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Análise: Silent Hope (Switch) é um RPG de ação encantador, porém com parte de seu potencial inexplorado

Apesar das ressalvas, o jogo é mais uma adição de qualidade à biblioteca do Switch.

Com lançamento agendado para o dia 3 de outubro, Silent Hope surge como a mais recente oferta da Marvelous para os detentores do Nintendo Switch. Embora se trate de um RPG de ação com uma jogabilidade bastante envolvente, o jogo deixa a sensação de que poderia ter ido um pouco além do que entregou.

Um reino em silêncio

A trama de Silent Hope se passa em um reino que outrora irradiava felicidade e serenidade. Contudo, em determinado momento, o rei selou a linguagem dos seus súditos e partiu para um local conhecido como Abismo, permanecendo desaparecido desde então.

Diante dessa triste situação, a filha do monarca passou anos a fio chorando, até que suas lágrimas se cristalizaram, envolvendo-a por completo. Felizmente, seu intenso desejo de reencontrar o pai parece ter surtido algum efeito, pois sete guerreiros misteriosos aparecem para aplacar o desespero da sucessora ao trono.

Neste contexto, de maneira inexplicável, a princesa consegue estabelecer uma comunicação telepática com esses indivíduos, instruindo-os a adentrar o Abismo em busca do rei desaparecido e desvendar o mistério por trás deste estranho evento. Assim, cabe ao jogador, na pele desses heróis, explorar esse inóspito local em busca de respostas.

Explorando o Abismo

Silent Hope é, em sua essência, um RPG de ação com perspectiva isométrica, assemelhando-se a títulos como os da série Diablo. A jornada se desdobra em cinco masmorras, cada uma delas repleta de andares e, naturalmente, inúmeros adversários. Durante a exploração, além de adquirirmos equipamentos, coletamos itens que funcionam como matéria-prima para criar uma variedade de produtos que podem ser utilizados de diversas maneiras, como detalharei mais adiante.

Para avançar pelos andares da masmorra, é necessário vagar pelo local até encontrarmos uma espécie de portal. Dessa forma, seguimos mais profundamente no Abismo até alcançar o chefe no nível mais baixo; após derrotá-lo, avançamos para uma área diferente, onde o ciclo recomeça.


Morrer durante uma expedição acarreta penalidades, como a perda de parte dos itens transportados e o regresso à base, obrigando-nos a reiniciar a área atual a partir do primeiro piso. Para proporcionar certo alívio, alguns andares possuem fogueiras que funcionam como checkpoints, evitando que a aventura sempre recomece do zero.

Outro elemento encontrado em alguns andares é um cristal, semelhante ao que envolve a princesa, que pode ser usado para regressar ao acampamento ou alterar o personagem usado. Vale destacar que utilizar essa função de troca de heróis durante a expedição confere diferentes vantagens, como o fortalecimento da vida ou da defesa.

Embora a estrutura principal das cinco dungeons seja bastante similar em termos de jogabilidade, cada uma delas exibe nuances visuais suficientemente distintas para criar a genuína sensação de estarmos explorando ambientes inteiramente diversos. É também durante esses momentos de aventura que ficamos sabendo mais detalhes sobre a história do reino. 

Enquanto a princesa nos fornece informações sobre o passado por meio de monólogos que acontecem em momentos pontuais da aventura, também podemos conferir o ponto de vista do rei por meio de textos deixados em estruturas de pedra sempre que vencemos um chefe. Infelizmente, não há opção de legendas em português no jogo.

Sete heróis, muitas possibilidades

No que diz respeito ao combate, cada personagem possui uma jogabilidade distinta, apresentando ataques e habilidades únicas. Embora cada herói comece com uma classe inicial (Wanderer, Warrior, Rogue, Archer, Farmer, Fighter e Caster), todos eles podem adquirir duas novas evoluções.

Os ataques são desferidos de forma simples, com um botão específico para os golpes normais e outros três para as skills, além de um para esquiva e outro para poção. Cada job possui três talentos diferentes, fazendo com que cada protagonista tenha um total de nove. Com as duas profissões superiores já adquiridas, o jogador é livre para escolher quais técnicas usará em combate, independentemente da classe ativa.

