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Análise: Mon-Yu (Switch) é um interessante experimento para repensar os dungeon RPGs

Com sistemas curiosos para avaliar a habilidade do jogador, Mon-Yu se mostra uma forma curiosa de retrabalhar o gênero.

Mon-Yu: Defeat Monsters And Gain Strong Weapons And Armor. You May Be Defeated, But Don’t Give Up. Become Stronger. I Believe There Will Be A Day When The Heroes Defeat The Devil King.
é o mais novo RPG dungeon crawler da Experience, uma empresa já bem tradicional no gênero. Desenvolvido em parceria com a Poppy Works, Mon-Yu traz uma proposta diferente do usual do mercado, desafiando o jogador a focar menos no grinding e mais na sua competência estratégica.

Mergulhando em uma fantasia simples

Em Mon-Yu, controlamos uma equipe de aventureiros convocados de outro mundo para ajudar o reino das fadas a recuperar seus tesouros. Para fazer isso, será necessário entrar em uma grande torre e derrotar os Sete Reis Demônios que a transformaram em seu território com o poder desses artefatos místicos.

Cabe ao jogador montar os seus próprios personagens e explorar a dungeon nesse mundo de alta fantasia. Embora conte com uma ambientação medievalesca clássica, vale destacar que a trama está longe de ser o ponto principal da experiência.

O foco de Mon-Yu é total na gameplay e esses elementos de mundo são apenas para justificar a jornada, tendo pouquíssima presença durante boa parte do jogo. Isso não é algo incomum no gênero, sendo fácil pensar em outros exemplos que buscam apenas dar um pano de fundo para a exploração, como no caso de Wizardry: Labyrinth of Lost Souls, porém é importante ter em mente esse detalhe para não exigir erroneamente do jogo uma narrativa mais complexa.

Os primeiros passos do aventureiro

A primeira parte de se aventurar por Mon-Yu é criar a sua equipe, escolhendo o nome, a aparência e a profissão (classe) dos seus personagens. Ao todo, é possível levar até seis guerreiros de cada vez para as dungeons, com uma formação fixa de três na vanguarda e os outros três na retaguarda. Aliados na linha de trás serão menos atacados, mas não conseguem atingir inimigos com armas de curta distância, sendo fundamental pensar com cuidado as classes ideais para cada posição do time.

Apesar dessa restrição, um aspecto bem interessante do jogo é que alterar a configuração da equipe é trivial. Embora o jogador possa ficar criando vários aliados se quiser, a mudança de classe não tem custo e também permite realocar os pontos de atributos de cada um. Vale destacar que isso não afeta a quantidade de pontos bônus que eles possuem no início, sendo importante tentar conseguir uma pontuação alta (na casa dos 20 para cima) para fazer um personagem verdadeiramente forte. Esse sistema é um elemento tradicional de dungeon crawler e pode ser bem frustrante de se lidar, mas felizmente temos um botão conveniente de Reroll e podemos usá-lo para tentar forçar a obtenção de bônus altos.

Uma vez definida a equipe, vamos para a dungeon e nos deparamos com um detalhe muito curioso: cada andar da torre possui um “level cap”, ou seja, uma restrição de nível máximo possível de se alcançar. É aqui que temos a grande sacada do jogo: este é um RPG que quer valorizar que você pense bem a sua estratégia em vez de te deixar atropelar tudo como um trator.

Almejando o rank S

Em Mon-Yu, cada andar é tratado como um desafio em que a sua performance para derrotar o chefe será avaliada. São três as categorias: nível, número de turnos e a quantidade do mapa que foi explorada até alcançá-lo. A ideia é que vencer o boss em um nível baixo sem gastar muitas ações será recompensado com uma avaliação melhor e recompensas na forma de tesouros melhores ao derrotar os inimigos e cristais. Se o jogador quiser uma experiência mais relaxada, pode ignorar tudo e aproveitar as vantagens de ter um nível mais alto, mas vai ficar com a marca de não ter batido o desafio que o jogo realmente propõe.

Se quiser se desafiar, porém, o jogador conta com opções fantásticas de controle da sua equipe. Assim como no caso da classe que pode ser alterada com facilidade, o nível e as habilidades dos personagens são facilmente ajustáveis. Em vez de ganharmos nível sempre que chegamos a um certo valor de experiência, nós só temos um aviso de que alcançamos a marca necessária para evoluir e podemos fazer o Level Up quando quisermos. Da mesma forma, o menu de estatísticas dos aliados também possui um Level Down, que permite enfraquecer um aliado, ajudando o jogador a enfrentar os desafios das áreas sem ficar impedido de alcançar o rank máximo do andar.

