Análise: Collar × Malice -Unlimited- (Switch) é a segunda volta na montanha-russa de emoções

Quando joguei Collar × Malice em junho passado, torci para que Collar × Malice -Unlimited- também recebesse um port para o Switch — afinal, a visual novel foi lançada, originalmente, para PS Vita. Para minha alegria, o fan disc finalmente deu as caras no híbrido da Nintendo e, assim como o título principal, a história continua cheia de surpresas.

Já me desculpo com antecedência se esta análise parecer menor que a do primeiro jogo. Diferentemente do seu antecessor, a trama de Collar × Malice -Unlimited- é uma continuação direta dos acontecimentos anteriores, então me sinto obrigada a suprimir alguns detalhes a fim de evitar possíveis spoilers. Porém, uma coisa posso garantir de antemão: a Otomate fez um excelente trabalho.

Fan disc? O que é isso?

Fan disc (também grafado como fandisk) é um pacote de conteúdo adicional em relação ao jogo principal e geralmente traz novas imagens, músicas, mini jogos e informações a respeito da história original. Em alguns casos, também pode ser uma extensão do primeiro título, porém com uma duração mais curta, e raramente um fan disc é considerado uma continuação direta.

Collar × Malice -Unlimited- é um fan disc de Collar × Malice. Por mais que o gênero continue sendo visual novel, sua duração é de, aproximadamente, 15 horas, a metade do tempo do primeiro jogo. No entanto, indo na contramão da definição de fan disc, temos aqui uma sequência direta do primeiro jogo, mas isso explicarei mais adiante.

Similar e diferente ao mesmo tempo

Ichika Hoshino está de volta e, com ela, Mineo Enomoto, Kei Okazaki, Takeru Sasazuka, Kageyuki Shiraishi e Aiji Yanagi. Afinal, qual é o sentido de contar o que acontece com os personagens principais sem que eles estejam presentes?

Assim que o jogo se inicia, a primeira informação que o jogador deve fornecer é o nome da heroína, o mesmo que ocorre em Collar × Malice. Esse detalhe, por menor que seja, é um dos pontos altos da visual novel como um todo, uma vez que gera imersão e coloca o jogador no papel da protagonista.

Qual é seu nome mesmo?

Os comandos continuam os mesmos, assim como a possibilidade de configurá-los. As funções de quicksave e quickload estão presentes e, como no primeiro jogo, é possível jogar com a tela touchscreen do Switch quase que totalmente — apenas a abertura de menus e algumas funções necessitam dos botões físicos.

A respeito da jogabilidade, não há mistério algum. Em certos momentos da narrativa é necessário fazer escolhas, mas não existe problema em errar: está presente a função de histórico (history) e as respostas selecionadas ficam na cor azul. Ou seja, nada de novo por aqui.

Outro aspecto positivo é o glossário (Dictionary). Ele está de volta e, obviamente, ampliado, porém os termos explicados em Collar × Malice já vêm habilitados caso o primeiro jogo seja detectado no Switch. No entanto, não existe mais o menu Notes, pois o fan disc não possui mistérios para serem resolvidos.

O que é tão diferente, então? A trama como um todo foca nos acontecimentos após conseguir o good ending com os protagonistas e no dia a dia dos personagens quando os acontecimentos do X-Day já foram solucionados. Embora alguns mini jogos estejam presentes, aparecem com menor frequência. Arrisco dizer que, em comparação ao seu predecessor, Collar × Malice -Unlimited- tem uma carga quase que ininterrupta de leitura; é altamente recomendável ter concluído o primeiro título para entender o que acontece no fan disc.

O próprio jogo recomenda jogar a visual novel primeiro

Uma adição feita à trama é a existência de um cenário hipotético, chamado de what if? (do inglês, “e se?”), que só pode ser desbloqueado após obter o good ending de todos os protagonistas. A interação com outros personagens, alguns exclusivos do fan disc, também aumentou, então esse conteúdo extra é um dos pontos fortes do jogo.

Está tudo bem agora então?

