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Análise: Persona 5 Tactica (Switch) é uma nova e ousada maneira de viver as aventuras dos Phantom Thieves

Com uma jogabilidade diferente da tradicional da franquia, Joker e companhia têm de tudo para cativar fãs de Persona e de estratégia nesta aventura.


Persona 5 é, possivelmente, o título mais rentável da franquia spin-off de Shin Megami Tensei. Originalmente lançado para PlayStation 3 e PlayStation 4 em 2016 no Japão, a sexta entrada da subsérie roubou os corações dos fãs ao redor do mundo em 2017, não demorando para ganhar a expansão Royal em 2019 — inclusive, Persona 5 Royal marcou a chegada de um jogo principal ao Switch em 2022.


P5, como é conhecido no fandom, também gerou, desde sua estreia, dois spin-offs: Persona 5: Dancing in Starlight, um título rítmico, e Persona 5 Strikers, um RPG com jogabilidade de hack ‘n’ slash. Agora, Persona 5 Tactica chegou para desafiar os Phantom Thieves em uma aventura inspirada nos mais diferentes jogos de estratégia.

Uma parceria improvável

Esbanjando seus carisma e visuais já conceituados, P5T começa com os Phantom Thieves se reunindo no Café Leblanc após os acontecimentos da história original. Parecia ser um dia completamente normal e corriqueiro para os amigos, mas, durante uma transmissão sobre o desaparecimento do candidato a Primeiro-Ministro Toshiro Kasukabe, o grupo é misteriosamente sugado por uma distorção espaçotemporal e acaba parando em um cenário que remete à Europa do século XVIII.

Nesse estranho local, os Phantom Thieves se veem diante de um conflito entre rebeldes e o exército da tirana Marie, cujo reinado se assemelha a uma ditadura. Com muitas perguntas e nenhuma resposta, Joker e companhia logo conhecem Erina, a líder dos Revolucionários que lutam pela libertação de seu povo.


Infelizmente, no meio do conflito, todos os “viajantes do tempo” são capturados por Marie, com exceção de Joker e Morgana (codinome Mona), o que leva esses três a formar uma aliança para libertar não apenas os outros Phantom Thieves, mas também os camaradas de Erina. O que o trio não esperava é que um dos reféns da tirana soberana fosse o próprio Toshiro Kasukabe, o candidato desaparecido. 

Dessa forma, conforme a campanha avança e o grupo recupera seus integrantes, mais é revelado sobre o envolvimento de Kasukabe na história toda, bem como todo o contexto desta nova aventura dos Phantom Thieves. Porém, Marie não é a única ameaça iminente desses aliados improváveis — e tudo indica que o candidato a Primeiro-Ministro aparenta ser mais do que é.

Estratégia para dar e vender

A grande diferença em Persona 5 Tactica é o modo como os combates se desenrolam. Em vez de seguir o padrão JRPG de P5, explorando Palácios com quebra-cabeças e enfrentando Sombras no meio do caminho, temos neste spin-off diferentes missões com os mais variados objetivos além de derrotar os oponentes.

O início até pode parecer meio mais parado, com várias mecânicas sendo introduzidas aos poucos, mas logo fica relativamente fácil entender o fluxo da gameplay. Para além de concluir as missões, temos que prestar atenção no posicionamento de nossas unidades e dos inimigos no campo, e também em como os diferentes elementos nos cenários podem nos auxiliar ou prejudicar.

Cada personagem que controlamos conta com suas próprias características, como as habilidades de Personas (no caso dos Phantom Thieves), um número de movimento pré-determinado e até mesmo uma arma de fogo única. Para exemplificar, no início da campanha, temos Morgana com o maior movimento (7 espaços) e seu estilingue para ataques a distância; obviamente, sua Persona continua sendo Zorro e a preferência por magias de vento.


Uma característica que achei interessante na movimentação das nossas unidades é que não podemos passar por espaços já ocupados por aliados ou inimigos. O conceito de fogo amigo (friendly fire) também existe em P5T, válido para personagens com magias ou até mesmo armas que afetam em área (area of effect ou AoE), como é o caso dos disparos de Erina e Panther.

Sendo assim, precisamos pensar muito bem antes de realizar uma ação, fazendo com que P5T exija um pensamento estratégico por parte do jogador antes de um movimento ser realizado. No entanto, para não deixar este tópico muito exaustivo, dividirei as principais características em categorias subsequentes.