Já as habilidades possuem um sistema praticamente separado de evolução em que os personagens ganham pontos para alocar após várias batalhas. Cada classe possui uma lista de poderes que podem ser desbloqueados com esses pontos, que podem ser ativas, como um golpe que perfura a defesa do inimigo, ou passivas, como a capacidade de empunhar duas armas. Esses pontos podem ser retirados quando o jogador quiser, permitindo ajustar com muita facilidade a sua build para um contexto específico em que talvez um poder seja situacionalmente pior, como inimigos resistentes a uma magia.

Infelizmente, apesar dessa maleabilidade toda, as classes possuem pouca variedade em suas opções de habilidade. Isso reduz consideravelmente o que o jogador consegue fazer. Da mesma forma, vale destacar que o jogo possui um sistema de equipamentos que podem ser melhorados com o uso, ganhando níveis ao derrotar os inimigos, mas é fácil sentir falta de mais variedade de fato nas opções de cada tipo de arma.

Explorando o labirinto

Mon-Yu também tem algumas outras peculiaridades quando o assunto é exploração. Primeiramente, vale destacar que os inimigos podem ser vistos no mapa, não havendo encontros aleatórios. Eles também são categorizados por cores, que indicam o seu comportamento: inimigos azuis vão fugir de você, vermelhos ficam parados, verdes realizam um movimento pré-programado e roxos te perseguem.

Conforme exploramos cada região, encontramos pequenos desafios, como ter que derrotar um inimigo em outra área para poder atrair o boss ou só poder avançar após derrotar todos os oponentes em uma sala fechada. Uma vez derrotado o boss, também obtemos poderes especiais que afetam a movimentação (revelar portas ocultas nas paredes e pular) ou o combate (sistema de Clan Skill).

Com o sistema de Clan Skill, podemos usar poderes como reduzir o dano durante um turno ou melhorar a velocidade e as taxas de acerto e evasão. Uma vez desbloqueada, essa mecânica faz uma diferença enorme em combate, mas não é possível usá-la em turnos consecutivos, sendo importante medir o momento ideal, especialmente ao lidar com chefes e inimigos que podem utilizar golpes muito poderosos em um turno, por exemplo.

Dois pontos interessantes de qualidade de vida do jogo são os níveis de dificuldade e os saves. Logo ao começar a campanha, podemos selecionar se queremos uma experiência mais relaxada ou mais desafiadora, o que afeta o nível máximo que podemos atingir em cada andar e se conseguimos mapear as áreas ou precisamos encontrar um inseto especial. Sempre é possível reduzir a dificuldade, mas não dá para voltar para a opção mais complexa. Apesar disso, poder escolher o desafio desejado é muito bem-vindo.

Da mesma forma, Mon-Yu conta com saves automáticos, mas é possível salvar manualmente a qualquer momento também. Ter as duas opções é muito útil, facilitando consideravelmente a exploração. Caso um personagem morra, basta voltar para a cidade para ressuscitá-lo, e, caso a equipe inteira seja dizimada, somos automaticamente transportados para o Castelo da Rainha Eternia, que também aumenta levemente nosso HP e MP para as batalhas subsequentes.

Outro elemento de comodidade bem-vindo é a possibilidade de selecionar um ponto do mapa para a equipe se movimentar automaticamente até lá. Por fim, apesar dos elementos curiosos de exploração, as áreas do jogo são bem repetitivas visualmente, um problema clássico do gênero.

Uma proposta criativa

Mon-Yu é uma excelente adição à biblioteca de dungeon crawlers, com uma proposta criativa e inusitada, mas que foi muito bem montada. Para quem já tem experiência no gênero, em especial, trata-se de um muito bem-vindo ar puro para demonstrar como é possível modernizar esse nicho de RPGs sem perder a sua essência desafiadora.

Prós

  • Sistema de avaliação de performance valoriza o esforço estratégico do jogador;
  • Os tesouros obtidos ao terminar cada área da dungeon afetam significativamente a exploração e o combate;
  • Alterar a configuração da party é trivial, permitindo que o jogador explore múltiplas combinações com facilidade;
  • Níveis de dificuldade ajudam a modularizar a experiência;
  • Saves automáticos e a possibilidade de salvar manualmente a qualquer momento são uma comodidade bem-vinda.

Contras

  • Visualmente, as áreas são bem repetitivas;
  • Pouca variedade de habilidades dentro de cada classe acaba impactando as possibilidades estratégicas de build;
  • Trama incidental e básica que serve apenas para justificar superficialmente a jornada;
  • Mesmo com o botão de Reroll, o sistema de sorte para definir os bônus de atributos dos personagens é desnecessariamente frustrante.

Mon-Yu — Switch/PC/PS5 — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Switch

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Aksys Games


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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