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Prévia: Travis Strikes Again (Switch) é uma aventura íntima de Travis Trouchdown

O game desenvolvido pela Grasshopper Manufacture é o renascimento de uma franquia em estado latente, mesmo que este se trate de um despertar gradual.


Era janeiro de 2017 e a Nintendo apresentava o Switch para o mundo. Em determinado momento, entre o anúncio de Dark Souls e a promessa da Electronic Arts em dar “suporte” ao aparelho com seus títulos esportivos anuais, Suda51 surge no palco vestindo um paletó e, por baixo dele, uma camiseta com a icônica estrela ostentada pela bandeira de Santa Destroy. Travis Strikes Again: No More Heroes (Switch) era anunciado oficialmente para o mais novo aparelho da Nintendo.

Travis Touchdown ataca novamente

A série No More Heroes, desenvolvida pela Grasshopper Manufacture, foi concebida por Suda51 originalmente sob o codinome “Project Heroes” e tinha como alvo final o Xbox 360 até que Yasuhiro Wada, criador da série Harvest Moon e então presidente da Marvelous (a produtora e distribuidora do título no Japão), deu a ideia de casar o conceito do game aos controles do Wii com sensor de movimento, novidade na época.

O jogo chegou ao conhecimento do público em 2006 apenas como Heroes, com uma cinemática em que Travis Touchdown enfrentava o assassino Helter Skelter, além de introduzir a personagem Sylvia Christel, que se manteve presente e importante na versão final do jogo. Um ano depois, ele é destaque na Gaming Developers Conference, agora com cenas de gameplay e um produto muito mais maduro e próximo daquele finalizado que foi lançado ao fim de 2007 no Japão e começo de 2008 no ocidente.



No More Heroes (Wii) conta a história de Travis Touchdown, um weaboo que mora em um motel na cidade de Santa Destroy e comprou um sabre de luz — ou melhor, Beam Katana — em um leilão virtual. Usando tal arma, ele ingressa na United Assassins Association e entra em uma sequência de combates mortais contra outros assassinos locais até se tornar o primeiro no ranking em uma narrativa sangrenta, carregada de traição, vingança e luxúria.

O título foi bem recebido pela crítica, mas teve vendas aquém do esperado — há um relato de que Suda acompanhou o lançamento em uma loja no intuito de assinar cópias e um dos únicos autógrafos que ele chegou a dar no dia foi na de um editor da Famitsu. No ocidente, com distribuição da Ubisoft, as coisas foram um pouco melhores e suficientes para darem o sinal verde em relação a uma sequência.



No More Heroes 2: Desperate Struggle (Wii) foi anunciado na Tokyo Game Show de 2008 com um rápido teaser e recebeu um trailer completo na E3 2009. Lançado finalmente em 2010, ele dá sequência à história de Travis em uma nova leva de matanças, mas agora com o objetivo de vingar a morte do melhor amigo do protagonista, o dono da locadora da esquina. Ao contrário do primeiro título, este não conta com a direção de Suda, sendo apenas a história atribuída a ele.

Desde então, Suda51 era constantemente indagado a respeito de um terceiro game enquanto se ocupava com outras propriedades intelectuais para consoles concorrentes, como Shadows of the Damned (X360/PS3) e Lollipop Chainsaw (X360/PS3). Ele sempre demonstrou interesse em contar novas histórias da saga ao declarar que tinha ideias para mais aventuras estreladas por Travis e como elas se adequariam aos novos consoles da Nintendo, incluindo o Wii U, mas a franquia só conseguiu ver novamente a luz agora no Switch.

Este não é um No More Heroes 3

Algo que Suda faz questão de ressaltar é que Travis Strikes Again: No More Heroes é um título menor e não é a verdadeira sequência dos dois primeiros. Com pretensões reduzidas, o game que será lançado no final de janeiro de 2019 para o Switch, bebe da fonte dos jogos independentes e se propõe como um ode à esse estilo que já representa uma fatia significativa do mercado. Por conta disso, ele se dá ao direito de tomar certas decisões encaradas como arriscadas na indústria que um lançamento de grande porte, por envolver mais dinheiro e por se esperar maior retorno dele, não dá tanta margem.

Uma delas é a variedade de gameplay que Travis Strikes Again oferece. Por ser dragado para dentro de um console protótipo chamado Death Drive MK-II, a campanha oferecida pelo gama da Grasshopper é uma excursão por diversos gêneros de videogame, como RPGs e jogos de plataforma — mesmo que a jogabilidade central em hack and slash se mantenha ao longo desses vários mundos. Muito disso veio de ideias recusadas e abandonadas do Suda que aqui puderam ser recicladas e combinadas dentro de um novo contexto, seja ele de desenvolvimento, seja ele da própria narrativa.

Apesar dessa gama temática considerável, a jogabilidade do título foi simplificada ao máximo e, assim como nos dois primeiros games da série, se preocupou em aproveitar os recursos específicos que o console já oferece. De tal forma, um dos pensamentos da equipe de desenvolvimento, logo no processo de concepção, foi encontrar uma forma de adicionar um modo cooperativo local com cada jogador usando apenas um Joy-Con.



Com isso, No More Heroes não deixa de ter seu gameplay visceral. Embora a câmera agora ofereça uma visão panorâmica em relação aos games anteriores, a série manteve sua essência que envolve dilacerar o maior número de inimigos possível — assim como a mecânica de recarregar a Beam Katana utilizando o sensor de movimento ao balançar o controle de uma maneira considerada imoral para alguns puritanos.

Assim, muito do que é característico da série será mantido, como é o caso de chefões icônicos ao final de cada fase e humor nonsense que beira o escatológico. Entretanto, vale ressaltar que houve uma preocupação em não exigir conhecimento prévio do jogador a respeito dos games anteriores no intuito de atingir novas audiências que ainda não têm ciência de tal propriedade intelectual, cujo último título lançado tem quase dez anos.



Sendo essa uma homenagem aos jogos indie, a Grasshopper contou com a colaboração de diversos outros estúdios, como o de Hotline Miami (Multi) e o de Shovel Knight (Multi), cujas marcas estamparão as várias camisetas que Travis pode usar ao longo da campanha — cerca de sessenta nomes estão inclusas na versão final. Além disso, DLCs com novos personagens jogáveis já foram confirmados, bem como uma Season Pass embutida para aqueles que quiserem adquirir o game em sua versão física.

Independente em tudo

Travis Strikes Again: No More Heroes é o retorno comedido de uma propriedade intelectual à sua casa original após de fazer uma rápida passagem por outros aparelhos em uma remasterização do primeiro game e entrar em hibernação desde então. Mais do que isso, é uma aventura centrada apenas na personalidade e individualidade de Travis Touchdown sem se vender como uma verdadeira sequência, mas como um título independente dentro desse universo já conhecido desde os tempos do Wii. Caso ele dê certo e consiga vendas expressivas, um No More Heroes 3 pode se tornar realidade — ou, quem sabe, ao menos remasterizações dos dois jogos originais.
Travis Strikes Again: No More Heroes — Switch
Desenvolvimento:
Grasshopper Manufacture
Gênero: Aventura/Hack and Slash
Lançamento: 18 de janeiro de 2019
Expectativa: 3/5
Revisão: Pedro Franco

É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
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