Análise: Ninja Gaiden Ragebound é um primoroso retorno às raízes da saga, exceto pela performance no Switch

Apesar da qualidade geral da obra, a versão nintendista não é a melhor forma de jogar o mais novo título da série.

em 14/08/2025
Lançado no final de julho, Ninja Gaiden Ragebound é o aguardado retorno da série da Tecmo (hoje, Koei Tecmo) às suas raízes 2D. Com sequências ágeis de plataforma, combate violento e responsivo e uma excelente apresentação em pixel art, esta aventura dos ninjas Kenji e Kumori passa muito perto de ser imperdível para os fãs do gênero e da franquia — mas os problemas de performance no Switch (mesmo com a renderização limitada a 30 quadros por segundo) deixam a desejar e, infelizmente, comprometem a experiência.

O caminho do ninja

Ragebound representa a estreia de um novo protagonista na série: Kenji Mozu, um habilidoso ninja treinado por ninguém menos que Ryu Hayabusa. Assim que Ryu embarca para a América para atender ao pedido do seu pai, cabe ao discípulo colocar o seu treinamento à prova para conter uma perigosa invasão demoníaca que ameaça a Vila Hayabusa (e certamente o mundo inteiro, caso não seja interrompida a tempo).

Surpreendentemente, a narrativa (100% localizada para PT-BR) é um dos pontos mais positivos do novo título. Isso porque, cronologicamente, a trama de Ragebound ocorre simultaneamente aos eventos do primeiro jogo da série, lançado em 1988 para o NES, no Japão. Além de ser um verdadeiro presente para os fãs de longa data, esse elo com o passado é tão bem construído que, no primeiro estágio do game (que também funciona como um breve tutorial), assumimos o controle de ninguém menos que o líder Jô Hayabusa, na missão que teoricamente termina com a sua morte.

No entanto, como nem só de flertes com o passado vive um grande título, Ragebound também inova ao proporcionar uma aliança inédita entre os clãs inimigos Black Spider e Hayabusa. Isso porque não demora para Kenji e Kumori (uma das mais habilidosas ninjas da dinastia das aranhas) caírem juntos em uma armadilha demoníaca e perceberem que, sozinhos, não conseguirão deter seus inimigos.

Apesar das diferenças inatas, entre morrer em vão ou salvar-se, os guerreiros decidem, então, fundir suas almas usando o artefato mágico conhecido como Kunai Tamashi. Dessa forma, com as habilidades de Kumori à disposição, Kenji tem a grande chance de finalmente frustrar os planos do inferno e impedir que o Lorde Demônio tome o mundo inteiro para si.

Ação 2D de altíssima qualidade

Quando escrevi a prévia do jogo antes de seu lançamento, fiz questão de enfatizar que Ninja Gaiden Ragebound prometia ação de alta qualidade, capaz de agradar tanto aos fãs veteranos quanto a quem estivesse conhecendo a franquia a partir do novo título. Felizmente, essa promessa foi cumprida e até mesmo superada: na minha opinião, esta parceria entre a Koei Tecmo e a The Game Kitchen (de Blasphemous 1 e 2) produziu nada menos que um dos melhores (e mais belos) jogos de plataforma 2D dos últimos tempos.

Ao longo de mais de dezesseis fases divididas em quatro atos (o tempo para completá-los dependerá bastante da sua habilidade), temos aqui muitos desafios para enfrentar, que vão desde acrobáticas seções de plataforma e puzzles ocasionais até chefes mirabolantes, cujos violentos padrões precisam ser decorados para que o protagonista tenha alguma chance de triunfar.

Tudo isso é abrilhantado por uma jogabilidade aparentemente simples, mas rica em possibilidades: como um legítimo ninja do clã Hayabusa, Kenji pode rolar, escalar paredes e se pendurar em tetos para se locomover com agilidade e precisão pelas fases. Na hora do combate, a sua espada é a sua fiel companheira, capaz de fatiar inimigos e projéteis com a mesma velocidade e eficiência. 

Uma vez fundido espiritualmente com Kumori, porém, o arsenal do Ninja praticamente dobra em recursos: torna-se possível disparar adagas à distância, usar altares demoníacos para se conectar com o submundo (revelando plataformas e passagens secretas) e até usar um especial que combina os poderes dos guerreiros para causar danos avassaladores nos oponentes.

Com tantos recursos à disposição, um dos pontos mais interessantes do game é o seu bom level design, que acaba favorecendo a curva de aprendizado ao exigir que o jogador use bem as cartas na manga para progredir entre as seções. Felizmente, mesmo com o nível elevado de desafio, os checkpoints são frequentes e há várias opções para customizar a dificuldade padrão, mitigando desde o início a possibilidade de haverem frustrações desnecessárias nesse sentido.