Um é pouco, dois é bom, três é Triple Threat

Na superfície, os combates em Persona 5 Tactica parecem simples, mas, na prática, eles requerem bastante planejamento prévio. Pode-se dizer que o cerne do jogo — e a chave da vitória em praticamente todas as missões — é usar e abusar da mecânica de Triple Threat, uma releitura do All-Out Attack de P5.

Quando um inimigo é derrubado (down) por uma de nossas unidades, o personagem ganha uma ação extra, chamada de One More. Neste momento, ao formar um triângulo (como na imagem abaixo) em volta do oponente caído, podemos ativar a Triple Threat, atingindo todos que estiverem dentro da área.


Para que um inimigo possa ser derrubado, ele primeiro tem que estar em um estado de vulnerabilidade. O modo mais comum de fazer isso é tirando-o de trás de uma trincheira ou obstáculo que sirva de barreira, seja por meio de habilidades das Personas, seja com golpes físicos corpo a corpo, mas derrubá-lo de um local elevado também é uma ação válida para isso.

Inclusive, a Triple Threat é a chave para o sucesso de muitas missões, sobretudo para jogadores que adoram completar os objetivos extras, como terminar batalhas em um determinado número de turnos. Alguns quebra-cabeças à parte da campanha principal, denominados Quests, também priorizam o uso dessa mecânica.

Persona não está apenas para enfeite

Outra mecânica adaptada de Persona 5 é a fusão e criação de novas Personas. No início da campanha, temos acesso apenas às entidades padrão dos Phantom Thieves, mas, conforme progredimos na campanha, podemos criar novas Personas na Velvet Room. 

A principal diferença é que agora todos do grupo liderado por Joker têm a possibilidade de usar uma Sub-Persona, além de sua principal, para potencializar suas habilidades em campo de batalha. Por exemplo, gostei muito de usar Matador, cuja habilidade nativa aumenta o número de espaços pelos quais um personagem pode se movimentar por turno, em Haru, que é a personagem com a menor movimentação do grupo de Joker.


Contudo, se comparados os sistemas de fusão de Personas de P5 e P5T, podemos perceber que o spin-off tático é mais limitado: as entidades só podem receber uma habilidade de uma das fontes, uma vez que ela só possui duas skills, o que é bom e ruim ao mesmo tempo. Pelo lado positivo, é mais simples criar Personas com propósitos específicos; pelo negativo, a versatilidade desses seres acaba diminuída, pois eles só podem ter duas habilidades, mesmo se provenientes de uma fusão especial (Special Fusion).

Fora a Velvet Room, o jogador também tem a possibilidade de obter Personas ao completar as missões da campanha principal, para a alegria dos fãs de grinding. Além disso, seguindo a mecânica original, se uma Persona recebida como premiação for repetida, a que estiver em posse do jogador ganhará experiência extra.

Subindo de nível com estilo

Na minha opinião, a parte mais legal de Persona 5 Tactica é a customização da árvore de habilidades dos personagens. Fora as habilidades básicas, que são fixas para cada uma das nossas unidades, todas as outras podem ser ativadas ou não de acordo com as nossas necessidades. Essa versatilidade também aumenta o leque estratégico do jogo, já que nos permite adaptar os personagens para as mais variadas situações.

Para facilitar, quando uma missão é concluída, todo o grupo dos Phantom Thieves ganha experiência, mesmo que os outros quatro membros não tenham sido utilizados em batalha. Isso também influencia no ganho de GP, o recurso utilizado para adquirir as habilidades.


Inclusive, as Quests, embora opcionais, quando completadas, garantem a membros específicos do grupo GP extra. Infelizmente, diferentemente das missões da campanha principal, que podem ser repetidas quantas vezes o jogador quiser, as Quests são únicas.

Ainda há muitos aspectos de jogabilidade que eu tenho vontade de abordar nesta análise; porém, como existem outros elementos que preciso mencionar, precisarei encerrar o tópico por aqui.

A identidade visual continua

Persona 5 Tactica, assim como P5 e P5R, continua com as mesmas qualidades e identidades que marcam a franquia, a saber a excelente trilha sonora e a incrível identidade visual, com destaque para as cutscenes. A princípio, alguns fãs podem estranhar um pouco o estilo artístico escolhido para o spin-off tático, mas, mesmo com uma arte mais caricata, os personagens continuam sendo eles mesmos.

