antes de comprá-los pela primeira vez.

Já os dojôs são locais onde as personagens podem pagar para aprender novos golpes. Adquiri-los aumenta o leque de opções em batalha, ampliando bem as possibilidades de combos e se tornando-os cada vez mais naturais conforme o jogador aprende a executá-los.


No início, o jogador tem acesso apenas a ataques básicos fracos e fortes, mas graças ao dojô são desbloqueados golpes associados à movimentação (exemplo: “dash + ataque forte”) e ataques especiais que consomem uma barra verde (que é recuperada ao realizar ataques normais). Ter acesso a essas técnicas é muito útil e acaba sendo fundamental para que o jogador desenvolva sua própria forma de lidar com os inimigos.

Além de maneiros, muitos golpes têm características divertidas. Kyoko, por exemplo, pode fazer um dab (movimento corporal associado ao hip hop que eventualmente se tornou meme) ou movimentos de vôlei (como cortada), enquanto Misako pode usar golpes de cheerleader.

As personagens também podem lutar usando itens variados do cenário no melhor estilo beat’em up clássico. Bastões de baseball, io-iôs, bancos e até mesmo os próprios inimigos podem ser usados como armas. Esse humor também se reflete na história, que é extremamente leve e cômica, cheia de piadas e referências.


Infelizmente, apesar de ser extremamente divertido em todos os seus aspectos, o jogo possui um defeito que pode ser bastante irritante. Para transitar entre áreas o jogador deve usar o botão de ataque fraco. O problema é que, como os inimigos se encontram muitas vezes próximos das entradas, é fácil tentar bater neles e acabar mudando de tela sem querer.

Isso não é um problema no caso do multiplayer, pois é possível cancelar a ação, mas a transição é automática no caso do single player. Fora isso, há uma única missão onde é necessário pular pelo cenário de modo a evitar uma grande área cheia de brinquedos que fazem barulho. Ela é a única desse estilo no jogo e acaba sendo apenas incômoda, já que seu objetivo poderia ser atingido de forma mais direta pelas personagens.

Mais do que uma homenagem

De forma geral, River City Girls é um excelente exemplar do gênero beat’em up que vale a pena experimentar seja sozinho ou no multiplayer (local, de dois jogadores). Com bastante humor, a jornada das garotas delinquentes é muito divertida e repleta de ação. Em particular, além dos visuais coloridos e do gameplay cheio de movimentos interessantes, destaco também a trilha sonora que se encaixa perfeitamente na proposta do game.

Enquanto boa parte da trilha tem uma batida que é facilmente associada ao estilo de jogo, é muito prazeroso escutar as músicas com vocais que levam a pegada para um lado mais pop. Pessoalmente, mesmo com o ritmo mais lento de algumas músicas, toda vez que as escutava sentia uma vibe forte de Kill la Kill, minha única referência de nekketsu (obra com personagens “de sangue quente”) feminino.

Existe algo bastante peculiar nessa atmosfera proposta pela trilha e, assim como ela, River City Girls é muito mais do que uma homenagem a um jogo clássico. Ele é um título exemplar do seu gênero que propõe um pacote com muita diversão.

Prós

  • Diversidade de golpes desbloqueáveis;
  • Bastante humor e uso de referências;
  • Belo visual;
  • Trilha sonora envolvente.

Contras

  • É fácil mudar de área sem querer por conta do mapeamento de botões;
  • Existe uma missão em particular que envolve um “stealth” desnecessário.
River City Girls — Switch/PC/PS4/XBO — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela WayForward

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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