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Análise: Toodee and Topdee (Switch) é um abençoado exemplar dos puzzles fora da caixa

Ótimos desafios, dificuldade adequada, colecionáveis que incentivam a rejogabilidade… este híbrido de quebra-cabeça e plataforma tem de tudo.



Ah, o deleite que é desfrutar de um game de quebra-cabeça que não só tem um conceito principal criativo, como também sabe trabalhar esse conceito do começo ao fim! Os resultados costumam nos levar sempre a novas surpresas, passando longe de estagnar ou cansar o jogador com ideias recicladas.


Toodee and Topdee é uma lição de respeito sobre combinações, a começar pela mescla entre plataforma e puzzle que forma o seu gameplay. Lançado em agosto do ano passado como o trabalho de estreia da dietzribi, desenvolvedora e publisher composta por uma dupla de irmãos, este híbrido de gêneros chega ao híbrido da Nintendo quase literalmente unindo o melhor de dois mundos.

E Deus disse: faça-se o ponto e vírgula

No início dos tempos, não existia nada no universo além de Aleph, entidade conhecedora de um idioma capaz de transformar palavras em mundos. Usando esse poder, Aleph preencheu o vazio com vários planetas e, para evitar que seus futuros habitantes sofram com a instabilidade causada pela ausência de um centro de gravidade, criou o ponto e vírgula, responsável por manter tudo se movimentando em harmonia e segurança.




O primeiro mundo que recebeu o dom da vida vida abriga uma criaturinha azul conhecida como Toodee, que adora saltar por aí; já o segundo é o lar de Topdee, um cidadão capaz de empurrar e levantar diferentes tipos de caixa. Aleph seguiu povoando os outros planetas até que restasse apenas um, e foi aí que veio o caos.

Toodoo, assistente de Aleph criado para lidar com os incômodos glitches, sentiu que sua existência ficaria ameaçada após o término do trabalho, então revoltou-se e furtou o ponto e vírgula para que as erráticas criaturas jamais deixassem de existir. Isso resultou em uma tremenda instabilidade nos mundos, fazendo com que Toodee e Topdee se encontrem em uma situação deveras confusa.




Os protagonistas recebem a visita de uma criatura (curiosamente denominada Glitch) que explica a eles sobre o ponto e vírgula desaparecido. Nossos heróis percebem então que precisam fazer uma perigosa jornada por este danificado universo para recuperar o artefato e salvar a tudo e todos.

O de cima pula e o de baixo empurra

Misturar gêneros de gameplay é uma missão arriscadíssima, com muitos pontos-chave a ter em mente. Um deles é o equilíbrio, já que de nada adianta incluir no seu jogo quantos gêneros der na telha se você não dosa bem o quanto cada um deles será representado e como eles interagem entre si.

Toodee and Topdee deixa a cargo de cada um dos personagens titulares um gênero diferente: o primeiro, como seu próprio nome (a leitura de “2D” em inglês) evidencia, protagoniza um gameplay de plataforma 2D. Topdee, também aludindo ao nome, está mais focado em desafios de quebra-cabeça visualizados e solucionados por uma perspectiva levemente angulada vista de cima, conhecida como top-down.




Separadas, talvez essas duas formas de jogo não fossem tão interessantes, mas é quando elas se juntam que a magia acontece. A campanha, composta por cinco mundos, coloca os aventureiros juntos nas fases, ainda que eles existam em pontos de vista distintos. É possível alternar entre eles a qualquer hora — aliás, não só possível, como obrigatório, já que um precisa do outro para que eles alcancem simultaneamente o portal para o próximo estágio.

Um detalhe crucial para que tudo funcione bem em ambas as perspectivas é a maneira como todos os elementos em tela se comportam: sejam os inimigos, os perigos do cenário, as plataformas ou objetos como caixas, tudo pode ter mais de uma função ou ser usado de jeitos diferentes dependendo do ângulo assumido, tanto o 2D sidescroller de Toodee quanto o top-down de Topdee, menos influenciado pela gravidade.

As trocas de personagem também representam uma parte estratégica da resolução dos puzzles e da destreza necessária nas partes de platforming. Em certas fases, precisamos de algumas poucas alternâncias pontuais para prosseguir; em outras, a mudança é constante. Tudo depende do que a fase em questão exigir do jogador, é claro.




Cada um dos quatro primeiros mundos traz uma mecânica própria, usada em variantes ao longo de todas as suas fases, e o quinto e último faz um pequeno apanhado de tudo que já foi visto em uma seleção de estágios com o nível de desafio mais elevado. O somatório é muito positivo em quantidade e qualidade, pois conforme eu aludi no começo desta análise, o uso diferente destas mecânicas em cada mundo não impede que suas fases se superem nos quesitos criatividade e dificuldade.

