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Análise: Birushana: Rising Flower of Genpei (Switch): o caminho de uma samurai

A visual novel otome traz a jornada de uma garota para encontrar o seu próprio caminho no Japão feudal.

Situada em um contexto do Japão feudal, Birushana: Rising Flower of Genpei é uma visual novel do gênero otome. Isso significa que a jornada da protagonista Shanao é marcada também pela opção de se envolver romanticamente com uma variedade de rapazes. Junto deles, ela terá a chance de ver outros lados de um grande conflito que dura gerações.

Carregando no sangue o legado de um clã

Inspirado na coletânea de contos japoneses conhecida como Heike Monogatari, Birushana conta a história de Minamoto no Yoshitsune. Essa figura histórica foi central na disputa entre os clãs Minamoto (mais conhecidos como Genji) e Taira (os “Heike”) pela supremacia no Japão durante o fim do século XII.

Porém, o jogo conta uma versão alternativa em que o rapaz, na verdade, era uma garota. Em uma posição complicada de “última herdeira dos Genji”, ela acaba sendo criada como um rapaz no templo Kurama. O local próximo à capital Kyoto leva a uma constante perseguição da sua pessoa pelos Heike.

Antes de se chamar Yoshitsune, a protagonista é conhecida como Shanao. O jogo acompanha a história dela desde o conflito que a força a sair do templo Kurama até as intrigas do fim do governo Heike. Apesar de não ser totalmente preciso na sua representação desses eventos históricos, Birushana ainda assim representa vários detalhes do período.

Dentro desse contexto todo, chama a atenção em particular o desenvolvimento de Shanao. Inicialmente, a personagem está muito confusa. Ela sonha com um mundo pacífico e teme que o abuso de poder dos Heike seja um empecilho para isso. Hesitante em assumir o legado dos Genji e lutar para revivê-lo, ela logo se verá diante de uma situação em que precisará ter determinação e coragem.

Vale destacar que a obra conta com um dicionário interno com explicações dos termos referentes a esse período. Porém, em alguns momentos específicos da história, a opção por não traduzir certas expressões não parece ser tão adequada, com explicações que deixam claro que o termo não é tão peculiar e intrinsecamente relativo à cultura japonesa. Isso também acaba dando uma sensação de inconsistência, já que existem momentos em que há tradução e outros que mantêm termos em japonês.

Caminhos para uma samurai

Como Birushana é um otome game, temos várias rotas de história, cada uma delas associadas a um dos seus potenciais interesses românticos. Dependendo das escolhas tomadas, a protagonista terá mais afinidade com um deles e há até mesmo finais alternativos em que Shanao pode ficar mais íntima de personagens secundários.

Apesar das rotas terem vários elementos em comum, principalmente no que tange o acontecimento de eventos históricos, cada uma mostra detalhes diferentes. Isso inclui não apenas o romance da protagonista, mas também detalhes sobre o seu passado. Por exemplo, uma das rotas desenvolve com mais clareza a origem do poder místico que a personagem carrega e ativa em alguns combates da história.

Outra coisa que chama a atenção é a forma como esses relacionamentos se desenvolvem. Mais do que apenas o romance, existem outros afetos envolvidos na trama. Shanao foi criada como uma guerreira e é possível ver como isso afeta os laços dela com os interesses românticos, que vão desde a relação entre senhor e vassalo até uma inimizade profunda por um dos rapazes que está no lado oposto da guerra.

Além dos relacionamentos, as decisões também implicam no desenvolvimento de Shanao dentro de três atributos (força, inteligência e gentileza). Esses fatores são testados em determinados pontos da trama como se fosse um RPG de mesa e a inadequação do jogador levará a um final prematuro (“bad ending”).

Porém, não é uma questão de apenas maximizar os atributos, já que a exigência pode ser justamente ter nível baixo de um desses fatores . Por exemplo, em uma rota, não ter muita força é requisito para não deixar o inimigo perceber que Shanao é uma espiã. Em outra, ser muito gentil deixará a personagem incapaz de resistir aos jogos mentais de um manipulador perspicaz. Esse equilíbrio tênue é algo que o jogador vai precisar descobrir ao longo do tempo, explorando as possibilidades aos poucos.

Vale destacar que o jogo conta com um flowchart bastante detalhado que permite ao jogador revisitar os eventos após obter um dos finais. Basta selecionar um ponto da história, e o jogador pode definir todos os parâmetros, atribuindo a eles e aos relacionamentos valores máximos ou mínimos.

Também é possível usar o log para voltar em eventos lidos anteriormente e refazer escolhas. Isso pode ser importante pois infelizmente as opções nem sempre são muito claras. Com isso, o jogador pode precisar ver os resultados primeiro para melhor definir qual decisão tomar.

Revivendo um passado intrigante

Como um drama histórico, Birushana tem um forte trabalho de reconstrução e reimaginação da vida naquele período. Ao pensar nos cenários, é perceptível o contexto mais bucólico representado nas várias áreas em que a natureza se destaca. Porém, de todos os cenários, o que mais se destaca é um que mostra o combate entre barcos, tendo várias figuras visíveis de ambos os lados do combate.

Os figurinos dos personagens, incluindo NPCs cuja face é obscurecida por chapéus de samurai, são bastante charmosos. Além de retratar o tipo de roupa usualmente associado ao período, há um esforço em fazer cada personagem ter um estilo distintivo por suas cores e padrões de desenho.

A arte de Haneda Kouji também tem um traço muito marcante que dá uma forte sensação de textura à obra. É como se fosse possível ver as linhas de pintura e que os tecidos em particular tivessem poros. Aliado ao belo emprego de cor, o resultado é que, mesmo em momentos mais estáticos, a obra chama a atenção, especialmente quando o Switch está na dock, sendo possível notar melhor esses detalhes em uma TV grande.

Porém, a direção de arte não para em elementos estáticos também. Como os conflitos são uma parte essencial da obra, há vários momentos de animação de combate. Eles são feitos de forma simples, envolvendo movimentação dos sprites pela tela e o emprego de alguns efeitos especiais, mas a espacialidade envolvida nisso e o uso de sprites de costas ajuda a realmente deixar as cenas dinâmicas. Há também movimentação labial.

A trilha sonora nem sempre acompanha essa direção detalhista. Apesar de gostosas de ouvir, algumas músicas parecem genéricas o suficiente para estar em qualquer tipo de visual novel. Porém, há outras em que o uso de instrumentos japoneses formam o par perfeito para eventos mais importantes. Por outro lado, a dublagem exclusivamente em japonês é totalmente consistente e bem empregada do início ao fim, até mesmo nas vozes de NPCs menores.

Uma bela flor no campo de batalha

Birushana: Rising Flower of Genpei explora de forma curiosa uma história alternativa inspirada em Heike Monogatari. Com personagens carismáticos e uma bela direção no que tange a representação gráfica do período e do combate, a história de Shanao é um otome game de alta qualidade. Fãs de visual novels históricas em particular definitivamente irão apreciar o jogo.

Prós

  • Personagens carismáticos, especialmente a multifacetada protagonista em sua jornada para encontrar o seu próprio caminho;
  • Sensação de espacialidade e movimentação dinâmica explorada nas cenas de combate;
  • Flowchart com opções detalhadas ajuda o jogador a fazer a rota que quiser com facilidade;
  • Direção artística que reflete bem o contexto histórico.

Contras

  • Escolhas ambíguas atrapalham a clareza da seleção de rotas;
  • Alguns termos são mantidos em japonês sem necessidade e de forma inconsistente.

Birushana: Rising Flower of Genpei — Switch — Nota: 8.0

Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Idea Factory International


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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