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Análise: Moving Out 2 (Switch): inovação certeira e manutenção de uma diversão consagrada

Esta sequência do excêntrico mundo das mudanças não traz muitas novidades de gameplay, mas soube onde evoluir em relação ao seu antecessor.

Em pleno 2023, eu achava que a febre dos simuladores caóticos cooperativos, iniciada em 2016 com Overcooked, já estava passando, mas eis que a SMG Studio, a Devm Games e a Team17 provaram o contrário com Moving Out 2, uma continuação pela qual eu ansiava desde o lançamento do primeiro game em 2020, mas que não tinha certeza se de fato existiria.


A nova aventura desvia pouco da fórmula do Moving Out original, o que pode decepcionar a quem esperava por uma experiência mais revolucionária, mas todos os pontos positivos (e alguns negativos, infelizmente) estão de volta, e junto deles vem um conteúdo inédito muito bem construído e um humor pastelão impagável.

Mudanças fora de órbita e além

Após toda a confusão com a gangue de ratos, os incansáveis funcionários da Leva e Traz (Smooth Moves) passaram por uma reciclagem e estão prontos para retornar ao trabalho no frenético ramo das mudanças em Caixópolis (Packmore). Porém, logo no primeiro dia de volta, um desastre de proporções épicas acontece e não apenas nossos heróis (?) espalham móveis por todo o multiverso, como o Chefe deles acaba sendo transportado sabe-se lá para onde!




Agora, esses intrépidos trabalhadores precisam consertar o estrago que causaram e salvar o patrão — afinal, alguém precisa pagar o 13º no fim do ano. A Leva e Traz ultrapassa os limites de Caixópolis, do planeta Terra e até mesmo do nosso universo, desbravando dimensões aonde nenhum profissional das mudanças jamais foi.

Sem maiores spoilers (não que alguém se importe), esta é a simpática e bem-humorada (e dispensável) trama de Moving Out 2. Começamos a labuta por imóveis comuns, como casas, fábricas e fazendas, para em seguida atravessar portais e encarar mudanças literalmente de outros mundos — ou melhor, universos, já que aparentemente nem os jogos indies estão escapando de receber o tratamento do multiverso.

Pode copiar, só não faz pior

Um conceito sobre o qual eu já falei em alguns dos meus textos é o de “mais do mesmo”, e como ele pode ser usado com eficiência, no caso do DLC de Cuphead; ou com pouco brilho, que foi o que aconteceu com o segundo conteúdo adicional de Mario + Rabbids Sparks of Hope. Eu diria que Moving Out 2 vai mais pelo caminho de Xicrinho e Caneco, mas com algumas diferenças.




A essência da jogabilidade se mantém: transportar objetos de diferentes tamanhos e pesos dentro de um local para a área designada, geralmente um caminhão de mudança. Conforme vamos progredindo na campanha, o nível dos desafios vai aumentando e diferentes obstáculos vão surgindo. As únicas “armas” no arsenal dos nossos personagens são o bom e velho pulo; o arremesso de objetos; e os tapas (cuidado para não estapear os coleguinhas).

O elemento-chave para os desafios é a rapidez. As fases têm dois limites de tempo: o profissional e o mínimo, que rendem uma estrela cada. Também atendem ao mesmo propósito os três objetivos extras que envolvem cumprir requisitos variados, como quebrar todas as janelas ou carregar um objeto específico para o caminhão. As tais estrelinhas servem para subir nosso nível de profissional de mudanças, que infelizmente precisa estar em constante crescimento para que possamos progredir na campanha.

Aqui eu traço o primeiro paralelo entre as duas entradas da série, pois assim como em seu antecessor, Moving Out 2 traz nesse sistema de missões extras um problema um tanto quanto irritante: boa parte dos estágios tem objetivos que se contradizem ou cujo cumprimento em uma única tentativa é praticamente impossível. O exemplo mais sintomático é exigir, em uma mesma fase, que você quebre todas as janelas e que não quebre nenhuma.