O terço inicial de cada grande área introduz muito bem o novo conceito; a meiuca sobe o nível, convidando o jogador a se esforçar mais para entender os puzzles e como suas ideias funcionam em relação aos protagonistas; e o terço final arremata os mundos com capricho, fechando com uma tradicional batalha contra o chefão, que aqui utiliza as funcionalidades aplicadas durante os 20 estágios em combates bastante diferentes uns dos outros.

Temos que pegar? Preciso mesmo?

A campanha de Toodee and Topdee tem uma duração que eu considerei satisfatória, levando em conta que esse fator varia de acordo com a perícia de cada um em puzzles e platforming. Talvez seja por isso que o jogo não tenha incentivos externos ao fator replay, além do gameplay principal.




O único recurso existente para nos fazer repetir as fases são coletáveis na forma de joaninhas de três cores diferentes. Para coletá-las, precisamos cumprir um objetivo para cada uma: as vermelhas estão ligadas à conclusão da fase antes que o tempo limite acabe; as azuis restringem a quantidade de vezes que podemos trocar de personagem; e as roxas, presentes apenas em estágios com inimigos, requerem que atravessemos o portal sem eliminar nenhuma criatura hostil.

Gostei muito das ideias por trás das joaninhas azuis e roxas, que adicionam boas doses de planejamento e raciocínio diferenciado em cima da dificuldade já existente em cada fase. Não posso dizer o mesmo dos bichinhos vermelhos, que, além de representar meramente a tarefa de fazer uma speedrun do jogo, pesaram a mão (ou a patinha) no limite de tempo antes de saírem voando, indicando que quebramos a condição para coletá-las.

Recursos como um modo speedrun têm se tornado cada vez mais comuns em videogames, refletindo a crescente tendência da popularização dessa forma alternativa de enxergar e aproveitar os jogos. Porém, nem sempre isso funciona, e aqui simplesmente não valeu a pena para mim fazer o esforço e aplicar em toda bendita fase da campanha a enorme quantidade de memória muscular exigida para pegar a joaninha vermelha a tempo.

Outra variante de jogo à qual há pouco incentivo é o modo cooperativo para dois jogadores, que coloca cada um no controle de um dos protagonistas. Podemos configurar se apenas o jogador ativo pode fazer a troca ou se ambos podem mudar entre Toodee e Topdee a qualquer momento.




Sinceramente, minha atração por essa opção foi nula não só por não mudar nada no gameplay prático, mas também porque não vejo muita graça em jogar puzzles cooperativamente, a menos que o game tenha sido pensado exclusivamente (ou quase exclusivamente) com esse propósito. Fora esses casos, o grande prazer está em raciocinar e achar as soluções por conta própria.

Se juntos já salvam o universo, imagina juntos

Toodee and Topdee é simples de um jeito brilhante, unindo duas ideias outrora básicas, mas que juntas formam uma aventura divertidíssima e recheada de desafios criativos de puzzle e plataforma. Seus protagonistas são carismáticos e o diálogo entre eles e os demais personagens do jogo é bem-humorado e cheio de metalinguagem.

Desde o momento em que eu vi esse jogo pela primeira vez, fiquei fascinado e evitei qualquer contato mais aprofundado para evitar spoilers, aguardando a chegada dele ao Switch. Previsivelmente, não me decepcionei, e passo adiante a minha empolgação a todos que curtem um bom puzzle, um bom platformer e uma boa mistureba de gêneros.

Prós:

  • A ideia de combinar dois gêneros de jogo diferentes é sensacional e funciona com perfeição do começo ao fim nessa mistura entre puzzle e plataforma;
  • As mecânicas únicas de cada mundo são excelentes e criativas, sendo aproveitadas adequadamente nas etapas iniciais, intermediárias e finais das áreas gerais da campanha;
  • Bons combates contra chefes, tão criativos quanto as fases regulares;
  • As joaninhas coletáveis, principalmente as azuis e as roxas, adicionam boas doses de planejamento e raciocínio diferenciado em cima da dificuldade já existente em cada fase;
  • Os protagonistas são carismáticos e o diálogo entre eles e os demais personagens do jogo é bem-humorado e cheio de metalinguagem.

Contras:

  • A dificuldade para coletar algumas joaninhas é exagerada, principalmente as vermelhas, que exigem um desempenho praticamente impecável em certas fases;
  • O modo cooperativo é dispensável, não mudando nada no gameplay prático.
Toodee and Topdee — Switch/PC — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela dietzribi

Apaixonado por jogos desde criança, principalmente pela Nintendo. Seja Indie ou AAA, os videogames vão estar sempre no meu coraçãozinho, com um espaço especial para multiplayers!
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