Além dessa diversidade, os ataques possuem tipos diferentes, sendo eles: slashing (cortante), blunt (esmagador), piercing (perfurante) e magic (mágico). Além disso, os golpes podem possuir os seguintes elementos: null (nulo), fire (fogo), ice (gelo), lightning (trovão), earth (terra), light (luz) e dark (sombra). Essas características são importantes pelo fato de cada inimigo ter suas próprias fraquezas e resistências.

Enquanto os tipos dos danos se referem às armas que os personagens usam, os elementos se originam de pedras que podem ser aplicadas nos equipamentos. Além do atributo mágico, essas rochas podem oferecer bônus, como melhorias de estatísticas ou aumento da experiência recebida.

Essa variedade gera um incentivo para o jogador experimentar diferentes personagens e builds, especialmente a partir da segunda campanha, quando um modo mais difícil é desbloqueado. Para jogadores acostumados ao gênero, pode não haver muita dificuldade em concluir o jogo uma primeira vez usando o mesmo herói e não prestando muita atenção aos elementos, mas essa abordagem torna-se mais desafiadora nas dificuldades superiores.

Para sobreviver à jornada, contamos com uma quantidade limitada de poções para recuperar a vida. Morrer com elixires restantes permite ao personagem gastar um para recuperar um pouco de saúde e continuar em combate; no entanto, caso nenhuma esteja disponível, caímos e sofremos as penalidades já descritas anteriormente.

Via de regra, esses remédios são restabelecidos apenas quando retornamos à base, e é justamente neste aspecto que reside a maior dificuldade do jogo, pois é preciso ter cuidado para chegar vivo a uma fogueira. Ademais, há regiões em que o último checkpoint fica um tanto distante do chefe, o que exige do jogador uma preparação prévia adequada.

Dessa forma, a esquiva desempenha uma função essencial, pois ela nos permite evitar a perda de vida e conservar as poções para serem usadas em situações mais difíceis, como nas lutas contra boss.

Em suma, o sistema de combate de Silent Hope é funcional e prazeroso, com personagens de jogabilidades distintas e uma grande variedade de equipamentos e combinações, proporcionando inúmeras possibilidades para experimentarmos. Além disso, a quantidade limitada de poções e checkpoints requer que o jogador deva sempre estar atento para conseguir avançar no Abismo.

Artesanato rico, simples e agradável

Fora das dungeons, passamos o nosso tempo na base, que contém algumas instalações importantes, a saber: Workshop, onde podemos processar madeiras; Atelier, local em que conseguimos converter minérios brutos em lingotes; Forge, que permite criar novos equipamentos; Farm, onde produzimos produtos de origem animal; Fields, em que plantamos diferentes tipos de hortaliças; e Kitchen, onde produzimos pratos que concedem diferentes efeitos durante a exploração.

Semelhantemente aos monstros, que homenageiam Rune Factory, muitas dessas produções também fazem referência a outra franquia da Marvelous, desta vez, Story of Seasons. Assim, muitos desses elementos possuem o mesmo visual que apresentavam nos títulos da série de simulação de fazenda, como as vacas gordinhas.

Embora esses sistemas sejam extremamente simplificados em comparação com os presentes em Story of Seasons, eles se encaixam perfeitamente na proposta de Silent Hope, funcionando de forma interdependente e fornecendo um nível de variedade essencial para cada nova tentativa no Abismo. 

Dessa forma, enquanto no Atelier e no Workshop refinamos as matérias-primas brutas, no Forge utilizamos esses materiais prontos para gerar novos equipamentos. O mesmo acontece com os produtos vegetais e animais, que são usados para produzir pratos que concedem bônus, como aumento de experiência e moedas adquiridas, resistência contra determinado elemento ou o aumento do dano crítico.

É importante mencionar que essas produções não acontecem de forma imediata e levam certo tempo para serem concluídas. Nesse sentido, à medida que utilizamos cada estrutura, ela pode aumentar de nível, possibilitando a fabricação de mais itens ao mesmo tempo. 