Seguindo em frente com os retornos, temos os itens cosméticos, que, além de poderem ser encontrados dentro das próprias fases, agora estão espalhados também em locais ocultos no mapa geral de Caixópolis; o mesmo vale para os Caixotes de Personagem, que compõem um elenco ainda mais diverso com a chegada de muitos funcionários estreantes.

Para finalizar a retrospectiva, o Fliperama da cidade sobreviveu aos eventos do jogo anterior, então as fitas com estágios focados em desafios de plataforma integram novamente o conteúdo extra, e a mudança (juro que não foi de propósito) de ares em relação à gameplay principal é igualmente bem-vinda. Só achei estranho os nomes das fases não estarem localizados para nenhum idioma exceto o inglês, mas vida que segue.

Quando as mudanças não ficam só no campo dos móveis

Para não acabar produzindo um exemplar do temido “O Mesmo Jogo 2”, a SMG e a Devm trataram de incrementar a fórmula de Moving Out com o devido cuidado para não desvirtuar demais a proposta de ser um simulador de mudanças com física desengonçada, que já provou ser bem-sucedida.

As principais novidades estão na estrutura das fases, que em alguns casos alteram, por exemplo, o local de desova dos objetos, substituindo o caminhão solitário por múltiplas áreas para itens de naturezas diferentes, como um cercadinho distinto para porcos, galinhas, vacas e ovelhas.




É engraçado como uma modificação tão simples pode fazer tanta diferença positiva para a experiência nos quesitos dificuldade e diversão, e quando chegamos às etapas no multiverso, fica ainda melhor, pois cada dimensão tem uma mecânica distinta em suas fases, que vão ficando progressivamente mais complexas de um jeito único graças a esses artifícios.

Não precisar fazer literalmente a mesma coisa em uma jornada que apenas muda os cenários faz um bem danado no combate à repetitividade, um dos principais males de títulos do gênero. Basicamente, não tem segredo: após uma determinada quantidade de fases, insira um novo elemento e não abuse dele por muito tempo. Fica aí a dica gratuita de game design (devs, por favor, não me xinguem).

A repetitividade não chega a ser eliminada por completo, pois a gameplay inevitavelmente se torna um pouco maçante, sobretudo mais para o final da campanha, mas sem a menor dúvida ela não incomoda tanto graças a esse reforço no conteúdo.

Carregando tudo sem ajuda

Na hora de analisar se vale a pena comprar um game cujo principal atrativo está no multiplayer cooperativo local, o principal pensamento que vem à mente é “mas será que presta se eu jogar por conta própria?”. No caso de Moving Out 2, mantenho a opinião que eu tenho do seu antecessor: não só vale, como vale muito!




As diferenças da experiência individual para a jogatina em grupo são as mesmas do título anterior: o funcionário solitário ganha um bônus de força, se tornando capaz de carregar qualquer objeto; dependendo do tamanho, porém, continua não sendo possível arremessar certos itens.

Apesar de sempre preferir jogos multiplayer, eu tenho uma vontade frequente de testar limites e superar desafios naquele tempinho só para mim, e as maluquices do mercado imobiliário de Caixópolis e demais universos caem como uma luva, pois o planejamento necessário para encaixar tudo dentro de um caminhão de mudança no modo solo é completamente diferente de quando há outras mentes envolvidas no processo.

Por falar em outras mentes, Moving Out 2 até conta com um modo online, mas não tenho nem o que falar sobre ele, porque toda vez que tentei acessar os servidores da Team17, o jogo deu erro e fechou sozinho. Quando estiver tudo funcionando normalmente, quem sabe eu dê uma olhada, mas por enquanto fica o mistério.



Acessibilidade e referências com gostinho de Brasil

Vamos ver o que de fato funciona por aqui? É com muita alegria que eu trago dois dos principais aspectos técnicos do que já pode ser considerada uma identidade própria da agora franquia Moving Out.

