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Análise: Prince of Persia: The Lost Crown (Switch) é o retorno necessário de uma franquia clássica

O jogo é um belo presente para os 35 anos da série.

Quatorze anos é tempo demais para qualquer franquia ficar sem um lançamento. No caso de uma série clássica, pode ser um caminho sem volta, ficar relegado a um lugar reservado à nostalgia de tempos que não voltam mais.


No começo de 2024, ainda bem, um título icônico está de volta. Prince of Persia: The Lost Crown representa um retorno inesperado à série que até então parecia ter sido suplantada por Assassin’s Creed dentro da Ubisoft. Será que valeu a pena resgatar a marca ou seria melhor tê-la deixado adormecer? Acompanhe-nos pelas areias desta história.

Um retorno improvável

Em janeiro de 2023, eu estava escrevendo sobre os 20 anos de Sands of Time (GC), que representou o último grande auge da franquia. Curioso que no período de um ano a Ubisoft tenha anunciado e lançado um novo Prince of Persia e que estejamos aqui para falar sobre o retorno a esse Oriente Médio antigo.
O bom e velho trecho de plataforma com visuais atualizados.
Também é interessante que o diretor deste lançamento, Mounir Radi, tenha afirmado que o projeto não partiu da companhia francesa. Sinal de como a série realmente estava distante das prioridades da empresa desde 2010 com The Forgotten Sands (Wii).

Por outro lado, estar fora do radar garantiu certa liberdade e um tempo de desenvolvimento adequado (cinco anos do início até o lançamento) para fazer um trabalho com qualidade. Ter membros que trabalharam nos excelentes Rayman Origins (Wii) e Rayman Legends (Wii U/Switch) também foi um fator bastante positivo que contribuiu para o resultado que encontramos em The Lost Crown.

A primeira influência dos jogos de Rayman que pode ser sentida está nos cenários de fundo, simulando pinturas, criando um belo contraste com as figuras 3D em primeiro plano. Outro ponto em que essa influência aparece é na qualidade dos trechos de plataforma, característicos de Prince of Persia, mas agora com a agilidade e a jogabilidade da mascote da Ubisoft.

Controles precisos

Antes de iniciar a partida é possível personalizar diversas configurações, da legibilidade da legenda até o nível de dificuldade. Essas possibilidades tornam The Lost Crown bastante acessível a pessoas das mais variadas habilidades, e o fato de as decisões poderem ser alteradas ao longo da partida é mais um ponto positivo.
As cenas que utilizam arte pintada são um show à parte.
Configuração feita, o game começa jogando o protagonista Sargon direto no meio da ação, para deter uma invasão à cidade de Persépolis. O mundo 3D que marcou os últimos jogos da franquia aqui é deixado de lado, dando lugar a uma progressão lateral 2D com personagens modelados em 3D.

A introdução permite que o jogador rapidamente aprenda os movimentos básicos do personagem. De início, temos o ataque com as espadas duplas, o pulo e a esquiva, que consiste em deslizar pelo chão.

O controle é fluido, fazendo com que atingir um adversário com a espada ou calcular o pulo para chegar a uma plataforma seja fácil. Com o avançar da campanha, Sargon vai adquirindo mais habilidades; desse modo outros movimentos e mais botões são incluídos na jogabilidade.

Além de movimentos tradicionais como pulo duplo e dash, habilidades envolvendo os Poderes do Tempo também vão se somando à gameplay. Controlar todo esse leque de ações é importante para a resolução de puzzles e o confronto com os chefes.

O motivo da aventura

Nos jogos clássicos, o príncipe não era nomeado. The Lost Crown quebra essa tradição, apesar de Sargon não ser o nome do herdeiro do trono.
O protagonista conversando com o famoso Príncipe da Pérsia.
O protagonista na verdade faz parte de um grupo de proteção mais próximo da família real, chamado de Imortais. Sargon é condecorado por sua participação na defesa de Persépolis contra o exército invasor e, em seguida, reúne-se com seus companheiros para comemorar.

A interação entre os personagens é boa e de fato passa a sensação de um grupo que já passou por muitas aventuras juntos. A dublagem também é boa e, para quem não é fluente em algum dos idiomas disponíveis, as legendas estão em português.

O papo descontraído entre os amigos é interrompido pela notícia de que o príncipe Ghassan foi sequestrado. Os Imortais se dividem para encontrar o criminoso, que não teve tempo de ir muito longe, e então Sargon se depara com uma possível e inesperada traição.

Esta é a motivação inicial de uma história que apresenta outras camadas, porém revelar mais pode estragar a experiência. Ainda assim, saliento que um tema que sempre foi importante para os jogos da franquia está aqui: a disputa pelo trono e o que ele representa para as pessoas.

