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Análise: Super Wiloo Demake (Switch) é um clone de Mario não muito memorável

O jogo desenvolvido pelo estúdio brasileiro lightUP até diverte um pouco, porém falha em sua simplicidade.




Na era dos remakes, às vezes é interessante seguir o caminho contrário: um demake. Ou melhor, um jogo com uma parte gráfica que aparenta ser mais antiquada que sua versão original. Se eu precisasse apostar, diria que você provavelmente nunca ouviu falar de Wiloo, um obscuro jogo de plataforma para celular criado pelo brasileiro Juliano Ferreira do estúdio lightUP. Se esse realmente for o caso, não precisa se preocupar. 

Na hora de trazer o game para os consoles, a Ratalaika Games acreditou que o título original merecia uma versão com o devido filtro visual nostálgico pixel art dos anos 80. O primeiro Wiloo poderia ser facilmente confundido com um jogo em flash genérico do começo dos anos 2000, portanto, nada melhor do que dar uma cara um pouco mais Super Mario Bros. 3 a esse clássico renegado do gênero de plataforma mobile — e tentar acrescentar aquela pitada de charme nostálgico à primeira aventura de Wiloo nos consoles.

Se o mundo fosse um toboágua

Super Wiloo Demake se comporta como qualquer plataforma simples que tenta evocar a era de ouro do encanador bigodudo, só que o mundo inteiro é normalmente mais escorregadio e difícil de acessar. A impressão às vezes é que o jovem Wiloo tem skates embutidos em seus sapatos, o que não é estranho, mas não necessariamente algo ruim. As mecânicas de pulo e deslocamento do personagem com certeza não são ideais, mas é o sentimento constante de "andar de skate" que vende minimamente a ideia do jogo. Em algumas (raras) ocasiões é possível sentir uma fluidez nível Tony Hawk enquanto você salta, mata inimigos e segue em frente até o final da fase. O jogo é quase agradável quando você consegue seguir em frente de uma forma rápida e eficiente, sem pensar duas vezes. No entanto, a dificuldade elevada eventualmente acaba com esse sentimento. 



Nada realmente chama muita atenção no título: os gráficos são um 8-bit genérico e sem muita imaginação, os estágios são curtos e repetitivos e os inimigos, idem. Cada fase possui um único checkpoint lá pela metade do progresso e três moedas especiais que podem ser coletadas (e, ao que parece, não fazem absolutamente nada). Ainda no tema de homenagear os irmãos Mario, talvez o aspecto mais interessante de Super Wiloo Demake sejam as "roupinhas" que oferecem algumas habilidades especiais para o herói. A roupa de abelha faz com que Wiloo possa pular múltiplas vezes (praticamente voar pelo estágio, meio que como um Tanuki em Mario Bros. 3), a roupa de tamanduá adiciona um efeito de rolamento aos pulos, a fantasia de sapo facilita muito a movimentação dentro d'água e, por fim, a fantasia de unicórnio permite que você atire projéteis em forma de chifre.

As roupas também dão um tipo de "escudo" para Wiloo, que, ao vestí-las, pode levar um hit a mais do que o normal antes de morrer. A ideia do jogo é você não tomar nada de dano até o final da fase e lidar com o fato de que, na maioria das vezes, você só tem uma vida. Essas fantasias podem ser encontradas durante algumas fases, mas também são coletadas ao longo da seleção de estágios, através de níveis especiais que são sempre o mesmo mini-game de memória. Desse jeito, você guarda esses power ups no menu principal e pode ativá-los antes de entrar em uma fase, se preparando melhor para os perigos que estão por vir — usar a "abelhinha", por exemplo, e abusar dos seus múltiplos pulos, pode reduzir drasticamente a dificuldade da maioria dos estágios. 



Outra forma de ganhar uma "roupinha" — no caso, a do unicórnio — é morrer múltiplas vezes no mesmo estágio. E, pode acreditar, isso provavelmente vai acontecer com bastante frequência. Super Wiloo Demake definitivamente é um jogo difícil: são vários pulos calculados em espaços pequenos com tempos de reação curtos em uma engine longe do ideal. Não é incomum, por exemplo, que Wiloo "volte no tempo" algumas vezes graças a um lag de performance, o que acaba completamente com o timing da movimentação. Outra coisa que poderia ser muito simples, mas o jogo faz questão de complicar, é entender as dimensões do próprio cenário. É extremamente complicado interpretar onde exatamente fica o "teto" dos corredores em diversos momentos. A arte dos ambientes é tão confusa que conseguir entender onde dá pra pular, pisar ou só ficar em pé direito acaba se tornando um dos maiores desafios do título.

É interessante que as vidas são infinitas em Super Wiloo Demake (no modo normal de dificuldade, pelo menos), no entanto, morrer implica um castigo mil vezes pior do que qualquer tela de game over. Toda vez que Wiloo morre — e, repito, isso vai acontecer com você incontáveis vezes —, a mesma musiquinha insuportável toca por uma quantidade desnecessária de tempo, em conjunto a um loading que é extremamente longo sem nenhuma razão para tal. Um jogo tão leve não precisa me fazer esperar tanto só para morrer no mesmo abismo pela quadragésima vez, não é mesmo? Nos estágios finais fui obrigado a tirar o som da TV porque, além da adorável trilha sonora da morte, todas músicas durante os estágios também são absurdamente irritantes e repetitivas. 



Em conclusão, Super Wiloo Demake é uma simples homenagem ao velhos títulos plataformas de outrora, só que, ao contrário de maioria desses clássicos, peca em quase todos os aspectos. Mesmo com a dificuldade elevada (muitas vezes pelos motivos errados, como falta de polidez na jogabilidade ou no level design), é possível terminar o jogo em poucas horas e praticamente nada acontece após você completar os cinco mundos (mesmo pegando todas as moedas especiais de cada fase). Até existe algum charme ali no meio da confusão, e talvez seja possível que você se divirta por uns 10 minutos, mas é difícil encontrar um real motivo para alguém sentar e jogar essa estranha aventura de Wiloo — afinal, existe uma infinidade de opções melhores do gênero no Switch.

Prós

  • Divertido por alguns minutos;
  • Pode ser uma boa pedida para quem gosta de jogos simples e difíceis.

Contras

  • Pouca polidez em todos os aspectos: jogabilidade, visual, trilha sonora;
  • Dificuldade elevada pelos motivos errados;
  • Loadings longos demais e lags de performance incomodam bastante;
  • Curto demais e sem nenhum tipo de conteúdo postgame.
Super Wiloo Demake - Switch/PC/PS4 - Nota: 4.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Jorge Neto
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ratalaika Games

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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