Forest Temple e o encontro com fantasmas do tempo

Na primeira dungeon da fase adulta de Ocarina of Time, Link volta à floresta que já foi o seu lar e aprende que crescer é aceitar o fim da inocência.

em 22/10/2025
Entrada do Forest Temple, primeira dungeon da fase adulta de Link em Ocarina of Time.

Tudo aconteceu de maneira tão rápida. Após envolver com os dedos a empunhadura daquela majestosa espada e levantá-la de seu pedestal de descanso, uma forte luz preencheu o salão e bagunçou a noção do tempo. Desde então, a sensação de Link era de que haviam transcorrido cerca de sete minutos, porém, na realidade, sete anos ficaram para trás. Ainda com as palavras ditas por Rauru e Sheik ecoando em sua cabeça — e com a imensa responsabilidade colocada sobre seus ombros —, o herói, agora adulto, retorna para Kokiri Forest, onde perceberá que sua infância realmente está no passado ao enfrentar as ameaças que dominam o Forest Temple.


Nem mesmo os monstros que começaram a habitar a outrora calma floresta surpreenderam tanto o rapaz quanto a enorme estrutura de pedra escondida por entre as árvores do Sacred Forest Meadow. Ele já estivera naquele bosque antes, afinal, foi no pequeno tronco de madeira ao lado do piso com a marca da Triforce onde sua amiga Saria estava sentada na última vez que se viram. Na ocasião, a garota profetizou que o local seria importante para ambos no futuro, mas Link jamais imaginou que a previsão o levaria a subir a escadaria severamente danificada e cruzar o escuro portão que leva diretamente para o interior da construção.

O primeiro desafio de uma nova era

O Forest Temple é a primeira dungeon da era adulta de Link em Ocarina of Time, mostrando que a aventura entra em uma nova fase. Muitas das armas encontradas até então deixam de funcionar e o jogador precisa se acostumar com equipamentos diferentes, como o Hookshot, encontrado em Kakariko Village, e o Fairy Bow, que está escondido dentro do próprio templo.
 
Além disso, o combate passa a ser mais desafiador e estratégico com a introdução de inimigos com noções aprimoradas de batalha. É o caso dos Stalfos e das Poe Sisters, com os fantasmas relacionados ao puzzle encontrado na principal sala do calabouço e que leva ao boss da área.

Stalfo, um guerreiro em formato de esqueleto. Ele usa uma armadura e segura uma espada e um escudo. Sua primeira aparição em Ocarina of Time é no Forest Temple.

Características também bastante marcantes do Forest Temple são seus corredores retorcidos e ambientes que se rearranjam após o acionamento de interruptores (transformando o piso em paredes e vice-versa). Essa estrutura mutável cria a sensação de uma edificação viva, como se a natureza ao redor a estivesse consumindo aos poucos para transformá-la em algo orgânico. Trazem, ainda, um aspecto de assombração e ilusões que fazem algo não ser realmente aquilo que aparentava inicialmente — criando uma relação com a presença de fantasmas na dungeon.
 
Toda a exploração é acompanhada pela trilha sonora marcante, que mistura ruídos do vento e instrumentos suaves para criar uma composição que gera a sensação de inquietude. Pequenos sussurros agudos se somam à melodia, como se criaturas do bosque murmurassem entre si ao observar a presença daquele estranho jovem vagando por corredores há tempos abandonados.

Fortaleza hylian no coração da floresta

Não há explicação oficial para a origem do Forest Temple. Com a lacuna, foram criadas teorias para justificar a existência de uma construção como aquela em Kokiri Forest. Uma suposição que faz sentido aponta que a dungeon seria uma fortaleza para aprimoramento do exército hylian. Isso se fundamenta pela arquitetura imponente e com viés palaciano, com carpetes nos pisos e decoração luxuosa. E mais: as portas de madeira, maçanetas e bandeiras são mais domésticas do que cerimoniais, o que reforça a hipótese de o edifício ter sido adaptado para o papel de templo depois de cumprir alguma outra função bastante diferente anteriormente.
 
Nas varandas externas, é possível observar os muros gigantescos que cercam o Forest Temple. Muito provavelmente, no passado, soldados caminhavam no topo das estruturas para vigiar o perímetro e antecipar perigos capazes de atrapalhar o treinamento dos companheiros de armadura. Essa teoria conta que a fortaleza teria sido edificada antes da guerra civil que assolou Hyrule, mas quando já cresciam as tensões no reino. Perdido na floresta, o complexo seria perfeito para esconder da vista dos inimigos o verdadeiro poderio bélico da Família Real. Já o abandono da estrutura teria ocorrido após o conflito ou por ação direta da Great Deku Tree, que estaria bastante receosa com a presença de armas tão próximas do povo Kokiri.

