A missão de The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom era grandiosa: dar sequência ao aclamado The Legend of Zelda: Breath of the Wild ainda no mesmo hardware. Link explora céus, abismos e a terra de Hyrule, com verticalidade inédita, mas algumas pontas ficaram soltas — aliás, a viagem ao passado deixou lacunas. Sabendo disso, a Nintendo juntamente com a Koei Tecmo trazem uma experiência completa da guerra do aprisionamento em Hyrule Warriors: Age of Imprisonment.
Um passado distante
Investigando o subsolo do castelo de Hyrule, a princesa Zelda e seu fiel cavaleiro Link encontram desenhos gravados nas paredes que contam uma história do passado, conhecida como a Guerra do Aprisionamento. A curiosidade os leva a um canto perdido, onde descobrem um braço com uma pedra esverdeada que desencadeia acontecimentos terríveis: um cadáver mumificado ressurge, o poder oculto naquela mão se liberta, a espada-mestre se parte, o braço de Link se desfigura, o chão se abre e Zelda some envolta em luz.Atenção! Apesar de narrar o início do game, tentei não deixar spoilers — contudo, é difícil falar da Age of Imprisonment sem tocar no conteúdo de Tears, então, se ainda não jogou, aconselho pular os próximos dois parágrafos.Sabemos que Zelda foi enviada ao passado, mais precisamente à época da fundação de Hyrule, e a causa é o poder das pedras secretas dos Zonai, que amplificam tanto o poder do tempo quanto da luz, poderes originais da princesa. Inconscientemente, Zelda é levada para antes do início da guerra do aprisionamento e é encontrada desmaiada por Rauru, Zonai rei e fundador de Hyrule, e sua esposa Sonia, uma Hylian e rainha de Hyrule. Juntos, eles prometem ajudá-la a voltar ao seu tempo.
A partir daí, Age of Imprisonment segue: todas as memórias que estavam em Tears serão vividas aqui, então pode-se entender melhor o desenrolar da guerra e fechar diversos buracos que ficaram. Eu mesmo fiquei muito curioso com diversas coisas, principalmente sobre os sábios que tinham uma aliança com o reino de Hyrule — aqui temos todo o desenvolvimento, muitas cutscenes e informações extras. Se você é fã como eu, é um prato cheio. Contudo, vou parar por aqui — creio que qualquer coisa que eu fale a mais possa estragar surpresas para os fãs mais hypados.
Uma guerra de grandes proporções
Age of Imprisonment não está de brincadeira. Graças ao poder do Nintendo Switch 2, as hordas são maiores, há inúmeros acontecimentos na tela, personagens voando e o gameplay está mais refinado do que nunca. Esse se tornou o meu “musou” preferido: agora contamos com mais mecânicas que tornam as batalhas mais dinâmicas e prazerosas.Sim — as hordas esponjosas ainda estão lá (afinal, não seria um Musou se não fosse assim), mas há capitães, donos dos territórios, com defesas próprias que precisam ser quebradas e, nesse sentido, entender seus movimentos se tornou necessário. Melhor ainda: inimigos e chefes agora possuem técnicas mais poderosas que podem causar boa quantidade de dano. E nossos personagens também ganharam.
Chegam as Unic Skills, habilidades que vão sendo adquiridas ao concluir certas “entregas de materiais” pelo mapa, assim como em Calamity. Essas habilidades não só causam mais dano como também executam contra-ataques — porém é necessário entender o movimento do inimigo para desferir o contra-ataque certo no momento certo. As Unic Skills têm cooldown, então é preciso saber quando usar. E se você estiver carregando enquanto um aliado estiver perto, ele vai gritar para você “deixa comigo”: se você trocar no momento certo, ele aplica o contra-ataque, deixando a batalha muito mais dinâmica. Com o tempo, novas skills podem ser adquiridas para ajudar a contra-atacar ataques específicos.
E os cajados elementais e o Sheikah Slate de Calamity? Pode esquecer: agora temos os Zonai Devices — de Frost Emitter (cabeça de dragão que cospe gelo) ao Fan, que pode ser largado no meio da batalha para criar um tornado que puxa inimigos. Imagine: usar um dispositivo elemental no meio de um tornado — sim, é possível! Estratégia reina.