Começando pelo mais importante, a SMG e a Devm tomaram com a acessibilidade mais uma vez o cuidado que toda desenvolvedora de games, grande ou pequena, indie ou AAA, deveria tomar, sem exceção. E nem é algo tão absurdamente complexo, são ferramentas bem primárias, mas que dão a muitas pessoas o simples direito de conseguir aproveitar minimamente o jogo.




Além do tradicional Modo Assistido, podemos configurar o tamanho das interfaces de usuário e ativar uma fonte para jogadores disléxicos, facilitando imensamente a leitura dos textos. A representatividade também marca presença, com a opção de jogar com a versão cadeirante de qualquer um dos funcionários da Leva e Traz.

Pode parecer apenas um detalhe cosmético, mas é um zelo que infelizmente não vemos com frequência não apenas na indústria de games; portanto, mantenho a esperança de que exemplos feitos com bom gosto como esse deixem de ser a exceção e passem a ser a regra.

Tão efetivo quanto os retoques de acessibilidade é o humor adotado ao longo de toda a gameplay, recheado de piadas que refletem uma situação absolutamente abusiva no ambiente de trabalho da Leva e Traz, cujos empregados são verdadeiros masoquistas fanáticos por trabalho e que não sentem nada além de admiração e respeito pelo seu “chefe” de papelão.




É nos diálogos que a comédia de Moving Out brilha, com piadocas que vão deixar qualquer representante das instituições brasileiras Quinta Série e Tio do Pavê nas nuvens de tanto orgulho, sem esquecer dos fanáticos por referências, que encontrarão um prato igualmente cheio nas menções a produtos da cultura popular feitas por trabalhadores descuidados que precisam ser interrompidos antes de render à empresa uma visita do Processinho.

Falando no nosso país, preciso deixar registrado que em alguns momentos precisei passar com os pés as conversas entre os personagens, pois minhas mãos estavam ocupadas aplaudindo a localização para o português brasileiro. Ainda não vi os créditos do jogo para descobrir quem são os responsáveis por essa obra-prima da tradução, mas saibam que vocês são meus ídolos e já quero conhecer todos vocês!

Mudança concluída e cliente satisfeito




Moving Out 2 não veio para estabelecer um novo patamar no gênero dos simuladores caóticos. Sua missão pende mais para a manutenção de uma fórmula comprovadamente eficiente, com mudanças que visaram mitigar os principais problemas do seu antecessor. Esse objetivo também foi cumprido, e o resultado é uma sequência que não é perfeita, mas rende diversão, bons desafios e muitas risadas — ou seja, faz o que um videogame tem que fazer, ainda que muita gente esqueça disso.

Prós:

  • Retorna com a fórmula comprovadamente eficiente do seu antecessor, mas implementa mudanças que melhoram os quesitos dificuldade e diversão, e diminuem consideravelmente o impacto dos defeitos;
  • A jogatina individual não apenas é válida, como oferece um excelente modo de jogo para quem gosta de se provar por conta própria;
  • O Fliperama traz novamente uma bem-vinda mudança de ares em relação à gameplay principal;
  • As opções de acessibilidade, a diversidade e o bom humor seguem sendo marcas registradas do excelente trabalho das equipes de desenvolvimento da franquia, com destaque para a localização para o português brasileiro.

Contras:

  • Os objetivos extras das fases continuam apresentando algumas contradições entre si;
  • Apesar de mitigada pelas novidades da sequência, a repetitividade ainda marca presença principalmente mais para o final da campanha;
  • O modo Online está inacessível devido a um erro que fecha o jogo sozinho.
Moving Out 2 — Switch/PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela Team17

Apaixonado por jogos desde criança, principalmente pela Nintendo. Seja Indie ou AAA, os videogames vão estar sempre no meu coraçãozinho, com um espaço especial para multiplayers!
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