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Um ano de vida do Wii U: altos e baixos, lições e dilemas para o futuro de um console que ainda procura seu lugar ao sol

Há exatamente um ano, em 18 de novembro de 2012, o Wii U chegava às lojas norte-americanas e estreava, até então, sozinho uma nova ger... (por Alex Sandro de Mattos em 18/11/2013, via Nintendo Blast)


Há exatamente um ano, em 18 de novembro de 2012, o Wii U chegava às lojas norte-americanas e estreava, até então, sozinho uma nova geração de consoles domésticos com a promessa da Nintendo em inovar — mais uma vez — a forma de se jogar videogame. Após um bom início, o Wii U não emplacou como o esperado, não seguiu os passos do seu antecessor, sofreu com baixas vendas, poucos lançamentos e falta de apoio de third parties.

Após um período ruim, o console tem mostrado sinais de recuperação. Com títulos excelentes, aliado ao corte de preço e uma campanha ativa da Nintendo para promovê-lo com bundles especiais, esse final de ano será crucial para o futuro do Wii U. O que a Nintendo tem a aprender com esse primeiro ano de vida de seu pupilo e quais fatores devem ser observados para os próximos meses?

How U will play next?

Antes do lançamento do Wii U, a Nintendo já havia confirmado que venderia o novo console com prejuízo, algo que nunca havia acontecido na história da empresa. Mas antes mesmo de chegar às lojas, as vendas de jogos do Wii U já superavam as do Wii no período de pré-venda nas redes da GameStop.

Uma das estratégias da Nintendo para o Wii U era trazer de volta os jogadores considerados "hardcore" que abandonaram as plataformas da empresa devido à proposta mais casual adotada durante a era Wii. Para isso, a empresa fez acordos com empresas third parties para lançarem títulos renomados e expressivos logo no lançamento do novo console para agradar a esse público. EA, Ubisoft, Tecmo Koei, THQ, Activision, Namco Bandai, SEGA, Warner Bros. e outras anunciaram seus títulos, mas os fãs da Nintendo também não foram esquecidos. O Wii U teria um jogo do Mario no lançamento do console, fato que não acontecia desde o lançamento do Nintendo 64, e Nintendo Land, que reunia as principais franquias da empresa em jogo de minigames, mostrava apenas algumas ideias do potencial do GamePad, a principal inovação do Wii U.

O apoio de third parties ao Wii U na line up foi bom,
mas não se manteve nos meses seguintes
A Nintendo lançou então o console primeiro em território norte-americano. Só na primeira semana nos Estados Unidos, 400 mil Wii U foram vendidos e só não vendeu mais porque as quantidades disponibilizadas eram limitadas. Até Michael Pachter, o estimado analista que sempre fazia previsões nem um pouco positivas sobre a Big N, previa que o Wii U venderia 3 milhões de unidades até o fim de 2012. Será que a maré de baixas vendas do Wii U se deve a previsão otimista de Pachter?

Mas eis que os "problemas" começaram a aparecer. Os usuários que compraram o Wii U precisavam fazer uma grande atualização, que demorava entre uma e duas horas para terminá-la. Oras, por que a Nintendo já não disponibilizou os consoles atualizados nas lojas ao invés de obrigar os usuários a fazerem e esperarem o update? E essa atualização foi a principal responsável por bricks em algumas unidades, já que quedas de energia ou o desligamento do console durante a instalação da atualização os deixavam inutilizáveis. Quem atualizou o console provavelmente ficou com mais medo que o Luigi explorando mansões mal-assombradas.

Além disso, alguns proprietários relatavam que havia momentos em que o console simplesmente congelava, travava, obrigando-os a desligá-lo diretamente na tomada. A reclamação mais comum era a demora no carregamento do sistema. Sair ou entrar em algum aplicativo ou jogo demorava 20 segundos ou até mesmo mais do que isso. Loading pra que te quero! Muitos problemas para a Nintendo resolver.

No Japão, a terra onde a Nintendo reina, o Wii U vendeu no mês de dezembro pouco mais de 638 mil unidades, número que Iwata, o presidente da Nintendo, considerou estável e não ruim, e a Nintendo ainda mantinha a previsão de vender 5,5 milhões de Wii U até março de 2013. A partir de então, iniciou-se o ceticismo e comparações de capacidades gráficas. Para alguns, o Wii U era um console da sétima geração que chegou atrasado, já que os gráficos eram equiparáveis aos do Xbox 360 e PlayStation 3. Para outros, o novo console da Big N era sim da nova geração graças a sua inovação e seria um meio termo entre os que vemos nos concorrentes atuais e nos próximos consoles da Microsoft e Sony.