Área externa do Forest Temple. A imagem mostra um pátio aberto, cortado por um pequeno rio no meio. Há pilastras e varandas rodeando uma área verde.

Deixando a lore de lado, existe outra origem para o Forest Temple relacionada ao game design. Em entrevistas antes do lançamento do jogo, os desenvolvedores contaram que o conceito inicial de Ocarina of Time seria semelhante ao que existe em Super Mario 64, com o castelo de Hyrule sendo um hub world. Link precisaria explorá-lo para acessar portais que o levariam para outras partes do mundo e liberaria novas áreas do palácio conforme avançava na jornada.
 
Com base nessa informação, é plausível imaginar que o formato de castelo do Forest Temple tenha surgido dos moldes iniciais do interior do Hyrule Castle. Sendo que a partir do momento em que o conceito de hub world foi deixado de lado, o mapa acabou passando por uma remodelagem, recebendo o aspecto de fortaleza abandonada e retomada pela natureza a fim de se transformar em uma dungeon habitada por criaturas com aspecto fantasmagórico.

O maior de todos os fantasmas

Depois de derrotar as Poe Sisters e pegar o elevador para o subsolo, Link se encontra em uma sala redonda, repleta de quadros e com símbolos da Triforce na tapeçaria (reforçando a ligação do local com a Família Real). Ao perceber que o ambiente está vazio, o jovem tenta dar meia volta e é surpreendido por portões que se fecham do nada. Na sua nuca, ele sente a baforada raivosa de um cavalo negro e percebe que caiu em uma armadilha. Atrás dele, está Ganondorf, com uma postura ameaçadora sobre a sua montaria. Porém, havia algo diferente no olhar do rei dos gerudos e Link entende que se trata de uma manifestação espectral do vilão.
 
Ilustração de Phantom Ganon, o boss do Forest Temple. A imagem mostra um homem magro e imponente. Ele usa uma armadura pesada e segura uma lança, além disso está montado em um cavalo negro com crina laranja.
Nomeada de Phantom Ganon, a criatura é apresentada como um espírito maligno do além criado a partir da macabra magia de Ganondorf. Nada mais do que um teste elaborado pelo antagonista para conhecer como as habilidades do Herói do Tempo evoluíram passados sete anos. A batalha é dividida em duas fases, sendo que na primeira é preciso prestar atenção nos quadros e perceber por quais deles a versão real de Phantom Ganon cavalga para então acertá-lo com uma flecha. Já a segunda se resume a um duelo de rebater bolas de energia, antecipando o embate final que ocorrerá futuramente no ponto mais alto de Ganon's Castle.
 
Mais do que o primeiro grande desafio adulto de Link, Phantom Ganon representa o medo do desconhecido e a sombra perversa de Ganondorf pairando sobre um mundo em ruínas.

O eco da floresta e o despertar do herói

Ao deixar o Forest Temple, a alma de Link já não é mais a mesma que entrou no Sacred Forest Meadow. A névoa que envolve o bosque parece menos densa, mas o ar ainda carrega o peso das lembranças, tanto das batalhas travadas quanto das verdades reveladas. O herói, agora consciente da extensão do mal que se espalhou por Hyrule, dá o primeiro passo em direção a uma jornada que o testará não apenas em coragem, mas também em maturidade e propósito.
 
A dungeon cumpre, assim, o papel de rito de passagem. É o elo entre o passado infantil e a responsabilidade do presente. Entre a inocência perdida e o fardo do destino. Cada sombra enfrentada, cada corredor distorcido e cada sussurro do vento parecem recordar a Link (e ao jogador) que o verdadeiro desafio não está apenas nos inimigos e puzzles, mas na capacidade de ser resiliente e sempre seguir em frente, mesmo quando o mundo já não é mais o mesmo.

Link caminhando pelo corredor retorcido dentro do Forest Temple.


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Revisão: Beatriz Castro
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Vinícius Veloso
É jornalista e obcecado por games (não necessariamente nessa ordem). Seu vício começou com uma primeira dose de Super Mario World e, desde então, não consegue mais ficar muito tempo sem se aventurar em um bom jogo.
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