Tão rápido quanto letal, mas com um grave problema

Ragebound também é um prato cheio para os jogadores que gostam de explorar cada cantinho das fases: todo estágio possui colecionáveis escondidos (que podem ser trocados por talismãs equipáveis na loja do Muramasa), e alguns também possuem pergaminhos especiais, responsáveis por liberar missões bônus (chamadas de operações secretas) no mapa do jogo.

Some a tudo isso a presença de um “score” com rank (S, A, B, C…) após cada fase e não faltam motivos, além da qualidade dos níveis, para voltar a jogar os estágios uma vez que eles já tenham sido concluídos. Porém, fica o aviso: para conseguir a classificação “S”, será preciso ser eficiente como um verdadeiro ninja em termos de tempo dispensado e abates sucessivos.

E aqui é onde fica evidente o maior problema desta versão do jogo: ao contrário das demais plataformas nas quais se encontra disponível, Ninja Gaiden Ragebound está limitado a 30 quadros por segundo no Switch, comprometendo significativamente a fluidez dos movimentos em um jogo que constantemente requer agilidade e responsividade para ser aproveitado.

Para piorar a situação, nem sempre essa meta de 30fps é alcançada, resultando em microtravamentos e slowdowns nas cenas mais exigentes ou sempre quando há muitos personagens na tela, tanto no modo TV quanto no modo portátil. Bizarramente, nem mesmo o hardware mais avançado do Switch 2 é capaz de dar jeito na situação, visto que não há um patch específico ou uma “Switch 2 Edition” do game na eShop.

Visto que tanto Blasphemous quanto a sua sequência rodam a 60 quadros por segundo no Switch com a mesma qualidade de pixel art (e também games similares, como The Messenger e Cyber Shadow), é realmente uma pena que a The Game Kitchen não tenha conseguido otimizar o jogo a esse ponto nos consoles da Nintendo (também está faltando o filtro CRT presente na versão de PC). Tendo em vista que Ninja Gaiden 2D praticamente nasceu no NES, também é difícil não notar aqui uma baita oportunidade perdida, até por conta da nostalgia envolvida.

Enfim, com todos os seus pontos positivos (que espero ter deixado claros nesta análise), Ragebound é um primoroso retorno às raízes da saga e que certamente merece ser conferido por quem sente apreço por sua proposta e por jogos em pixel art. Se você só possui um Switch ou um Switch 2, a aventura ainda é jogável nesses consoles, mas não é a versão que eu particularmente recomendaria, visto os seus problemas e o completo silêncio dos desenvolvedores sobre o tema desde o lançamento no fim de julho. Uma pena.

Um aguardado retorno às raízes que só peca mesmo na performance

Ninja Gaiden Ragebound acerta em praticamente todos os pontos necessários e entrega não somente um sucessor digno da lendária trilogia protagonizada por Ryu Hayabusa no NES, mas também um dos melhores jogos 2D dos últimos tempos para os fãs de ação. Logo, é uma pena que a versão nintendista não corresponda às expectativas; por sua qualidade geral, a divertida aventura de Kenji e Kumori merecia mais do que seus problemas de performance nos dois consoles da Big N. O resultado é que, dado o seu estado atual, há maneiras melhores de salvar o mundo como um ninja no Switch.

Prós

  • Entrega com sucesso o aguardado retorno às raízes da franquia, com uma aventura que certamente agradará tanto aos veteranos quanto aos novatos que apreciam jogos de ação 2D;
  • Conta com um level design consistente e primoroso, que torna a curva de aprendizado mais suave ao exigir que o jogador use as ferramentas à disposição para prosseguir;
  • As várias opções disponíveis para customizar a dificuldade evitam frustrações desnecessárias com o nível de desafio do jogo, sem comprometer a essência da série no processo;
  • A apresentação em pixel art segue o elevado padrão da série Blasphemous, sendo um verdadeiro deleite visual;
  • O bom número de colecionáveis em cada nível e o sistema de score após cada fase aumentam o fator replay.

Contras

  • A escolha de limitar a versão de Switch a 30fps compromete a fluidez e o dinamismo em um jogo que absolutamente precisa dessas características;
  • Piorando o ponto acima, a taxa de 30 quadros por segundo nem sempre é alcançada, e os engasgos se fazem presentes tanto no modo TV quanto no modo portátil, dificultando a recomendação desta versão;
  • A ausência de uma versão específica ou patch para Switch 2 também garante que a experiência não é magicamente consertada com a retrocompatibilidade do hardware mais potente.
Ninja Gaiden Ragebound — PC/Switch/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dotemu
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Alan Murilo
é publicitário e copywriter que aprecia um bom jogo tanto quanto um bom café. Gamer desde que segurou um controle de Super Nintendo pela primeira vez, tem um apreço especial pelos títulos independentes e pelas diversas franquias da Big N.
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