Jogamos

Análise: Taito Milestones (Switch) é uma chance perdida de representar sucessos icônicos da empresa

Eis uma coletânea que poderia trazer mais recursos ou jogos de maior relevância.


Taito Milestones
é uma coletânea com dez jogos clássicos da Taito, uma empresa que foi muito importante para a história da indústria dos games, mas que infelizmente não é muito lembrada nos dias de hoje. Trata-se basicamente de um emulador oficial com os jogos Qix, Space Seeker, Alpine Ski, Front Line, Wild Western, Chack’n Pop, Elevator Action, The FairyLand Story, Halley’s Comet e The Ninja Warriors.

A biblioteca apresenta jogos que fizeram parte do catálogo mais antigo da empresa, abrangendo uma variedade de gêneros como puzzle, plataforma, esporte, tiro e ação. mas carece de um conteúdo mais robusto em termos de uma coletânea e dos pontos fortes desse repertório de games.

Um produto simples demais

O emulador usado em Taito Milestones é tão espartano que sequer possui uma tela de abertura. Ao iniciarmos o game, já somos recebidos pela seleção de jogos, cada um representado por um pequeno quadro com uma imagem e seu título.

Ao pressionar o botão +, acessamos uma tela de opções, que permite configurar cada jogo individualmente, customizando o mapeamento de botões e filtros gráficos, e permite gravar um Interrupt Save, que possibilita retomar a atividade a partir deste ponto, caso desliguemos o console. 



Faltam, porém, recursos importantes que são bastante comuns em outros emuladores. Taito Milestones não permite criar múltiplos pontos de salvamento, nem rebobinar a ação, uma ferramenta que seria muito útil nos momentos de jogatina intensa. Também não existem recursos de multiplayer online, embora possamos compartilhar nossa pontuação em rankings comparativos na internet.

A tela pode ser configurada para o modo horizontal (padrão) ou vertical (conhecida pelos aficionados por arcade como tate mode). Isso é uma boa adição para o Switch, que pode ser usado na vertical, aproveitando melhor a área útil da tela. Alguns jogos da coleção, como Qix e Wild Western, foram originalmente programados para gabinetes em formato tate mode. Como curiosidade, esse modo de display também está disponível no mini-console Egret II mini da Taito.

Vamos analisar agora cada um dos jogos oferecidos na coletânea:

Alpine Ski

Um jogo esportivo bem simples, lançado originalmente em 1981. Aqui controlamos um esquiador que pode se mover para a direita ou esquerda através de uma pista de esqui. É possível controlar o ângulo e a velocidade de descida, coletando pontos em checkpoints e evitando obstáculos que fazem nosso personagem cair. O objetivo é acumular o máximo de pontos e completar o percurso no menor tempo possível.


Wild Western

Um shooter de 1982 em que controlamos um xerife montado a cavalo que deve derrotar um grupo de bandidos durante o assalto a um trem, que se desloca no centro da tela. Os jogadores devem abater os malfeitores, impedindo que eles subam no trem, ao mesmo tempo em que precisam evitar os obstáculos do percurso e os tiros. 

Ao derrotar todos os bandidos, o jogador é levado a um minigame que pode garantir uma pontuação bônus. A ação então recomeça, com um aumento no número de obstáculos e inimigos. 


Front Line

Um run-and-gun com temática militar, lançado originalmente em 1982. Você é um soldado solitário, que deve enfrentar o exército inimigo usando sua pistola e granadas, sem limite de munição. 

Ao avançar pelas linhas inimigas, você poderá roubar um tanque para combater seus oponentes. Quando a máquina sofrer danos severos, você pode sair dela e continuar o combate a pé. O objetivo final é derrotar uma fortificação altamente protegida com morteiros e veículos blindados.

Front Line obteve um sucesso moderado no Japão, especialmente porque alguns modelos de arcade possuíam controles rotativos (paddles), algo bastante chamativo para a época. No Ocidente, a máquina não ficou tão popular porque sua dificuldade foi considerada exagerada.


Qix

Um puzzle geométrico abstrato desenvolvido por um casal de programadores, Randy e Sandy Pfeiffer, em 1981. O desafio se passa em um campo retangular onde controlamos um cursor, que pode traçar uma linha fechando áreas dentro do campo principal. 

