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Análise: RE:CALL (Switch) brinca com o conceito de memórias e realidade

Jogo argentino de aventura convida o jogador a mudar o passado para alterar o presente.

Desenvolvido por maitan69, RE:CALL é um jogo de aventura com uma premissa bastante curiosa. Ao revisitar flashbacks, é possível alterar as suas memórias e, com isso, a realidade. Cabe ao jogador entender o passado para moldá-lo em prol de um destino melhor.

Re:memorando

RE:CALL conta a história de um jovem rapaz chamado Bruno Gallagher, que sempre sofreu bullying por ser gordo. Com problemas para socializar, o personagem não tem amigos e tem uma autoestima muito baixa. Acostumado a uma vida mundana, um dia ele começa a sentir uma presença o observando e guiando.
Mal sabia ele o que o esperava quando, pouco tempo depois, é convidado para uma festa na casa da ricaça Henrietta Albarn. Ao voltar do lugar, ele precisa se lembrar da festa e descobre a sua capacidade de alterar os eventos do passado. Conforme o personagem se acostuma com esse poder, a trama vai evoluindo para elucidar os mistérios das figuras excêntricas da cidade.
 
Com isso, a trama explora um conceito curioso de alterar a realidade fazendo com que as escolhas formem um verdadeiro “puzzle textual”. Cabe ao jogador testar as possibilidades e ver como elas afetam o desenrolar da trama, chegando enfim a uma “solução ideal”.
 
Em termos da narrativa em si, é interessante como o jogo combina esse elemento aparentemente sobrenatural e metalinguístico (jogador como uma existência percebida por Bruno) com uma discussão social simples, mas crível e de fácil empatia. Aos poucos, as coisas vão sendo melhor explicadas e a trama como um todo é agradável, mas ainda ficam pontas soltas mesmo após o final. Graças a isso, terminar o jogo acaba sendo um pouco menos satisfatório do que alguns momentos da trama, como o crescimento pessoal de Bruno.

Re:virando tudo

RE:CALL é um jogo de aventura que alguns jogadores poderiam considerar como visual novel devido ao alto foco textual. Porém, cada capítulo possui os seus bolsões de gameplay que exploram elementos como stealth e resolução de puzzles além do desafio envolvido nas escolhas textuais.
Desde o prólogo, já podemos ver como isso funciona, com as nossas escolhas alterando a disposição de criminosos em uma espécie de covil. Uma escolha específica permite ao jogador entrar em uma sala e pegar uma senha que pode ser usada em outra; por sua vez, esse segundo local só pode ser acessado voltando ao início e escolhendo outra opção.

Apesar de parecer uma aventura simples a princípio, a exploração das áreas consegue se manter fresca até o final graças às variações mecânicas. Infelizmente, pelo próprio conceito do jogo, há uma tendência à repetição, o que pode ficar enfadonho em alguns momentos. A obra até faz alguns esforços para evitar isso, pulando alguns textos já vistos e até fazendo três caminhos diferentes em uma área próxima ao final, mas ainda é um incômodo considerável.

O que acaba tornando tudo mais inconveniente é que a progressão que é mantida após o game over é um tanto inconsistente entre capítulos. Às vezes, o jogador terá que fazer tudo novamente desde o início, mas em outros casos dá para continuar de um ponto específico da memória com ações já realizadas.
 
Além de tudo que comentei até aqui, gostaria de destacar que o jogo é argentino, sendo possível jogá-lo apenas em espanhol ou inglês. A segunda opção de língua conta com alguns erros de escrita e digitação que podem ser incômodos e, em ambos os casos, o jogo não possui um log para reler os diálogos. Por fim, o visual em pixel art bem colorido e a trilha com toques primariamente eletrônicos ajudam a compor uma atmosfera envolvente de investigação em um mundo moderno.

Re:comendável

RE:CALL é um jogo de aventura agradável que brinca com o conceito de realidade através de memórias. A experiência é facilmente recomendável para quem curte o gênero, apesar de os pequenos errinhos impedirem o título de se tornar algo ainda mais memorável para todo tipo de jogador.

Prós

  • Conceito interessante de “puzzle textual” com alteração da realidade;
  • Atmosfera agradável construída com visual pixel art e trilha eletrônica;
  • A exploração consegue se manter fresca com algumas mudanças mecânicas ao longo do jogo;
  • Narrativa com discussão social crível e de fácil empatia.

Contras

  • Inconsistências na progressão em caso de “game over” podem deixar o jogador um pouco confuso;
  • O final acaba sendo pouco satisfatório graças às pontas soltas;
  • Alguns momentos de repetição acabam sendo maçantes, especialmente próximo do final;
  • O texto em inglês conta com alguns erros de escrita e digitação;
  • Ausência de log de diálogos.
RE:CALL — Switch/PC/XBO — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Whitethorn Games


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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