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Análise: Everybody 1-2-Switch! (Switch) quer ser a alma da festa, mas é um convidado inconveniente

O novo jogo da Nintendo até tem momentos de diversão, mas eles duram muito pouco para justificar colocá-lo em seu próximo encontro social.

Imagem de atores jogando 1-2-Switch em um espaço laranja degradê. Uma dupla está comemorando sob a ilustração de um balão cheio. Outra dupla lamenta a derrota.

Everybody 1-2-Switch!
(Switch) é um game peculiar, para dizer o mínimo. O título chegou ao mercado com uma má reputação, influenciada por informações de que grupos de teste não gostaram do jogo. Já seu anúncio oficial foi feito nas redes sociais, sem cerimônias – e sem imagens de gameplay também.


Os sinais indicavam que uma bomba estava prestes a chegar ao console híbrido. Agora, com o jogo em mãos, podemos confirmar que ele não é o terror que todos imaginavam que fosse, mas está muito aquém de ser um bom party game.

E vai rolar a festa

Desenvolvido pela Nintendo EPD e o estúdio NDcube, o título é uma sequência de 1-2-Switch, o jogo que se propôs a demonstrar as capacidades do Nintendo Switch durante seu lançamento em 2017.

No entanto, o foco agora é outro. Saem os minijogos 1v1 que apresentavam as características dos Joy-Con e entram atividades desenvolvidas para uma descompromissada competição entre equipes.

Para preencher esses times, até oito pessoas podem participar utilizando Joy-Con e até 100 conseguem jogar usando celulares, um recurso inédito para games da Nintendo no Switch.

Com essas mudanças, Everybody 1-2-Switch! abraça sua natureza de jogo de festas. Cria-se um ambiente similar a de uma gincana, em que todos são capazes de interagir e aproveitar ao mesmo tempo. Isso é refletido na identidade visual do título, que remete a game shows, com direito a um apresentador com cara de cavalo chamado Horace. 
Imagem de Everybody 1-2-Switch com Horace, um personagem com corpo humano vestindo terno roxo e com uma cenoura no bolso da frente. Ele tem uma cabeça de cavalo. Ao redor dele, estão os ícones dos jogadores.
Nosso anfitrião: o cavalo Horace


Suas intervenções em vídeo e áudio, apesar de não serem extraordinárias, são bem simpáticas. O mesmo pode ser dito sobre as dublagens e imagens de pessoas reais usadas nos games, que têm um ar muito cafona, mas são empregadas com uma qualidade cativante.

Porém, essa apresentação é prejudicada para os brasileiros devido à falta de localização em português brasileiro. As falas tornam-se incompreensíveis para quem não conhece outros idiomas.

Joy-Con e celulares

Os controles do game também facilitam na construção desse clima de festa.

O uso dos Joy-Con e de dispositivos móveis é bastante simples, exigindo somente controles de movimento, comandos simples com botões ou toques nas telas dos celulares. Assim, pessoas de diferentes habilidades podem participar de maneira igualitária.

A adição dos telefones na gameplay merece destaque, pois democratiza um pouco mais a jogabilidade, permitindo que se use aparelhos que praticamente todos já possuem.

Além disso, a implementação dos celulares é feita sem grandes problemas. Por meio de uma conexão à internet – que não exige assinatura do Nintendo Switch Online – o título cria um lobby no qual todos os smartphones se conectam e recebem informações sobre os minijogos pelo navegador web.
Três imagens da tela de um celular rodando os jogos Color Shoot, Bingo e Ice Cream Parlor em Everybody 1-2-Switch!
Color Shoot, Bingo e Ice Cream Parlor são exemplos de atividades compatíveis somente com celulares


Dessa forma, mesmo que o jogador abra outro aplicativo durante a jogatina, ele estará sempre sincronizado à partida ao voltar para o browser. É um sistema que se sobressai pela sua praticidade.