O vídeo demonstrando a capacidade gráfica do Wii U na E3 2011 impressionou

A sombra que assombra

Mas os maus tempos atingiram a Nintendo. Apesar de possuir uma boa line up, os meses seguintes foram difíceis. Títulos-chave para o console como Pikmin 3, Game & Wario e Rayman Legends, este último até então exclusivo, foram adiados. E se a Nintendo esperava vender 5,5 milhões de consoles até março, sem novos jogos isso se tornaria impossível. A preocupação excessiva com o lançamento fez com que, entre a line up do Wii U até março de 2013, a plataforma ficasse sem nenhum lançamento expressivo. Isso mesmo, nenhum. Nesse período, a Nintendo ficou lançando esporadicamente jogos no Virtual Console e um ou outro indie no eShop. Resultado: pouco mais de 3 milhões de unidades vendidas até março de 2013, bem abaixo do esperado.

E mesmo entre março e setembro, período em que o Wii U recebeu novos títulos, o console não vendeu bem e teve impacto negativo nos resultados financeiros da empresa. E nesse período, o console da Nintendo recebeu títulos third parties na mesma data de outras plataformas, como Splinter Cell: Blacklist, Resident Evil: Revelations HD, Injustice: Gods Among Us, The Walking Dead: Survival Instinct e outros. Nem Pikmin 3 nem The Wonderful 101, exclusivos do console, conseguiram elevar as vendas de hardware.

Apesar de toda excelência, Pikmin 3 não conseguiu aumentar as vendas do Wii U
É claro que comparações não faltaram. O fraco desempenho do Wii U logo lembrou o GameCube, o console da Nintendo que ficou atrás de Sony e Microsoft na sexta geração. E não só pela situação das vendas, mas pelas similaridades de possuir pouquíssimo apoio third party e, curiosamente, jogos que foram lançados para o cubo dando as caras no Wii U. Tínhamos por exemplo, Pikmin 3 no Wii U, série que estreou no GameCube, The Legend of Zelda: The Wind Waker, que foi o primeiro Zelda do cubo, recebendo melhorias e chegando em alta definição, e The Wonderful 101, que não conseguiu evitar comparações com Viewtiful Joe, inclusive são jogos do mesmo produtor Hideki Kamiya.

Em relação ao GameCube e Wii, o Wii U foi a plataforma que vendeu menos unidades durante os primeiros nove meses. E entre março e setembro, o novo console vendeu menos que o seu antecessor. Possivelmente a Nintendo demorou para anunciar o fim do Wii e até segurou demais lançamento do Wii U, visto que o Wii não recebia títulos expressivos desde 2011. E no momento em que o Wii U precisava de destaque, a Big N parecia ainda querer se dedicar ao Wii com o lançamento da versão Mini.

Wii U: um retrato da própria Nintendo

O Wii U é um retrato físico da própria Nintendo: repleto de ideias e inovações, mas ainda despreparado. Se a Nintendo se preocupou com a line up, esqueceu-se dos meses pós-lançamento, deixando o console sem títulos expressivos. E o adiamento de jogos first party expõe o desconhecimento da empresa com o desenvolvimento HD, revelado pelo próprio Miyamoto em entrevista, pelo fato do Wii U ser o primeiro console da Big N em alta definição. Por exemplo, é óbvio que The Legend of Zelda: The Wind Waker HD não é o Zelda definitivo do console. Ele é como um quebra-galho: um jogo de uma série renomada que chegou para vender hardware e usado para permitir o conhecimento do desenvolvimento em HD para a Nintendo. E o resultado, diga-se de passagem, é incrível e mostra que a Nintendo está no caminho certo.

A principal inovação do Wii U ainda não mostrou a que veio. O GamePad ainda não se justificou e é evidente que o potencial dele ainda foi pouco explorado. A Nintendo tentou seguir os passos do Wii com o Wii U, mas as inovações de ambos são distintas. Ver um videogame com controles que reproduz seus movimentos nos jogos sete, oito anos atrás era uma grande inovação e um excelente atrativo para não-jogadores. Apelo de Wii Sports era muito maior na época do que é Nintendo Land hoje. Atualmente jogar em um "tablet" é algo muito comum e a Nintendo precisa vender a ideia do diferencial do GamePad para evitar essa comparação.