Inclusive, os temas de cunho mais social já abordados na subsérie Persona continuam em P5T, rendendo muitos diálogos que geram reflexão sobre como nos comportamos em sociedade e como as atitudes individuais afetam o coletivo. Dito isso, a trama é muito bem-desenvolvida, mesmo que o jogo não tenha a extensa duração do JRPG original — aproximadamente 30 horas, a depender da dificuldade escolhida pelo jogador.

Por falar em dificuldade, ela se divide em cinco categorias (Safe, Easy, Normal, Hard e Merciless), abrangendo uma boa gama de jogadores. Ainda, caso necessário, ela pode ser alterada no meio da campanha sem perda de progresso, então temos aqui um produto que se adapta ao jogador e não o inverso, o que é muito bom para quem apenas quer aproveitar a história ou se desafiar com as complexidades das missões.


Quero também mencionar que, apesar de não contar com uma dublagem integral, as porções da história que o são estão com uma ótima qualidade. O elenco original, tanto em japonês quanto em inglês, voltou para reprisar seus papéis, mas os atores de voz escolhidos para os personagens originais de P5T também exercem um excelente trabalho.

Ainda a respeito da história, não acho que seja complicado para uma pessoa que não jogou P5 entender os acontecimentos deste spin-off, já que P5T recapitula alguns acontecimentos e personagens importantes do jogo original. Contudo, devo concordar que há algumas referências que apenas quem já se aventurou no universo de Persona 5 reconhecerá, especialmente durante os diálogos.

O spin-off tático, porém, peca em alguns aspectos, a começar pelas excessivas telas de carregamento, que são, ainda por cima, extremamente demoradas. A falta de suporte ao nosso idioma também pode ser considerada um agravante, uma vez que os diálogos são constantes — ainda mais se considerarmos que tanto a Atlus quanto a Sega têm divulgado o jogo em português brasileiro nas suas redes sociais.

Fora isso, P5T possui uma excelente performance no Switch, tanto no modo TV quanto no portátil, mesmo que exista um perceptível downgrade visual no console híbrido. De toda forma, acredito que esse seja um pequeno preço a se pagar para ter uma excelente aventura tática sempre à mão.

Os Phantom Thieves continuam roubando corações

Persona 5 Tactica traz uma aventura tática rica em customização que não deixa de lado os elementos da obra em que se baseia, com uma boa acessibilidade em termos de dificuldade, contemplando diversos níveis de jogadores de títulos táticos. Além disso, a história pode ser aproveitada até mesmo por quem não jogou Persona 5; porém, quem teve o contato prévio conseguirá perceber algumas nuances ao longo da trama original.

Esbanjando carisma e estilo próprios, típicos da série Persona, Persona 5 Tactica traz uma excelente direção de arte e som, com destaque para a dublagem que conta com os atores de voz originais reprisando seus papéis. Contudo, as excessivas e demoradas telas de carregamento e a pouca customização de Personas podem pesar um pouco contra a interessante experiência que este spin-off tático proporciona.

Prós

  • Excelente apresentação audiovisual, com destaque para as belíssimas cutscenes;
  • Elenco original de voz, tanto em inglês quanto em japonês, reprisando os papéis;
  • O design de personagens, mesmo que mais caricato, ainda carrega a essência de Persona 5;
  • A trama original permite que novos jogadores explorem o universo de Persona 5, graças à recapitulação de acontecimentos e personagens importantes do jogo original;
  • Grande variedade de combinação e customização de habilidades, tanto dos personagens quanto de Personas;
  • Cinco níveis de dificuldade, que podem ser alterados entre si a qualquer momento durante a campanha;
  • As missões principais podem ser repetidas indefinidamente, facilitando o grinding;
  • As Quests opcionais trazem mais interação entre os personagens e uma camada a mais de desafio;
  • As missões possuem objetivos e elementos diferentes, nunca passando a sensação de “mais do mesmo”, sempre desafiando o raciocínio estratégico do jogador.

Contras

  • Telas de carregamento excessivamente longas e presentes a praticamente todo momento;
  • Sem legendas em português brasileiro;
  • As Personas só podem ter duas habilidades.
Persona 5 Tactica — PC/PS5/PS4/XBX/XBO/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Sega


Também conhecida como Lilac, é fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas. Icon por 0range0ceans
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