No entanto, a conexão à rede no Switch e nos telefones deve ser constante, situação que não é possível garantir a todo momento em grandes reuniões.

Vale ressaltar também que, ao contrário de títulos como The Jackbox Party Pack, Everybody 1-2-Switch! não incentiva partidas remotas.

Mesmo com celulares, o game é melhor com todos no mesmo local, já que vários passatempos envolvem ritmo e timing. Não ter opções focadas no online é uma oportunidade desperdiçada para quem não consegue se encontrar com amigos ou familiares facilmente.

Minigames inconsistentes

As coisas começam a desandar de verdade quando se experimenta de fato os minijogos. As 17 atividades – 11 a menos do que no 1-2-Switch original – são compostas por um punhado de boas ideias, muitas brincadeiras medianas e outros desafios tediosos.

Os games mais interessantes são aqueles em que há uma ênfase maior em estratégia, como Joy-Con Hide and Seek – em que jogadores precisam encontrar um controle escondido por uma das equipes por meio da vibração – e Ninjas – no qual um time deve lançar estrelas-ninja em participantes que precisam se defender com espadas.

No entanto, a maior parte deles não tem longevidade suficiente para serem interessantes no longo prazo. Chamar alienígenas em UFOs, encher balões em Balloons, contar segundos na cozinha em Kitchen Timer ou tirar fotos de específicas cores em Photo Shoot pode ser divertido nas primeiras sessões de jogo, mas tornam-se repetitivos com o passar das horas.

O título até introduz níveis de dificuldade para diversificar grande parte dos minigames. No entanto, isso não é suficiente para fazer com que essas brincadeiras sejam constantemente engajantes. Por não exigirem que jogadores pensem em táticas diversas, suas mecânicas se esgotam em uma única jogada.

Enquanto isso, há uma seleção de jogos que são simplesmente monótonos. Por exemplo, em Bingo, a única coisa a se fazer é parar uma roleta em um número e esperar que alguém complete uma linha em seu cartão digital no celular. Já em Auction, times apostam dinheiro in-game para comprar objetos e ganhar pontos. São atividades que demandam muito pouco dos jogadores. Não fosse um ou outro apertar de botões, esses minijogos se resumiriam a olhar imagens na tela da TV e esperar algo acontecer.

Assim, a coletânea como um todo não se destaca em relação a outros títulos do gênero. E, ao se levar em consideração a acessibilidade, a qualidade cai um pouco mais. Alguns passatempos, como Quiz Show, Ice Cream Parlor e Squats exigem leitura e escuta ativas. Já que não há localização para PT-BR, é necessário saber bem inglês ou outros idiomas para jogá-los, impedindo o aproveitamento de muitos brasileiros.
Imagem de Everybody 1-2-Switch mostrando uma pergunta do minigame Quiz Party que diz "Qual pé um maratonista colocaria depois de seu pé esquerdo?" e a resposta "Seu pé direito". Jogadores devem responder se a resposta é certa ou errada.
A falta de localização em PT-BR prejudica muito os minijogos que se baseiam em leitura


Também não há opções acessíveis para pessoas com deficiência. Os controles funcionam para quem tem paraplegia, porém a incessante necessidade de se segurar os botões SL e SR nos Joy-Con – ou dois botões virtuais no celular – em games de movimento podem dificultar a jogabilidade para pessoas com outras deficiências físicas, como no meu caso. Além disso, ajustes para daltonismo estão ausentes, mesmo havendo atividades que envolvem cores.

Modos sem profundidade

Atividades tão inconstantes assim até poderiam ser salvas caso os modos ao redor delas fossem bem desenvolvidos. Infelizmente, esse também não é o caso de Everybody 1-2-Switch!

