Shadow Temple e a herança esquecida de Hyrule

Uma das dungeons mais sombrias da franquia The Legend of Zelda guarda um passado que deveria ter ficado enterrado eternamente.

em 14/09/2025
Entrada do Shadow Temple, uma das dungeons de The Legend of Zelda: Ocarina of Time.




“Shadow Temple…
Aqui se encontra reunida a sangrenta história de Hyrule, marcada pela ganância e pelo ódio…”


Durante a era do Herói do Tempo, a pacífica Kakariko Village esconde terríveis segredos de seus moradores e visitantes que circulam por entre as casas sombreadas pela imponente Death Mountain. Perdida nas entranhas do subsolo da cidade, uma macabra estrutura escura abriga histórias de um passado tenebroso que muitos poderosos insistem em esquecer.

Trancado por séculos, o local foi reaberto por Link na jornada para despertar os sábios. Mal sabia o jovem de gorro verde que o ar pesadíssimo e a atmosfera tensa estariam entre os menores problemas a serem superados no Shadow Temple, lar de criaturas assombrosas.

Origem angustiante

De acordo com a Hyrule Encyclopedia, a dungeon mais sombria de The Legend of Zelda: Ocarina of Time foi construída pela tribo Sheikah para ser uma área de tortura. As diversas celas, lâminas afiadíssimas, guilhotinas e demais artefatos aterrorizantes serviam para aprisionar e arrancar confissões de prisioneiros considerados inimigos da Família Real. 

Não à toa, o ambiente recebeu o apelido de “Casa dos Mortos”, sendo a morada eterna de almas que nem mesmo após deixarem seus corpos físicos puderam usufruir do descanso eterno — sendo obrigadas a vagar infinitamente e sem um rumo certo pelos corredores do templo, remoendo todo o sofrimento experimentado nos últimos dias de suas vidas.

Guilhotinas no interior do Shadow Temple.



Além da aflição física, aqueles levados ao Shadow Temple ainda eram atormentados psicologicamente com paredes construídas com ossos dos mortos e estruturas falsas que faziam qualquer um questionar a própria sanidade. Tudo meticulosamente projetado pelos Sheikah para que a tribo avançasse na missão dada pela deusa Hylia: servir como guardiã da Família Real (especialmente, da princesa Zelda). Mas, com métodos moralmente questionáveis, a prisão acabou posicionada na tênue linha em que proteção e perversidade se confundem. 

Outro detalhe amedrontador é a porta principal de entrada, que só pode ser acessada por meio da Nocturne of Shadow, uma das músicas mais angustiantes da trilha sonora do game. Seu posicionamento também chama a atenção, localizado nos fundos do cemitério de Kakariko Village para deixar bastante claro para todos que ali se inicia uma viagem ao submundo.

Lens of Truth

Para explorar adequadamente o Shadow Temple, Link precisa retornar ao Temple of Time, voltar ao passado e se arriscar no fundo do poço de Kakariko Village, em uma espécie de extensão da prisão Sheikah. É nesse local onde acontece o primeiro encontro com o Dead Hand, pálido inimigo que traumatizou muitas crianças com seu visual bizarro. Também é lá que o Herói do Tempo encontra a Lens of Truth, item repleto de magia antiga e capaz de revelar inimigos escondidos entre as sombras e caminhos obstruídos por paredes invisíveis.

Detalhes da Lens of Truth.
Assim como o próprio Shadow Temple, o artefato tem origem Sheikah. Seu formato é uma referência ao símbolo da tribo (lente vermelha remetendo à íris e o cabo sendo a lágrima que escorre do brasão). O distintivo, aliás, carrega sua própria história trágica. O mangá de Ocarina of Time, escrito por Akira Himekawa, menciona que o símbolo originalmente era apenas o olho, representando a vigília constante sobre Hyrule. A lágrima foi acrescentada mais tarde, em resposta à traição da Família Real, que baniu a tribo do reino de Hyrule por um longo tempo.

Bongo Bongo

Após sobreviver aos perigos do Shadow Temple, a dungeon ainda reserva um último pesadelo em sua sala final. É a batalha contra Bongo Bongo, que acontece sobre um instrumento de percussão e está entre as mais memoráveis do game. A origem da criatura nunca foi detalhada de maneira oficial, mas existem teorias que apontam ser um espírito torturado na prisão, talvez uma das centenas de vítimas que sofreram com as práticas sombrias do local.

Aprofundando um pouco mais na história, alguns fãs acreditam se tratar de um antigo Sheikah traidor, executado e transformado em uma entidade vingativa. Para explicar tal possibilidade, o principal ponto levantado é o olho vermelho único, semelhante ao símbolo da tribo. Introduzido como Evil Spirit from Beyond (Espírito Maligno do Além), Bongo Bongo simboliza os pecados ocultos de Hyrule materializados em um agressivo monstro que não possui nenhum resquício de piedade por quem ousa invadir o Shadow Temple e desenterrar seus segredos.

Bongo Bongo, o chefe supremo do Shadow Temple.

Histórias que deveriam ficar no passado

O Shadow Temple é, ao mesmo tempo, um lembrete e um aviso. Mais do que uma simples dungeon, ele representa a face mais oculta e perversa de Hyrule — um reino que, apesar da aura de heroísmo e esperança, também foi moldado por segredos cruéis, pactos de sangue e métodos questionáveis de proteção e manipulação. Enfrentar seus corredores não é apenas superar monstros e armadilhas, mas encarar os muitos fantasmas de um passado que diversos personagens prefeririam manter eternamente enterrado sob as terras de Kakariko Village.

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Revisão: Cristiane Amarante
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Vinícius Veloso
É jornalista e obcecado por games (não necessariamente nessa ordem). Seu vício começou com uma primeira dose de Super Mario World e, desde então, não consegue mais ficar muito tempo sem se aventurar em um bom jogo.
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