O uso do GamePad tem se resumido a apenas como uma tela que exibe menus e mapas ou suporte ao recurso Off-TV Play em inúmeros jogos. A Nintendo precisa mostrar que ela não criou uma segunda tela apenas para substituir um menu de pausa ou a televisão. Claro, é importante ressaltar que a facilidade proporcionada pelo GamePad torna tudo mais acessível, mas ele pode fazer muito mais do que isso. A jogabilidade assimétrica, tão comentada pela Nintendo antes do lançamento do Wii U, apareceu em pouquíssimos jogos. São raros os títulos que utilizam o GamePad de maneiras criativas e variadas. Nintendo Land, Game & Wario, Wii Party U, Rayman Legends e ZombiU são os poucos títulos que exploram o potencial do controle.

Rayman Legends, um poucos jogos do Wii U que usam o GamePad de formas criativas
Então, obrigar o uso do GamePad nos jogos seria o ideal. Na era Wii, você não conseguia jogar Super Mario Galaxy, Metroid Prime 3: Corruption e Zelda: Skyward Sword sem usar Wii Remote e Nunchuk, com movimentos, inclinações e apontando para a tela. A Nintendo tentou agradar a gregos e troianos com o Wii U e o GamePad ficou no meio-termo. São raros os jogos que obrigam o uso do GamePad, praticamente todos os títulos possuem suporte a outro tipo de controle, principalmente ao Pro Controller. Então qual é o sentido de desenvolver e trabalhar ideias para o GamePad se ele não é obrigatório? Onde está a nova experiência do console? Da mesma forma que diversos títulos do Wii se resumiam a chacoalhões, temos o GamePad exibindo mapas e menus.

Mas vamos falar sobre o apoio de third party ao console. Excluindo Ubisoft, Warner Bros. Games e Activision, atualmente não vemos jogos de outras empresas no Wii U. Se o objetivo na line up era atrair jogadores hardcore de outras plataformas, a ideia não foi tão bem executada. Vários títulos do lançamento do Wii U eram jogos lançados há mais de um ano para outras plataformas, como Mass Effect 3, Darksiders II, Ninja Gaiden III e Batman Arkham City, ou seja, os jogadores já haviam jogado esses jogos em outros consoles, então não era nada atrativo. E a ausência de jogos multiplataforma atualmente também faz que esse público fique longe do Wii U.

E mais do que isso: os jogos de terceiros do Wii U ficaram sem vários DLCs que chegaram em outras plataformas. Os então exclusivos Rayman Legends, Deus Ex: Human Revolution — Director's Cut e Ninja Gaiden 3: Razor's Edge logo deram as caras em outras plataformas. Grandes títulos como GTA V, Battlefield 4, Crisis 3, Castlevania: Lords of Shadow e Metal Gear Rising foram descartados no Wii U. As third parties reclamam que seus jogos não venderam bem no Wii U, mas se esquecem que o console possui uma base instalada pequena, não disponibilizam DLCs, entregam jogos incompletos e sem diversos modos e que lançar jogos "velhos" em uma nova plataforma não é a melhor forma de se vender. Mais bizarro ainda é o caso da EA: lançou Mass Effect 3 no Wii U em outubro e logo depois anunciou a trilogia completa para outras plataformas, deixando o console da Nintendo a ver navios. E birra com a Nintendo continua, já que o Wii U ficou sem nenhum dos novos jogos da EA este ano, apenas com Need for Speed: Most Wanted U, versão aprimorada do jogo lançado em outubro do ano passado.

EA só lançou ports no Wii U e nenhum dos lançamentos
eram simultâneos com outras plataformas

O futuro pode ser brilhante (e em duas telas)

A situação do Wii U pode ser medida após a E3. Vários títulos first party de peso e poucos third parties. Até a Ubisoft, que vem apoiando o console da Nintendo, anunciou dois novos jogos para PlayStation 4 e Xbox One, excluindo o Wii U. Novos episódios das séries Metal Gear, Final Fantasy e Kingdom Hearts darão as caras nos concorrentes, menos no console da Nintendo. Na era Wii, os fãs da Nintendo não viram os principais lançamentos multiplataforma por causa da falta de capacidade gráfica do console. O Wii U possui um hardware forte, obviamente não tão potente quanto os novos concorrentes, mas com uma diferença bem menor em relação à geração anterior.

Os principais títulos multiplataforma de 2014 não serão lançados para Wii U
Então, por que os jogos multiplataforma não dão as caras? Custo-benefício: trabalhar e desenvolver jogos para o console da Nintendo não geram retorno, já que a base instalada ainda é pequena e só os jogos first party vendem muito. Quem compra hardwares da Nintendo espera pelas franquias da empresa, isso acontece há anos. Mas se as third parties se esforçassem para trazer jogos com lançamentos simultâneos às outras plataformas e não deixassem sem modos e DLCs, talvez a situação melhorasse. Por exemplo, você consegue citar jogos expressivos multiplataforma que serão lançados para Wii U em 2014? Eu me lembro apenas de Project CARS, Watch_Dogs e Child of Light.