Seu principal modo é o Team Contest. Nele, as equipes devem competir em uma série de games sortidos. Ganha aquela que conseguir o maior número de vitórias. No início, quando o título ainda é uma novidade, esse desafio é satisfatório. Porém, após algumas rodadas, o jogo muitas vezes não coloca diferentes brincadeiras na rotatividade, fazendo com que o desinteresse cresça rapidamente.

Nos primeiros momentos, não é possível nem mesmo escolher os minigames individualmente para diversificar as contendas, pois os jogos vão sendo desbloqueados à medida que se joga o Team Contest. Esse tipo de game design é meio arcaico ao ser comparado com títulos como Mario Kart 8 Deluxe (Switch), Mario Party Superstars (Switch) e até mesmo 1-2-Switch, que evitam bloquear grande parte de seu conteúdo principal para dar mais opções aos gamers.
Imagem de Everybody 1-2-Switch com uma roleta com diferentes minigames. Há Statues, Statues 2, Jump Rope 2 e Balloons.
Muitas vezes, o game não sugere minijogos diversos durante o Team Contest, dificultando a variedade durante a competição


Soma-se a isso alguns problemas de qualidade de vida, como tutoriais que não podem ser pulados – mesmo sendo a milésima vez que se participa do Team Contest – e passatempos que duram extremamente pouco quando jogados com somente duas pessoas, um sinal nítido de que o game fica um pouco mais proveitoso com muitos participantes, o que não é realisticamente tão fácil de se conseguir.

Os demais modos são somente versões estendidas de Bingo e Quiz Show em que todos jogam cada um por si. Mesmo com recursos diferentes, como a possibilidade de criar seus próprios questionários, esses modos permanecem rasos.

Festa estranha

"Como a Nintendo decide lançar uma sequência de 1-2-Switch e deixar outras franquias amadas esquecidas?", questionaram alguns fãs no período do anúncio oficial de Everybody 1-2-Switch! Acredito que essa não é a pergunta certa a se fazer.

O primeiro jogo, apesar de seus tropeços, introduziu muitas pessoas ao conceito do Switch e é um dos títulos mais vendidos do console. Assim, para mim, a questão correta é "Como não houve um cuidado maior com essa sequência?".

Não se engane: o game tem seus momentos altos. Certos minigames são divertidos, sua apresentação é agradável e a conexão com celulares funciona surpreendente bem. Porém, o grosso da experiência é prejudicado por atividades de baixa longevidade, modos de competição cansativos e falta de localização e acessibilidade.

Essa é daquelas festas que você chega animado, mas acaba voltando mais cedo para casa.

Prós

  • Party game capaz de comportar grande quantidade de pessoas ao mesmo tempo;
  • Apresentação simpática, com dublagens e imagens bregas, mas de qualidade;
  • Implementação prática e simples de celulares na gameplay;
  • Seleção limitada de bons minigames, com ideias que priorizam a estratégia.

Contras

  • Uso de celulares exige conexão constante à internet, o que pode ser difícil em ambientes maiores;
  • Inexistência de atividades pensadas para jogabilidade online restringe o game para pessoas que não têm como se reunir com amigos ou familiares com facilidade;
  • Minijogos que se esgotam rapidamente ou que são simplesmente monótonos;
  • Modos de jogo que não incentivam a variedade de brincadeiras em um contexto de festa;
  • Falta de localização em português brasileiro dificulta a compreensão durante o game e a jogabilidade em alguns passatempos;
  • Falta de recursos de acessibilidade.
Everybody 1-2-Switch! – Switch – Nota: 5.5

Revisão: Cristiane Amarante
Análise produzida com cópia digital cedida pela Nintendo


Jornalista, analista de mídias, PcD e entusiasta de games desde que jogou Pokémon Azul no Game Boy Color nos anos 90. De lá para cá, tenta aproveitar ao máximo todos os consoles no pouco tempo que a vida adulta permite. Se não está escrevendo para o Blast ou demorando anos para zerar um jogo, está no Twitter (@DanielMorbi) e no Instagram (@danielmorbi_)
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