Sim e não. Mesmo que a função principal de Collar × Malice -Unlimited- seja epilogar as rotas originais, os eventos do X-Day sempre são mencionados de um jeito ou de outro. Também existe toda uma recapitulação do que aconteceu no título anterior ao se começar uma das rotas do fan disc. Por exemplo, ao escolher dar continuidade à história de Ichika e Mineo, é contado, por meio de flashbacks, como eles desenvolveram seu relacionamento.

Enomoto continua o mesmo idiota adorável de sempre

Então, novamente, se o seu antecessor não foi jogado, Collar × Malice -Unlimited- nada mais será que uma pesada chuva de spoilers em forma de texto.

A história até aqui — e um pouco mais além

Cada rota individual se passa após a conclusão do X-Day. O jogo se inicia com um prólogo, chamado de Interlude, no qual Chisato Tachibana pede ajuda à agência de detetives para descobrir se um conhecido seu está ou não ligado à Adonis. Dependendo da escolha feita antes de começar a pequena investigação, a trama penderá para o lado de um dos rapazes principais.

Confesso que não fui com a cara do Tachibana desde o início

Após o Interlude, temos as rotas dos personagens e, completando-as com sucesso, são desbloqueadas as After Stories e Side Stories de cada um deles. As After Stories são a verdadeira cereja do bolo, já que é nelas que se dá a continuidade à história de Collar × Malice. O fan disc também conta com mais alguns extras interessantes em relação ao primeiro jogo, mas não vou dar spoilers.

Como mencionado anteriormente, o fan disc possui alguns mini jogos, como a exploração de cenários e, para minha surpresa, quebra-cabeças, que são outra novidade em relação a Collar × Malice. No entanto, alguns são bastantes complexos e exigem um bom entendimento da língua inglesa e seu funcionamento. Perdi mais de uma hora — e ainda precisei pedir ajuda para uma amiga — para decifrar o puzzle que dá início à rota do Sasazuka.

Mesmo com as dicas, após errar a senha três vezes, demorei para entender a lógica

A ambientação continua excelente e com uma pesada carga de emoções. Drama, mistério, suspense e até mesmo humor se intercalam com maestria ímpar em uma nova visita a Shinjuku. Porém, o jogo consegue ir além e expandir horizontes, adicionando novos pontos de vista e outros locais que não se resumem apenas aos pequenos cenários de Collar × Malice.

A qualidade continua

A Aksys fez um ótimo trabalho de localização para o port de Switch e é, atualmente, a única plataforma na qual Collar × Malice -Unlimited- existe em inglês. No PS Vita, o fan disc está disponível apenas em japonês, dado que jogos em mídia física para o portátil da Sony logo deixaram de existir.

Mai Hanamura assina, mais uma vez, o character design e a banda de J-rock Plastic Tree não decepciona com os temas de abertura e encerramento. Se as músicas do primeiro jogo já eram viciantes e imersivas, as de Collar × Malice -Unlimited- não deixam a desejar em nenhum momento. A dublagem continua de primeira também.

A única ressalva que abro aqui é a presença de algumas derrapadas no texto. Alguns errinhos de grafia existem aqui e ali e há a repetição de palavras em certos momentos, mas nada muito comprometedor para o entendimento da história como um todo.

Tecla SAP, por favor?

Collar × Malice -Unlimited- é o exemplo de continuação que muitos títulos, não restritos apenas a video games, deveriam ter. O fan disc adiciona uma nova narrativa sem esquecer a anterior, completando pontas soltas e envolvendo o jogador em acontecimentos totalmente inesperados e cheios de emoção.

Prós

Continuação direta do primeiro jogo, com recapitulação da história por meio de flashbacks;
Novos acontecimentos interligados aos anteriores, com inclusão de cenários hipotéticos e novos pontos de vista;
Adição de puzzles;
Opções de customização, como nome e controles;
Qualidades gráfica, textual e sonora impecáveis.

Contras

Totalmente dependente do primeiro jogo;
Alguns tropeços na localização em inglês;
Alguns puzzles difíceis de solucionar;
Temática da visual novel não aconselhável para um público-alvo mais novo ou jogadores sensíveis.