Nosso principal inimigo é Qix, uma entidade abstrata na forma de bastões de luz coloridos que navega randomicamente pela área livre do mapa. O objetivo do jogador é conquistar 75% do território sem ser atingido por Qix ou seus auxiliares.

Qix é um curioso caso de um game criado pela divisão americana da Taito, e foi considerado um sucesso em seu lançamento pela temática futurista e abstrata. Porém, o gameplay é repetitivo e enjoativo, fazendo com que o grande público o abandonasse alguns meses depois.


Space Seeker

Um shooter bastante ousado e avançado para a época de seu lançamento, 1981. Começamos em nossa base, onde rastreamos o planeta com um radar e analisamos o movimento dos inimigos, localizando suas bases e esquadrões de naves. Usando um cursor, podemos escolher qual será nosso alvo.

A ação depende do tipo de alvo que selecionamos. Se for uma base, atacamos com um caça bombardeiro em um sidescroller horizontal, o famoso “jogo de navinha”, em que devemos aniquilar as instalações inimigas em uma invasão vista em terceira pessoa. 

Por outro lado, se selecionarmos uma nave, entramos em um confronto que simula um combate 3D em primeira pessoa, onde enfrentamos os esquadrões inimigos como se estivéssemos sentados no cockpit de um caça.

Space Seeker oferece um gameplay surpreendentemente sofisticado para um título do início da década de 1980, com jogabilidade variada e ótimos gráficos.


Elevator Action

Outro destaque da coletânea, um dos jogos mais icônicos da Taito e o meu favorito pessoal nessa biblioteca. Trata-se de um shooter de ação em plataformas, onde encarnamos um espião que invade um edifício infestado de inimigos para roubar planos super secretos.

O espião infiltra-se no topo do prédio e pode usar elevadores e escadas rolantes para navegar entre os andares. Os planos secretos estão escondidos atrás das portas vermelhas, que devem ser invadidas. Depois de coletar todos os documentos, o jogador deve escapar através do porão do edifício, onde um carro de fuga o espera.



Quando está num elevador, o espião pode controlar seu movimento usando os direcionais para cima ou para baixo. O jogador pode abater os inimigos atirando neles, usando golpes de caratê (saltando quando estiver próximo a um oponente), esmagando-os com o elevador ou derrubando luminárias em suas cabeças.

Elevator Action destaca-se pela sua jogabilidade precisa e divertida, e é considerado um dos maiores sucessos de todos os tempos da Taito.

Chack’n Pop

Um puzzle de plataforma e labirinto de 1984 em que controlamos o galinho Chack, que precisa libertar corações de gaiolas e escapar dentro do limite de tempo enquanto evita os inimigos. Felizmente, Chack é um galo muito especial, pois consegue andar pelo teto, desafiando a gravidade. Ele também é capaz de soltar bombas de fumaça, que causam um efeito em área.

Infelizmente, o protagonista é muito frágil e qualquer coisa que tocá-lo custará uma vida, inclusive a fumaça de suas próprias bombas. Você também perde uma vida se o limite de tempo se esgotar. O jogo termina quando todas as suas vidas se esgotarem.

Chack’n Pop não teve uma recepção boa nem mesmo à época em que foi lançado, devido à sua jogabilidade confusa, controles imprecisos e dificuldade exagerada. Essas falhas de game design fazem com que seja um título que você experimente talvez por alguns minutos antes de abandoná-lo para sempre.


The FairyLand Story

Um puzzle de ação em plataformas bem simples, lançado em 1985 e antecessor do aclamado NewZealand Story. Aqui controlamos a bruxinha Ptolemy, que pode usar sua varinha mágica para transformar seus inimigos em docinhos por uma quantidade limitada de tempo.

Quando estão no formato de doce, os oponentes ficam vulneráveis e podem ser empurrados por Ptolemy para fora da plataforma. Se o doce cair sobre outros inimigos, todos são derrotados e o jogador ganha uma pontuação bônus. 

O objetivo da bruxinha é eliminar todos os inimigos do mapa sem tocar neles, o que custará uma vida. Ao concluir uma fase, somos levados a outro estágio com os mesmos objetivos, mas plataformas e inimigos diferentes. É um joguinho bastante simples, mas muito divertido.