Essa combinação de crafting, culinária e exploração de dungeons cria um ciclo de gameplay bastante viciante e divertido, fazendo de Silent Hope um RPG de ação muito competente. As variações de efeitos passivos que os equipamentos e alimentos podem oferecer são diversos, o que faz com as aventuras sejam sempre recompensadoras, mesmo nos momentos em que falhamos.

Uma oportunidade perdida

Com tantos méritos em sua jogabilidade, Silent Hope acaba pecando pela falta de ousadia em tentar ser um título ainda mais rico. Nesse sentido, é preciso mencionar que sua duração não é longa, o que por si só não constitui um problema, mas seu conteúdo pós-jogo deixa muito a desejar.

Ao visualizarmos os créditos finais, desbloqueamos o nível hard. Dado o grande número de personagens e equipamentos diferentes, cujas combinações e criações mais poderosas dependem muito da progressão e repetição para serem adquiridas, o título tinha potencial para trazer mais conteúdo a ser explorado e justificar a continuidade do jogador no modo mais difícil. Contudo, o novo desafio acontece exatamente nos mesmos cenários e com os mesmos inimigos, trazendo novidades apenas na possibilidade de adquirir itens ainda mais poderosos e desbloquear a terceira classe de cada personagem. 

Apesar de eu gostar da possibilidade de fortalecer o herói além do necessário para concluir a campanha, não vejo razão suficiente para repetir os mesmos passos já realizados. Creio que pelo menos uma nova área com uma quantidade significativa de andares e inimigos diferentes teria proporcionado uma longa sobrevida ao jogo após a primeira conclusão.

Outro aspecto que poderia ter recebido maior atenção é o desenvolvimento dos personagens principais. Devido a algumas lacunas, como a falta de nomes próprios e a escassez de aprofundamento em suas histórias, eles acabam dando a impressão de não possuírem personalidades distintas, evocando uma sensação semelhante aos heróis do primeiro Final Fantasy.

Isso é uma verdadeira pena, uma vez que os sete protagonistas são dotados de dublagens excelentes, ao menos nas vozes japonesas, e possuem um pequeno histórico que, se fosse mais explorado, poderia ter adicionado uma profundidade significativa às suas personalidades. Além disso, enquanto exploramos o Abismo com um herói, os demais permanecem na base realizando as tarefas de criação, o que poderia ter sido usado de uma forma mais elaborada na narrativa.

Apesar das ressalvas, mais uma boa adição ao Switch

Explorar masmorras, criar itens e enfrentar inimigos revela-se um ciclo viciante e divertido em Silent Hope. Apesar da falta de ousadia em trazer mais conteúdo, especialmente ao que se refere ao pós-game, o jogo continua sendo uma opção atraente para os entusiastas de RPG de ação, com um toque especial para os fãs das franquias de fazendinha da Marvelous.

Prós:

  • Ampla variedade de personagens jogáveis, cada um com seu próprio estilo de jogo e habilidades únicas, tornando a experiência diversificada;
  • A diversidade de tipos de danos e elementos adiciona nuances estratégicas ao combate, pois os jogadores precisam considerar as fraquezas e resistências dos inimigos;
  • O sistema de criação de itens e equipamentos é bem encaixado ao restante do jogo, adicionando possibilidades de customização e uma maior profundidade aos combates;
  • As diferentes camadas do Abismo possuem características visuais bastante diferentes, passando com eficiência a sensação de serem áreas distintas;
  • As referências a outras franquias da Marvelous, Story of Seasons e Rune Factory, adicionam um toque de bom fanservice à experiência;
  • Ótima dublagem em japonês.

Contras:

  • A campanha principal é relativamente curta, e o conteúdo pós-game deixa a desejar por conta da ausência de novidades verdadeiramente significativas;
  • Embora as masmorras tenham características visuais distintas, a estrutura principal das dungeons permanece bastante similar em termos de jogabilidade;
  • Os personagens principais deixam a desejar em termos de narrativa, dando a impressão de falta de personalidade;
  • Ausência de legendas em português.
Silent Hope — PC/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela XSEED Games

Escreve para o Nintendo Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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