Mas as estratégias da Nintendo para contornar a situação estão começando a surtir efeito, curiosamente o mesmo caminho feito pelo 3DS. O portátil não vendia bem, teve corte de preço, o lançamento o remake de Zelda: Ocarina of Time 3D, um novo jogo Mario 3D (Super Mario 3D Land), Mario Kart 7 e bundles no final de 2011. O Wii U teve seu preço reduzido, a versão HD de Wind Waker, vai receber Super Mario 3D World, Mario Kart 8 e já possui bundles para a época de fim ano. Muitas semelhanças, não é mesmo?

Mario Kart 8 tornará as disputadas de cabeça para baixo no Wii U!
(Já imaginou o terror que será a Rainbow Road aqui!?)
E nas últimas semanas, os resultados começaram a aparecer. Houve um aumento nas vendas de hardware nos Estados Unidos e até no Japão. E a situação ainda promete melhorar com os recentes lançamentos de peso e a chegada do aguardado Super Mario 3D World, o esperado system seller. Além disso, a Nintendo quer repetir o sucesso do Wii com jogos voltados mais para a família com Wii Party U, Wii Fit U e Wii Sports este final de ano para dedicar 2014 aos jogadores mais experientes.

E no quesito first party, 2014 promete ser agradável aos fãs da empresa. Só para citar os principais: Donkey Kong Country: Tropical Freeze, Bayonetta 2, Super Smash Bros. for Wii U, X da Monolith Soft, Shin Megami Tensei X Fire Emblem, Mario Kart 8 e Yarn Yoshi, além de aguardadas novidades sobre o Zelda U. Além disso, o Miiverse está tendo seu uso expandido e recebe atualizações e melhorias de tempos e tempos. Hoje temos a utilização da rede social para compartilhar mensagens in-game, como em New Super Mario Bros. U e Wind Waker HD, compartilhar itens em Sonic Lost World e até fases em Toki Tori 2. O Miiverse deu tão certo que chegará ao 3DS em breve e seu uso com certeza continuará a ser expandido.

É claro que ainda haverá muitas novidades que serão apresentadas durante 2014, seja por Nintendo Direct ou na E3, e esperamos surpresas com o aparecimento da franquias que estão um pouco esquecidas. Esse fim de ano será crucial para o futuro do Wii U, já que agora teremos o PlayStation 4 e Xbox One na briga, que inclusive já estão preparados para enfrentar a inovação do GamePad com o uso do Vita com segunda tela e o Smartglass, respectivamente. A Nintendo possui uma longa história com consoles de mesa, ideias e franquias para mostrar e esperamos que o Wii U encontre seu lugar ao sol. Os sinais de recuperação estão aí para mostrar que a Big N está se esforçando e que em 2014 seja um ano melhor que 2013 para o Wii U. Mas é importante que a Nintendo continue fazendo a sua parte e “deixe a sorte para os céus”.


Revisão: Alberto Canen
Capa: Vitor Nascimento

Desde que aprendeu a jogar videogames com Yoshi's Island e Donkey Kong Country 2, sempre é visto com um controle ou portátil da Nintendo na mão. Descobriu o amor por The Legend of Zelda com Ocarina of Time e sempre está querendo mais Zeldas. Gosta de escrever notícias, análises e bobagens aqui enquanto não está sonhando com um novo Silent Hill.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


  1. Realmente, o único thrid party que eu fiquei muito triste quando soube que não sairia para o Wii U é o Kingdon Hearts 3. OK, se ele continuasse exclusivo da Sony (nos de mesa pq os portáteis tem da Nintendo e tudo mais) tudo bem, acontece que ele vai sair pra XBOX ONE! Sério! Tem amigos meus "caixistas" que pretendem comprar um XBONE e nem se quer sabem o que é Kingdon Hearts, e se aposto que se soubessem iam falar mal, que é coisa de criança e não sei que lá, isso sem mal conhecer a história complexa (pelo menos pra mim) da série. Disney é tão cara da Nintendo, Kingdon Hearts é a cara da nintendo. Acho que a versão de xbone vai servir mais pros Brs que querem jogar esse jogo mas não tem dinheiro pra um Play4. Mas fazer o que é --'

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  2. Pra quem já ta vacinado vai ser assim.
    Wii U + PS 4 ou Xone.

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  3. nintendo blast invadido por um olavette pqp

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