Um lugar bom para se vivenciar

A trama principal se desenrola aos poucos, mas sem se demorar demais, guardando algumas surpresas que levam o protagonista a outro entendimento dos fatos. A perseguição aos sequestradores mantém a tensão e o interesse pela história, até que uma grande reviravolta muda a dinâmica da missão.
Essa garota e essa árvore são as maiores aliadas de Sargon em sua jornada.
A jornada leva Sargon a lidar com diversos coadjuvantes, todos carismáticos, sendo facilmente reconhecíveis quando há um reencontro. Alguns deles oferecem missões secundárias, com a opção de serem aceitas ou recusadas.

Para seguir seu caminho, o mapa pode ser desvendado conforme se exploram os locais ou ao se comprar um trecho de uma coadjuvante mirim acostumada com a maioria das ruas do perigoso Monte Qaf, onde se passa a história. Cada área possui uma identidade própria e cenários bonitos, inclusive com espaços reservados para a contemplação.

Boa parte dos trechos, porém, são cheios de perigo e puzzles. Em compensação, as árvores que servem de checkpoint são encontradas com frequência e há monumentos localizados estrategicamente que possibilitam a viagem rápida para áreas mais distantes. A movimentação, portanto, não é um problema.

Progresso rumo ao épico

Conforme se avança na trama, amuletos podem ser encontrados, comprados ou melhorados. Cada um desses objetos deve ser equipado em uma árvore Wak Wak e oferece um efeito de upgrade, como aumentar a barra de energia ou atrair os cristais de magia.
Os chefes possuem introduções épicas.
Encher a barra de magia é importante para habilitar o uso de algum dos movimentos especiais, que também vão sendo adquiridos com o decorrer da jornada. Há especiais mais voltados para o ataque, como a flechada mágica, e outros que preservam sua integridade, como aquele que cria um círculo temporário de regeneração no chão.

O nível de personalização de Sargon é alto, mas nunca enfadonho, pois os menus são práticos. Encontrar as melhores combinações para o seu estilo de jogo é essencial para encarar certas batalhas.

Grandes duelos contra chefes ganham um ar épico, seja pelo design dos oponentes, pela trilha sonora que ganha mais presença, pelas entradas imponentes e ameaçadoras, pela estratégia que deve ser criada para cada inimigo. O contra-ataque feito ao se apertar ZL no momento correto também ganha uma animação à altura dos confrontos.

Miragens no oásis do deserto

Afinal, de que lado fica a máscara de Artaban?
Apesar de este texto ter citado bastante a questão da plataforma, dos puzzles e da ação, não custa destacar: The Lost Crown é também um metroidvania. Fãs de longa data da franquia podem torcer o nariz para essa informação, mas, como salientado, a progressão pelo mapa é muito amigável.

Outro ponto que pode incomodar algumas pessoas é em relação aos gráficos, obviamente inferiores se comparados a outros consoles. Contudo, além de ser comum no Switch em títulos multiplataforma, essa situação foi compensada por uma taxa de quadros estável em 60 fps tanto no modo portátil quanto na dock, com loadings mínimos ou inexistentes.

Por fim, há pequenos erros que não afetam em nada a experiência. Um dos Imortais cobre metade do rosto com uma máscara que, por vezes, troca de lado (no cinema seria um erro de continuidade). Outro exemplo é no confronto com um chefe na floresta: Sargon fica andando parado no mesmo lugar (como um NPC com bug) quando o oponente faz sua pose para transição de tela, algo que para quando o combate recomeça.

Um retorno necessário

Uma franquia grande e clássica ficar sem um título inédito desde 2010 era um absurdo. Este período de dormência, porém, contribuiu para que a equipe da Ubisoft que se dispôs a encarar o desafio tivesse a liberdade e o tempo necessários para fazer o projeto com a qualidade que merecia. Com belos cenários de fundo, trama envolvente, jogabilidade precisa, trechos de plataforma bem executados e lutas épicas, Prince of Persia: The Lost Crown é o retorno triunfal que estávamos aguardando para comemorar os 35 anos da série.

Prós

  • Cenários e ambientação bonitos e impactantes;
  • Controles precisos e ágeis;
  • Jogo estável a 60 fps;
  • As batalhas contra os chefes são épicas e desafiadoras;
  • Navegação fluida pelo mapa e pelos cenários;
  • História envolvente.

Contras

  • Problemas pontuais e bugs que não afetam a experiência.
Prince of Persia: The Lost Crown — Switch/XBO/XBX/PS4/PS5/PC — Nota: 9,5
Versão utilizada para análise: Switch
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Ubisoft

Nascido no mesmo dia que Manoel Bandeira (mas com alguns anos de distância), perdido em Angra dos Reis (dos pobres e dos bobos da corte também), sob a influência da MPB, do rock e de coisas esquisitas como a Björk. Professor de história, acostumado a estar à margem de tudo e de todos por ser fora de moda. Gamer velho de guerra, comecei no Atari e até hoje não largo os mascotes - antes rivais - Mario e Sonic.
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