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Análise: Hero must die. again (Switch): uma jornada cíclica depois do último chefe

Com a proposta de ser um RPG pequeno para se jogar várias vezes, o título é bem curioso, mas tende a ser um pouco repetitivo.


Desenvolvido pela G-Mode e pela Pyramid, Hero must die. again é um RPG um tanto incomum. Sua premissa começa com a morte do herói, logo após derrotar o chefe final. Graças a esse feito, os deuses deram a ele cinco dias extras de vida para que pudesse resolver suas pendências na Terra. Com um corpo que lentamente enfraquece, cabe a ele aproveitar o pouco tempo que o resta viajando novamente pelo mundo, tentando (re)encontrar o amor ou só pescando mesmo.

Motivações para a jornada


Apesar de ter derrotado o chefe final, o mundo não foi automaticamente salvo em um passe de mágica de todos os seus problemas. Não é assim que a vida funciona, e a grande sacada do jogo está aí. Enquanto você viaja pelas cidades e pelas dungeons, os problemas sociais antigos são mostrados de forma muito clara. Discriminação racial, disputas entre povos, um vilarejo vítima de um grande desastre, e várias outras coisas são elementos importantes da estrutura mundial, e o jogador pode tentar fazer algo para resolver essas situações.

Há também um outro ponto relevante num âmbito mais individual, envolvendo o fato de que o herói perdeu a sua memória mais preciosa. Ele tinha um grande amor, que foi sua motivação para lutar contra o vilão derradeiro, mas quem era ela? Curiosamente, nem o herói nem nenhum de seus antigos aliados se recorda.

 Mas chegar nessa resposta demanda várias tentativas. E essa é a intenção do jogo. Trata-se de um RPG pequeno, pensado para ser jogado repetidas vezes em busca de um final melhor. Se quiser, o jogador pode simplesmente ignorar tudo e pescar, ou ir para vários cantos tentando fazer o máximo de quests possível, por exemplo.


Apesar da possibilidade de só gastar o seu tempo de forma pouco útil, obviamente é esperado que o jogador vá para alguma cidade, pegue uma quest e resolva-a explorando as dungeons. No início ele tem apenas o protagonista e um aliado com habilidades mais voltadas para o suporte. Conforme realiza as quests, o jogador consegue novos aliados, o que é bem importante considerando que sua força só diminui ao longo do jogo. Esses personagens, que são quase todos mulheres com as quais o protagonista pode se relacionar, ajudam a trabalhar a visão de mundo com a forma como são construídos, cada um representando contextos bastante diferentes.

Apesar dessa diversidade contextual, existe uma tendência à repetição pela natureza do gameplay. Após terminar uma vez o jogo, é possível começar outro ciclo. Especialmente se o jogador quiser obter o final verdadeiro, ele irá refazer algumas quests. Existe um progresso escondido em um canto obscuro do menu (na galeria de personagens) que se mantém entre as tentativas, mas as condições para abrir algumas quests podem ser bem complicadas, dificultando desnecessariamente o avanço do jogador para além de jogadas aleatórias. Apesar disso, os finais também são momentos interessantes, com algumas reviravoltas que compensam e incentivam o jogador a tentar novamente.

Movimentando-se pelo mundo

 Em termos da exploração, vale destacar que o mapa é simples, mas isso é adequado para a proposta. Os poucos lugares ajudam a reduzir o escopo, que mesmo assim é grande o suficiente para se perder e fazer jogadas ineficientes. É muito importante gerenciar o tempo, o seu principal recurso. Enquanto anda pelas cidades ou dungeons, ele é gasto, mas o principal custo está no mapa.

No início, cheio de poder, o jogador tem acesso à magia Wormhole, que permite o teleporte para qualquer cidade do mapa. No entanto, para ir a uma dungeon, o mais comum é gastar algumas horas para chegar no local. O limite de cinco dias irá pesar em algum momento, sendo importante que o jogador foque em suas tarefas e se organize.


Um detalhe importante sobre o tempo é que o enfraquecimento do herói acontece de forma regular. Dentro de certos períodos de tempo, o personagem principal irá perder atributos como ataque, defesa e agilidade, desaprender magias e até receber penalidades por usar armaduras de alto nível. Também é importante separar um momento para descansar ocasionalmente, já que a penalidade de enfraquecimento é maior quando o personagem andou demais sem parar.

As batalhas são baseadas em turnos e não oferecem nada além do arroz com feijão do gênero. O jogador pode atacar, defender ou usar magias e itens para enfrentar os inimigos. No entanto, em se tratando de um jogo em que o protagonista começa no que seria o seu nível máximo, senti que elas são bem balanceadas. Na maior parte do tempo, tive que fazer um uso estratégico dos recursos dos personagens na minha equipe, incluindo magias de suporte.

Vale destacar também que equipamentos no jogo são um recurso que precisa ser dado de presente a um aliado. Uma vez oferecido, ele não pode ser obtido novamente, então é importante ter cuidado quando se trata de algo que pode servir para vários personagens.

De forma geral, Hero must die. again é um RPG que cumpre bem a sua proposta, mas poderia deixar mais claro o progresso do jogador e isso infelizmente pesa muito contra a experiência. Afinal, sem uma noção concreta do que foi feito e do que ainda se deve fazer, o jogo pode ser bem repetitivo. No entanto, a história tem bons argumentos e as batalhas são bem balanceadas, fazendo com que seja um jogo bem interessante para quem quer um RPG diferente que pode ser apreciado em pequenas doses.

Prós

  • Um RPG pequeno, pensado para ser jogado múltiplas vezes;
  • Em cada jogada, é possível ir para lados bem distintos;
  • O roteiro tem algumas boas sacadas, especialmente na construção de mundo, na caracterização dos personagens e nos múltiplos finais;
  • Aspecto de gerenciamento de tempo muito bem utilizado;
  • Batalhas bem balanceadas que exigem bom uso de estratégias e dos recursos dos personagens.

Contras

  • As condições para liberar algumas quests podem ser bem obscuras;
  • Apesar de existir, o progresso entre jogadas não é muito claro;
  • Tendência a ficar repetitivo, especialmente se o jogador quiser fazer o final verdadeiro sem o auxílio de um guia.
Hero must die. again — Switch/PC/PS4 — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Felipe Fina Franco
Análise produzida com cópia digital cedida pela Degica Games

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do Nintendo Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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