Halley’s Comet

Um shooter scroller vertical de 1986 em que controlamos um caça espacial que precisa defender a Terra do ataque de cometas. São dois estágios por planeta do Sistema Solar em que combatemos ondas de naves inimigas, asteroides e cometas. Alguns asteroides liberam power-ups que aumentam nossa capacidade de combate, ampliando nossos tiros, fornecendo escudos ou naves drone auxiliares.

O diferencial de Halley’s Comet em relação aos demais shooters é que cada cometa que deixamos passar sem abater rumará em direção à Terra, causando danos no planeta. Se esses danos chegarem a 100%, a aventura termina, independentemente da quantidade de naves que temos em nossa reserva de vida.


The Ninja Warriors

Um beat’em up sidescroller de 1987 que causou grande sensação porque usava o mesmo gabinete do shoot’em up Darius, que juntava três monitores em um, combinados em um arcade com tela super widescreen com o triplo do tamanho de um arcade convencional. Ele possui similaridades com outros jogos lançados à época, como Shinobi, da Sega e Vigilante, da Data East, mas sua tela enorme era um grande atrativo.

A história se passa no “distante futuro de 1993”, onde os ninjas cibernéticos Kunoichi (jogador 1) e Ninja (jogador 2) precisam derrotar o exército terrorista do rei-demônio Banglar, que assumiu a presidência dos Estados Unidos. O jogador pode fazer ataques à distância com shuriken usando o botão A, ou ataques de curta distância com a kunai usando o botão B. As shurikens têm munição limitada, mas as kunais podem ser usadas à vontade.


Ausências notáveis

A questão é que, dos dez títulos apresentados em Taito Milestones, sete podem ser comprados de forma avulsa na eShop: Alpine Ski, Elevator Action, Wild Western, Front Line, The Fairyland Story, Halley's Comet e The Ninja Warriors. Os três únicos exclusivos, que no momento não podem ser comprados individualmente, são Qix, Space Seeker e Chak’n Pop.

Provavelmente faz mais sentido comprar os jogos que você mais gosta por 7,99 dólares cada, ao invés de pagar os 39,99 dólares de Taito Milestones e levar um punhado de games que provavelmente você não faz tanta questão de ter.

Também é frustrante a ausência de títulos extremamente importantes da história da Taito, que fariam muito mais sentido nessa coleção. A primeira vez que li a lista de títulos inclusa no pacote, eu me perguntei “onde está Space Invaders?”. A mesma pergunta vale para Arkanoid, Bubble Bobble, Chase H.Q., Rainbow Islands, Phoenix, Rastan, Darius, Renegade, Densha de Go! e tantos outros clássicos que tornariam a coletânea muito mais atraente.



A coleção poderia ser enriquecida com uma breve história que contasse por que seus integrantes são relevantes, com curiosidades, trivias ou até mesmo uma galeria com músicas, propagandas da época, fotos dos gabinetes de arcade, ou o nome dos programadores dos jogos. Infelizmente, o único recurso extra adicionado para cada um foi um manual extremamente simples, que se limita a descrever superficialmente os objetivos e a ação dos botões.

Poderia ser melhor

Taito Milestones é um emulador bastante simples que, para o público geral, pode ser pouco atrativo pela simplicidade das obras que o compõem e a ausência de recursos extras. Eu considero que a seleção de dez jogos é pequena demais, comparando com outras coletâneas já lançadas, como Taito Legends e Taito Memories. Embora eles representem estilos variados, senti a ausência de títulos de maior peso, mais significativos para o legado da Taito.

Eu recomendo este produto àqueles que tenham interesse pela história dos arcades e desejam conhecer títulos de gêneros variados da Taito no início de sua trajetória. Para quem tiver interesse específico em alguns jogos desta coleção, pode ser mais apropriada a compra individual na eShop.

Prós

  • Coletânea com boa diversificação de gêneros;
  • Controles totalmente configuráveis;
  • Possibilidade de jogar com a tela na horizontal ou vertical;
  • Inclui manuais digitais simplificados dos jogos.

Contras

  • Poucos jogos de peso;
  • Impossibilidade de rebobinar e gravar pontos de salvamento individual; 
  • Ausência de extras como galeria de imagens, músicas ou curiosidades sobre os jogos.
Taito Milestones - Switch - Nota: 6.0
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela ININ Games

é engenheiro eletrônico e tem uma filha fofinha que tenta morder os controles do papai. Curte jogos de luta, corrida e ação.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google