Tanto os Zonai Devices quanto as Unic Skills podem ser adicionados a um menu flutuante para acesso rápido durante as batalhas: segurando o botão R, o menu aparece com cinco espaços para personalizar como quiser. No início, fiquei um pouco confuso, mas me adaptei rápido — só precisei gerenciar os outros personagens e adotar um padrão.A esquiva perfeita do jogo principal também está aqui: o famoso Flurry Rush — basta esquivar no momento exato e tudo fica lento, abrindo brecha para ataques rápidos.
Outra mecânica implementada são as Sync Strikes: dois personagens se unem para liberar um ataque poderoso ou dar buff em outro personagem. Para que ocorra, é preciso primeiro carregar a energia dos dois personagens em questão (um efeito azul circula o personagem no menu da missão) realizando batalhas juntos. Então, ao longo das horas, faça testes para entender o que é possível e quais pares atendem mais ao seu perfil de jogo.
Entregas e mais entregas
O menu de missões segue o exemplo de Hyrule Warriors: Age of Calamity com o mapa de Hyrule em foco — mas, como em Tears, contamos com os campos de Hyrule, o céu e o abismo. Diversas missões principais e secundárias vão disparando pelo mapa e cabe a você cumpri-las. Novos personagens são liberados como recompensa durante missões, assim como habilidades, corações (vida) e barras de especial, ao entregar o material pedido — claro. O game está LOTADO: o mapa enche de tarefas. Missões secundárias são mais rápidas: limpar pontos, liberar áreas, derrotar chefes. E se você achou que estava livre dos Koroks, achou errado: eles estão aqui novamente e você precisará encontrá-los caso queira liberar espaços no inventário ou adquirir outras recompensas valiosas.Falando em Koroks: agora, nos campos de batalha, podemos criar acampamentos que ajudam bastante. Além de recuperar bateria para uso dos Zonai Devices, existem solicitações para os Golem (aqueles robôs Zonai) que recompensam com cupons. Esses cupons podem ser usados nos acampamentos para benefícios como: otimizar uso da bateria (gastando 50% menos energia), invocar cinco corações temporários para guerreiros aliados, mostrar no mapa a localização dos Koroks (obrigado, Nintendo e Koei Tecmo) entre outros.
No menu central (Mapa de Hyrule) há petições de diversos personagens, por exemplo: derrote 100 Bokoblins com a princesa Zelda, ou faça três Sync Strikes. Cada petição atendida entrega recompensas em materiais — então não esqueça de dar uma olhada de vez em quando. Pode ser que algum material que você precisa esteja ali e você possa liberar uma habilidade mais rapidamente. Os campos de treinamento também estão de volta, gastando uma boa quantidade de Zenni (moeda do universo Zelda) para subir níveis dos personagens. Também temos a Hyrule Training Plaza, onde você pode testar os personagens em batalhas. Pontos de venda espalhados pelo mapa podem ser liberados com entregas de materiais específicos — e todos eles agora podem ser visualizados por um menu em vez de ficar procurando manualmente cada ponto no mapa.
Hyrule Antepassada (Desempenho e visuais)
Hyrule Warriors: Age of Imprisonment faz um bom trabalho em desempenho e visuais: mesmo com tantos bonecos na tela, o jogo consegue trazer estabilidade nas taxas de quadros — existem momentos em que é possível notar quedas, principalmente para os olhos mais atentos, mas acredito que vai se ter consenso que “vai bem”. Lembrando que o jogo vai até 60 fps. As telas de carregamento são muito rápidas, em torno de três a quatro segundos.Visualmente é bem bonito: texturas em alta qualidade, efeitos de partículas por todos os lados, cenários bonitos ainda que com assets repetidos. A iluminação/sombra está muito acima da média, mas apresenta serrilhados algumas vezes. Os menus são intuitivos, mas densos — vai exigir atenção no início. Eu me senti um pouco perdido nas primeiras horas, precisei parar para visualizar cada parte, entender e memorizar; agora está automático. A resolução parece ser 1080p no modo portátil e algo em torno de 1440p na base (não oficialmente confirmado), e devido a dynamic resolution fica difícil afirmar se atinge 4K ou “2K”. Infelizmente, não possui legenda em PT-BR, o que me desagradou bastante, ainda mais levando em conta que Breat of the Wild e Tears receberam legendas em nossa língua.
A trilha sonora do game é espetacular, com rearranjos de músicas clássicas. Particularmente, fiquei envolvido por nostalgia quando cheguei à região dos Ara (Rito) e ouvi a trilha de Dragon Roost Island de The Legend of Zelda: The Wind Waker — um dos meus favoritos da franquia. Pode esperar por qualidade e variedade de temas.
Falando em variedade: há uma boa quantidade de novos personagens disponíveis, cada um com suas particularidades e estilo de batalha. Sem spoilers, há um Zora que gostei muito, tanto pela personalidade quanto pelo estilo de combate, então tentei aprender como melhor usá-lo e liberar o máximo de habilidades possíveis para ele. De Hylians a Gorons, não há motivo para se preocupar: o jogo traz uma boa quantidade de personagens e estilos variados de batalha.
Extras
O jogo também é compatível com amiibo — até cinco diferentes por dia. Em minhas poucas utilizações, recebi materiais sempre. Também é possível escolher o nível de dificuldade no menu inicial, e dentro do game as missões podem ser alteradas com recompensas diferentes dependendo do nível escolhido.Assim como em Tears, temos uma galeria com informações sobre cada personagem, cutscenes da campanha, trilha sonora e outros. Vale a pena conferir: além de bonitos, trazem informações que enriquecem o enredo. Podemos visualizar todos os nossos feitos no menu Records — quantas horas jogadas, número total de KOs, distância percorrida, entre outras informações para os mais curiosos.
Age of Imprisonment conta com um sistema cooperativo (co-op), no qual a tela fica dividida para uma jogatina de dois. É perceptível que o jogo sofre mais quedas de taxa de quadros — provavelmente beirando 30 fps com algumas quedas. O Game Share também está disponível: se o amigo tem um Switch original, Lite ou OLED, pode jogar junto — basta fazer um download no console do amigo. Porém, o desempenho no console secundário caiu consideravelmente durante meus testes, causando artefatos, congelamentos e delay. Em um jogo tão dinâmico, isso torna a experiência “injogável” — espero que saia um patch para corrigir isso.
Selando Ganondorf
Hyrule Warriors: Age of Imprisonment entrega exatamente o que os fãs hardcore de Zelda e Musou esperavam: uma narrativa que preenche lacunas de Tears of the Kingdom, mecânicas refinadas, muita variedade e um espetáculo visual e sonoro digno do universo Zelda. Se você está interessado em ver de perto os bastidores da guerra que moldou Hyrule, esse jogo é obrigatório.Contudo, há ressalvas: ainda que o gameplay tenha evoluído bastante, a fórmula Musou segue presente em suas bases — hordas, repetição de tarefas, missões de entrega — e o modo co-op apresenta deficiências de desempenho que podem comprometer a experiência. Se você não é fã do gênero ou espera uma revolução completa, talvez o entusiasmo diminua um pouco. Em resumo: para fãs da franquia e de Musou, é um título de peso. Para quem busca inovação radical ou coop perfeito, pode haver descompassos.
Prós:
- Narrativa envolvente que conecta e expande o enredo de Tears of the Kingdom;
- Mecânicas novas e bem implementadas: Unic Skills, Zonai Devices, Sync Strikes;
- Visual e trilha sonora de alto nível, com momentos memoráveis de nostalgia;
- Carregamentos rápidos;
- Grande quantidade de conteúdo, missões, personagens e extras para fãs dedicados.
Contras:
- Estrutura Musou ainda é muito presente — repetições de hordas e tarefas de coleta/entrega;
- Menu inicial denso e curva de adaptação mais alta para configurar e acompanhar;
- Co-op com desempenho instável no console secundário via Game Share, o que pode comprometer o multiplayer;
- Alguns assets repetidos nos cenários e pequenas quedas de desempenho em momentos de caos
Hyrule Warriors: Age of Imprisonment — Switch 2 — Nota: 8.5
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo







